06/08/25

Vida é trabalho moral (3/7)

      “E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.Mateus 24.11-13

      Nascemos com certos valores morais, são esses, não nossas capacidades intelectuais e características físicas, que definem nosso nível de espiritualidade. Nossa criação familiar, nossa formação educacional, nossas experiências em sociedade, não mudam esses valores, dão a eles forma, mas não mudam seu conteúdo na essência. Quando adquirimos maturidade física e emocional nos tornamos adultos capazes de exercer livre arbítrio e prontos para sermos responsabilizados, com recompensa ou punição, pelas consequências de nossas escolhas. Passamos a viver no mundo, e se tivermos o mínimo de autonomia, a buscar independência financeira e realização pessoal, através de atividades profissionais e afetivas. 
      Estudamos, trabalhamos e nos casamos, como nos reunimos em grupos para compartilharmos esporte, arte, religião, lazer, nisso tudo nossos valores morais iniciais são confrontados, no mínimo para serem mantidos, mas muito mais para serem abrangidos. Contudo, nunca mudamos de fato aquilo que somos desde o nascimento, adições positivas podemos pegar e segurar, mas com muito trabalho, como anexos externos, não como componentes integrados ao nosso interior. Toda novidade que assimilamos pode ser perdida de um instante para outro, anos de perseverante empenho para nos livrarmos de vícios, vaidades e egoísmos, podem ser jogados no lixo se não nos mantermos segurando os novos valores até o fim. 
      Não nascemos só com necessidades de novos aprendizados, nascemos também com valores instalados, esses são o auxílio que o universo nos dá para cumprirmos nossa missão neste mundo. Contudo, manter as qualidades não constitui trabalho digno da honra maior, isso é só uma obrigação, o esforço que será recompensado é superarmos defeitos e limites. Infelizmente muitos chegam no final de suas jornadas no mundo exaltando suas qualidades, trabalho que exigiu algum esforço, mas que não constitui sua missão. Isso não torna o ser humano mais santo, mais amoroso e mais humilde, ao contrário, torna-o mais orgulhoso e dependente de honra do mundo, dos outros seres humanos, da matéria, do próprio ego.
      Encarnados, pela fé, nossos sentidos físicos podem ser impressionados de alguma forma pelo plano espiritual, seja por espíritos malignos (demônios), por espíritos de luz (anjos), por Deus (o Espírito Santo). Mas a experiência espiritual no mundo material sempre é imperfeita, temos noção só de esboços, delimitados por nossas construções pessoais de religião e espiritualidade. Mas não confundamos ferramentas com o que elas podem acessar, as ferramentas variam, assim suas efetividades para executar tarefas, alguns usam as mãos, outros pás e outros escavadoras para fazer buracos, mas todos vasculham a terra a procura de alguma pepita de ouro. No final cada um acha a quantia de ouro que pode administrar. 

05/08/25

A vida e o cristianismo (2/7)

      “Os olhos do homem sábio estão na sua cabeça, mas o louco anda em trevas; então também entendi eu que o mesmo lhes sucede a ambos. Assim eu disse no meu coração: Como acontece ao tolo, assim me sucederá a mim; por que então busquei eu mais a sabedoria? Então disse no meu coração que também isto era vaidade. Porque nunca haverá mais lembrança do sábio do que do tolo; porquanto de tudo, nos dias futuros, total esquecimento haverá. E como morre o sábio, assim morre o tolo! Por isso odiei esta vida, porque a obra que se faz debaixo do sol me era penosa; sim, tudo é vaidade e aflição de espírito.Eclesiastes 2.14-17

      A doutrina do cristianismo protestante tem um entendimento bem simples da existência humana que crê ser a verdade maior. É baseado em textos escritos por homens antigos, que tinham uma percepção antiga de si mesmos como indivíduos, da sociedade, de religião, e portanto limitada em relação à percepção que podemos ter hoje no século XXI. Para muitos cristãos é difícil admitir isso, já que veem a Bíblia como a palavra irrevogável, infalível e eterna de Deus, assim o ser humano muda, a sociedade muda, a ciência evolui e traz provas indubitáveis sobre assuntos como a evolução física do ser humano, mas muitos cristãos insistem em entender a Bíblia ao pé da letra, desprezando contextos históricos e uso de metáforas. 
      Para muitos cristãos todo ser humano é criado quando nasce neste mundo, corpo e espírito, se um nasce num lar pobre, outro numa casa luxuosa, se um tem que trabalhar ainda criança para levar comida para casa, se outro pode cursar as melhores escolas, entrar numa faculdade federal e fazer pós graduação no exterior, se um terá como referência moral um pai violento e uma mãe irresponsável, se outro será criado com pais amorosos que o levará semanalmente a cultos cristãos, bem, isso tudo é por puro capricho divino. Ninguém nasce em berço de ouro por merecer, em berço de trapos por disciplina, ou em berço de madeira por escolha, o início de nossas vidas no mundo é por acaso, decidido em jogo de dados divino, assim diz o entendimento da doutrina protestante. 
      Acha que estou exagerando? Mas na prática é isso, e o argumento dado para isso por muitos cristãos é, “Deus sabe o que faz, quem somos nós para criticar o Senhor?”. De fato Deus sabe o que faz e não podemos criticá-lo, mas talvez não seja por fazer as coisas ao acaso, sem regra, sem que faça algum sentido, sem razoabilidade. Não é sábio duvidarmos de um ensino religioso porque as palavras e o raciocínio parecem rasos, as sabedorias mais profundas são expressas em frases curtas com termos simples que podem ser entendidos e praticados tanto pelo ignorante quanto pelo doutor. O que deve nos levar a reavaliar ensinos religiosos são os frutos que eles geram no tempo, se são frutos bons e duradouros ou não são.
      Prometi a mim que não faria mais longas reflexões aqui, só compartilharia pequenos textos de conforto evangélico, note que nos últimos tempos isso foi feito. Mas o mesmo Espírito Santo que me levou a buscar de Deus um entendimento melhor sobre espiritualidade e eternidade, novamente me leva a fazer esta reflexão, sobre temas sensíveis da existência humana. Não senti necessidade de reavaliar o cristianismo tradicional por mera curiosidade ou só para deslegitimar algo que não vivia por algum motivo egoísta, ocorre que a fonte secou e eu ainda estava com sede. O Senhor me disse então para cavar mais fundo, fiz isso em oração e comprovei as novidades em frutos em minha vida. Nas próximas cinco postagens segue o que tenho aprendido. 

04/08/25

Que verdade é a verdadeira? (1/7)

      “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.João 14.6

      Muitos cristãos defendem suas crenças por acreditarem que elas são verdade maior, eles não percebem que adeptos de outras religiões acham a mesma coisa, que suas crenças são a verdade maior. Que verdade é a mais verdadeira? A melhor pergunta pode ser outra: que verdade dão frutos verdadeiros? A verdade é que todas as religiões podem dar tanto bons frutos quanto ruins, porque elas não são a verdade pura de Deus, mas versões distorcidas dessa. Para Deus isso não interessa muito, com tanto que as pessoas o busquem, podem usar a ferramenta que preferirem. Não tiramos com isso a relevância de Jesus Cristo, mas afirmamos que em seu amor Deus abençoa mesmo os que o buscam chamando Jesus por outros nomes. 
      Não temos que concordar com tudo, mas temos que admitir que não sabemos tudo, principalmente porque nossas obras mostram que somos pecadores injustos, egoístas e vaidosos. Contudo, o que muitos cristãos fazem é acharem-se donos exclusivos da verdade maior, não aceitam que isso deve lhes conferir responsabilidades superiores e mais sérias de amar e de testemunhar o plano de Deus, mais que as que conferem outras ”verdades”. O exemplo a ser seguido, como sempre, é o do Cristo homem, o mesmo que cristãos professam ser a verdade, mas parece que só usam esse entendimento quando lhes convêm. Perde-se o cristianismo quando deixa de ser verdadeiro e quer convencer o mundo que sua prática é verdadeira. 
      Cada ser humano tem direito de ter suas convicções e suas experiências religiosas, ocorre que certas crenças extremistas colocam quem nelas crê como melhores que os outros, com mais direitos, de uma forma mais radical, como legítimos filhos de Deus. Isso é possível? Até pode ser, mas quem se acha mais merecedor do céu que os outros deveria ter mais deveres, não mais direitos, isso pelo menos no ponto de vista do verdadeiro evangelho de Jesus, onde se perde para ganhar, se é humilhado para ser exaltado, se morre para viver. Talvez o ponto seja, não que muitos cristãos neguem o evangelho do Cristo, mas que queiram colher recompensas no mundo, não no céu, do evangelho que creem. Nos dois jeitos há equívoco. 
      Quer um jeito de fato sábio de viver? Tenha tuas convicções para você, mas exceto quando Deus de fato orientar, e quando ele manda temos amor, paciência e respeito para obedecer, ponha em prática tuas convicções de modo que os outros vejam em você palavras e atitudes de vida, de misericórdia, de justiça. Fale menos e viva mais, quem vive certo em Deus e para Deus tem paz, tem carências saciadas, assim não tem necessidade de auto-afirmação, nem de fazer admiradores ou fãs. A verdade de Jesus é a mais alta? Creio que sim, mas conhecê-la mais profundamente tem me feito mais praticante que falante, não hipócrita, não falso moralista, e muito mais santo e amoroso. Quem está em paz e na luz não teme trevas e mentiras

03/08/25

Conhecendo o desconhecido (3/3)

      “E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: Ao Deus desconhecido. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio.Atos 17.22-23

      As extrações do livro citadas abaixo, não são opinião pessoal ou ponto de vista, são fatos, como são tantas provas da evolução humana achadas no globo terrestre. Infelizmente, ainda que sejam fatos, se vão contra a interpretação que muitos cristãos fazem da Bíblia e da vontade de Deus, tais religiosos dizem que são palavras diabólicas. Nisso há dois equívocos, primeiro tais cristãos não aceitam que história e ciência vão, não contra a real palavra de Deus, mas contra aquilo que eles interpretam como palavra de Deus. Em segundo lugar tais cristãos, ainda que façam uso da ciência em tantas áreas para sobreviverem no mundo, desconsideram como ciência o que discorda de suas crenças. A Bíblia não é um livro científico, não foi escrita por seres humanos atuais e estudados, há metáforas e até mitos nela, ainda assim é espiritualmente útil para quem a lê com sabedoria e sem preconceitos.
      Monoteísmo ou politeísmo? Deus é único, moralmente superior a tudo, potencialmente mais poderoso que tudo, ainda assim usa seres de luz, que o cristianismo chama de anjos e de outros nomes, além do chamado Espírito Santo, para administrar a humanidade, o universo, os planos físico e espiritual. A tradição judaico-cristã impôs limites àquilo que é permitido aos seres humanos neste mundo conectarem-se com o outro mundo, isso tem propósito na providência divina. Mas a questão não é só demonizar o politeísmo por ele contemplar outros seres espirituais no mesmo nível de Deus, na verdade isso não ocorre em muito do que muitos chamam de paganismo. Penso que todos nós temos uma sede intrínseca do único e verdadeiro Deus, indiferente do nome que dermos a ele, nosso espírito anseia retornar ao pai de todos os espíritos, se formos bons acharemos o melhor caminho para o alto.
      Amo a passagem bíblica inicial do apóstolo-teólogo Paulo, ela entrega um princípio que só os humildes entendem. Por mais firme, focada, persistente e experiente que sejam nossa fé e nossa prática em Deus, o Altíssimo nos é desconhecido. “Só sei que nada sei”, dizia um sábio grego, a confirmação de nossas crenças só teremos quando morrermos no plano físico e estivermos livres no plano espiritual. Quem mais sabe, sabe que menos sabe, assim menos julga e condena o que os outros sabem, no que muito sabe há a mais pura humildade e o verdadeiro amor de Deus, assim há a luz do Altíssimo. Isso não é álibi para nos acostumarmos com pouco, mas incentivo para buscarmos conhecer mais do Deus desconhecido, se quisermos e estivermos preparados saberemos, ainda que nossa jornada na Terra sempre seja pela fé, convém à providência divina que seja assim para que cresçamos. 
      Na quinta citação do livro abaixo, o escritor diz “em uma das guinadas mais estranhas da história, essa seita judaica esotérica controlou o poderoso Império Romano”. Gosto de ler autores ateus, principalmente se são cientistas e historiadores, eles entregam um material quase isento de subjetividade, apresentam fatos. Contudo, a palavra estranhas revela a impossibilidade que tem aquele que não contempla Deus e o mundo espiritual e os propósitos desses para o ser humano, de certos entendimentos, que vão além deste mundo e da matéria. O cristianismo, apesar de muito poluído pelo poder, pela vaidade, pelo egoísmo e pelos enganos humanos, sobrevive e forte no mundo porque carrega o nome de Cristo, esse tem poder por si só, indiferente de quem o utiliza. Ouçamos a ciência, não a demonizemos, mas com humildade saibamos que só a fé nos permite sabedoria que vai além do ceticismo. 

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      Seguem textos extraídos do livro “Sapiens, uma breve história da humanidade” de Yuval Noah Harari, capítulo 12, “A lei da religião“ (copiados do link), se não leu na 1ª ou na 2ª parte desta reflexão, seria interessante ler agora. 

      “A ideia do politeísmo leva a uma tolerância religiosa muito maior. Como os politeístas acreditam, por um lado, em um poder supremo e completamente desinteressado e, por outro lado, em muitos poderes parciais e tendenciosos, não há dificuldade para os devotos de um deus aceitarem a existência e a eficácia de outros deuses. O politeísmo é inerentemente tolerante e raramente persegue “hereges” e “infiéis”. Mesmo quando conquistaram impérios gigantescos, os politeístas não tentaram converter seus súditos. Os egípcios, os romanos e os astecas não enviaram missionários a terras estrangeiras para disseminar o culto a Osíris, Júpiter ou Huitzilopochtli (o principal deus asteca) e certamente não mandaram exércitos com esse propósito.” 

      “O único deus que, durante muito tempo, os romanos se recusaram a tolerar foi o deus monoteísta e evangelizador dos cristãos. O Império Romano não exigia que os cristãos abdicassem de suas crenças e rituais, mas esperavam que eles respeitassem os deuses protetores do Império e a divindade do imperador. Isso era visto como uma declaração de lealdade política. Quando os cristãos se recusaram veementemente a fazer isso, rejeitando todas as tentativas de se chegar a um acordo, os romanos reagiram perseguindo o que entendiam como uma facção politicamente subversiva. Nos 300 anos decorridos desde a crucificação de Cristo até a conversão do imperador Constantino, os imperadores romanos politeístas iniciaram não mais que quatro perseguições gerais aos cristãos. Os administradores e governantes locais também incitaram certa violência contra os cristãos. Ainda assim, se considerarmos todas as vítimas de todas essas perseguições, veremos que, nesses três séculos, os romanos politeístas mataram não mais que alguns milhares de cristãos. Os cristãos, por sua vez, ao longo dos 15 séculos seguintes, assassinaram cristãos aos milhões por defenderem interpretações ligeiramente diferentes da religião do amor e da compaixão.”

      “Essas disputas teológicas ficaram tão violentas que durante os séculos XVI e XVII católicos e protestantes mataram uns aos outros às centenas de milhares. Em 23 de agosto de 1572, católicos franceses, que enfatizavam a importância de boas ações, atacaram comunidades de protestantes franceses, que salientavam o amor de Deus pela humanidade. Nesse ataque, o Dia do Massacre de São Bartolomeu, entre 5 mil e 10 mil protestantes foram assassinados em menos de 24 horas. Quando o papa em Roma ficou sabendo do ocorrido na França, foi tomado de tanta alegria que organizou preces festivas para celebrar a ocasião e encarregou Giorgio Vasari de decorar um dos aposentos do Vaticano com um afresco do massacre (o aposento atualmente está inacessível aos visitantes). Mais cristãos foram mortos por outros cristãos naquelas 24 horas do que pelo Império Romano politeísta durante toda a sua existência.

      “A primeira religião monoteísta de que temos notícia apareceu no Egito por volta de 1350 a.C., quando o faraó Aquenáton declarou que uma das deidades menores do panteão egípcio, o deus Aton, era, na verdade, o poder supremo governando o universo. Aquenáton institucionalizou o culto a Aton como religião do Estado e tentou controlar o culto a todos os outros deuses. Sua revolução religiosa, no entanto, não teve êxito. Após sua morte, o culto a Aton foi abandonado em favor do antigo panteão.

      “O judaísmo, por exemplo, afirmava que o poder supremo do universo tem interesses e inclinações, mas seu principal interesse é na minúscula nação judaica e na obscura terra de Israel. O judaísmo tinha pouco a oferecer a outras nações e durante a maior parte de sua existência não foi uma religião missionária. Esse estágio pode ser chamado de estágio do “monoteísmo local”. O grande avanço veio com o cristianismo. Essa fé começou como uma seita judaica esotérica que procurava convencer os judeus de que Jesus de Nazaré era seu tão esperado messias. No entanto, um dos primeiros líderes da seita, Paulo de Tarso, ponderou que, se o poder supremo do universo tem interesses e inclinações, e se Ele se deu ao trabalho de encarnar e morrer na cruz para a salvação da humanidade, então isso é algo que deve ser comunicado a todos, e não só aos judeus. Portanto, era necessário difundir a boa palavra – o evangelho – sobre Jesus para o mundo inteiro. Os argumentos de Paulo caíram em solo fértil. Em toda parte, os cristãos começaram a organizar atividades missionárias dirigidas a todos os humanos. Em uma das guinadas mais estranhas da história, essa seita judaica esotérica controlou o poderoso Império Romano.

      “Os monoteístas são no geral muito mais fanáticos e missionários que os politeístas. Uma religião que reconhece a legitimidade de outras crenças implica ou que seu deus não é o deus supremo do universo, ou que ela recebeu de Deus apenas parte da verdade universal. Como os monoteístas costumam acreditar que são detentores de toda a mensagem de um único Deus, são compelidos a descrer de todas as outras religiões. Nos últimos dois milênios, os monoteístas tentaram, repetidas vezes, se fortalecer exterminando de maneira violenta toda concorrência.

      “As religiões monoteístas expulsaram os deuses pela porta da frente com muito barulho, para em seguida aceitá-los de volta pela janela lateral. O cristianismo, por exemplo, desenvolveu seu próprio panteão de santos, cujos cultos pouco diferiam dos cultos aos deuses politeístas.

      “Na verdade, o monoteísmo, tal como se desenvolveu ao longo da história, é um caleidoscópio de legados monoteístas, dualistas e politeístas que se misturam sob um único conceito divino. O cristão típico acredita no Deus monoteísta, mas também no Diabo dualista, em santos politeístas e em fantasmas animistas. Os estudiosos das religiões têm um nome para essa aceitação simultânea de ideias diferentes e até mesmo contraditórias e a combinação de rituais e práticas tirados de fontes diferentes: sincretismo. O sincretismo talvez seja, de fato, a única grande religião mundial.

José Osório de Souza, 23/01/2023

02/08/25

Monoteísmo e politeísmo (2/3)

      “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças.” Deuteronômio 6.4-5

      Se alguns quiserem demonizar esta reflexão, o fato de Yuval Noah Harari, autor dos textos que cito abaixo, ser ateu e gay, será motivo suficiente, mas se você quer saber além de preconceitos considere esta palavra. A ideia de um número enorme de cristãos sendo mortos no Coliseu romano é exagerada, a Igreja Católica Romana matou mais em sua história em nome do monoteísmo que o Império Romano em nome do politeísmo. A ideia de protestantes serem heróis da fé vencendo o comércio de indulgências e a idolatria do catolicismo também não é verdadeira, houve muito sangue numa disputa que era mais política e econômica que religiosa. A ideia que catolicismo e protestantismo praticam o evangelho do amor de Jesus, respeitando o livre arbítrio que Deus dá a todo ser humano, é falsa, houve e há intolerância e violência em quem se achou e se acha missionário exclusivo da verdade maior.
      Contudo, finalmente, a ideia que não há politeísmo no cristianismo atual é inverídica em grande parte do mundo cristão. Em primeiro lugar, como já citamos, o panteão de santos católicos tem a mesma função que o panteão de deuses romanos, e em muitos casos tem origem na mitologia grega, onde se praticou um sincretismo logo no início do catolicismo para agregar uma parte maior de adeptos. Mas também vemos denominações evangélicas crescendo justamente por adicionarem ao cristianismo puro, a capacitação de anjos como meios para o ser humano ter acesso às dádivas divinas. Todavia, há um politeísmo subjetivo, quando evangélicos diferentes dizem receber de um mesmo Deus orientações e aprovações diferentes. Como o Deus verdadeiro é um só, tem uma única palavra, assim, ou as pessoas mentem ou recebem palavras, não de Deus, mas de outros seres espirituais. 
      Outro senso comum protestante é que a nação de Israel nos tempos do antigo testamento tinha a missão de levar o Deus verdadeiro ao mundo, como a igreja cristã tem de levar Cristo. De fato vemos no antigo testamento a “história”, ainda que muitas vezes por mitos e não em fatos, da experiência de uma nação específica com Deus. O cânone construído, em parte importante por Moisés, escritor de pelo menos o pentateuco (primeiros cinco livros da Bíblia), ocupa-se em dar legitimidade ao estado, à religião e à posse de Canaã, de um povo, pelo fato desse povo ter sido gerado por um processo de seleção divina desde seu início. Começou em Adão, Sete e Noé, passou por Sem, Abraão, Jacó, Judá e Davi, e finalmente chega em Jesus o Messias. Mas a verdade é que Israel antigo não tinha intenção de ser missionário de Deus no mundo, Israel fazia uma clara distinção entre “nós” e “eles”.
      A distinção entre “nós”, escolhidos e protegidos por Deus, portanto vocacionados para a vitória e neste mundo, e “eles”, os outros, que se não estão com Deus estão com o diabo, portanto, “nossos” inimigos e fadados a abrir mão de direitos para que “nós” sejamos beneficiados, divide a sociedade em dois grupos. Podemos até admitir que essa visão limitada havia nos tempos antigos, mas desejá-la no mundo atual e por muitos que se dizem cristãos, é no mínimo um retrocesso, que tem como fundamento o desconhecimento das boas novas de Jesus, do evangelho do amor, o qual não divide seres humanos em dois grupos, mas que coloca todos como irmãos que podem ser perdoados e ensinados por um único pai espiritual. Esse dualismo tem levado, por exemplo no Brasil, muitos cristãos desviados a buscarem o diabo na esquerda ideológica, já que acham que Deus só está na direita e em sua religião. 

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      Seguem textos extraídos do livro “Sapiens, uma breve história da humanidade” de Yuval Noah Harari, capítulo 12, “A lei da religião“ (copiados do link), se não leu na 1ª parte desta reflexão, seria interessante ler agora. 

      “A ideia do politeísmo leva a uma tolerância religiosa muito maior. Como os politeístas acreditam, por um lado, em um poder supremo e completamente desinteressado e, por outro lado, em muitos poderes parciais e tendenciosos, não há dificuldade para os devotos de um deus aceitarem a existência e a eficácia de outros deuses. O politeísmo é inerentemente tolerante e raramente persegue “hereges” e “infiéis”. Mesmo quando conquistaram impérios gigantescos, os politeístas não tentaram converter seus súditos. Os egípcios, os romanos e os astecas não enviaram missionários a terras estrangeiras para disseminar o culto a Osíris, Júpiter ou Huitzilopochtli (o principal deus asteca) e certamente não mandaram exércitos com esse propósito.” 

      “O único deus que, durante muito tempo, os romanos se recusaram a tolerar foi o deus monoteísta e evangelizador dos cristãos. O Império Romano não exigia que os cristãos abdicassem de suas crenças e rituais, mas esperavam que eles respeitassem os deuses protetores do Império e a divindade do imperador. Isso era visto como uma declaração de lealdade política. Quando os cristãos se recusaram veementemente a fazer isso, rejeitando todas as tentativas de se chegar a um acordo, os romanos reagiram perseguindo o que entendiam como uma facção politicamente subversiva. Nos 300 anos decorridos desde a crucificação de Cristo até a conversão do imperador Constantino, os imperadores romanos politeístas iniciaram não mais que quatro perseguições gerais aos cristãos. Os administradores e governantes locais também incitaram certa violência contra os cristãos. Ainda assim, se considerarmos todas as vítimas de todas essas perseguições, veremos que, nesses três séculos, os romanos politeístas mataram não mais que alguns milhares de cristãos. Os cristãos, por sua vez, ao longo dos 15 séculos seguintes, assassinaram cristãos aos milhões por defenderem interpretações ligeiramente diferentes da religião do amor e da compaixão.”

      “Essas disputas teológicas ficaram tão violentas que durante os séculos XVI e XVII católicos e protestantes mataram uns aos outros às centenas de milhares. Em 23 de agosto de 1572, católicos franceses, que enfatizavam a importância de boas ações, atacaram comunidades de protestantes franceses, que salientavam o amor de Deus pela humanidade. Nesse ataque, o Dia do Massacre de São Bartolomeu, entre 5 mil e 10 mil protestantes foram assassinados em menos de 24 horas. Quando o papa em Roma ficou sabendo do ocorrido na França, foi tomado de tanta alegria que organizou preces festivas para celebrar a ocasião e encarregou Giorgio Vasari de decorar um dos aposentos do Vaticano com um afresco do massacre (o aposento atualmente está inacessível aos visitantes). Mais cristãos foram mortos por outros cristãos naquelas 24 horas do que pelo Império Romano politeísta durante toda a sua existência.

      “A primeira religião monoteísta de que temos notícia apareceu no Egito por volta de 1350 a.C., quando o faraó Aquenáton declarou que uma das deidades menores do panteão egípcio, o deus Aton, era, na verdade, o poder supremo governando o universo. Aquenáton institucionalizou o culto a Aton como religião do Estado e tentou controlar o culto a todos os outros deuses. Sua revolução religiosa, no entanto, não teve êxito. Após sua morte, o culto a Aton foi abandonado em favor do antigo panteão.

      “O judaísmo, por exemplo, afirmava que o poder supremo do universo tem interesses e inclinações, mas seu principal interesse é na minúscula nação judaica e na obscura terra de Israel. O judaísmo tinha pouco a oferecer a outras nações e durante a maior parte de sua existência não foi uma religião missionária. Esse estágio pode ser chamado de estágio do “monoteísmo local”. O grande avanço veio com o cristianismo. Essa fé começou como uma seita judaica esotérica que procurava convencer os judeus de que Jesus de Nazaré era seu tão esperado messias. No entanto, um dos primeiros líderes da seita, Paulo de Tarso, ponderou que, se o poder supremo do universo tem interesses e inclinações, e se Ele se deu ao trabalho de encarnar e morrer na cruz para a salvação da humanidade, então isso é algo que deve ser comunicado a todos, e não só aos judeus. Portanto, era necessário difundir a boa palavra – o evangelho – sobre Jesus para o mundo inteiro. Os argumentos de Paulo caíram em solo fértil. Em toda parte, os cristãos começaram a organizar atividades missionárias dirigidas a todos os humanos. Em uma das guinadas mais estranhas da história, essa seita judaica esotérica controlou o poderoso Império Romano.

      “Os monoteístas são no geral muito mais fanáticos e missionários que os politeístas. Uma religião que reconhece a legitimidade de outras crenças implica ou que seu deus não é o deus supremo do universo, ou que ela recebeu de Deus apenas parte da verdade universal. Como os monoteístas costumam acreditar que são detentores de toda a mensagem de um único Deus, são compelidos a descrer de todas as outras religiões. Nos últimos dois milênios, os monoteístas tentaram, repetidas vezes, se fortalecer exterminando de maneira violenta toda concorrência.

      “As religiões monoteístas expulsaram os deuses pela porta da frente com muito barulho, para em seguida aceitá-los de volta pela janela lateral. O cristianismo, por exemplo, desenvolveu seu próprio panteão de santos, cujos cultos pouco diferiam dos cultos aos deuses politeístas.

      “Na verdade, o monoteísmo, tal como se desenvolveu ao longo da história, é um caleidoscópio de legados monoteístas, dualistas e politeístas que se misturam sob um único conceito divino. O cristão típico acredita no Deus monoteísta, mas também no Diabo dualista, em santos politeístas e em fantasmas animistas. Os estudiosos das religiões têm um nome para essa aceitação simultânea de ideias diferentes e até mesmo contraditórias e a combinação de rituais e práticas tirados de fontes diferentes: sincretismo. O sincretismo talvez seja, de fato, a única grande religião mundial.

José Osório de Souza, 23/01/2023

01/08/25

Verdade espiritual e histórica (1/3)

      “Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos. Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algumIsaías 53.2-3

      Dentro de igrejas cristãs, católicas e protestantes, podemos receber informações e as aceitarmos como verdade. Não me refiro a orientações morais, mas outras, que se não as verificarmos com ótica científica, sob a luz de fatos históricos, podemos tomar como palavra de Deus sendo que é só um senso comum cristão. Infelizmente se é dito em púlpito, por um ser humano carismático e com alguma referência de cultura que valorizamos, somos facilmente seduzidos. Interessante a passagem acima, em que Isaías pode estar referindo-se profeticamente a Jesus. Será que hoje, acostumados a “profissionais” da fé, mercadores de milagres, e teólogos que desprezam o Espírito Santo, daríamos crédito a um Cristo homem simples e puro? A palavra que em muitos casos ouvimos é uma mistura de falsa ciência com fé infantil, nisso aceitamos muita mentira como verdade. 
      Por exemplo, algo que nos acostumamos a ouvir em púlpitos é que o cristianismo veio, não só para salvar espiritualmente o mundo, mas também para trazer uma civilidade que não havia no mundo pagão. Aprendemos que a religião dos dominadores romanos, conquistadores da terra de judeus e de outros povos nos primeiros séculos, não acreditava num único Deus, mas num panteão de deuses, entendemos assim que essa prática pagã negava o Deus verdadeiro. Isso não é de todo verdade, ainda que com um exército de deuses secundários, cria-se também num deus superior a outros deuses em todo o mundo. A sabedoria está em separar as coisas, fé de ciência, verdades históricas de verdades espirituais, moralidade dos antigos e moralidade atual. Deus não muda, mas o ser humano muda, assim como as ferramentas que o ser tem para perceber e usar a matéria neste mundo. 
      Para entendermos isso podemos fazer outra pergunta: quem de fato eram os deuses pagãos? Eram anjos, demônios?  Espíritos, superiores ou inferiores, iluminados ou não? “Santos”, espíritos de seres humanos mortos aos quais o catolicismo legaliza como dignos de receber orações dos vivos e com autoridade para intermediar bênçãos entre homens e Deus? Outra pergunta: será que só passou a existir seres humanos, que no mundo tiveram uma conexão especial com o Deus verdadeiro e que por isso têm capacitação diferenciada após a morte, depois do Cristo ter cumprido sua missão? Será que não houve “santos” em outros tempos, nações ou religiões, que na verdade são chamados de panteão de deuses nas sociedades romana, grega e outras? Será que muitas entidades do afroespiritismo atual não são “santos” africanos, espíritos de antepassados célebres? Por que esses são menos dignos que os santos católicos? 
      Essa discussão sobre santos católicos é relevante para entendermos politeísmo, entidades espirituais, mesmo contato com espíritos humanos desencarnados. É certo que a teologia protestante é simplista, contato espiritual, real ou mentiroso, que não for feito com Deus pai, filho e Espírito, é contato diabólico, proibido e mesmo impossível. Mas como já foi dito aqui, reavaliemos dogmas não pela autoridade no mundo que têm aqueles que construíram os dogmas, mas pelos bons e duradouros frutos que os criadores e os seguidores de dogmas tiveram ao longo da história humana. Um estudo sério de história ocidental nos dirá muito sobre os frutos do catolicismo e do protestantismo, por isso cito abaixo o livro “Sapiens, uma breve história da humanidade”, escrito por um israelita, p.h.d. em história pela Universidade de Oxford, ateu e gay, recomendo muito a leitura desse livro. 

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      Seguem textos extraídos do livro “Sapiens, uma breve história da humanidade” de Yuval Noah Harari, capítulo 12, “A lei da religião“ (copiados do link). 

      “A ideia do politeísmo leva a uma tolerância religiosa muito maior. Como os politeístas acreditam, por um lado, em um poder supremo e completamente desinteressado e, por outro lado, em muitos poderes parciais e tendenciosos, não há dificuldade para os devotos de um deus aceitarem a existência e a eficácia de outros deuses. O politeísmo é inerentemente tolerante e raramente persegue “hereges” e “infiéis”. Mesmo quando conquistaram impérios gigantescos, os politeístas não tentaram converter seus súditos. Os egípcios, os romanos e os astecas não enviaram missionários a terras estrangeiras para disseminar o culto a Osíris, Júpiter ou Huitzilopochtli (o principal deus asteca) e certamente não mandaram exércitos com esse propósito.” 

      “O único deus que, durante muito tempo, os romanos se recusaram a tolerar foi o deus monoteísta e evangelizador dos cristãos. O Império Romano não exigia que os cristãos abdicassem de suas crenças e rituais, mas esperavam que eles respeitassem os deuses protetores do Império e a divindade do imperador. Isso era visto como uma declaração de lealdade política. Quando os cristãos se recusaram veementemente a fazer isso, rejeitando todas as tentativas de se chegar a um acordo, os romanos reagiram perseguindo o que entendiam como uma facção politicamente subversiva. Nos 300 anos decorridos desde a crucificação de Cristo até a conversão do imperador Constantino, os imperadores romanos politeístas iniciaram não mais que quatro perseguições gerais aos cristãos. Os administradores e governantes locais também incitaram certa violência contra os cristãos. Ainda assim, se considerarmos todas as vítimas de todas essas perseguições, veremos que, nesses três séculos, os romanos politeístas mataram não mais que alguns milhares de cristãos. Os cristãos, por sua vez, ao longo dos 15 séculos seguintes, assassinaram cristãos aos milhões por defenderem interpretações ligeiramente diferentes da religião do amor e da compaixão.”

      “Essas disputas teológicas ficaram tão violentas que durante os séculos XVI e XVII católicos e protestantes mataram uns aos outros às centenas de milhares. Em 23 de agosto de 1572, católicos franceses, que enfatizavam a importância de boas ações, atacaram comunidades de protestantes franceses, que salientavam o amor de Deus pela humanidade. Nesse ataque, o Dia do Massacre de São Bartolomeu, entre 5 mil e 10 mil protestantes foram assassinados em menos de 24 horas. Quando o papa em Roma ficou sabendo do ocorrido na França, foi tomado de tanta alegria que organizou preces festivas para celebrar a ocasião e encarregou Giorgio Vasari de decorar um dos aposentos do Vaticano com um afresco do massacre (o aposento atualmente está inacessível aos visitantes). Mais cristãos foram mortos por outros cristãos naquelas 24 horas do que pelo Império Romano politeísta durante toda a sua existência.

      “A primeira religião monoteísta de que temos notícia apareceu no Egito por volta de 1350 a.C., quando o faraó Aquenáton declarou que uma das deidades menores do panteão egípcio, o deus Aton, era, na verdade, o poder supremo governando o universo. Aquenáton institucionalizou o culto a Aton como religião do Estado e tentou controlar o culto a todos os outros deuses. Sua revolução religiosa, no entanto, não teve êxito. Após sua morte, o culto a Aton foi abandonado em favor do antigo panteão.

      “O judaísmo, por exemplo, afirmava que o poder supremo do universo tem interesses e inclinações, mas seu principal interesse é na minúscula nação judaica e na obscura terra de Israel. O judaísmo tinha pouco a oferecer a outras nações e durante a maior parte de sua existência não foi uma religião missionária. Esse estágio pode ser chamado de estágio do “monoteísmo local”. O grande avanço veio com o cristianismo. Essa fé começou como uma seita judaica esotérica que procurava convencer os judeus de que Jesus de Nazaré era seu tão esperado messias. No entanto, um dos primeiros líderes da seita, Paulo de Tarso, ponderou que, se o poder supremo do universo tem interesses e inclinações, e se Ele se deu ao trabalho de encarnar e morrer na cruz para a salvação da humanidade, então isso é algo que deve ser comunicado a todos, e não só aos judeus. Portanto, era necessário difundir a boa palavra – o evangelho – sobre Jesus para o mundo inteiro. Os argumentos de Paulo caíram em solo fértil. Em toda parte, os cristãos começaram a organizar atividades missionárias dirigidas a todos os humanos. Em uma das guinadas mais estranhas da história, essa seita judaica esotérica controlou o poderoso Império Romano.

      “Os monoteístas são no geral muito mais fanáticos e missionários que os politeístas. Uma religião que reconhece a legitimidade de outras crenças implica ou que seu deus não é o deus supremo do universo, ou que ela recebeu de Deus apenas parte da verdade universal. Como os monoteístas costumam acreditar que são detentores de toda a mensagem de um único Deus, são compelidos a descrer de todas as outras religiões. Nos últimos dois milênios, os monoteístas tentaram, repetidas vezes, se fortalecer exterminando de maneira violenta toda concorrência.

      “As religiões monoteístas expulsaram os deuses pela porta da frente com muito barulho, para em seguida aceitá-los de volta pela janela lateral. O cristianismo, por exemplo, desenvolveu seu próprio panteão de santos, cujos cultos pouco diferiam dos cultos aos deuses politeístas.

      “Na verdade, o monoteísmo, tal como se desenvolveu ao longo da história, é um caleidoscópio de legados monoteístas, dualistas e politeístas que se misturam sob um único conceito divino. O cristão típico acredita no Deus monoteísta, mas também no Diabo dualista, em santos politeístas e em fantasmas animistas. Os estudiosos das religiões têm um nome para essa aceitação simultânea de ideias diferentes e até mesmo contraditórias e a combinação de rituais e práticas tirados de fontes diferentes: sincretismo. O sincretismo talvez seja, de fato, a única grande religião mundial.

José Osório de Souza, 23/01/2023

31/07/25

Nada de errado com o certo

      “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” Tiago 1.17

      Não corremos o risco de perder algo bom porque o homem mau tira, mas porque não andamos certo com Deus e não oramos pedindo que Deus nos livre do homem mau. As trevas nada roubam da luz, contudo, se estivermos andando certo e Deus permitir que algo nos seja sonegado ou postergado, é porque o Senhor tem um propósito bom nisso. Não nos compete, então, reclamar com a vida, nos indispormos com o homem, nem levarmos amargura em nós. Sigamos em paz que no tempo certo, se for o melhor para nós, receberemos, na obediência acumulamos créditos com o universo e sua justiça. Quanto ao homem que impediu de alguma forma que fôssemos abençoados, esse está em dívida, no tempo certo será cobrado. 

30/07/25

Primeiro tristeza, depois alegria

      “Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria.Salmo 126.5

      É uma lei, alegria verdadeira só se recebe depois que se entregou tristeza real. O exemplo maior é o Cristo, que entregou o melhor exemplo de alta espiritualidade para vivermos no mundo, e que se colocou na posição espiritual mais alta no outro mundo, para ser intercessor supremo entre homens e Deus. Jesus teve que sofrer e muito para se tornar o que é. Negar essa lei é negar o motivo de vivermos neste mundo, e todos nós, de algum jeito, temos que experimentar tristezas profundas e legítimas. Suportar sofrimento não é manter falta de auto-estima ou pecado, mas é conviver de forma correta com aquela dor, que mesmo que nos desliguemos de gente violenta e nos conectemos a Deus, ainda existe e só vencemos em humildade. 

29/07/25

Só fique de pé

      “Nesta batalha não tereis que pelejar; postai-vos, ficai parados, e vede a salvação do Senhor para convosco, ó Judá e Jerusalém. Não temais, nem vos assusteis; amanhã saí-lhes ao encontro, porque o Senhor será convosco.II Crônicas 20.17

      O versículo acima é daquelas passagens que amamos ler em determinadas situações, já refletimos sobre ele aqui antes. A lição é clara, em certas situações Deus só pedirá algo de nós para que sejamos vitoriosos, permanecermos firmes de pé. Não teremos que agir nem reagir, só ficar parados e erguidos. Pode parecer fácil, mas muitas vezes chegamos num ponto onde tudo que podemos fazer é nos levantarmos e pararmos. Contudo, ainda que fisicamente isso pareça pouco, moral e espiritualmente é muito, significa não estar derrubado por algum pecado não confessado, nem amarrado no chão por alguma mágoa. Isso também exige de nós fé que vence o medo, já que parados só podemos depender de Deus, não de nós mesmos. 

28/07/25

Sobre ser cabeça e estar em cima

      “E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás em cima, e não debaixo, se obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que hoje te ordeno, para os guardar e cumprir.Deuteronômio 28.13

      Interpretamos o versículo acima de formas diferentes, dependendo das expectativas de vida que temos. Quem quer prosperidade material interpreta ser cabeça e estar em cima como ser rico. Quem quer impor seu ponto de vista interpreta como ser patrão, mesmo intelectual ou pastor. Contudo, os que conhecem o genuíno evangelho de Jesus e querem vivê-lo, podem interpretar ser cabeça e estar em cima como ser parecido com o Cristo homem, portanto, alguém espiritual, santo, amoroso e humilde, ainda que tendo que suportar injustiça e não receber honra de homens neste mundo. Infelizmente muitos cristãos interpretam o versículo pelas duas primeiras maneiras citadas, não pela última, por formas materialistas, não espiritual. 

27/07/25

Consciência pura, fé não fingida

      “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus, a Timóteo, meu amado filho: Graça, misericórdia, e paz da parte de Deus Pai, e da de Cristo Jesus, Senhor nosso. Dou graças a Deus, a quem desde os meus antepassados sirvo com uma consciência pura, de que sem cessar faço memória de ti nas minhas orações noite e dia; desejando muito ver-te, lembrando-me das tuas lágrimas, para me encher de gozo; trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti.II Timóteo 1.1-5

      A abertura da segunda carta de Paulo, apóstolo-teólogo experiente, ao jovem discípulo Timóteo, nos ensina sobre pureza. Primeiro ele se refere a ele, como alguém que servia a Deus com consciência pura. Já fiz essa consideração aqui, mas é sempre interessante quando falamos de sinceridade. Pessoas más e egoístas também podem ser sinceras, assim sinceridade em si não é virtude, para ser é preciso ser sinceridade boa e que dá bons frutos. Com pureza de mente somos ensinados sobre fazer as coisas sem segundas intenções, não por conveniências vaidosas, nem como aparência, mas por obedecer diretamente a Deus, sendo ou não agradável a homens, e do fundo do coração, não só para aparentar ser cristão, mas com humildade e amor. 
      Em segundo lugar Paulo refere-se a Timóteo como portador de fé não fingida, isso também tem a ver com boa sinceridade e pureza de intenções. Como vemos fé fingida no meio cristão, gente usando bandeiras do “conservadorismo da tradição judaico-cristã” como álibi para estupidez, falta de amor, falso moralismo, preconceito, e ainda tentando se convencer que Deus está a seu lado. Se a pureza, não só aparente, não só na civilidade, mas na conexão com Deus, se ela traz vida eterna, impureza mata. Consciência impura e fé fingida, ainda que se esforçando na retórica para parecer cristão, estão dentro dos amargos, que não perdoaram assim não receberam perdão, dos que julgam e condenam, esses estão mortos por dentro.

26/07/25

O Espírito entristece-se?

      “E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção. Toda a amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmia e toda a malícia sejam tiradas dentre vósEfésios 4.30-31

      Já li o texto bíblico acima de maneiras diferentes em minha caminhada como cristão. Num primeiro momento, com a visão antropomórfica do cristianismo tradicional, achava que o Espírito Santo entristecia-se. Num segundo momento, olhando Deus como superior ao ser humano, portanto amando o tempo todo e incapaz de irar-se, vingar-se ou entristecer-se, cri que nos afastamos de Deus, mas Deus não se afasta de nós. A visão número dois ainda é a minha, contudo, hoje caminho para entender que podemos, sim, entristecer a Deus, levando-o a se afastar de nós quando nos sujamos moralmente. Entristecemos não o ser de Deus, mas seu agir, limitamos sua ação consoladora. Limpemos o templo e vigiemos, no tempo certo somos cheios de novo. 
      Quando pecamos, ainda que nos arrependamos e mudemos de atitude, temos que esperar um pouco até sentirmos novamente a presença gostosa de Deus, durante um tempo em que teremos que viver só pela fé. Esse é um preço que temos que pagar pelo pecado, e filho maduro e não mimado paga esse preço em silêncio e com humildade. Mas esse momento também é de crescimento, nos permite obedecer a Deus não pelo sentimento, mas por uma fé pura, não pelo efeito dessa fé que é uma sensação emocional prazerosa, mais física que espiritual. Tenhamos respeito, não queiramos fazer do Espírito nosso servo, que nos responde quando queremos, mas confiemos, quando damos um passo para Deus ele dá dez para nós e nos abraça. 

      “E, arrumando-se, foi para o seu pai. — Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou.” Lucas 15.20

25/07/25

Valor das obras

      “Não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens. Sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre.Efésios 6.6-8

      Uma das relevâncias do “Como o ar que respiro”, reavaliando teologia protestante, verificando a prática das igrejas, vendo além de misticismos e superstições e buscando a verdade atrás de metáforas e mitos bíblicos e contextos históricos antigos, é dar a obras o devido valor em relação à fé. Plano espiritual, Deus e chamada humana para a vida eterna, que vai além da matéria, implica em fé, que não explica cientificamente, mas acredita, fé é chave. Mas sem exercer fé para abrir a porta, entrar na sala de virtudes morais e vivê-las por trabalho, fé é inútil, e pessoas diferentes têm fés diferentes em coisas diferentes. Não nos enganemos, teremos na eternidade o bem praticado na Terra, indiferente se obedecemos (somos "servos") ou se lideramos (se somos "livres"). Mas todos somos servos e livres em alguma instância. 

24/07/25

Permaneçamos no amor de Deus

      “Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor. Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.João 15.9-11

      Perdemos a paz quando saímos do amor de Deus, saímos quando nos sujamos moralmente. Contudo, damos lugar à mentira do diabo quando demoramos para pedir perdão e ficarmos em paz. O diabo não rouba qualquer bem ou virtude que possuímos, não de verdade e materialmente, ele não rouba nada, só menti que roubou. Somos nós que acreditamos na mentira e largamos nossa paz, não nas mãos do diabo, esse não tem interesse em nossa paz, ele não quer paz, se quisesse não se postaria como mentiroso. Demônios têm prazer mórbido vendo outros entregarem a paz para o vazio, crendo em mentiras. Podemos errar, mas voltemos o mais rápido possível ao amor de Deus, esse sempre está disponível para nos dar paz.

23/07/25

Não desista de pedir perdão

      “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia. Bem-aventurado o homem que continuamente teme; mas o que endurece o seu coração cairá no mal.Provérbios 28.13-14

      Não desista de pedir perdão a Deus, quem desiste de pedir a Deus, desiste de dar perdão aos homens. A marca de quem tem uma experiência, não com religião ou com o cristianismo, mas com Deus, é o perdão. Provar um perdão profundo e eficaz de Deus por nossos erros nos renova, nos confere humildade, e nos dá misericórdia para com os erros dos outros. Por que muitos professam um cristianismo (falso) moralista e estúpido? Porque estão há anos em igrejas, mas desistiram de provar perdão de Deus, não conseguiram conviver com pecados reincidentes, assim construíram um cristianismo que funcionasse com sua prática errática. Nessa disposição não se prova mais perdão porque se resolveu que ele não é mais necessário. 

22/07/25

Escolha amar

      “Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita; para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente.Mateus 6.2-4

      Ninguém tem a obrigação de ajudar ninguém. Espirituais ajudam por amor, a esses o amor lhes impõe obrigações que lhes acrescentam mesmo dando sem nada receber. Para os não espirituais tudo é obrigação, mas sem amor tudo é perda, até dão, mas sentem-se lesados por causa disso. Deus pode usar vários meios para que escolhamos amar e ser santos. Para os infantis Deus permite faltas e dores, fraquezas e injustiças, para que façam a coisa certa e recebam soluções e consolos, ainda que em suas mentes isso seja uma barganha com o universo. Mas os maduros têm a oportunidade de ainda que tenham tudo o que necessitam, possam ser santos e amorosos por escolha, não por obrigação, por amor a Deus e aos homens.

21/07/25

O puro parece puro

      “Todas as coisas são puras para os puros, mas nada é puro para os contaminados e infiéis; antes o seu entendimento e consciência estão contaminados. Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda a boa obra.Tito 1.15-16

      Quem é puro parece puro, sem forçar o semblante, sem esboçar sorriso ou qualquer som. A pureza maior vem da alma, essa não pode ser encarcerada, escapa pelos olhos, a impureza também, se mostra no olhar ainda que a boca jure pureza. Se na alma houver leveza e paz, o olhar será puro, sereno, se na alma houver malícia e rancor, o olhar será vidrado, embaçado. No puro o Espírito Santo tem liberdade para entregar liberdade espiritual ao espírito, no impuro o espírito está possuído e obcecado, os olhos não mostrarão um, mas muitos. O puro acha simplicidade e luz, o impuro confusão nas mentiras do mundo, nas teorias de conspiração, nas superstições e misticismos. O impuro envelhece por dentro, o puro é espiritualmente novo ainda que o corpo esteja envelhecido. 

20/07/25

Não é tempo de exaltação

      “E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado.Mateus 23.9-12

      Esta reflexão é para mim, se servir a você, tudo bem, mas não tenho essa pretenção. Já entendi e aceitei, depois de sofrer por muito tempo negando, que meu tempo neste mundo não é de nenhuma forma para exaltação. Isso não significa que Deus não tenha me exaltado diante dos homens e pelos homens, sim, ele o fez, várias vezes, mas sempre para me consolar e me dar a referência que a exaltação que vem dele é maior e mais útil. Como desejamos glória de homens, e que engano é isso, é vício, insaciável, quanto mais se quer e se recebe, mais se busca e não basta. Por isso o caminho da humildade é caminho da felicidade que permanece e que a ninguém lesa, além de ser trabalho que constrói a glória que receberemos no céu. 

19/07/25

Com o íntegro te mostras perfeito

      “Porém fui sincero perante ele; e guardei-me da minha iniquidade. E me retribuiu o Senhor conforme a minha justiça, conforme a minha pureza diante dos seus olhos. Com o benigno, te mostras benigno; com o homem íntegro te mostras perfeito. Com o puro te mostras puro; mas com o perverso te mostras rígido.II Samuel 22.24-27

      As pessoas veem em suas vidas o que querem ver. Há muitos vivendo sem amor, sem santidade, com arrogância e vaidade, vendo Deus em seus caminhos. Na verdade Deus ouve e procura abençoar todos, à medida que seja autorizado pelas próprias pessoas. Há muitos apoiando a extrema direita, crendo em teorias de conspiração e vendo o diabo naqueles que elegeram como inimigos seus, do Brasil e das igrejas cristãs, que veem aprovação de Deus para suas crenças (e não estou aqui defendendo a esquerda, muitos dela incorrem no mesmo erro). O tempo revelará aquilo que de fato tem aprovação do melhor de Deus, o que ficará de pé e dará frutos de paz e verdade. O que sei é que o Senhor tem aperfeiçoado meu caminho, de forma maravilhosa, e a bênção tem ficado de pé, vejo isso em minha vida. 

18/07/25

Estupidez não prevalece

      “Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.João 15.5-6

      Não se preocupe com a estupidez, ela acaba tropeçando nas pernas insanas da arrogância, caindo e gerando provas contra si mesma, é só questão de tempo. O engano não fica de pé, ainda que adquira fama se pondo sobre os modernos palcos virtuais e sob os holofotes de likes, compartilhamentos e inscrições em perfis e canais de redes sociais e sites. O texto inicial é conhecido, bastante compartilhado aqui, mas parece que muitos cristãos ainda não o entenderam: laranjeira não dá limão, nem pé de limão morto dá limão, ainda que esteja de pé. Muitos parecem vivos mas estão secos, suas raizes não estão conectadas a Deus, é só questão de tempo para cairem e serem avaliados como inúteis. Pelos nossos frutos somos definidos. 

17/07/25

Deus guarda a alma dos seus (4/4)

     "O Senhor guarda você de todo mal; guardará a sua alma. O Senhor guardará a sua saída e a sua entrada, desde agora e para sempre." Salmos 121.7-8

      Deus guarda nossa alma de todo mal! Isso não significa que nossos corpos não sofram, sofrem como efeito de escolhas ruins que fazemos, mas também por termos almas que existem, ainda que em tempo passageiro, presas a esses corpos. Nossos corpos sempre morrem, mas refugiados nas mais altas regiões celestiais em Cristo nossas almas estão guardadas. É assim com todo ser neste mundo? Não, porque muitos escolhem não andar em conexão espiritual com o Altíssimo, assim entram em consonância com seres, encarnados e espirituais, que vibram na mesma frequência que eles. Isso entrega espaços físicos, lugares nos quais entramos e dos quais saímos, ao mal, mas não importa, Deus protege a alma de seus amigos. 

16/07/25

Deus dos universos (3/4)

      "O Senhor é quem guarda você; o Senhor é a sombra à sua direita. De dia não lhe fará mal o sol, nem de noite, a lua." Salmos 121.5-6

      Deus é a força que originou os universos, o material e o espiritual, mas Deus é eterno, sem começo nem fim, mas tem mais ainda, Deus cria tudo com perfeição para funcionar no tempo. Ainda que no presente algo pareça errado ou incompleto faz parte do processo que dirige tudo para o certo e pleno. Deus precisa agir de forma extraordinária, ou em outras palavras, num entendimento mais popular do termo, Deus faz milagres? Não faz porque não precisa fazer, ainda que aos olhos limitados pelo tempo e pelo espaço dos seres humanos certas coisas pareçam milagres. Na prática de nossas existências neste mundo não importa, importa temer a Deus e andar em humildade, santidade e amor, que tudo contribuirá para o bem. 

15/07/25

Deus é sempre o mesmo (2/4)

      "Ele não permitirá que os seus pés vacilem; não dormitará aquele que guarda você. É certo que não dormita, nem dorme o guarda de Israel." Salmos 121.3-4

    Temos a tendência de interpretar coisas espirituais usando referências materiais, equivocadamente achando que Deus, pai espiritual, se comporta como nossos pais neste mundo. Por outro lado podemos ver no Deus que pesa as almas com justiça e amor, um juiz homem, condenador e frio, também podemos entender que como somos emocionalmente, impacientes, entediados, infiéis, assim é Deus. O texto acima diz que Deus não dormita, não tosqueneja, não sai do estado de vigilância e excelência, porque ele nunca se cansa de ser bom. Assim, se nos sentimos desanimados, não confundamos essa disposição com a do Senhor, se o buscarmos o acharemos, Deus sempre nos dá uma nova chance, nunca se cansa de nós. 

14/07/25

Deus é superior a tudo (1/4)

      “Elevo os meus olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.Salmos 121.1-2

      Acima, alguns dos versículos espiritualmente mais relevantes da Bíblia, que junto de textos como Efésios 1.20-22 revelam a chave para a conexão com o Altíssimo. Os antigos de Israel do velho testamento já entendiam que a busca do Deus verdadeiro implicava em focar fé mental e emocional no alto, por isso muitos buscavam nos montes, há um segredo espiritual nisso. Não é só questão de sentirmos e entendermos um Deus maior que toda força e extensão material, mas de crermos numa potência espiritual mais elevada, acima de todos os outros seres espirituais. Se há um princípio básico para uma oração eficiente é, olhe para o alto e para frente, assumindo que temos proteção e orientação de alguém superior em todos os aspectos. 

13/07/25

Mal, ferramenta do bem (3/3)

      “Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.Isaías 45.6-7

      Um cristianismo desviado precisa do diabo tanto quanto de Deus, não fica de pé sem ter alguém para odiar, sem ter alguém do lado de fora para culpar. Isso entrega ao cristão uma ideia errada sobre si e sobre como dever ser o habitante do céu. Mas isso também é projetado na maneira como  muitos cristãos veem a administração da sociedade, demonizando a esquerda política tanto quanto outras religiões, e aqui não estou divinizando a esquerda. Vejam que esse desvio foi construído aos poucos, não está no evangelho genuíno do Cristo, ainda que muitos cristãos hoje acreditem que suas crenças têm base na palavra de Jesus. 
      O cânone bíblico também foi montado usando tal ótica distorcida, mas ainda que tal cristianismo tenha sido útil a Deus, já que não tinha no mundo outra coisa melhor, atualmente não é mais, por isso a vergonha que muitos cristãos estão passando, sem admitir, quando passam do papel de vítima para o de agressor. Dizer a um cristão, assim equivocado sobre o cristianismo, que um demônio ou uma pessoa injusta podem estar em seus direitos e que não devem ser expulsos ou derrotados, mas suportados em amor e humildade, é impossível, palavra assim é vista como derrotista, diabólica e herege.
      Uma iluminações que recebemos do Espírito Santo é entender que o céu é mais que lugar para descanso e adoração, que lá colhe-se mais que o que se viveu na Terra, mas justamente o contrário, o que se abriu mão de viver. Não venceu no mundo o que fez seu inimigo cair e não se levantar com alguns golpes, mas o que a si levantou repetidas vezes após cair e no final manteve-se de pé. O inimigo não é o outro, mas nosso ego, se vencido nos preparará para a melhor eternidade. Demônios são bem mais que seres maléficos eternos a serem expulsos, são ferramentas da justiça divina.

12/07/25

Inimigos têm direitos (2/3)

      “Quando, pois, vais com o teu adversário ao magistrado, procura livrar-te dele no caminho; para que não suceda que te conduza ao juiz, e o juiz te entregue ao meirinho, e o meirinho te encerre na prisão. Digo-te que não sairás dali enquanto não pagares o derradeiro ceitil.Lucas 12.58-59

      Jesus, encarnado como homem, ainda que santo, não deve vitória sobre o mal, se tivesse não tinha sido desrespeitado, caluniado, preso, torturado e morto. Contudo, teve vitória sobre as trevas e os demônios no plano espiritual, por ter reagido do jeito certo no plano material, tornando-se assim exemplo para toda a humanidade na Terra, como posição espiritual acima de tudo no céu para conectar o ser humano a Deus. Entretanto, ainda com esse exemplo por quase dois mil anos, não entendemos que nossa passagem neste mundo é para humildade, não para exaltação. 
      Eis um mistério, ninguém faz, conquista ou mantém algo se do alto não lhe for dado, assim, sem ter direito a isso, incluindo homens maus e demônios. Mas entenda certo esta reflexão, que como tantas vezes já feitas aqui tenta desmistificar certas crenças cristãs. Aceitar muitas oposições do mal nada tem a ver com ser escravo de vícios, dos prazeres do corpo de maneira desenfreada, ou com fazer qualquer espécie de pacto com espíritos malignos para receber alguma “dádiva”, ao contrário, só entende que muitas vezes se precisa perder para se ganhar quem de fato é cristão.
      Uma consequência do cristianismo desviado é ver a existência sob referências materiais, vê o céu só como uma exaltação das glórias do mundo. Por isso não aceita e não pratica o genuíno evangelho de Jesus, não quer perder aqui para ganhar lá, quer ganhar aqui e usa, indevidamente, o nome de Deus para isso, assim teologia da prosperidade, do domínio e outras manifestações de triunfalismo. Isso leva a outra consequência, a divisão dos seres em nós e eles, sendo nós com Deus e eles com o diabo, e esses, nossos inimigos, que devem ser destruídos para sermos vencedores.

11/07/25

Agradeça pelos inimigos (1/3)

      “Meus irmãos, tenham por motivo de grande alegria o fato de passarem por várias provações, sabendo que a provação da fé que vocês têm produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que vocês sejam perfeitos e íntegros, sem que lhes falte nada.Tiago 1.2-4

      Já ouvi muitas vezes crentes sinceros e bem intencionados dizendo, “não há lugar para espírito de derrota em minha vida, caiam fora demônios, a vitória de Deus está decretada sobre mim”. Em si, essas palavras não estão erradas, Deus quer e dá vitória para os que andam perto dele, demônios por sua vez são sempre agentes de males, isso não está sendo negado. Contudo, esse entendimento triunfalista pode levar a um desvio da vontade de Deus. Inimigos têm utilidade, não para tirar coisas, mas para nos levar a receber coisas melhores, não materiais, mas espirituais. 
      Só pedirmos que desconfortos saiam junto de seus causadores, pessoas que não nos respeitam e espíritos malignos que nos acusam, e não mudarmos de atitude, muitas vezes arrogante e amante de glória humana, pode levar-nos para o lado oposto da vontade de Deus para nós. Isso também nos conduz a fazer uma oração que Deus não ouve, assim cansar-nos e nos deixar ainda mais fracos. A razão é que Deus não quer nos livrar de certos inimigos, mas quer fazer-nos mais humildes e dependentes só da glória que ele dá, não da glória de seres humanos e de quaisquer espíritos. 
      Cuidado, quando pede que males se afastem de você, você pode estar perdendo uma oportunidade para fazer a vontade de Deus, que pode ser não fazer que você se imponha, mas que seja mais humilde e temente a ele. De tentação devemos pedir livramento, principalmente das que ultrapassam nossas forças, mas em provação podemos obter aprovação, com perseverante trabalho moral e espiritual, ainda que sejam exercidas por demônios sobre nossas vidas. Sabendo do exemplo da morte do Cristo, será que entendemos a quem de fato este mundo pertence, se às trevas ou à luz? Mas a eternidade pertence a Deus.

10/07/25

Quem são teus inimigos? (4/4)

      “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.I Pedro 5.6-7

      Deus não vai fazer isso por você, é você quem deve ver a relevância de querer vencer os inimigos certos. Lute consigo para que teu inimigo não seja o patrão ou o colega de trabalho que de alguma forma te impede de ter um cargo profissional melhor e consequente remuneração mais alta. Lute consigo para não ver em pessoas que te deixam desconfortáveis, inimigos declarados, inimizades que muitas vezes ocorrem só em tua cabeça. Lute para aceitar que teu principal inimigo é você, quando é orgulhoso, rancoroso, inseguro, carente, e não resolve tudo isso do jeito correto, recebendo e dando perdão, e buscando em Deus forças para ter sua vontade para tua vida como tua prioridade. Humilhe-se diante de Deus e ele te exaltará. 

09/07/25

Oportunidade de crescimento (3/4)

      “Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo por capacete a esperança da salvação” I Tessalonicenses 5.8

      A reação adequada que precisamos ter com opositores, principalmente se opõem-se à verdade de Deus antes de a nós, nos leva a concluir que somos, em grande parte, definidos por nossos inimigos. Opositores são bênçãos em nossas vida à medida que nos fornecem oportunidades para sermos melhores, e isso de forma extrema. Certas pessoas nos deixam de tal forma desconfortáveis, desconforto que amigos não nos causam, mesmo quando discordam de nós, que ou reagimos de forma espiritual para não perdermos a paz, ou nos rebaixamos ao nível delas. Por isso Deus permite certos “inimigos” em nossas vidas, dos quais não podemos nos afastar, como familiares. Sejamos gratos por eles, fortes na direção oposta que tentam nos enfraquecer, na eternidade saberemos o porquê. 

08/07/25

Quem sabe não humilha (2/4)

      “O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao SenhorRomanos 12.9-11

      Nossa principal missão no universo não é atingirmos um nível espiritual alto para sermos glorificados, deitarmos no “céu” em leitos celestes, só descansarmos e gozarmos recompensas, parando de vez em quando para louvar a Deus. Sei que essa é a conclusão na qual muitos cristãos chegam, doutrinados pela teologia tradicional, mas quem buscar mais o Espírito Santo entenderá que não é bem assim, ou pelo menos, não é só isso. Existir é trabalhar, quando não mais por si, porque já se conquistou autonomia, para os outros, em amor e humildade, sem ironia. Quem sabe e zomba de alguma forma de quem não sabe, ainda que no silêncio do coração, na verdade não sabe, não do Altíssimo, quem sabe cala, como já dito aqui. 

07/07/25

Ironia é pecado? (1/4)

      “Mas nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos. Portanto cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação.” Romanos 15.1-2

      O que anda perto de Deus e quer agradá-lo pode até se enganar, mas é sincero e tem a intenção de abençoar. Malícia, ironia e cinismo, não podem estar no coração, na mente e na boca do amigo de Deus, porque esses males pressupõem conhecimento da verdade, mas uso da mentira para humilhar ou diminuir de alguma forma o outro. Assim, tenhamos cuidado, quando Deus nos der calma e forças para sermos sábios, principalmente com os que gostam de falar e não de ouvir, que se acham mais donos da verdade que os outros, não usemos essa capacitação para sermos irônicos com o outro. Não me refiro aqui a sarcasmos menores que fazemos com amigos, mas a zombar daqueles que sabemos em Deus que estão equivocados.

06/07/25

Em novidade de espírito

      “Mas agora temos sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra.Romanos 7.6
      “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.II Coríntios 5.17

      Perdão de Deus, de si mesmo, para os outros, e se possível, dos outros, é o que dá a paz que nos permite começar nossa caminhada no Espírito para o Altíssimo. Ter essa experiência em toda a sua plenitude nos faz ver a existência como vida, não como morte, assim como algo novo, esperançoso e encantador, não velho, amargo e tedioso. Isso nos capacita ver as pessoas com olhos diferentes, não lembrando passado, erros e decepções, mas crendo que algo melhor, diferente e duradouro acontecerá. Só assim temos forças para encarar os orgulhosos, cínicos, falsos e céticos, não só por negarem o verdadeiro Deus, seu amor, sua paz e sua luz, mas por desacreditarem que alguém possa ser mais lúcido e espiritual que eles. 

05/07/25

Perdoa!

      “E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas. Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos não perdoará as vossas ofensas.Marcos 11.25-26

      Perdoa! Do fundo do teu coração, com toda tua força emocional e mental, perdoa. Verbalize isso em oração, em voz alta, não para as pessoas ouvirem, mas para você se ouvir. Perdoa o que te fizeram, ou mais, o que você sentiu que te fizeram, ainda que não tenham feito ou não tenham tido intenção de fazer. Perdoa também o que não fizeram para te auxiliar, quando te deixaram sozinho com um problema para resolver. Perdoa o silêncio de alguns, a ausência, mas também as falas caluniosas, desdenhando de você, condenando você, julgando teu todo só por uma pequena parte errada que talvez no presente nem mais exista. Mas entenda, quando há perdão há paz, não mais mágoa ou vingança, há só amor e felicidade.

04/07/25

Aos outros o que queremos para nós

      “Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão.Lucas 6.36-37

      Às vezes alguém não trata-nos como desejamos e generalizamos, julgamos a pessoa como deselegante com todo mundo. Se nós temos dificuldade para conviver com certas pessoas, ainda que vivamos bem com a maioria, por que não seria assim também com os outros? Não é porque alguém não ama-nos como queremos que a ninguém ama, não é porque alguém não é o cristão de qualidade conosco, que é com todos. Nós não conseguimos ser bons cristãos com todos, com alguns nos incomodamos de uma maneira que parece que tudo que há de ruim é suscitado em nós, ainda que busquemos em Deus ser amorosos, pacíficos e benevolentes com todos. Entreguemos aos outros o que queremos para nós, respeito e amor.

03/07/25

Amor sem limite

      “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.João 3.16

      Precisamos dar a cada ser humano o respeito que Deus dá a todos, ainda que sejam diferentes de nós, que pensem, ajam e escolham diferentemente de nós. Isso é viver a vida com temor a Deus e humildade, sabendo que ninguém merece mais que ninguém, nem uma recompensa, nem uma disciplina, e que só cabe a Deus avaliar, recompensar e disciplinar. Quem entende isso entende a existência e o universo sob o ponto de vista espiritual. Não é fácil viver assim e muitas vezes temos como principal opositor um falso cristianismo que potencializa medo do diabo e do inferno, mas quem vive tem a paz maior e a iluminação mais alta, entende ainda que não seja entendido, está protegido em meio à guerra mais violenta, é amigo de Deus.

02/07/25

Amor tem limite?

      “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” I Coríntios 13.4-7

      Quem limita o tamanho do amor que será compartilhado é quem recebe o amor, não quem dá. Quem dá deve estar preparado para dar tudo que Deus orienta a dar, não tudo que quer dar. Muitas vezes queremos dar mais que podemos e mimamos os outros desrespeitando a nós mesmos. Outras vezes não damos o que podemos, por orgulho, medo ou carência, assim, obedeçamos o que Deus nos manda dar. Por outro lado, ainda que possamos amar muito, o outro pode não querer receber tudo isso, dessa forma cabe-nos respeitar o limite alheio. Até amor imposto, não é amor, nem Deus se impõe. Se tudo que o outro quer receber como amor é que o ouçamos calados, que seja assim, o amor espera pacientemente, mesmo um momento no futuro quando o outro nos permitirá amá-lo mais. Deus age assim conosco em grande parte do tempo. 

01/07/25

Voltando ou fugindo?

      “Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céuII Coríntios 5.1-2

      Será que estamos entendendo nossa vocação espiritual mais alta? Como estamos usando nossa passagem neste mundo, para voltar ao lar, ou para fugir dele? Quem prioriza os prazeres, as vaidades e os poderes materiais, foge de casa, tentando satisfazer-se no mundo. Quem, achando-se com focos mais altos, quer cuidar do planeta e da saúde, ainda que isso tenha sua utilidade, mas idolatra a ciência, também pode estar fugindo do lar. Mas quem quer impor princípios religiosos na sociedade, de forma política, nos moldes da nação de Israel do Antigo Testamento, também foge de seu lar mais elevado. Toda fuga resiste à morte e ao juízo, já o caminho para o lar de todos os espíritos, conduz à vida eterna e a um “céu”. 

30/06/25

Aprovados ou repetentes? (4/4)

      “Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a ti. O ímpio tem muitas dores, mas àquele que confia no Senhor a misericórdia o cercará.Salmos 32.9-10

      Muitos enriquecem, obtêm graduações acadêmicas, recebem honra dos homens e até são tidos pelo meio cristão como religiosos de qualidade, contudo, espiritualmente são alunos repetentes ainda nas primeiras provas. Se falhamos na vocação espiritual que Deus, não nós ou os homens, nos dá, não temos vitória moral, assim podemos nos tornar falsos moralistas, hipócritas, defendendo agendas na palavra e na aparência, mas não na prática e no espírito. Na verdade muitos passarão para o outro plano arrogando o céu e não o terão. Será que nosso homem interior pode ser enganado? Não pode, se olharmos para dentro de nós sob a luz de Deus, saberemos se estamos sendo aprovados, ou se estamos só nos enganando. 

29/06/25

Sejamos aprovados! (3/4)

      “Antes de ser afligido andava errado; mas agora tenho guardado a tua palavra.” “Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos.Salmos 119.67, 71 

      Podemos achar que sofremos por não conseguirmos o melhor de Deus para nós, mas não é. Sofremos por desobedecer a Deus, na desobediência nos distanciamos de Deus, não somos fortalecidos, somos presas de erros e males e como efeito sofremos. Paz não está em tentar fazer o que achamos ser o melhor, mesmo de Deus, paz está na obediência à vocação de Deus para nós. Nessa vocação aceitamos a prova principal que Deus nos dá e perseveramos para sermos aprovados nela. Nossa passagem neste mundo pode ser só um curso para sermos anjos, e Deus forma anjos para tarefas diferentes, se não somos aprovados a prova é reaplicada. Somos alunos aprovados ou repetentes, ainda que achando que estamos fazendo muito e certo? 

28/06/25

Aceite a provação de Deus (2/4)

      “Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas.I Pedro 2.19-21

      Humildes aceitarão sua provação principal mais depressa, então, poderão trabalhar para serem aprovados nela. Se a prova for receber injustiça e não reagir, poderemos ser humilhados até por nossas próprias fraquezas, até entendermos que não adianta tentarmos convencer as pessoas que somos bons, temos que nos calar e sermos bons para Deus. Como músico tenho uma prova clara, ainda que eu dê meu melhor numa performance, não devo esperar aplausos de homens, faço para Deus e se o homem reconhecer não dou a isso importância demasiada, entendi que minha prova é depender só do que Deus pensa de mim. A providência divina permite que sejamos expostos naquilo que temos mais dificuldade de ser.

27/06/25

Que provação Deus te dá? (1/4)

      “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” II Pedro 1.10-11

      Os seres humanos estão no mundo para serem submetidos a provações específicas, e serem aprovados nelas. Ocorre que o ser humano, em grande parte das vezes, não foge do trabalho, mas pode fugir da prova, assim para não encarar a prova que Deus tem sobrecarrega-se de trabalhos. A execução desses trabalhos, muitos deles necessários a uma existência digna no mundo, pode ser usada como álibi para não obedecer a Deus e para obter alguma satisfação. Mas a paz e o sucesso advindos desses trabalhos são ilusórios, não mudam o homem interior, portanto não podem ser levados ao outro mundo. Precisamos primeiramente identificar a prova de Deus para nós, isso não é algo fácil, ainda que o universo nos exponha a provas o tempo todo.

26/06/25

Montanhas que não movem-se (4/4)

      “E Jesus lhes disse: Por causa de vossa pouca fé; porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada vos será impossível.Mateus 17.20

      Deus não chama-nos para mover montanhas de lugar, mas para subi-las, descê-las, ou simplesmente para darmos a volta nelas por baixo. Não estamos com isso negando o ensino do Cristo, mas reavaliando uma possível interpretação equivocada que muitos cristãos fazem do texto acima. A verdadeira e maior montanha está dentro de nós, não fora, e esse é vencida com fé, obediência a Deus e humildade. Mas existem, sim, montanhas externas, são essas que não podem simplesmente desaparecer ou mudarem-se de lugar, Deus não trabalha assim. Essas dependerão de nosso trabalho duro para serem ultrapassadas ou então só para nos desviarmos delas, já que em muitas guerras Deus não nos dá vitória porque não manda que entremos nelas.

25/06/25

Qualidade da fé (3/4)

      “Disseram então os apóstolos ao Senhor: Acrescenta-nos a fé. E disse o Senhor: Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Desarraiga-te daqui, e planta-te no mar; e ela vos obedeceria.Lucas 17.5-6

      Na verdade, a eficiência da fé, para acessar Deus e virtudes maiores e eternas, não é avaliada pela quantidade, mas pela qualidade. Você não precisa ter fé que move montanhas físicas, olhando para o tamanho do problema externo e tendo forças mentais e emocionais para ver o problema mudar de lugar. Com pequena, mas firme e focada fé, você pode se colocar em conexão espiritual com o Altíssimo e se posicionar espiritualmente acima da montanha mais alta de dificuldades, vendo-se elevar-se e ultrapassar o problema pelo alto. Isso parece fantasioso? Mas será que precisamos de vitória maior que dentro de nós? Vitoriosos no homem interior teremos forças para subir e descer qualquer tamanho de montanha. 

24/06/25

Verdade ou mentiras? (2/4)

      “Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso; alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.” I Pedro 1.7-9

      A verdade é uma só e perene, uma mentira precisa de novas mentiras para seguir existindo, infelizmente isso dá uma falsa sensação de abnegação e espiritualidade ao mentiroso, que se acha melhor por ter uma fé mais extensa. Quem crê em mentira é mentiroso, ainda que coloque o nome de Deus no assunto, e mentiroso precisa falar mais, para se convencer que sua agenda é legítima. Diferente é quem crê na verdade, que recebendo aprovação de Deus por isso tem paz e se cala, mesmo injuriado, desacreditado e odiado. Fé na mentira é complicada, ama teorias de conspiração, e nega até a ciência. Fé em Deus é simples e direta, entrega lucidez para administrarmos até assuntos que não precisam de fé, como a ciência. 

23/06/25

Quanta fé precisamos? (1/4)

      “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei.” Gálatas 5.22-23

      Não tem jeito, as coisas espirituais precisam de fé para serem acessadas, é assim enquanto estamos num plano físico com referências materiais. Nessa experiência ferramentas diferentes são construídas, mas todas para um mesmo fim, Deus, não é Deus que muda conforme a mente humana, mas a ferramenta para se conectar a ele que varia. De um jeito ou outro, fé é preciso, contudo, para se ter acesso à verdade é preciso de menos fé que para termos acesso à mentiras. Para a verdade temos que nos superar, mas para a mentira temos que superar a nós e ao verdadeiro Deus. Quem tem fé em mentira sobre Deus, ainda que diga que crê em Deus e seja amado por ele, crê numa fantasia, num ídolo, como tal essa fé não é fruto do Espírito, só convicção insana. 

22/06/25

Exaltar-se ou superar-se? (2/2)

      “E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.II Coríntios 12.9-10

      Superar defeitos ou exaltar qualidades? Sob o ponto de vista da evolução espiritual estamos no mundo muito mais para superar defeitos. O mundo atual, contudo, pelos livros de autoajuda, pelos palestrantes motivacionais, pela pedagogia do ensino, pensa diferentemente, cada ser humano deve ser aproveitado em suas facilidades, quanto às suas dificuldades podem ser relevadas. Para a evolução e manutenção da ciência, que administra o plano material, isso é verdade, espirituais não devem desconsiderar isso. O que precisamos fazer é separar as coisas, evolução material, científica e financeira, necessariamente não significam evolução moral, portanto espiritual, assim não definirão nossos homens interiores na eternidade.

21/06/25

Superar-se ou exaltar-se? (1/2)

      “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.Filipenses 2.5-8

      Muitos, incluindo bons cristãos, confundem as coisas, não estamos neste mundo para elevarmos nossas qualidades, mas para superarmos nossos defeitos. Para que isso seja conseguido, a providência divina permitirá mesmo que nossas qualidades não sejam reconhecidas pelos homens. Equivocar-se sobre isso leva muitos a fazerem muitas coisas, coisas úteis para os outros, mas não para si mesmos, assim não evoluem de fato, não enfrentam suas verdadeiras dificuldades, as interiores, ainda que vençam muitas dificuldades exteriores. Se Jesus tivesse exaltado suas virtudea teria sido um rei do mundo, superior a Davi, como os judeus da época queriam, mas ele superou-se com humildade e silêncio, suportando injustiça.