24/10/25

Você está preparado? (2/4)

      “— Ao cair da tarde, o dono da vinha disse ao seu administrador: "Chame os trabalhadores e pague-lhes o salário, começando pelos últimos, indo até os primeiros." Chegando os que foram contratados às cinco da tarde, cada um deles recebeu um denário. Ao chegarem os primeiros, pensaram que receberiam mais; porém também estes receberam um denário cada um. Mas, tendo-o recebido, começaram a murmurar contra o dono das terras, dizendo: "Estes últimos trabalharam apenas uma hora, mas você os igualou a nós, que suportamos a fadiga e o calor do dia." — Então o dono disse a um deles: "Amigo, não estou sendo injusto com você. Você não combinou comigo trabalhar por um denário? Pegue o que é seu e saia daqui. Pois quero dar a este último tanto quanto dei a você. Será que não me é lícito fazer o que quero com o que é meu? Ou você ficou com inveja porque eu sou bom?" — Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos.Mateus 20.8-16

      Por favor, leia todo o capítulo vinte de Mateus para melhor entendimento, usarei a passagem na reflexão, mas sem fazer estudo bíblico minucioso. 

      Você está preparado para o juízo? Eu não estou, mas tento me preparar o máximo que posso. Não, não há incredulidade nessa minha resposta, penso que ela é a mais coerente para quem busca se aproximar mais da luz do Altíssimo. Espiritualidade não nos faz sentir mais puros, mas mais impuros, quanto mais pedimos perdão, mais culpados nos sentimos, e entenda isso também do jeito correto. Não significa que eu não tenha paz, tenho, e cada vez mais, mas ela também se torna cada vez mais sensível, pouca coisa me faz perdê-la. Quem chega à velhice forte, em si mesmo, com todas as respostas e certezas, não se aproximou de Deus. Chegar ao final da vida mais fragilizado é o que agrada a Deus, ainda que vencendo mais o pecado.
      A verdade é que há um antagonismo trágico, muitos que têm certeza de aprovação de Deus, podem até ser aprovados por religião, mas na certeza pode haver arrogância, assim, preconceito e intolerância com quem não tem certeza ou não dá relevância para ela. Já muitos que não têm certeza e sofrem com isso do jeito certo, lutando para serem melhores, para serem dignos pelo menos do último lugar na fila de entrada do Paraíso, podem ser os primeiros a entrar nele. O ensino da passagem acima é: Deus não nos recompensa só pela quantidade que fazemos, mas pela qualidade, Deus não nos aprovará pelo que aparentamos fazer diante de homens no mundo, mas pelo que fazemos dentro de nós, pela misericórdia dele e para ele. 
      Estamos preparados para o juízo? Vaidosos e arrogantes nunca estão preparados, ainda que assíduos em cultos, trabalhadores em igrejas e defensores da moralidade da tradição judaico-cristã. Sabemos que fazemos as coisas do jeito certo, que serão bem avaliadas por Deus no juízo, quando não nos comparamos aos outros, quando não condenamos quem achamos que anda errado, ou invejamos quem achamos que anda certo, ainda que podemos condenar também esses, para não admitirmos a nós mesmos que eles andam mais certo que nós. Quem está bem preparado para o juízo é humilde e sabe amar, assim acha e segura paz e santidade, porque recebe misericórdia e dá misericórdia, persevera e reconhece perseverança alheia.
      Confesso, que como protestante/evangélico desde 1976 (quando tinha 16 anos), tive fases diferentes com percepções diferentes sobre “certeza de salvação” e lugar no céu. No início, como batista tradicional, me achava na obrigação de ter certezas e de saber tudo, assim não tinha dúvidas sobre ser um salvo destinado ao céu, mas na prática, esse foi meu pior tempo de vida, cheio de secretos erros e dores. Depois perdi o medo, pensava, o que vier, Deus sabe, contudo não sofria tanto com possibilidades ruins, coincidiu com um tempo de busca e assunções pessoais onde de fato me conheci. Mas de uns anos para cá achei coerência entre fé e obras, também conquistei qualidade moral, esta reflexão reflete o que penso hoje.
      Talvez o ponto não seja termos certeza de como será a outra vida e de onde estaremos lá, mas estarmos convictos que somos amigos de Deus nesta vida. Quando confiamos num amigo, se ele disser que vai nos levar a um lugar bacana, a gente vai, mesmo sem saber detalhes do lugar, o que importa é que somos amigos próximos de alguém que quer o nosso bem. Será que importa sermos o primeiro da fila, já que sabemos que o dono da festa é nosso amigo? O primeiro da fila é visto pelos outros, mas pode estar lá de maneira equivocada, assim poderá até passar mais vergonha se o dono negar sua entrada à festa. O de fato amigo de Deus não tem carência de ser visto pelos homens, espera paciente e humildemente sua vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário