Diabo 5G (2/2)

      “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.” Gênesis 3.6-7

      Na evolução do homem o pecado “evoluiu”, o “diabo” mudou, os “demônios” sintonizados pelo pecado do homem mudaram. A cabeça do homem muda e configura-se para “demônios” atualizados. Ainda assim, muitos púlpitos teimam em pregar só contra os pecados mais baixos, o que não é em si um erro, já que muitos que procuram igrejas evangélicas no Brasil hoje querem libertação de pecados básicos. O erro está em achar que o “diabo” parou aí, que só adultério, bebedice, ira, roubo e assassinato, são sua agenda. 

      O erro é impedir um camundongo de passar e deixar solto um paquiderme, pois isso hoje o “diabo” não quer tirar as pessoas das igrejas. Não digo que pecados básicos corram solto, não na maioria das igrejas, há uma atenção com adulterar, beber, fumar, matar e roubar, mas tirando isso muitos cristãos estão livres para viverem um cristianismo infantil. Isso só trata um nível de pessoas, quando são as do outro nível que liderarão o planeta no final. Ao “diabo 5G”, chamemos assim, grande parte das igrejas não combate. 

      Longe de Deus há trevas, e mesmo que as pessoas estejam munidas de informações científicas, de bandeiras sociais de respeito às minorias e não à intolerância, fazendo o que podem para respeitarem e manterem o planeta, terão vidas torturadas pelo mal. Ciência cura o corpo, até ajuda a acalmar a mente, mas não dá paz ao espírito. Pessoas num nível espiritual superior até superam pecados do primeiro nível com facilidade, mas na arrogância tentam vencer os pecados do seu nível com a ciência, não com Deus. 

      O fim voltará ao início, para as palavras da “serpente médium” (Gênesis 3), fechando assim o loop, a serpente não propôs um mal direto ao homem, mas uma vida melhor através do conhecimento, o fogo do mito grego Prometeu. A ciência não é do diabo, mas pode ser usada como instrumento do mal quando afasta o homem de Deus. No fim será exaltado o conhecimento do homem para tentar construir um planeta melhor sem Deus. A estratégia do “diabo 5G” do final dos tempos, já nos foi revelada no início da Bíblia 

      O “diabo” não disse ao casal mítico que se comesse do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal poderia usufruir mais os prazeres do corpo, comer, beber, fazer mais sexo, por exemplo, de maneira ilimitada, sem restrições morais. Não, pelo próprio nome da árvore, portanto sendo colocada no jardim por Deus e não pelo “diabo”, o fruto concederia “conhecimento”, semelhante ao que Deus possui. Note que o homem já foi tentado num segundo nível de pecado, portanto numa agenda do “diabo 5G”. 

      A última ilusão da matéria achará ter destruído Deus pelo ateísmo, não aceitará a relação pessoal com um Deus de amor que o evangelho de Jesus ensina, ainda que estará aberta às “boas energias” e ao auto-controle vindos da prática de meditação de religiões orientais. Mas isso será só uma tentativa, a última de uma era, ainda que apoiada por muitos, nesse momento os que viverem uma comunhão verdadeira com Deus sofrerão, não risco de vida, mas a pressão de grande parte da sociedade para negarem o que vivem. 

      Eu tenho algum receio de dar palavra como essa, muitos cristãos são imaturos, não buscam orientação do Espírito Santo, só querem leis para obedecerem cegamente. Assim, o perigo de dizermos que ciência poderá ser usada como instrumento do mal, é muitos usarem isso como álibi para serem negacionistas, verem o diabo na ciência e se colocarem contra aqueles que defendem a ciência. Quem faz isso comete o mesmo equívoco que os que usam ciência para negar a Deus cometem, o extremismo, que nunca é útil. 

      Será que a igreja está preparada para o “diabo 5G”? Penso que não, prova disso vemos hoje, quando muitos evangélicos apoiam lideranças cristãs e políticos que se dizem cristãos, mas que só combatem um “diabo” ultrapassado. Uma armadilha foi armada e muitos evangélicos caíram, olharam para trás e deixaram de ver o futuro. Olhar para trás é mais fácil, basta ler a Bíblia e obedecê-la ao pé da letra, isso bastou para o cristianismo antigo, que tentando ser usado hoje traz mais trevas que luz, conflitos que paz.

      Olhar para frente envolve trabalho, espiritual e intelectual, que confronta teorias com prática, mitos com verdade, fé com ciência, e que acha orando a Deus respostas diretas do vivo Espírito Santo. Mas calma, isso é só uma fase, logo passará, enganam-se os que acham que o confronto que um cristianismo faz hoje a um “diabo” envelhecido é o fim. No fim, que também será só o fim de mais uma era e não do mundo, teremos que enfrentar o “diabo 5G”, e esse será vencido com a virtude do Espírito Santo em todos os seres.

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a 1ª parte desta reflexão

O diabo muda (1/2)

      “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.” Gálatas 5.19-22

      O mundo hoje tem pessoas em níveis espirituais diferentes, esses níveis são diferenciados não pelas virtudes que as pessoas praticam e devam praticar, objetivos morais são os mesmos para todos sempre. A diferença está no tipo de “pecado” que as pessoas têm que superar para poderem ser virtuosas. Paulo dá uma relação de “pecados”, digamos assim, no que denomina obras da carne, opondo-se ao fruto do Espírito, citado no singular, mas que compreende um grupo de virtudes, conforme texto bíblico inicial. 

      As obras da carne são efeitos de escolhas erradas nossas, o fruto do Espírito é o efeito da obra de Deus em nós quando fazemos a escolha certa. Quando pecamos o fazemos por nossa exclusiva vontade, quando somos virtuosos duas vontades se associam, a nossa, querendo não pecar e permitindo que o Espírito Santo nos ajude nisso, e a vontade do Espírito Santo, manifestando as virtudes, o seu fruto, em nós. Se no pecado estamos sozinhos, nas virtudes Deus nos auxilia, assim só serão virtudes se houver também a ação de Deus. 

      O ponto importante do texto bíblico inicial ensina, não sobre os efeitos, aquilo que o homem pode ou não praticar, mas sobre a causa que o leva a praticar isso ou aquilo, a causa é a presença do Espírito Santo. Isso, ainda que com uma experiência real com o Espírito de Deus o homem possa errar, e mesmo que o homem não creia em Deus e nunca tenha provado comunhão com seu Espírito de forma plena, possa levar uma vida moralmente equilibrada, pelo menos socialmente, na aparência, naquilo que as pessoas veem. 

      O pecado mais importante do homem, do qual se origina todos os outros, é não crer em Deus. O ser humano poderá ter uma vida correta se não crer em Deus? Sim, mas só através de suas próprias forças, e ainda que vença certas fraquezas estará em trevas, mesmo que tenha certos controles terá uma alma perturbada, sem paz interior. Crer em Deus não é só acreditar em sua existência, mas confiar a vida a ele, receber perdão dele, fazer sua vontade, isso persistentemente até o fim da jornadas humana neste mundo. 

      O “diabo” mudou e muitos cristãos não perceberam. Por que ele mudou? Porque o homem mudou, sim, meus queridos irmãos evangélicos, por mais difícil que seja para muitos entenderem isso, o “diabo” não é um conceito absoluto, como é Deus, imutável nas virtudes mais elevadas, o “diabo” muda com o tempo. Para melhor? Por um lado até poderíamos dizer que sim, mas por outro lado pode se tornar mais sofisticado e sutil, assim, mais difícil de ser identificado. Se o pecado no homem muda o “diabo” muda também. 

      Como já dissemos, nossas mentes são receptores de ondas espirituais, comparando com frequências as mais baixas sintonizam espíritos malignos e a mais alta o Espírito Santo. Espíritos malignos fazem “trabalhos” distintos, mais ou menos conforme as obras da carne de Gálatas 5.19-22, quando queremos um pecado um demônio específico pode entrar em sintonia conosco. Mas o fruto do Espírito Santo é citado no singular porque só há um Espírito, assim, sintonizados em sua frequência temos acesso a todas as virtudes.

      Vemos essa mudança do pecado e do “diabo” verificando o estilo de vida do homem antigo, de guerras sangrentas e constantes. Como você acha que era a psique de um ser humano que vivia numa sociedade que banalizava a violência e a morte? É certo que podia haver um contrapeso, o homem antigo era menos sensível que somos atualmente, assim era menos impressionado pela barbárie. Mas eis outra coisa que evangélicos precisam aceitar, quem deu evolução ao homem, mesmo moralmente, não foi a religião.

      Não estou me referindo a Jesus, esse foi, é e sempre será o caminho reto e direto para o Altíssimo, contudo, o catolicismo e o protestantismo não entregaram esse Cristo puro à humanidade, por isso a providência usou a ciência para colocar o homem novamente em sua trajetória evolutiva. Vivemos um tempo especialmente difícil, onde a velha ordem do cristianismo resisti à nova ordem da ciência, um conflito inútil. Quando essa guerra tiver fim, e quem tem que finda-la são os cristãos, Jesus será exaltado. 

      Quando me refiro à ciência me refiro à medicina, psicologia, antropologia, pedagogia, à ciência política e tantas tecnologias que tiraram o homem do trabalho duro do campo e o levaram aos centros urbanos. Essas ciências conduziram a humanidade a uma evolução civilizatória, trouxe a democracia, desconstruiu o sexismo, acabou com a escravidão, o homem parou de temer o “Deus” da igreja. Ainda temos problemas e o cristianismo não entendeu que seu lugar não é opor-se à ciência, mas houve evolução.

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a 2ª parte desta reflexão

Podres poderes

      “Pois quem no céu se pode igualar ao Senhor? Quem entre os filhos dos poderosos pode ser semelhante ao Senhor?” Salmos 89.6

      Aqueles que acham que os responsáveis pela situação ruim da sociedade são maus políticos ou maus eleitores, seja no Brasil ou no mundo, se enganam. A ordem dos poderes no mundo é a seguinte, econômico, midiático e político, esses são os três principais, além desses temos outros dois secundários, da religião e da ciência, que podem ser manipulados pelos outros três. Isso significa que jornais, redes de televisão e publicidade, obedecem ao poder econômico e têm pouco interesse nos políticos, o poder político por sua vez também obedece o poder econômico, ainda que possa ser manipulado pela mídia.

      A religião, enquanto fé no espiritual, pode ser manipulada pelos três poderes principais, mas como intenção econômica, que sempre possuiu, pode manipular os outros poderes. Ingênuos os que veem religiões como puramente espiritual, nunca foi assim, principalmente no cristianismo, ainda que comecem puras, sempre se corrompem, todas elas. A ciência, contudo, pode possuir adeptos ainda mais ingênuos que a religião, pois esses creem que a ciência, por ser dona do ponto de vista mais verdadeiro, está acima dos outros poderes, não podendo ser por isso manipulada, mas ela é, ainda que tenha a mídia a seu favor. 

      A ciência precisa de investimentos para ser realizada, quem paga tem interesses e ideologias, financiará o que lhe for interessante para estabelecer na sociedade seus objetivos, isso nas mais diversas áreas. Assim certos remédios ganham investimentos e outros não, certas doenças são curadas e outras não, certos combustíveis são desenvolvidos e outros são mantidos, certos aprofundamentos históricos são feitos e outros temas são mantidos no desconhecido. Se há grana envolvida, para fazer algo ou para se ganhar com algo feito, há escolhas, há conveniências, não para o bem da maioria, mas para o lucro de alguns. 

      Economia como poder em si mesmo é algo mais recente, no passado da civilização ocidental os poderes religioso e político se misturavam, sacerdotes tinham poder político e imperadores se diziam legitimados pelo divino. Poder econômico era direito dos vencedores nas guerras e com poderes religioso e político, os outros se resignavam à opressão como seus destinos. Poder econômico só passou a existir independente de realeza e clero pelas revoluções progressistas da burguesia, que derrubaram o conservadorismo, permitindo a qualquer um que acumulasse riqueza, ser poderoso e interferir na sociedade, na política e na mídia. 

      O poder da mídia é a informação, ela também existia nos tempos mais antigos. Quando um novo faraó egípcio tomava poder, destruía as obras do faraó anterior e construía novas, ele erguia e mantinha com exclusividade monumentos de sua pessoa, de seu poder. Quem visse esses monumentos algum tempo depois, caso eles resistissem aos anos e não fossem destruídos por outro faraó, acharia que o faraó que os tinha construído fosse único e eterno, baseado na informação presente. A escrita, o jornal, os livros, enfim, a informação democratizada, ainda que também manipulada, daria às mídias poder em si mesmo. 

      Mídia é um poder que tem sido modificado nos últimos tempos pela internet e redes sociais, onde não é preciso ser profissional ou disponibilizar informação paga, qualquer pessoa pode criar uma informação e divulgá-la para todos em tempo real. Mas ainda que tenha autoria individual a informação é manipulada, e como tal cumpre a intenção de algum poder. O dono da informação pode até achar que divulga algo com independência, de acordo com suas ideologias políticas ou religiosas, mas mesmo ele pode não saber que é influenciado por um poder econômico, que se não o manipula, manipula sua religião e seu ideal político. 

      O filme de Orson Welles, “Cidadão Kane”, para muitos o melhor filme de todos os tempos, que conta história baseada no magnata da imprensa William Randolph Hearst, coloca um conceito da modernidade, informação é poder. Ainda que adeptos ingênuos creiam que a imprensa, ou parte dela, seja isenta e não responda a ninguém, ela tanto manipula como é manipulada pelo poder econômico. Há crentes ingênuos de todos os poderes, religioso, político, midiático, mas dinheiro compra tudo, e quando o poder alcança um nível, não é mais para adquirir mais bens, mas simplesmente para ser poder. Poder é fim em si mesmo. 

      Em quem confiar? Em Deus, mas no Deus verdadeiro, não naquilo que o poder econômico, o midiático, o político, o religioso e o científico dizem que Deus é, já que tudo que tem a mão do homem se corrompe, assim é preciso independência de pensamento e de escolha para achar Deus. Pensar e escolher implicam em não se abrigar debaixo dos poderes deste mundo, isso não é fácil, requer coragem, um compromisso pessoal com o genuíno Deus. O abrigo dos poderes deste mundo são sedutores, conferem aprovação de homens, desobriga de trabalho intelectual e espiritual, mas quem se liberta deles conhece o real todo-poderoso. 

50% incerto

      “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo! Ai dos que são sábios a seus próprios olhos, e prudentes diante de si mesmos!” Isaías 5.20-21

      Pessoa extremista pode equivocar-se extremamente. Quem não tem equilíbrio na maneira como se vê, não poderá ter equilíbrio na maneira como vê os outros, a vida, a morte, a Deus ou ao diabo. Moderação nasce da humildade, que não vê a si mesmo como herói, nem como vilão, mas como um ser humano limitado que faz escolhas, algumas boas, outras ruins, assim também pode ver tudo com temperança. Sem humildade há arrogância, pois não se olha as coisas com a ótica ampla e iluminada de Deus, mas com uma ótica egoísta que se equivoca para os extremos, pode ver a si mesmo como a pior pessoa, se submetendo e não se valorizando, ou como a melhor pessoa, subjugando e não valorizando os outros. 

      A verdade é que não há seres eternamente bons ou maus, só seres aprendendo e podendo melhorar, ainda que demore um tempo. Quando não se tem humildade para aceitar essa verdade, ainda que se creia num bem, se achará que esse bem deve ser imposto aos outros, e aqueles que não aceitarem isso serão tidos como maus. O arrogante pode inverter os valores quando pensa que por estar do lado do bem, pode desejar o mal aos maus, condenando-os ao inferno, mas quem destrói não é bom, tenha esse a intenção que tiver. Deus não é bom por odiar o mal, mas por amar a todos, ainda que nele não haja mal algum, o mal não é pior por odiar o bem, mas por não amar, sem amor não há Deus, mesmo que se use o nome de Deus. 

      O texto bíblico inicial é tão sério quanto atual, se refere mais que a religiosos, mas a líderes religiosos, que em nome do bem fazem o mal e se acham no direito disso. Jesus foi morto por líderes religiosos judeus porque esses achavam que estavam agindo certo e tinham direito a isso, enquanto faziam a coisa errada, chamavam seu mal de bem e o bem de Jesus de mal, se diziam embaixadores de Deus e Jesus instrumento do diabo. No Brasil, hoje, muitos evangélicos se achando defensores da verdade e da moral, donos de uma interpretação genuína do fim de mundo, com a intenção de implantarem o reino de Deus aqui, apoiam maus políticos, condenam homoafetivos e demonizam quem pensa diferentemente deles.

      Todo o mal se resume à falta de humildade, que não se respeita e assim não respeita os outros, que rechaça os fracos que ainda não adquiriram fortaleza moral e por isso erram, que se acha santo enquanto só faz papel de demônio acusador, não de médico que ajuda no restabelecimento de doentes. Muitos cristãos não amam, mas se acham mais merecedores do céu que os outros, não colocam em ordem suas igrejas, mas querem consertar a sociedade com religiosos nos três poderes da república, veem o anticristo e o sinal da besta em tudo, mas não veem o engano no falso mito em que creem e no qual seguem. Sem humildade não há equilíbrio, só enganos extremos, que confunde trevas com luz, amargo com doce. 

      Ninguém acerta sempre, meus queridos irmãos evangélicos, nem vocês podem ter certeza de tudo, ainda que creiam que a Bíblia seja a palavra de Deus e que essa lhes revela a verdade, muitas das convicções que vocês têm são só pontos de vista, muitos conhecimentos só receberemos na eternidade. Isso não os impede de serem santos, humildes e amorosos, mas entrega a sabedoria que sabe que todos nós podemos ser surpreendidos, e se não sabemos tudo sobre Deus, que é luz e bem, quanto mais sobre o mundo, que está em trevas enquanto administrado por homens egoístas e gananciosos. Sejamos sábios, quem acha estar cem por cento certo tem grandes chances de estar cem por cento errado. 

      Quem se considera estar só meio certo, se estiver totalmente errado ainda poderá estar meio certo. Isso não significa confiarmos em Deus só em partes, mas significa entendermos que nem tudo que achamos que é de um jeito, e mesmo que achamos que Deus faça de um jeito, é de fato verdade. Deus pode estar fazendo certas coisas de formas bem diferentes de como achamos que ele faz. Para quem sabe tudo não há mistérios, não há aventura, não há fé, nem há Deus, se já temos certeza de como as coisas acontecem, para que nos esforçarmos para conhecermos mais o Senhor? Guarde em você lugar para o desconhecido, para a dúvida, esse é o lugar onde Deus mais existe, nas tuas incertezas, não nas tuas certezas, esteja 50% incerto. 

A verdade vem para a luz

      “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” João 3.19-21

      Abrir os olhos para a verdade, a nossa e a de Deus, nos faz entender a relevância de Jesus assim como o sentido maior de nossas existências. Isso enxerga o espírito como superior à matéria, mas principalmente, o amor como superior à glória humana. A glória humana não busca necessariamente o mal, o egoísmo, a vaidade, mas enaltece o humanismo, o homem como único responsável pelo seu bem, dos outros seres humanos e do planeta. Temos visto muito isso nos dias atuais, e esse é o pior tipo de “satanismo”, usando um termo que tanto cristãos como ateus podem entender de um jeito errado. 

      Sim, cristãos, “Satanás” pode representar um ser espiritual do mal, rebelde à melhor vontade de Deus, ainda que absolutamente sujeito a ele, mas isso é muito menos que o termo pode representar em termos negativos. “Satanás” é a antítese de Deus, não necessariamente como ser espiritual, mas como conceito, e o humanismo, que a mídia e os poderes deste mundo tanto celebram, ainda que lute por causas justas e necessárias, pode ser satânico quando nega o Deus verdadeiro. Mesmo que se comece bem intencionado, se nega-se Deus acabará mal, porque nega-se a luz moral e coloca-se em trevas. 

      A princípio os que têm boas intenções, mas não creem em Deus, até podem não se incomodar com a luz, em trevas não se sabe de nada, inclusive que se está em trevas, e repito, ainda que esses bem intencionados sejam pessoas bem informadas, eruditas, inteligentes e profundas conhecedoras da ciência e dos sistemas deste mundo, economia, política etc. Também não estou com isso demonizando a ciência, de forma alguma, mas estou dizendo que sem a luz de Deus nem a ciência pode ajudar, ainda que os que estejam totalmente na luz mais alta não neguem de maneira alguma a bênção da ciência. 

      Entretanto, com o tempo, a alma sem a luz mais alta de Deus seca-se, amarga-se, condensa a malícia, não a sabedoria, fica paranoica, vê inimigos fora dele quando seu inimigo são seus olhos fechados para às verdades, nisso o pior do ser vem à tona. As trevas interiores se percebem, e ao invés de buscarem luz, constroem identidade baseada nelas, em sua visão de mundo, os que estão em trevas sempre se sentirão incomodados pela luz, essa dói em seus olhos. Muitos líderes religiosos judeus do primeiro século estavam assim, cegos e incomodados com a luz de Deus manifestada na carne em Jesus.

      Pode parecer estranho, mas às vezes pessoas que gostamos, que nos parecem ter vidas corretas, pessoas inteligentes e até bem educadas, podem se incomodar com gente mais simples, com poucos atributos externos ou materiais para se imporem, mas que por terem os olhos espirituais abertos para a luz mais alta de Deus têm espíritos que queimam como fogos consumidores. Jesus não precisava dizer nada, só seu olhar já revelava a chama que lhe habitava, isso deixava extremamente desconfortáveis aqueles, ainda que aparentemente bons religiosos, tinham seus espíritos em trevas profundas. 

      Enquanto no plano físico, habitando a matéria, vestidos de pompas e circunstâncias, as trevas podem ser camufladas, ainda que os que as tenham cheguem em momentos de suas vidas que não conseguirão mais escondê-las, principalmente diante de quem tem a luz de Jesus dentro de si. Mas na eternidade não haverá mais capas ou máscaras, o juízo é exatamente isso, nossos espíritos sendo confrontados com a luz do Altíssimo. Uns fecharão os olhos e cairão no abismo do inferno, em trevas e tormentos, outros humildemente conseguirão abrir os olhos e subirão para a luz mais alta, o céu. 

      Por isso não precisamos reagir a quem nos ataca, atacam por se sentirem incomodados, cairemos em suas astúcias se nos incomodarmos também, e quem está em paz com Deus não precisa se incomodar com nada, principalmente com mentiras. Não é fácil, mas temos que confiar que a luz cumpre sua missão só por existir, silenciosamente. Como este mundo precisa hoje da luz mais alta, que ilumina discretamente, sem entrar em polêmicas, em defesas de quem se sente acusado por saber que suas obras são más, esses até conseguem fugir do juízo aqui, mas não escaparão do juízo vindouro e eterno. 

Jesus é a luz da vida

      “Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” João 8.12

      “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.” João 1.18

      Aquele que teve a experiência de abrir a porta de um quarto que esteve fechado por algum tempo sem iluminação, usado para armazenar lixo, viu que assim que os primeiros raios do Sol adentraram o local, baratas e outros bichos se movimentaram, procurando algum canto escuro para se esconderem. A luz física afugenta perigos, por isso é sábio andarmos em lugares claros e evitarmos colocar as mãos em buracos escuros. Deus não faz nada imperfeito, na natureza esses seres têm suas funções, mas no mundo espiritual Deus também dá livre arbítrio aos espíritos para fecharem os olhos e permanecerem em trevas interiores. 

      Você já deve ter assistido filmes sobre poltergeist que citam a frase “vá para a luz”, pessoas com experiência de quase-morte (EQM) também relatam terem visto um túnel com uma luz no final. Sem nos aprofundarmos muito, se é fato espiritual ou disposição química do cérebro em momento crítico, seguirmos em direção à luz pode bater com informações do novo testamento sobre o plano espiritual. A Bíblia, pelos limites dos que a registraram e mesmo para facilitar o entendimento, relata as coisas pelo ponto de vista do ser, não necessariamente a realidade, nesse sentido cita “trevas exteriores”, não “interiores” (Mateus 25.30). 

      Quem é cego de nascença ou que fecha os olhos por muito tempo pode achar que o mundo exterior está em trevas, quando na verdade é só ele quem está, se for curado da cegueira ou abrir os olhos verá que há luz no exterior. Jesus é a luz espiritual mais alta, mais clara, mais pura, porque contém as virtudes morais mais elevadas, quem abre os olhos, olha para ele e o segue, terá uma luz para iluminar seu caminho. A luz de Jesus é mais que conhecimento intelectual é a própria vida eterna, quem está vivo tem forças para lutar e vencer. Quem tem a luz de Jesus não é enganado pelas armas das trevas, sejam deste mundo ou do outro. 

      “Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai, quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (Mateus 13.43), esse versículo, registrado por Mateus como palavras diretas de Jesus, também alia alta espiritualidade à luz mais forte irradiada pelo Sol, os justos não serão atormentados pela santidade de Deus, mas abraçados por ela. A afirmação “quem tem ouvidos para ouvir, ouça” sempre nos chama a atenção para um mistério espiritual, que só pode ser entendido pelos que utilizam os sentidos espirituais, boca, olhos e ouvidos. “Na tua luz veremos a luz” (Salmos 36.9b), diz o salmista, em Deus nossa chama queima mais forte. 

      “Aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele não há escândalo; mas aquele que odeia a seu irmão está em trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe cegaram os olhos” (I João 2.10-11). Quando abrimos os olhos espirituais vencemos o medo, a vergonha e a culpa, assim podemos enxergar as coisas espirituais de uma maneira mais profunda. Essa visão nos dá conhecimento e esse conhecimento é vida, essa é a vida eterna que nos fortalece para praticarmos as virtudes morais. Tem conhecimento quem abre os olhos, mas não para se envaidecer, mas para servir em amor os outros. 

      “Porque esses tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçando-se em apóstolos de Cristo; e não é de admirar, porque o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz” (II Coríntios 11.13-14). Muitos querem conhecer, mas para dominarem, não para servirem, assim são presas de espíritos malignos, que até conhecem, mas só querem glória para si. Iguais se atraem, homens maus são enganados e conhecem, não o mundo espiritual real, mas fantasias de demônios. A intenção que leva a Deus é o amor, nela, mesmo que não sejamos curiosos, Deus nos revela mistérios, pois sabe que queremos ser fortes para amarmos mais.

      “Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os conduziu em particular a um alto monte, e transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz; e eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele” (Mateus 17.1-3). Numa excepcionalidade, na experiência da transfiguração de Jesus, Deus revelou a três apóstolos a essência espiritual de fogo consumidor dos seres, veem não só o espírito do Cristo como de outros dois desencarnados, Moisés e Elias, todos brilhando sobremaneira, como chamas de um puro fogo espiritual.

Deus é fogo consumidor

      “Em Sião, os pecadores estão atemorizados; o tremor se apodera dos ímpios. Eles perguntam: "Quem de nós habitará com o fogo devorador? Quem de nós habitará com chamas eternas?" Aquele que anda em justiça e fala o que é reto; que despreza o ganho de opressão; que, com um gesto de mãos, recusa aceitar suborno; que tapa os ouvidos, para não ouvir falar de homicídios, e fecha os olhos, para não ver o mal. Este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, e água nunca lhe faltará.” Isaías 33.14-16 (Nova Almeida Atualizada)

      Quem dera muitos dos que se autodenominam hoje cristãos, tivessem a sensibilidade dos que o texto bíblico inicial chamou de pecadores e ímpios, esses reconheceram que não estavam preparados para habitarem com o Deus Altíssimo. Na pergunta que fazem reconhecem uma característica do Senhor, fogo devorador, ou, chamas eternas. Hoje costumamos aliar essas figuras ao inferno, a um calor extremo que fará sofrer aqueles que não se converteram a Deus por Jesus, mas o sentido no texto de Isaías é outro, nada tem a ver com sofrimento, aliás, o sofrimento existe para os que não estão nesse fogo ou nessas chamas. 

      Não sabemos neste mundo qual é a substância do espírito, e se a dos espíritos daqueles que morreram neste mundo e estão no plano espiritual nos é mistério, mais é a dos anjos e de outros seres espirituais do bem, mas mais ainda é a aparência de Deus, ele é o espírito mais puro, mais alto, mais santo, mais pleno de todas as virtudes que existe. Essa aparência é citada por muitos relatos bíblicos como um fogo, ou uma chama, apesar da aparência humana, que podemos imaginar que teremos na eternidade, nossa essência que é um espírito eterno, também é isso, uma luz que emana de um fogo que queima sem perder substância. 

      A imagem de fogo aliada ao espírito não tem a ver com o fogo material, esse sim, tem mais a ver com o inferno, fogo físico queima, reduz a matéria, fere pelo calor, enfim, causa dor e sofrimento, assim condenados sofrerão no lago de enxofre do inferno. Mas também esse uso do fogo é equivocado, espírito não sofre dor em sua substância, nem pode ser queimado. Podemos, contudo, achar algo em comum, entre o fogo do inferno e o fogo consumidor divino, a luz emanada da chama do espírito tem extensão e clareza relativas à qualidade moral, assim, quanto mais santo e mais puro, mais forte o fogo e mais clara a luz. 

      “Porque o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hebreus 12.29), quem sofre no inferno sofre porque não tem pureza moral, a luz mais alta de Deus, que brilha o tempo todo e sobre todos, o atormenta, o espírito do condenado sente a vergonha, de pecados não perdoados e de erros não corrigidos, revelada pela luz do Altíssimo, assim é consumido moralmente, não substancialmente. Por outro lado, os que se acertaram, que foram perdoados, se perdoaram e perdoaram, sentem-se atraídos pela luz do Altíssimo, agradam-se dela como ela deles, por isso querem se aproximar dela e terem comunhão plena com ela, isso é o céu. 

      Os condenados não sofrem porque estão nas trevas, mas porque estão sob a luz e ninguém pode fugir dessa luz, mas na tentativa de ficarem longe dessa luz eles fecham os olhos espirituais, assim nada veem e acham trevas para fugirem, não fora deles, mas dentro deles. Quem tem os olhos espirituais fechados cae num abismo eterno, eis o mistério, talvez uma das melhores formas de se definir o inferno. Esse inferno podemos provar mesmo encarnados neste mundo, ainda que aqui tenhamos os consolos dos prazeres do corpo para nos fazerem esquecer, ainda que temporariamente, o sofrimento de não querer ir para Deus. 

      Com olhos espirituais fechados até podemos construir coisas no mundo material, muitas até positivas, mas o cego não sabe para onde vai, perde-se e sempre acaba sendo infeliz e fazendo infeliz. O cego não anda em justiça, não fala o que é reto, lucra com a opressão, aceita suborno, aprova homicídios, se agrada só em ver o mal. Contudo, se ele abrir os olhos espirituais poderá conhecer sua verdade e assumi-la, Deus não pede mais que isso para começarmos a seguir em sua direção. Inferno é manter os olhos espirituais fechados, céu é abri-los, e quantas coisas maravilhosas nos são mostradas quando abrimos os olhos.

      “Este habitará nas alturas, as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado e água nunca lhe faltará”, eis as promessas para os que abrem os olhos e contemplam o fogo consumidor do qual emana a luz moral mais forte. Isso fala muito mais que de proteção material e de suprimento físico, fala de posição espiritual, acima dos homens, do mundo, do diabo e dos demônios, de principados e potestades, de toda a sorte de seres espirituais das trevas e da luz. Nessa posição está Jesus que chama para habitar com ele e receber o Espírito Santo, no qual reside todo conhecimento e glória do fogo divino. 

Problemas insolúveis

      “Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas, melhor é o paciente de espírito do que o altivo de espírito.” Eclesiastes 7.8

      Poderia citar outros exemplos bíblicos, mas o de Abraão (passagem no final deste texto) reflete a realidade de problemas de família, presentes mesmo nas vidas de personagens importantes da história de Israel. Abraão e esposa, ainda que idosos, receberam a promessa de Deus que teriam uma descendência muito grande, mas na falta de fé de Abraão, que não soube esperar o tempo melhor de Deus, e na vaidade ferida de Sara, Abraão acabou tendo um filho com Agar, uma escrava. Pecado não se sustenta no tempo, o que começa errado acaba errado, assim Sara não suportou sua escolha e expulsou Agar. 

      Abraão não sabia, quando somos vencidos pela impaciência nunca sabemos das consequências disso, mas ainda que fosse um filho fora do melhor do plano de Deus para ele, Ismael, o filho da escrava, seria honrado pelo Senhor e daria origem a povos poderosos, que se oporiam contra a nação de Israel, o povo descendente de Abraão, Isaque e Jacó, até os dias de hoje. Aprendamos com Abraão, não apressemos a bênção, Deus é fiel com todos, até com inimigos que fazemos por não sabermos esperar nele, se a prova está difícil pode ficar ainda pior, se tentarmos resolver as coisas do nosso jeito. 

      Todos podemos ter problemas sem solução, com os quais precisaremos conviver, principalmente na área familiar. Ainda que crianças e adolescentes pareçam felizes e com futuros previsíveis, todos vêm a este mundo para fazerem escolhas, nisso com certeza erros serão cometidos. Muitos terão juventudes descontroladas, casamentos desfeitos, filhos em hora imprópria, verão sonhos transformarem-se em pesadelos. Hoje o mundo não categoriza casamentos desfeitos como problemas, mas como características, isso é bom porque desconstrói preconceitos, mas é mau porque banaliza sérios erros.

      “Nota o homem sincero e considera o reto, porque o fim desse homem é a paz” (Salmos 37.37), amo esse princípio compartilhado principalmente no livro de Salmos, ele é simples: sabemos quem é quem pelo seu fim, não pelo seu início. A vida é longa sob o ponto de vista da matéria, apesar de só um sopro sob o ponto de vista espiritual, assim problemas todos têm, e bem sérios, e se ainda não tivemos, teremos. A questão não são os problemas, mas o que faremos com eles no tempo, eu creio que o Senhor não permite que ninguém parta deste mundo sem a oportunidade de ter um fim digno e em paz. 

      Abraão teve o fim prometido por Deus em Isaque, filho que Sara gerou dele, mas o problema “Ismael”, criado por sua impaciência, não foi anulado. Viver é alcançar felicidade e segurá-la, mas também é administrar problemas insolúveis, a verdade é que aprendemos mais administrando o que não pode ser resolvido que o que pode. Solução plena só na eternidade, aqui devemos ter a humildade de assumir erros e a fé lúcida de confiar num Deus que não resolve todos os nossos problemas, já que ele é impedido por nós mesmos, pelos efeitos de nossas causas, e nisso outras vidas são envolvidas.  

      Como temos encarado o fim de muitas coisas em nossas vidas? Fins muitas vezes de casamentos, de profissões, de empresas, de amizades, de alianças com ministérios de igrejas? Desistimos quando vemos a verdade, de escolhas erradas e más colheitas? Ou temos a humildade e a fé de entendermos as coisas sob o ponto de vista do Altíssimo, aprendendo com nossos erros não solucionáveis para podermos levar desta vida a lição mais importante? Talvez a lição mais importante da vida seja saber esperar, ainda que tenhamos que perder muita coisa neste mundo para aprendê-la.

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      “Ora Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos, e ele tinha uma serva egípcia, cujo nome era Agar. E disse Sarai a Abrão: Eis que o Senhor me tem impedido de dar à luz; toma, pois, a minha serva; porventura terei filhos dela. E ouviu Abrão a voz de Sarai. Assim tomou Sarai, mulher de Abrão, a Agar egípcia, sua serva, e deu-a por mulher a Abrão seu marido, ao fim de dez anos que Abrão habitara na terra de Canaã. 

      E ele possuiu a Agar, e ela concebeu; e vendo ela que concebera, foi sua senhora desprezada aos seus olhos. Então disse Sarai a Abrão: Meu agravo seja sobre ti; minha serva pus eu em teu regaço; vendo ela agora que concebeu, sou menosprezada aos seus olhos; o Senhor julgue entre mim e ti. E disse Abrão a Sarai: Eis que tua serva está na tua mão; faze-lhe o que bom é aos teus olhos. E afligiu-a Sarai, e ela fugiu de sua face.” 

      “Disse-lhe mais o anjo do Senhor: Multiplicarei sobremaneira a tua descendência, que não será contada, por numerosa que será. Disse-lhe também o anjo do Senhor: Eis que concebeste, e darás à luz um filho, e chamarás o seu nome Ismael; porquanto o Senhor ouviu a tua aflição. E ele será homem feroz, e a sua mão será contra todos, e a mão de todos contra ele; e habitará diante da face de todos os seus irmãos.”

Gênesis 16.1-6, 10-12

Deus é que me cinge de força

      “Deus é que me cinge de força e torna perfeito o meu caminho.” Salmos 18:32 

      Você precisa saber de uma coisa, por mais que tua consciência fale o contrário, por mais que as pessoas digam diferentemente, você tem o direito de se sentir fraco, desanimado, sem forças para seguir. Saber isso, assumir isso e se dar a esse direito é o primeiro passo para você achar forças para ir em frente, porque isso mostra para Deus a verdade e Deus sempre ama a verdade. 

    O terreno sobre o qual Deus trabalha é a verdade, nela há humildade e nessa erva daninha, espinheiros e outros males, soltam-se com facilidade permitindo que o vento do Espírito sopre e limpe. Depois, a terra estará pronta para receber a semente da palavra de Deus, que sob a chuva da unção do Altíssimo se fará linda árvore, são os frutos dessa árvore que nos fortalecem.

      A mentira, a resistente negação da realidade, endurece a terra, segura o mal, impede a ação do Espírito Santo, tenta manter a terra forte sem Deus. Admita tua fraqueza, mas ainda assim busque a Deus, se não tem forças, vai sem forças mesmo, se não sente vontade de orar, ore sem vontade mesmo, mas esforce-se, pela fé, abra tua boca e clame ao Senhor por fortalecimento.

      Se você sofre por achar que não consegue acertar teu caminho, por ver que por mais que tente, erra, abre brecha na vigilância moral, não é paciente com os outros como deveria, acalme-se. Se tem entregue tua vida a Deus, esforçado-se para ser melhor, buscado fazer a vontade de Deus em todas as coisas, o Senhor tem guardado tua vida, e você tem acertado mais que acha.

      Muitas vezes nossas emoções e nossos sentimentos não refletem nossas ações, e isso para pior, muitas vezes agimos certo, mas ainda assim sofremos, achando que fizemos algo errado. Melhor assim, acertarmos achando que erramos que errarmos convictos que fizemos certo, contanto que a aflição não permaneça em nossas almas, Deus sempre aprova com paz os que confiam nele. 

      O Senhor aperfeiçoa o caminho do humilde que o teme, emana sua luz sobre esse de forma que ela seja refletida em todos ao redor. Creia e confie, se buscou a Deus com todo o coração, pronto para obedecê-lo, teu caminho agrada a Deus, e se por acaso houve alguma imprecisão o Senhor aperfeiçoará ainda mais tua jornada, de modo que tuas escolhas sejam sempre as mais corretas. 

O Senhor conhece o íntegro

      “O Senhor conhece os dias dos íntegros; a herança deles permanecerá para sempre. Não serão envergonhados nos tempos difíceis e nos dias da fome se fartarão. Os ímpios, no entanto, perecerão, e os inimigos do Senhor serão como as mais belas pastagens: desaparecerão, como desaparece a fumaça. O ímpio pede emprestado e não paga; o justo, porém, se compadece e dá. Aqueles a quem o Senhor abençoa possuirão a terra; e serão exterminados aqueles a quem ele amaldiçoa.” Salmos 37.18-22

      Um momento e podemos pôr muita coisa a perder, uma ira não aplacada, um desejo não controlado, uma culpa não resolvida que gera dor e procura qualquer prazer para ser suportada. Mas será que Deus nos julga por um simples momento? Nossa vida é mais longa que um momento, é complicada, não somos definidos por um erro, mas por várias escolhas certas, feitas dia a dia, ano após ano. Deus nos acompanha, nos pesa. Para nos julgar? Sim, ele é o justo juiz, mas não para nos condenar, Deus não condena ninguém, apenas está perto dos que dele se aproximam e longe dos que dele se afastam. 

      Na distância há o amor do Senhor que pacientemente espera que nos aproximemos dele, usando o Espírito Santo e seres espirituais de luz para nos atraírem, aguardando que façamos a melhor escolha. Na proximidade há misericórdia de Deus, mesmo se for num momento de deslize nosso, o Senhor sabe quem somos, de verdade, lá no fundo, o que persistimos em ser. O Senhor conhece nosso coração, aquilo que ele é na maior parte do tempo, aquilo que ele agregou à sua essência eterna, se é íntegro ou ímpio. De boas intenções o inferno está cheio? Não, mas o purgatório está, uma posição de pausa. 

      Ter boas intenções em si mesmo é um valor, Deus contempla isso e recompensa, obviamente não podemos passar toda nossa existência assim, é preciso convertermos fé em obras. Íntegro é alguém inteiro, completo, irrepreensível em sua conduta, honesto, incorruptível. Com certeza nenhum de nós sentimo-nos assim, nos achamos, ao contrário, partidos, imperfeitos, incoerentes tantas e tantas vezes. Integridade é converter boa intenção em prática, é isso que Deus julgará na eternidade, na maior parte do tempo que tivemos encarnados no mundo, mas cuidado, ninguém sabe quanto tempo tem aqui. 

      Alguns mostram integridade em trinta anos de vida, outros em sessenta, outros viverão noventa anos e não conseguirão ser íntegros no bem. Deus é misericordioso, mas ainda que seu amor não tenha fim, sua misericórdia tem, ele não pode permitir que nos enganemos para sempre, justamente porque nos ama sempre. Dessa forma, por nos amar pode ter que pôr fim num modo errado de vida e nos chamar para um juízo. Bem-aventurado o que sofre esse juízo ainda no plano físico, esse terá uma nova chance para acertar seu caminho, e ainda que todo juízo de Deus seja duro, aqui é menos duro que lá.