07/09/22

Quando Deus usa o errado (38/92)

Introdução

      “Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande? Porventura da boca do Altíssimo não sai tanto o mal como o bem?Lamentações 3.37-38

      Muitos aliam o bem a Deus e o mal ao diabo, assim criam um embate maniqueísta que na verdade não existe. Deus administra tudo, ainda que para alguns trabalhos use seres espirituais de luz e homens de bem, e para outros use seres espirituais das trevas e homens estúpidos e sem sabedoria. ”Diabo” não é um poder equivalente a Deus só que do outro lado, é apenas uma criatura não querendo fazer o bem, ainda que só aja com autorização do Senhor. 
      Esta reflexão pode receber vários nomes, um deles é uma afirmação, “A coisa não é tão simples assim”, outro nome é “Palavras imediatas, palavras eternas”, visto que palavras proféticas diferentes podem ser entregues pelo Espírito Santo, sejam para resolver questões imediatas, sejam para questões mais duradouras. O texto a seguir cita dois governantes, o persa Ciro, que libertou Israel do cativeiro babilônico, e Saul, primeiro monarca de Israel.
      Nenhum desses homens foram, como pessoas, exemplos de homem de Deus, mas ambos foram usados por Deus para esse cumprir seus propósitos. Podemos encontrar nessas crônicas israelitas antigas similaridades com a história política recente do Brasil? Talvez. Mas com certeza eu achei uma lição importante no posicionamento do profeta Samuel e na maneira como Deus age no mundo, usando o bem e o mal para conduzir a humanidade. 

1. A coisa não é tão simples assim

      “Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças; para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.Isaías 45.5-7

      Assisti um vídeo que me deixou estarrecido, políticos e apoiadores importantes do governo do presidente do Brasil entre 2019 e 2022, comemorando em 2021 a aprovação de um evangélico ao S.T.F. (refletimos sobre isso nas duas postagens anteriores). O que me estarreceu foi uma mulher, importante nesse contexto, se levantar louvando a Deus e falando em línguas espirituais estranhas, visto o êxtase que ela sentia pelo ocorrido. Podemos analisar esse evento, que na minha opinião é mais importante que muitos cristãos acham que é, sob vários aspectos, mas o mais importante é entendermos que as coisas não são tão simples assim como avaliações rasas e tendenciosas podem achar que são, a vida nunca é simples. 
      A primeira coisa que preciso dizer é que sou cristão que acredita em dons espirituais para os dias de hoje, ainda que reconheça que eles sejam usados muitas vezes com boa intenção, mas de maneira infantil, e às vezes até encenados e forçados com más intenções. Mas a existência do falso não inviabiliza o verdadeiro, e mais, acredito que experiências com os dons espirituais descritos no novo testamento sejam caminho imprescindível para a espiritualidade mais elevada, que pode dar acesso a muitos mistérios da existência humana no universo. Exatamente por levar esse assunto tão a sério é que tenho dificuldade para aceitar que sua manifestação possa ocorrer em vidas em pecado ou equivocadas de alguma maneira. 
      Quem acompanha este espaço sabe do posicionamento deste que vos escreve sobre cristãos apoiando extrema direita política, principalmente um presidente negacionista da ciência e a favor de legalização mais ampla de armas, dentre outras coisas, assim, não considero que cristãos lúcidos estavam naquele grupo que vi no vídeo comemorando a aprovação do evangélico ao S.T.F.. Isso é o que eu penso, mas o que Deus pensa? Deus ama igualmente a todos e dá do seu Espírito a todos que buscam, assim, julgar que algo não é de Deus por ocorrer numa pessoa que em minha opinião não age corretamente em alguns assuntos não é sábio. Se fosse assim Deus não teria usado o catolicismo por séculos para abençoar a humanidade. 
      “Te cingirei ainda que tu não me conheças”, diz o texto de Isaías 45.5-7, tomo para mim essa palavra, eu não conheço a Deus como acho. “Faço a paz e crio o mal, eu, o Senhor, faço todas estas coisas”, o que dizer de uma declaração assim? Deus faz tudo, até usa o malvado para cumprir um propósito benigno neste mundo, e o contexto histórico desse texto se refere exatamente a isso, o rei persa Ciro, seguidor de outros “deuses”, sendo usado para livrar Israel, povo do Deus mais alto, de Nabucodonosor. A verdade é que não sabemos e não entendemos os caminhos do Senhor, eles muitas vezes são complicados, não por causa de Deus, esse é essencialmente reto, mas por causa dos homens e seus sistemas num mundo em confusão.
      Se Deus usou Ciro em seus propósitos, por que não pode usar um político de extrema direita? Isso é possível, apesar de muitos acharem que não é, dentre esses uns que idolatram outro mito, e na opinião desses, um mártire que foi preso injustamente como resultado de um golpe arquitetado por juízes do Paraná na operação Lava-a-jato. Como seres humanos, que buscam a luz mais alta de Deus, não podemos nos deixar ser enganados nem por um, nem por outro, ainda que um deles tenha apoio de lideranças cristãs, contudo, temos que aceitar que Deus usa quem quer. Nossos sentidos presos à matéria, ao tempo e ao espaço, não fazem ideia do que algo pode desencadear, do que deve ocorrer para que o fim melhor ocorra. 

2. Palavras imediatas, palavras eternas

      “Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações. Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao Senhor. E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles.”  I Samuel 8.4-8

      Palavras imediatas e palavras eternas, o Espírito de Deus nos dá esses dois tipos de palavras, ambas verdadeiras, ambas acontecerão de um jeito ou outro. As imediatas refletem a misericórdia do Senhor, que precisa ajudar alguém em curto prazo, de qualquer jeito, principalmente se esse alguém, ainda que equivocado em muitas questões, o buscou com sinceridade. Eu vejo um cristianismo evangélico equivocado no Brasil, mas ainda assim sincero, que pai não se toca com um filho, que ainda que teimoso para cumprir sua vocação maior, procura sua ajuda aos prantos? Eu não sou Deus, mas sou pai, e como pai posso entender, pelo menos um pouco, a misericórdia do Senhor com o Brasil, ninguém duvide dela. 
      Os que não temem a Deus não podem entender a Deus, e muitos que se dizem cristãos agem assim, julgam e condenam muitos cristãos, mas não percebem a extensão da misericórdia do Senhor. Sim, penso que um momento espiritualmente tão íntimo como o registrado no vídeo que citei inicialmente, não deveria vir a público. Teve um propósito político para os que aparecem, agradando um eleitorado que acha o que é mostrado relevante, mas quando conveniência humana usa o nome de Deus comete sério pecado, em minha opinião, advertido nos mandamentos de Moisés (Êxodo 20.7). Exibir publicamente, algo que creio ser tão especial, vulgariza o dom do Espírito Santo, mas Deus tem paciência com isso, mais que eu tenho.
      Existe, contudo, uma palavra eterna de Deus que deve ser entregue, de um jeito ou de outro, essa é a que este espaço procura entregar, não com arrogância, mas como missão. Essa palavra revela uma vontade de Deus que vai além do momento atual do Brasil, e que conduz o homem a uma espiritualidade muito mais alta, que o cristianismo do mundo, que as igrejas protestantes e evangélicas, que o catolicismo e outras religiões, podem entender neste início do século XXI no planeta Terra. Nessa vontade mais alta, estupidez e infantilidade em nome do evangelho não cabem, mesmo com intenção sincera, e eu penso que o momento para que Deus cobre essa vontade mais alta já está chegando, ao Brasil e à toda a humanidade. 
      Quando Israel pediu um rei (I Samuel 8.4-8), Deus disse que não precisavam de um rei como as outras nações, ele era seu rei. Ainda assim, na insistência, Deus deu um rei conforme o coração de Israel, Saul, uma intenção sincera, mas errada, alcançou um objetivo vão que deu no que deu. Então, Deus levantou Davi, você acha que Davi era a vontade eterna de Deus para Israel? Também não era, mas era o melhor que Deus podia fazer com a realidade, e de fato Davi era um homem com um coração especial, que realizou grandes coisas, ainda que tenha cometido sérios pecados (II Samuel 11-12). A vontade maior do Senhor para Israel e para toda a humanidade sempre foi Jesus, um rei espiritual que conduz a um reino espiritual. 
      Você acha que durante o reinado de Saul, Israel não cultuava a Deus? Não oferecia sacrifícios, não adorava ao Senhor, não era cuidado pelo Altíssimo? Claro que tudo isso acontecia, e a religiosidade de Israel era sincera, assim como autêntica a atuação de Deus em suas vidas. O que um homem como o profeta Samuel devia pensar quando via tudo isso? Agia com temor a Deus, sabia que aquilo não era o melhor para Israel, mas que ele devia respeitar a escolha do povo e a vontade do Senhor, que tinha dado ao povo aquilo que o povo desejou. Situação semelhante ocorre com muitos cristãos com o governante eleito em 2018 no Brasil, nunca foi e nunca será o melhor, mas foi o que muitos quiseram, que “Samuel” respeite isso. 

Conclusão

      “Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.” Mateus 16.27
 
      Este texto representa algo muito especial para mim, uma palavra do Espírito Santo que mudou meu posicionamento diante de posicionamentos que muitos protestantes e evangélicos têm tomado diante da política, principalmente nos últimos quatro anos. Uma parte desses cristãos apoia envolvimento cristão com política no Brasil há algum tempo, pentecostais fazem isso há décadas, colocando membros de suas igrejas nas várias esferas da administração pública, mas o que temos visto, depois que o governante de extrema direita venceu a eleição de 2018, é mais significativo.
      Eu estou entendendo em Deus que não posso julgar, ainda que tenha entendimento de Deus que a igreja cristã precisa sair da infância e que o mais correto seria nenhum envolvimento de pessoas realmente espirituais com as coisas deste mundo, a não ser no mínimo exigido pela lei ao cidadão (Lucas 20.25). Contudo, aprendi muito com o procedimento do profeta Samuel, ele não abriu mão de sua chamada, da iluminação que tinha recebido, mas ainda assim respeitou as escolhas do povo de Israel, e principalmente, acatou o respeito de Deus diante das escolhas não tão adequadas do povo. 
      Assim, de fato, a coisa não é tão simples assim, aquele que quer viver com lucidez deve ter paciência, não se vender a lados, ainda que possa ser julgado como “isentão” ou “em cima do muro”, mas vigiar em Deus, esperando novos céus e nova Terra onde haverá justiça. Deus por sua vez abençoa mesmo o imperfeito, dá do seu Espírito mesmo ao infantil, ouve as orações mesmo do que pede algo que a longo prazo não será o melhor para ele, mas quem não é imperfeito, infantil ou que não pede insistentemente algo que poderá lhe prejudicar depois? A eternidade revelará a verdade.
      O título desta reflexão é “Quando Deus usa o errado”, mas muitos poderão dizer, “Deus usou para que esse governante de extrema direita, ele fez tudo errado?”, também tenho essa opinião, mas esse era o “Saul” que o povo cristão pediu, o “Ciro” que o povo cristão precisava no seu ponto de vista. Mas eu creio que Deus usou, sim, para mostrar que aquilo que o homem acha ser bom, mesmo bem intencionado, pode não ser. Muitos cristãos entendem isso hoje, após quatro anos? Não, na verdade muitos acham que o tal presidente fez tudo certo. Mas de novo digo, a eternidade os fará entender. 

      “Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois.João 13.7

José Osório de Souza, 13/12/2021

06/09/22

Política não precisa do cristão (37/92)

      “Porque tu és grande e fazes maravilhas; só tu és Deus.” Salmos 86.10

      Desculpem-me evangélicos que creem que podem e devem estabelecer um reino de Deus no Brasil, mas isso não é reino de Deus, além de ser inviável e desnecessário, é o reino de um outro ser, aquele que se opõe ao que representa o Cristo. Pergunto a esses, qual o tamanho do Deus de vocês? Quem acha que um Deus poderoso só se realiza plenamente com hegemonia visível de seu poder no mundo físico quer retrocesso, pensa um Deus pequeno, material, não espiritual, Deus é muito mais que isso. Deus é tão grande que não cabe em trono ou cargo, mas só no coração do humilde, eis o mistério, e isso através de seu Santo Espírito, não por qualquer imposição, mesmo que democrática, e muitos menos militar ou econômica. 
      Muitos evangélicos que acham que cristãos devem ser envolver com política podem contra-argumentar assim à consideração que fiz sobre o tamanho de Deus, “justamente por eu crer num Deus todo-poderoso é que creio que ele pode colocar cristãos em posições altas para comandarem o Brasil”. Novamente peço desculpas a quem pensa assim, mas isso é entender errado o evangelho puro e original de Jesus, principalmente os ensinos do Sermão da Montanha em Mateus 5-7. O ensino de Jesus é justamente o contrário, sua vida prática como homem mostrou isso, vida está na morte, poder está em amar e dar a outra face, coragem é para ser pacificador e humilde, não vitorioso numa guerra física na Terra contra inimigos.
      Aliás, no evangelho não existem inimigos, e eis outro equívoco terrível que cristãos que apoiam a direita política cometem, acham que existem inimigos e se põem a lutar contra quem pensa diferentemente deles, acreditando que Deus os apoia. Não, Deus não está nesta luta, e quem for para ela achando que terá vitória sairá derrotado, talvez assim entendam o que realmente é o evangelho e o que Deus tem para eles, planos de paz, não de guerra. Eu acredito que o mundo chegará num tempo onde a salvação de Jesus será entendida por uma grande maioria, nesse momento fé e ciência não se oporão mais, não haverá diferenças e injustiças, mas será um tempo onde o Espírito Santo liderará os indivíduos, não políticos ou religiões. 
      “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6.33), usamos tanto esse versículo e ainda assim não o entendemos, não temos que ficar perdendo tempo com ideologias políticas, cumpramos nossas obrigações básicas como cidadãos e nos coloquemos a conhecer e praticar as virtudes morais. Isso é buscar o reino de Deus, não é lutar para que cristãos tenham cargos nos poderes da república, e me refiro mais ao judiciário, onde é preciso ao menos alguma competência e experiência profissionais. Mas no que envolve articulações políticas, fiquemos fora, é coisa deste mundo, usando armas deste mundo para beneficiar a poderes deste mundo, isso não nos diz respeito. 
      “Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos” (Mateus 21.43), se de Israel, a nação escolhida a princípio para testemunhar Deus no mundo, foram retirados privilégios, que diria de nós? Deus não procura cristãos em cargos políticos, não é glorificado com governos deste mundo identificados como cristãos, se fosse assim haveria só duas posições religiosas no mundo, cristãos e ateus. Mas não é assim, além de cristãos existem muitas outras religiões, muitas outras escolhas para se conhecer o divino, muitas outras experiências, e acreditem, cristãos, muitas são legítimas e entregam paz e significado a muitas vidas, permitem frutos do bem que permanecem. 
      “E esta palavra: ainda uma vez, mostra a mudança das coisas móveis, como coisas feitas, para que as imóveis permaneçam; por isso, tendo recebido um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade; porque o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hebreus 12.27-29). O reino que não pode ser abalado não é o que depende de votos, de revolução, de golpe ou de guerra, é o espiritual, inabalável e eterno, existia no tempo de Israel do antigo testamento, nos primeiros séculos com a igreja primitiva na Terra, e depois, com a igreja católica e a reforma protestante neste mundo. Deus nunca precisou ser visto e reconhecido aqui para ter um reino lá.
      Se querem saber, está tudo na Bíblia, entenderá quem interpretá-la com oração e liberdade no Espírito, indo além de tradições, preconceitos e vaidades, discernindo contextos culturais e históricos pertinentes a todos os seus escritores, incluindo Daniel, os evangelistas registrando as palavras de Cristo, Paulo e João, codificador de Apocalipse. Um erro que muitos cometem é a pressa, achar que o tempo atual é especial quando não é, ainda que as coisas estejam acontecendo mais depressa. Muitas pestes, fomes, eventos violentos da natureza e guerras, acontecem como sempre aconteceram e sempre acontecerão. Ainda há muito para ocorrer, mas o final não é de derrota, é de vitória e para todos, no final a luz mais alta triunfará. 
      Na verdade a humanidade vive, sim, um momento especial, mas esse representa justamente relevâncias, que a extrema direita do Brasil, que muitos cristãos apoiam, diz não serem coisas importantes. São causas que justamente a esquerda tomou como agenda, quando homens se calam as pedras falam, direitos das minorias, cuidado com conservação de rios, mares, terras, ar, florestas e animais. Vendo a coisa por esse prisma quem está adiantando o fim do mundo não são os não cristãos, mas muitos que se autodenominam cristãos. Se o juízo moral ocorrerá na eternidade, o juízo material ocorre neste mundo, cobrando da humanidade seu desrespeito pelo planeta. Será que muitos evangélicos estão preparados para esse juízo? 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

05/09/22

Deus não precisa da política (36/92)

      “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz.” II Pedro 3.13-14

      Ouvi de um evangélico as seguintes palavras: “eu sei que o presidente do Brasil, entre 2019 e 2022, não foi o melhor exemplo de cristão, mas com que presidente teríamos um pastor presbiteriano no S.T.F.?”. Em primeiro lugar o S.T.F. é do Brasil, não de uma religião, ele precisa não de sacerdotes, médiuns ou de qualquer outro tipo de religioso ou de ateu, mas de profissionais competentes e experientes que façam cumprir a Constituição Brasileira para todos os brasileiros, esses também, indiferente das religiões ou não que professem. Se não há mais protestantes ou evangélicos no S.T.F. é porque até agora não apareceu nenhum com competência e experiência profissional suficiente para preencher os requisitos necessários. 
      Por outro lado, não podemos garantir que o pastor presbiteriano que foi aceito no S.T.F. em 2021, tenha competência e experiência profissional para tal, já que o que o colocou lá foi uma bancada evangélica politicamente forte que fez as devidas articulações. Assim, eis outro equívoco de evangélicos que comemoram como vitória divina essa nomeação, confiarem e se apoiarem em políticos, que mesmo que sejam honestos cuidam das coisas deste mundo, não do reino de Deus. Mas por que muitos evangélicos, incluindo fortes lideranças, acham tão importante terem representantes de suas igrejas em cargos políticos nacionais? Seria por pensarem que só assim evangélicos têm seus direitos garantidos? 
      Isso não é verdade, todo cidadão brasileiro tem direitos garantidos pela Constituição, então, a resposta só pode ser para estabelecer no Brasil, assim como no que o meio cristão chama de “mundo”, um reino político baseado em princípios cristãos, ou seja, na tradição judaica-cristã. A pergunta final que podemos fazer é: isso é vontade de Deus? Muitos evangélicos vão dizer que é, talvez baseados no ide de Jesus, dizendo que o evangelho será pregado a toda criatura. Mas penso que achar apologia no novo testamento para isso é difícil, a história narrada por ele se encerra com profecias, ditas por Cristo e por João em Apocalipse, que falam que haverá uma grande perseguição aos justos, não um fortalecimento de cristãos.
      Penso que os evangélicos brasileiros, que desejam poder político no Brasil, se baseiam mais no poder que tinha a nação de Israel nos tempos do antigo testamento, assim como na hegemonia protestante que sempre houve nos E.U.A.. Isso explicaria a relevância que o governante do Brasil entre 2019 e 2022 deu ao Israel moderno e ao governante norte-americano Donald Trump. A verdade é que Deus não tem nenhum interesse em que cristãos tenham poder político no mundo, simplesmente porque o reino de Deus não é aqui, é no plano espiritual, isso Jesus deixou bem claro em João 18.36: “meu reino não é deste mundo, se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus”.
      Mas se nem os cristãos primitivos compreenderam, quando formaram uma comunidade no estilo hippie-marxista, como entendemos em Atos 2.42-47, e depois apoiando a criação da Igreja Católica, por que acharmos que evangélicos atuais entendem? Mas o que penso que muitos evangélicos não entendem, e se entendem aí então é que estão mais equivocados que eu penso que estão, é que o que eles querem fazer a Igreja Católica fez por quase 1.700 anos e deu no que deu. Só se for isso que pretendam, como parece que denominações como a I.U.R.D. e a Renascer em Cristo claramente têm tentado fazer no Brasil e fora dele, serem uma nova igreja católica, para depois mandarem na religião, na política, na cultura e na ciência. 
      Se fosse plano de Deus para os dias atuais haver uma ou mais nações escolhidas, como era Israel nos tempos do antigo testamento, ele já teria feito isso, mas Deus não age assim há milênios, não é mais assim que ele trabalha para conduzir o homem à sua luz. Crer que evangélicos devam ter poder político no Brasil hoje é querer a aliança de Moisés e o reino de Davi de volta, mas é pior que isso, é negar a missão de Jesus, é negar uma iluminação superior que Deus permitiu à espiritualidade humana através de Cristo. Muitos evangélicos não aceitam isso porque se desviaram há algum tempo de Deus, são bons religiosos, mas muitos católicos também são, e ainda assim aceitam e respeitam uma igreja poderosa, mas corrompida. 
      Vou dizer algo que muitos poderão discordar: a política não precisa de evangélicos tanto quanto os evangélicos não necessitam de política, mas todos precisam de justiça. Mas se Deus usou a meretriz Raabe para dar continuidade à genealogia de Davi e de Jesus (Mateus 1.5-6 e Hebreus 11.31), se usou um Sansão, cego e humilhado, para destruir filisteus inimigos de Israel (Juízes 16), se usou o monarca Ciro que confiava em “outros” deuses para livrar seu povo do cativeiro babilônico (Esdras 1), Deus não precisa de homens que obedeçam-lhe em tudo, só homens que obedeçam-lhe no lugar e no momento necessário. É assim que Deus age com as nações neste mundo, na política, na economia, nas guerras, independe do livre arbítrio moral. 
      Quanto à escolha individual que cada ser humano faz para se preparar para a eternidade, isso é outro assunto, e para isso pode ser necessário o contrário, que o homem se distancie dos poderes deste mundo, seguindo o exemplo de Jesus. Se Jesus tivesse vindo para estabelecer um reino neste mundo, pouco tempo depois de sua ascensão, descida do Espírito Santo e fundação da igreja, o povo judeu não teria vivido o cerco de Jerusalém no ano de 70 d.C., onde seu Templo foi destruído e suas intenções de se libertar do império romano foram sufocadas. Israel nunca mais teve a glória que teve com Davi e Salomão, e nunca mais terá, depois de Cristo o que Deus faz na sociedade e nos indivíduos são coisas que independem-se.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

04/09/22

O poder da grana (35/92)

       “Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor! Porque será como a tamargueira no deserto, e não verá quando vem o bem; antes morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável.” Jeremias 17.5-6

     Não se engane achando que a mídia, jornais, redes de televisão e páginas na internet, dão espaço para afrodescendentes porque reconhecem que a civilização tem uma dívida histórica com esses por causa da escravidão. Os poderosos não desprezam mudanças, as usam a seu favor, assim, ainda que haja noção que a mudança é implacável, não há pureza de intenções. Empresas de comunicações dão lugar de fala em programas, matérias e sites, para quem se torna uma maioria utilizável. 
      Isso significa que um direito é adquirido quando se é maioria? Sim, mas não maioria como ser humano, mas maioria como consumidor, como comprador de fast-food, cervejas, celulares, eletrodomésticos, roupas, carros, escolas, serviços bancários etc. A mídia não é nem de direita, nem de esquerda, nem de centro, ela é pela grana, por indústrias, bancos e outras corporações que vendem produtos e usam o marketing divulgado na mídia para promoverem seus produtos. 
      Quando a agenda afrodescendente era “vendida” (desculpe-me o termo) como minoria ainda que não fosse, a mídia pouco se manifestava a respeito. Acreditem, quando lutas por direitos de afrodescendentes deixarem de ser moda, quando a miscigenação estiver tão generalizada que não se identificará mais branco, negro, amarelo, europeu, africano ou asiático, a mídia mudará o foco, de olho não em direitos humanos iguais, mas em consumidores para os produtos dos que pagam a ela por publicidade.  
      A mídia apoiará os donos da grana e esses apoiarão políticos que lhes deem liberdade para ganharem mais grana, independente de serem políticos de direita, de esquerda ou de centro, ninguém também se engane sobre isso. Em nome disso políticos farão qualquer negócio, mesmo dizerem-se a favor dessa ou daquela ideologia. A mídia, orientada por quem a paga, sabe o que será lançado e dará lucro, assim preparará o consumidor, primeiro cria a necessidade para depois vender a solução. 
      Ingênuo quem se envolve com esse sistema só vendo a ponta do iceberg, mas irresponsável o cristão que se põe como militante de político. Também existem muitos administradores de O.N.G.s (eis nessa sigla um mundo tenebroso que não é bem o que parece ser) que são enganados, assim como existem outros administradores de O.N.G.s que se escondem atrás de bandeiras de direitos humanos para promoverem ou destruírem o que interessa aos donos da grana que os pagam. 
      Não há nenhuma novidade nisso, o mundo sempre funcionou assim, ainda que nos tempos antigos as pessoas ligassem poder a direitos recebidos legitimamente dos deuses. Mas será que o Deus verdadeiro tem interesse em grana e poder neste mundo? Não. Assim é lógico concluir que poder neste mundo, de um jeito ou outro, está ligando a “falsos deuses”, seres espirituais malignos. A prova disso é que poder e grana sempre foram para beneficiar alguns, não a maioria mais necessitada. 
      Quem detém a grana não está interessado em teus direitos, mas em teu dinheiro. Deus está interessado em teus direitos, entende isso quem para de olhar para os homens e olha para ele. “Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja confiança é o Senhor, porque será como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro, e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde, e no ano de sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto” (Jeremias 17.7-8). 
      Perdoem-me a visão pessimista, ela não significa que não haja evolução moral no planeta. Sim, há, como sempre houve e haverá, mas lentamente, sempre opondo matéria a espírito. As trevas persistirão até que a luz se manifeste totalmente, com o bem vencendo o mal, numa humanidade onde as pessoas não serão percebidas por aparência externa, origem geográfica, nível financeiro ou intelectual, sexualidade e mesmo por religião, mas pelo amor que serve a todos equitativamente.

03/09/22

Não sabemos tudo! (34/92)

      “Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.” Isaías 55.10-11

      Sei que tua vida deve ser corrida, no mundo atual, no Brasil de hoje, todos temos que trabalhar e muito para termos o mínimo de dignidade em nossas vidas e de nossas famílias. Mas você deve ter um tempo de lazer, talvez para ver um filme, uma série, uma novela, talvez até para ler um livro. Que tipo de livro você lê? Só a Bíblia, livros cristãos, romances, ou então, sites da internet, de fofoca, de política? Talvez o máximo que faça é ver vídeos no Youtube e passar o dedo na tela do celular para se atualizar com as bobagens do dia, bem, todos fazemos isso. Aqui vai uma dica, caso tenha algum tempo livre e já tiver lido a Bíblia, conheça um pouco sobre outras religiões.
      Muitos de nós cristãos, e eu me incluo entre esses, ou pelo menos me incluía, têm impressões fechadas sobre outras religiões, e na maioria das vezes opiniões negativas. Acontece conosco aquilo que se tornou ditado, “não li e não gostei”, assim demonizamos muitas religiões, muitos fundadores de religiões, muitos palestrantes e representantes de religiões não cristãs, sem nunca termos procurado saber mais sobre esses. Se sabemos é geralmente a opinião de um dos lados, de teólogos e estudiosos protestantes, que obviamente vão deslegitimar quem não é evangélico, principalmente se esse acredita em princípios que vão contra a doutrina cristã protestante tradicional. 
      Já tive oportunidade de saber mais sobre a vida de muitos que o catolicismo elegeu como santos, sim, há muitos que o são só baseados em crendices populares, superstições, que a liderança católica deu o título mais para agradar o povo e segurar adeptos que realmente por terem algo especial em suas vidas. Contudo, há outros que foram verdadeiros cristãos, e não me refiro só àqueles citados em textos do novo testamento, apóstolos e discípulos do primeiro século, mas em verdadeiros homens de Deus que viveram depois. Como evangélico ou protestante você vai se surpreender com o testemunho real de muitos chamados santos católicos, será edificado com suas vidas. 
      Isso não significa que evangélicos usarão o nome e a posição espiritual dos chamados santos para pedir algo a Deus (ou diretamente a eles), sei que a doutrina protestante só aceita Jesus como intercessor entre Deus e os homens. O posicionamento católico de permitir que homens mortos específicos sejam intermediários é semelhante ao ensino do espiritismo kardecista, que ensina que espíritos superiores (guias) podem abençoar os homens no plano físico. Há mais em comum entre o catolicismo e o espiritismo que entre o protestantismo e o espiritismo. A teologia dos santos abre várias possibilidades, incluindo o procedimento inverso, onde vivos podem interceder por mortos. 
      Falando em kardecismo, eis uma religião que protestantes e evangélicos se mantêm absolutamente distantes, o fato de crerem que não existe reencarnação, comunicação entre vivos e mortos e que tudo que é escrito em nome de espíritos de falecidos pelos espíritas é só mentira de demônios que enganam os homens, faz com que muitos julguem sem ter nenhum conhecimento. Se você se der ao trabalho de ler, não só Allan Kardec, mas Léon Denis e Chico Xavier, verá em primeiro lugar entendimentos históricos sobre muitas religiões e depois orientações morais, com tal profundidade e lucidez, que terá dificuldades para afirmar que tudo foi inspirado pelo diabo. 
      Mas não são só os livros de outras religiões que contêm sabedoria, e em muitos casos muito mais esclarecida que a que achamos em muitos textos bíblicos. As vidas de escritores como Hippolyte Léon Denizard RivailLéon Denis e Francisco Cândido Xavier podem ensinar muito sobre vocação missionária e prática do bem. Todas elas contêm polêmicas, aliás, como há nas vidas dos personagens bíblicos Moisés, Davi, Pedro e Paulo, dentre outros, e na trajetória do reformador protestante Martinho Lutero. Sobre esse, procure uma biografia dele escrita por protestantes e outra escrita por católicos, em ambas achará enganos, então tire a média e se aproximará da verdade. 
      Só na vida de Jesus não há polêmicas, mas havemos de concordar que pouco sabemos sobre ele, e historicamente no que sabemos pela Bíblia também há divergências. Contudo, a fatos históricos resistiu de Cristo seus ensinos únicos (fundamentados no Sermão da MontanhaMateus 5-7) e sua morte sacrificial por toda a humanidade, isso basta. Deixo claro que apesar de afirmar que pouco sabemos e assim não podemos como protestantes e evangélicos afirmar muitas coisas, sobre Jesus podemos afirmar que ele é único e suficiente. Existem outros caminhos, e creia, não são do mal, mas o caminho Jesus Cristo é o mais alto, quem busca a Deus por ele acha a verdade. 
      Neste início de século XXI, com tanta informação disponível por fácil acesso pela internet, com a ciência desenvolvendo-se mais e mais, e com os frutos ruins do falso cristianismo escancarados para quem tiver olhos para ver, não podemos mais simplesmente dizer, “isso é do diabo porque não está na Bíblia”. Meus queridos e minhas queridas, repetirei isso aqui tantas vezes quantas sentir do Espírito Santo, e me perdoe se isso te escandaliza, mas os “últimos tempos”, ainda que não sejam o que muitos creem que são, ocorrerão e exigirão de todos posicionamentos sérios com Deus e seus destinos eternos. É tempo de acordar, de tirar o véu da religião e confiar no Espírito Santo. 
      Compartilho aqui não teoria, mas prática, minhas experiências de cura emocional são reais, meus consolos diários de Deus são verdadeiros, as ações, que aos meus olhos são extraordinárias do Senhor a meu favor, são autênticas. Não me calarei sobre o quanto Deus tem me amado, com paciência e sempre acreditando no meu melhor, se isso te abençoa, siga comigo aqui até onde Deus quiser. Mas o “Como o ar que respiro” tem uma chamada profética, a essa não renunciarei, não por buscar aprovação de homem, por querer polemizar ou como coisa da minha cabeça, mas por temor à palavra de Deus. Não temos todo o tempo do mundo, não mais, apressemo-nos. 
      O caminho da sabedoria é o caminho de Deus e esse nunca tende para homens, ele leva à verdade mais alta. Homens falando de homens sempre enaltecerão a si e menosprezarão o outro, é assim desde que o mundo existe, por isso história, jornalismo e mesmo textos sagrados não merecem confiança de fatos, são narrativas relativas. Fique com a narrativa de Deus, para achá-la é preciso coragem e trabalho, coragem para não depender de aprovação humana, trabalho para crer e ser santo, assim se conhece a sabedoria de Deus sobre tudo. Palavra de Deus não é como palavra de homem, ela traz vida, faz diferença para melhor que permanece, a essa tem direito os humildes. 

02/09/22

Fé: cega ou inteligente? (33/92)

      “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.Gálatas 6.7-8

      Fé não é problema, se for fé inteligente, é caminho de solução para a área espiritual da existência, mas se for fé cega pode trazer mais problemas, e não solução. Crer sem ver e sem que nenhum dos sentidos físicos sejam impressionados por manifestação material, isso é exercer fé. Contudo, não significa que não vejamos, ouçamos ou sintamos quando cremos, esses sentidos podem ser impressionados e de formas bem claras. A diferença está na origem, enquanto experiências puramente físicas independem de fé, de qualidade moral ou de espiritualidade, as espirituais originam-se da fé. 
      A fé funciona como chave para portas que dão entradas a salas, mas mesmo as salas não são as mesmas para todos e nem sempre as mesmas para alguém, variam de acordo com preparo do ser humano e a providência do Altíssimo. Algo muito importante sobre o mundo espiritual deve ser entendido por todos, seja sob a ótica religiosa que for: ele requer respeito porque é constituído em primeiro lugar do criador e Senhor de tudo, santíssimo e todo-poderoso, e depois de criaturas (anjos), que desejam respeito tanto quanto nós queremos. Fé é a chave, mas deve haver respeito para abrir a porta.  
      Fé cega não discerne as coisas, até abre portas, mas não desfruta das salas, acredita no que os outros dizem sobre as salas. Fé cega pode ser usada por tipos diferentes de pessoas, por superficiais que querem qualquer coisa pela fê, e por profundos estudantes do mundo espiritual, mas que só desejam satisfazer curiosidades intelectuais, não querem se expor moralmente, assim todos esses abrem portas, mas não entram nas salas. Salas espirituais contêm tanto o bem quanto o mal, assim fé cega pode enganar as pessoas, levando-as a achar que estão se relacionando com Deus quando não estão. 
      Muitos acreditam na existência de coisas espirituais, convivem no meio de homens e mulheres que exercem fé genuína, mas eles mesmos nunca têm experiências de fé. Para esses o mundo espiritual é só fantasia, às vezes interpretações imaginárias que lhes dão o mesmo prazer que se tem lendo livros, ou assistindo peças e filmes ficcionais. Outros, ainda que nunca se aprofundem na fé, ainda que não tenham fé inteligente, mas crendo nas experiências dos outros, principalmente nas experiências dogmatizadas das religiões, têm experiência reais com fé, afinal, Deus ama a todos.
      Mas o que seria fé inteligente? Fé e inteligência podem parecer conceitos antagônicos, materialistas dizem que o inteligente não precisa crer. Em termos materiais, a ferramenta ciência examina meticulosamente, experimenta em laboratório, faz e repete processos para então estabelecer princípios e fórmulas. É nesse conhecimento aprovado e conhecido que pode-se crer no plano físico, e a ciência tem a missão de nos dar esse conhecimento para que dominemos o planeta, respeitemo-lo e o utilizemos para termos vidas físicas de qualidade para todos, de forma equilibrada e renovável.
      O que materialistas e ateus não entendem é que pode-se usar metodologia científica em experiências espirituais, obviamente desde que elas sejam legítimas e inicialmente experimentadas do jeito certo. Depois que a “porta” é aberta, pela fé e com respeito, a “sala” pode ser conhecida com inteligência, para saber o que é verdade, o que é mentira, o que é bom, o que é mal, e o que é passageiro e o que é perene. O princípio bíblico que melhor define a principal ferramenta para se verificar a qualidade de uma experiência espiritual está em Mateus 7.20, “portanto, pelos seus frutos os conhecereis”.
      Contudo, enquanto uns extremistas adoram a ciência e desprezam religiões e outros adoram religiões e desprezam ciência, muitos não podem provar o melhor da ciência e da religião. O melhor, além do fato de ambas serem instrumentos para campos diferentes, um físico e o outro espiritual, é que cada uma pode auxiliar a outra, completar a outra, e não negar ou anular a outra. Se a fé inteligente pode dar à ciência horizontes ainda não provados fisicamente e ainda assim reais, a ciência pode ajudar os que têm fé cega a avaliar melhor suas experiências para conhecerem o verdadeiro Deus. 
      Eu não estou dizendo aqui que deve-se provar cientificamente as coisas espirituais, ainda que muitas manifestações espíritas já tenham tido certas comprovações, a verdade é que só poderemos ter provas científicas de Deus e dos espíritos no futuro, eu penso assim. Mas talvez no futuro é que provas serão menos necessárias, um ser humano moralmente elevado não exigirá provas para crer, crerá e as provas naturalmente acontecerão, numa interação perfeita entre matéria e espírito. Estou dizendo que fé inteligente é crer e seguir crendo em algo que foi causa de efeito bom e duradouro.
      Por ter fé cega, e não inteligente, é que a humanidade foi e segue enganada por tantos homens maus, seja no catolicismo, no protestantismo ou em outras religiões, e consequentemente foi por isso que a ciência foi e é tão perseguida e negada, ainda hoje em pleno século XXI. O simples fato de acreditarmos em coisas espirituais não nos faz espirituais, o diabo é espiritual e confiar nele é algo carnal, a fé só é espiritual, isso é, só conduz à espiritualidade mais alta, quando é inteligente pois nela inteligência não é limitador mas purificador, separa misticismos e superstições da verdade. 
      Fé inteligente não nos desvia de Jesus, mas nos permite conhecê-lo mais de perto, sem os filtros das religiões, usando-se, sim, Bíblia e a tradição religiosa, mas como base e início, não fim. Uma experiência plena com o verdadeiro Espírito de Deus nos ensinará em todos os níveis, moral, intelectual e espiritual, e nos deixará mais abertos e respeitosos com a ciência. Deus é luz e nele não há treva alguma, se há treva, ainda que tenha nos permitido receber bênçãos do amor de Deus, nos limitará no conhecimento da luz. Deus é inteligente e chama suas criaturas para serem inteligentes. 

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José Osório de Souza, 8/10/2021

01/09/22

Acreditar é confiar (32/92)

      “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.Hebreus 11.6

      Como você se sentiria, se teu filho viesse te pedir uma coisa e você lhe dissesse que daria, mas teria que esperar um tempo? Passada só uma hora teu filho voltasse e te dissesse que você tinha dito que daria a ele uma coisa, mas que você não tinha cumprido tua palavra? Então, você novamente diria que daria, mas ele teria que esperar um tempo, contudo, passada só mais meia hora ele voltasse, muito triste, dizendo que você não tinha dado o que prometeu, alegando que sabia porque você não tinha atendido seu pedido, que era porque ele tinha te desobedecido no dia anterior? Então, novamente você teria lhe dito que ele deveria ter paciência, que não havia dado ainda, não por estar triste com ele, mas por motivos pessoais teus? 
      Depois de tudo isso, você poderia até pensar que teu filho não confia em você, que não acredita no teu perdão, que não crê que você pode dar a ele o que ele te pede, que acha que você não o ama de fato. Como homens podemos pensar algumas coisas de quem não acredita em nós, mas Deus não é homem, ainda que ajamos como o filho da estória, ansiosos, descrentes e cheios de culpas. Crer é confiar que uma vez que pedimos algo a Deus, e ele nos diz que dará, ele dará. Quando? Não sabemos. Por que ele pode demorar? Podemos também não saber, mas devemos confiar e esperar em paz. Agir assim é a mais pura e sincera forma de adoração, do filho que acredita sem ter recebido, só por confiar que seu Deus o ama e é fiel. 
      Se Deus mandou, confie e obedeça, e entenda, obedecer ordem de Deus não é igual a soldado obedecer seu oficial, nisso pode haver posicionamento sem sentimento, sem afeição, mesmo sem concordância, se obedece friamente, porque o soldado tem patente inferior ao oficial. Com Deus não é assim, obedecer é se colocar em íntima comunhão com ele, estar plenamente conectado a ele, assim, compartilhando de seu amor, de sua paz, de sua luz, o que nos fortalece para obedecer uma orientação sua. Deus é paciente, mas se insistirmos em desobedecer, mesmo que seja a ordem para esperar que ele atenda um pedido que já disse que atenderia, poderá nos disciplinar para que aprendamos a obedecer, nisso podemos ter que esperar mais. 
      Na verdade Deus não muda seus planos, seu tempo, somos nós que podemos mudar, se esperamos em paz muito tempo parece pouco, mas se esperamos na desconfiança uma hora pode parecer dias. Só a vida para nos ensinar a esperar do jeito certo, assim amadurecermos na fé que crê sem ver, mas que não demoremos muito para aprender a viver pela fé, nem fujamos de oportunidades que Deus nos dá para isso. Muitos, sem paciência para crer, lançam sobre seus ombros cargas pesadas demais, usando para coisas desnecessárias tempo que poderia usar para crescer espiritualmente. Esses, ainda que digam que confiam em Deus, só confiam em si mesmos, esperar em Deus pode ser trabalho difícil, mas é o mais útil que há. 
      O Senhor se agrada muito dos que creem do jeito certo e no momento certo, esses experimentam a eternidade ainda no mundo, conhecem mistérios que de muitos são escondidos, recebe antes de outros o início da iluminação que terá plenamente quando deixar a matéria. Deus não nos impõe fé como castigo, para dificultar nossas vidas, ele nos desafia por ela, quem a prova sentir-se-á depois muito satisfeito. Esse galardão, conhecimento científico não pode dar, e ainda que conquistarmos bens pelo nosso trabalho nos faça felizes, não se compara a vivenciar a fé. Confie no teu Deus, se ele disse para você esperar que dará tudo certo, fique em paz, Deus se agrada daqueles que creem nele e esperam dele o melhor para suas vidas. 

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José Osório de Souza, 8/10/2021

31/08/22

Crer sem saber (31/92)

      “Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?” João 11.40

      Qual o interesse de Deus para a humanidade hoje, com relação às coisas espirituais: que ela explique cientificamente essas coisas ou que aprenda a confiar nele? É que ela aprenda a confiar nele, porque só ele pode levar os seres humanos a conhecerem e praticarem as virtudes morais mais elevadas. Usar a fé não é fraqueza, é fortaleza porque nos leva a ter comunhão com o único que pode nos tornar realmente fortes, não só na matéria, mas no espírito. Quem tem dúvida, crê, mas quem crê não terá mais dúvidas, ainda que seja aberto para fazer novos questionamentos, eis o paradoxo da fé. Isso não significa que você tenha que duvidar de Deus, mas que deva ter uma fé inteligente que confia, prova, questiona e acha a verdade. 
      Vou dar um exemplo. Quem sabe que existe céu e inferno não precisa crer, já racionalizou isso e aceitou sem questionar, mas quem crê no amor maior de Deus está aberto para que exista mais que penas eternas. O conhecimento de Deus é gradativo, cremos e temos paz, se não há paz, nem questione, ande sempre conforme a porção de fé que recebeu e que te conduz em paz. Mas quem anda de perto com Deus sempre será confrontado a saber mais, assim precisará de mais fé, já que novos questionamentos são feitos e novas respostas poderão ser conhecidas. Fé é viva, não é morta e estagnada, não porque tenha firmeza para receber coisas materiais maiores, mas porque tem a extensão para saber mais sobre o mundo espiritual. 
      Deus pode usar mais a dúvida que a certeza, na dúvida somos humildes e cremos, não nos achamos bons o suficiente para entendermos as coisas de Deus. Já na certeza nos achamos donos da verdade e assim pensamos que podemos seguir só por sabermos, sem termos que confiar em Deus. A religião e o mundo espiritual podem ser explicados cientificamente? Talvez um dia, contudo, acho impossível e desnecessário nos atuais níveis moral e intelectual do homem, como tentam fazer, por exemplo, os espíritas kardecistas, quando denominam suas óticas espirituais como ciência. Ainda não é momento para isso, convém ao ser humano que precise crer para ser humilde, ainda que o desenvolvimento científico tenha mudado isso. 
      Antes de termos as ciências médica e farmacêutica desenvolvidas o ser humano acreditava mais sem saber, ainda que muito em superstições e curandeirismos, mas no meio disso havia mais religiosidade. Por que não vemos hoje em igrejas evangélicas tanta expulsão de demônios como víamos há trinta anos atrás, ou na época de Jesus? Porque a psicologia e a psiquiatria têm tratado as pessoas, e não estou dizendo que não existam reais casos de possessão demoníaca, nem que tudo seja transtorno mental. Contudo, saber levou o ser humano a crer menos, e a ciência está aí para isso, para que saibamos, e ninguém a despreze, é dom de Deus tanto quanto os dons espirituais, ainda que se ocupando atualmente mais da matéria. 
      Enganam-se e bastante muitos cristãos que pensam que ciência é, de alguma forma, instrumento do diabo, para levar as pessoas a não crerem em Deus, isso é matar o cão para se livrar das pulgas, e me perdoem a metáfora. As pessoas precisam aceitar que usar um remédio para matar as pulgas não faz do veterinário o cuidador do cão, aquele que levou o cão ao especialista é o cuidador, mas que teve a humildade para reconhecer que não sabia tudo e que podia usar a ajuda de outros para ajudá-lo no cuidado de seu amado animal. Muitos, contudo, por orgulho têm preferido matar o cão só para não admitirem que seu afeto pelo animal não substitui a medicação dada por outro. Ciência é sofisticada ferramenta de Deus. 
      Mas nada impede tolos de serem tolos, nem as verdades espirituais únicas e profundas de Jesus Cristo e muito menos os conhecimentos sérios das ciências impedem, mas que se culpe o ferramenteiro, não a ferramenta, principalmente se ela é dom de Deus. Mas assim como nas coisas espirituais cremos porque não sabemos e assim devemos estar sempre abertos a novos questionamentos, ainda que confiando em Deus sejamos abençoados e ensinados pelos conhecimentos espirituais mais elevados, os cientistas e materialistas, talvez até mais que os crentes religiosos, deveriam estar abertos para todas as possibilidades, incluindo a existência do mundo espiritual, de um Deus espiritual e de uma eternidade espiritual. 
      Crer é confiar sem saber e sabendo que se saberá ainda menos depois que o que se crê se realizar, mas essa é a mais maravilhosa aventura que somos chamados a vivenciar no universo. Existe um véu entre o mundo material e o espiritual, por isso nossos olhos físicos não podem ver, nossos ouvidos físicos não podem ouvir, nosso corpo não pode sentir o mundo espiritual, quem retira esse véu é a fé. Ela não é só uma chave que libera nossa imaginação, que nos permite criar imagens, sons, sensações, que chamamos de experiências espirituais, não, caros ateus, não é isso. Fé é um voto de confiança no mistério, que só precisa disso para que experimentemos o mundo espiritual, e creiam, quem acredita enxerga a glória de Deus. 
      Engana-se o que acha que essa fé pode ser objeto de exaltação humana, que deva ser escancarada nos púlpitos a fim de convencer incrédulos que é fácil obter coisas materiais sem o esforço apropriado. A fé mais profunda é delicada, qual pequeno pássaro que pousa à nossa frente, no gramado de uma praça, se respirarmos um pouco mais alto ele voa e vai embora, quem a alcança cala e guarda. Infelizmente é o oposto disso que vemos principalmente em púlpitos pentecostais, pregadores esbravejando suas pretensas capacidades espirituais, como se fé fosse mérito do crente. Quem crê, vê a glória de Deus para a glória de Deus, não para si, a glória de Deus é espiritual, fé cresce à medida que vislumbramos além da matéria.

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José Osório de Souza, 8/10/2021

30/08/22

O mistério da fé (30/92)

      “Guardando o mistério da fé numa consciência pura.” I Timóteo 3.9

      Nós gostamos de ter controle sobre as coisas, assim queremos ter certezas, se não temos, sofremos. Pessoas de nível financeiro e intelectual menor, ocupadas em trabalhar para comprar a próxima refeição, querem no máximo controle sobre comida e moradia, contudo, aqueles com mais grana e estudo querem controlar o planeta. Essa intenção não é em si errada, tratar melhor a natureza e os animais, de modo a se ter mais e melhor qualidade de vida, não só para hoje, mas para o futuro, é algo correto e necessário. Lutar por direitos iguais para uma sociedade sem preconceitos que respeita as diversidades. também é justo e o único jeito de nos desenvolvermos como civilização. 
      A questão, contudo, é querer exercer esses controles sem Jesus e seus ideais morais, sem interagir com o mundo espiritual e confiar em Deus, sem preparar-se para uma eternidade espiritual. Aqueles que se consideram melhores no mundo, endeusam a ciência, a colocam no lugar de Deus, justamente porque através dela podem se achar no controle, com certezas materiais e racionais sobre o universo. Assim o ser humano acha ter encontrado o caminho para a evolução, não entende que isso é apenas uma fase, ainda que de muitas clarezas, uma fase de negação da iluminação maior de Deus. No fim de toda etapa há o desvio maior da verdade, mas só há vida depois da morte e o homem morre várias vezes. 
      As coisas espirituais são intraduzíveis pela matéria, ainda que tenhamos muita sensibilidade espiritual, adquirida com santidade e temor a Deus, e conheçamos a linguagem da matéria profundamente, não podemos de fato explicar conhecimentos espirituais. Por isso toda religião é parte mentira e parte verdade, todas elas, parte se sabe e parte se crê. Se por um idioma do mundo temos dificuldade para traduzir um outro idioma, muito mais difícil é um idioma desse mundo tentar traduzir o idioma do outro mundo. No mundo isso acontece porque as pessoas são diferentes, de culturas, histórias e principalmente de óticas religiosas diferentes, assim as construções emocional e social dos seres humanos mudam. 
      Por mais que certos valores e sentimentos nos pareçam semelhantes, uma pessoa do mundo árabe dá ao amor um significado diferente que dá uma pessoa latina, por exemplo. Em lugares diferentes virtudes têm preços diferentes, um passado histórico que marcou a mente coletiva com elementos diferentes. Muito mais é o mundo espiritual, livre de matéria, espaço e tempo, o amor que Deus sente e compartilha é muito mais pleno, perfeito, abrangente que o amor que os seres humanos experimentam no mundo. Deus expressa-se com pureza, sem filtros, sem atemporalidades, e de forma única para todos, o que varia é nossa percepção e capacidade de compreender e interpretar suas virtudes e conhecimentos. 
      O mundo espiritual não precisa de palavras, de idiomas, ele simplesmente é praticado, a partir de um simples olhar, eis o mistério. O que nos traz consolo quando oramos, é recebermos uma emanação de luz do Altíssimo, nisso nossas mentes podem traduzir, em simples frases se tiverem a inteligência da síntese, uma sabedoria profunda. Por que a Bíblia é livro sagrado superior a outros livros sagrados? Porque ela tem registros disso, de olhares de luz de Deus, onde versículos traduzem palavras vivas. Davi e Salomão têm textos assim, que alimentarão as almas humanas por muito tempo, mas ninguém foi melhor que Jesus para expressar essa síntese, a lista das bem-aventuranças em Mateus 5 é exemplo disso. 
      As verdades mais altas não podem ser formuladas, definidas, vendidas como receitas, isso seria prendê-las e limita-las, quem entende isso nunca terá plena certeza das coisas, por isso precisará crer, e eis o motivo pelo qual fé é tão enfatizada no ensino de Jesus. Uma verdade de fato de Deus não fecha, abre, não muito, mas deixa aberta outras muitas possibilidades, faz com que o ser humano se sinta satisfeito, revigorado, mas vivo e vivo queremos seguir aprendendo mais. A palavra de Deus que acessamos pela fé sempre nos deixa com vontade de querer mais, assim levantamos novas perguntas, crer é admitir não saber, e isso de forma gradativa, quanto mais se crê, mas se sabe e mais se sabe que não se sabe.
      Uma diferença entre a religião de Israel, a velha aliança, e o evangelho, a nova aliança, é que uma se acessa por obras e a outra por fé, Paulo dedicou grande parte de suas cartas a explicar essa questão, a diferenciar o ensino de Moisés do ensino de Cristo. Pela realização de obras se faz algo e se tem direito a receber algo, é tudo material e paupável, mas receber pela fé mostra que o homem não pode entender como Deus trabalha, não pode pagar o que Deus dá, mas aceita só por confiar em Deus. Na nova aliança obras acontecem depois, como consequência da fé, não como moeda de negócio, são efeitos, não causas. Quem recebe favores religiosos por obra não é desafiado a saber mais, mas acha que já sabe tudo pelas leis.
      Mesmo no cristianismo, muitos vivem por obras, não por fé, acham que podem receber favores de Deus por serem assíduos em cultos, obedientes a dogmas e fiéis nos dízimos. Nisso é preciso alguma fé, se envolve Deus e o mundo espiritual sempre é preciso, mas não aquela fé maior que conduz o ser humano a conhecer mais profundamente a Deus, a fé necessária nesse caso é só para conhecer e praticar uma religião. Para que ter dúvidas e crer quando tudo que se precisa saber é ditado por sacerdotes, pastores e livros? Não se crê porque se sabe, quem sabe não carece acreditar, na fé não se tem certeza, nem se precisa ter, mas se aprende a confiar em Deus, ainda que se tenha racionalmente muitas dúvidas. Só crê quem não sabe. 

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José Osório de Souza, 8/10/2021

29/08/22

Fé e foco (29/92)

      “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.Filipenses 3.14

      Seriedade mental, que podemos chamar também de foco, é entender que precisamos fazer uma coisa e mantermos nossos pensamentos direcionados para isso. É não se desviar, nem para a esquerda, nem para a direita e muito menos parar ou retroceder, mas seguir em frente. Não precisamos correr, podem bastar passos lentos, mas firmes e constantes, não se prendendo ao tempo do mundo e dos homens, mas de Deus. 
      Na vida existem momentos de relaxamento e alegria, e muitos, se andamos com Deus ele nos concederá esses momentos. Não somos robôs ou perfeitos, nossos corpos e nossas almas necessitam de tempo para descansar, mesmo para parar, respirar fundo, para que abracemos quem nos ama e amamos. Jantar em família, férias, um passeio, momentos para usufruirmos com dignidade e sabedoria, da graça de Deus.
      Mas não viemos ao mundo de férias, temos uma missão, temos trabalho a fazer, e mais que o material para manter nossos corpos, o espiritual para aperfeiçoar nossos espíritos. Esse trabalho é constante, contudo, em determinados momentos Deus nos chama para um posicionamento mais sério, quando temos que manter nossos pensamentos e sentimentos determinados, exercendo fé de maneira especial e guardada. 
      Muitos cristãos não fazem uso de seus mais poderosos instrumentos para obedecerem a Deus, por isso têm vidas insatisfatórias. Quem é chamado para fazer algo só terá paz quando fizer isso, mas como fazer se não está capacitado? É o Espírito Santo que nos chama, nos mostra o que fazer e nos fortalece para isso. Você já sentiu o Espírito Santo te chamar, te mandando orar porque tem algo importante a dizer? 
      A questão não é nem se obedecemos ou não ao chamado de Deus, a questão é se conseguimos discernir essa chamada, muitos estão sendo chamados por Deus e nem se dão conta disso, porque estão atentos a muitas vozes, menos a de Deus. Não significa que eles não ouçam a voz da religião, da moralidade, mas essas podem ser só leis mortas, não a viva palavra do Espírito Santo, só a voz viva traz vida e eterna. 
      É sempre difícil tentar explicar coisas espirituais, principalmente para uma grande parte de cristãos que é experiente só em frequentar cultos, em cantar louvores e em obedecer protocolos de fé inventados por pastores hereges para conseguir milagres físicos. Por outro lado temos uma outra parcela de protestantes que se limita à palavra escrita da Bíblia e demoniza qualquer experiência com dons espirituais.
      No todo há muitos cristãos inexperientes com o Espírito Santo, protestantes e evangélicos seguem como católicos desviados, ainda que não creiam em santos, em dogmas fora da Bíblia e não obedeçam o papa. Conhecemos alguém mantendo uma amizade com esse alguém, intimidade não se adquire de uma vez, é aos poucos, com tempo é que sabemos quem é nosso amigo, do que ele gosta e como ele se manifesta. 
      Com o Espírito Santo é semelhante, quer conhecê-lo mais? Comece uma relação de amizade com ele, fale e ouça, mas não tenha-o como alguém distante e desconhecido, mas aberto ao diálogo e mais, com capacidade para te ajudar a fazer a vontade de Deus. No dia a dia o Espírito é próximo, carinhoso, ainda que direto, sempre nos orienta para que tenhamos paz e convivamos com os homens em amor e santidade.
      Contudo, em momentos especiais, ouviremos o Espírito Santo nos falando com uma voz poderosa, parecendo até estar mais longe, mas é porque está nos dando uma orientação diferenciada, que exigirá de nós uma seriedade mental para obedecer. Talvez você esteja andando certo com Deus, mas não está parando para ouvir uma ordem maior, que fará com que tudo em tua vida faça um sentido maravilhoso. 
      Em alguns momentos teremos que nos centrar na fé e só ir, sem nos abalarmos, crermos sem ver, os que entendem esses momentos receberão uma glória singular, não de homens ou externa, não necessariamente, mas interior e no espírito. Se no dia a dia com Deus crescemos, em momentos assim cresceremos muito mais, se vigiarmos, deixarmos para lá as infantilidades e fugas da carne e só focarmos em nosso Deus. 

28/08/22

Superação pela fé (28/92)

      “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.Hebreus 11.1

      Ainda que não sinta, creia. Ainda que não veja ou ouça, tenha fé. Ainda que a realidade mostre outra coisa, acredite. Se tua vida estiver de acordo com a vontade de Deus, e se o que você busca for aprovado pelo Senhor, mesmo que pareça improvável, você receberá o que precisa. Fé agrada a Deus porque coloca o homem, ainda habitando o mundo material, no reino do céu, mostra que o ser entendeu seu principal motivo de existir, caminhar rumo à melhor eternidade espiritual, desligando-se da ilusão da vã matéria. 
      Fé implica em esperar, satisfeito com o que se espera sem que ainda se tenha recebido, isso é sentir-se cheio ainda que vazio. Deus é bom, conhece nossos limites, mas será que conseguimos, ao menos um pouco, vivermos só pela fé, sem termos qualquer espécie de prazer que nos ajude enquanto esperamos? A vida faz sentido conforme somos recompensados com paz e alegria por agirmos corretamente, mas pode ser necessário sermos esvaziados, para sermos libertos de ilusões, que nos impedem de sermos felizes pela fé.
      Jesus homem foi levado a limites que nenhum ser humano, não sem merecer, foi. Você acha que Cristo sentia algum prazer que o fortalecia em seus últimos momentos de vida, quando era humilhado, torturado, crucificado e morto? Mas ainda assim ele resistiu, pela fé. Como ele conseguiu isso? Preparando-se. Nos preparamos para o pior, não evitando-o e tendo medo dele, muito menos indo irresponsavelmente em direção a ele como insanos. Jesus sempre viveu pela fé, mantinha os olhos em Deus, não no mundo físico. 
      Passamos vidas inteiras fazendo coisas erradas, não significa que passamos todo o tempo cometendo pecados sérios, envolvendo-nos com drogas pesadas, num estilo de vida adúltero, muitos de nós não chegam a extremos. Mas ainda assim nos viciamos em prazer, ainda que só comendo alguns brigadeiros ou bebendo uma taça de vinho para relaxar. Não somos criados e não conduzimos nossas existências de forma espiritual, mesmo nas igrejas cristãs somos materialistas, trabalhamos para termos mais direito ao conforto. 
      Fé conduz a um prazer, uma satisfação espiritual, e se formos em direção ao Deus Altíssimo será uma unção santa e eterna, o regozijo do céu, não o vazio do inferno. Contudo, trocar o prazer da matéria pelo do Espírito pode não ser algo fácil, por isso momentos onde nos sentimos vazios, sem nenhuma recompensa emocional, só tendo que crer e esperar, podem ser necessários, resistindo a síndromes de abstinência como quem é libertado de drogas. Mas valem a pena, a recompensa é uma iluminação espiritual única e perene. 
      Contudo, muitas vezes nos falta alegria da salvação, não porque estamos sendo provados, mas porque pecamos. Ainda que em Jesus tenhamos perdão imediato de Deus e paz, nosso corpo físico, nossa mente, nossos sentimentos, não se recuperam assim tão depressa. Dessa forma, o humilde se arrependerá e aguardará pacientemente o Santo Espírito achar de novo “conforto” em seu espírito, devida limpeza no templo, para que lhe dê novamente o prazer da presença de Deus. O plano espiritual é vivo e pede respeito. 
      Vitória não está em vencer o prazer do corpo, mas a dor do espírito. A perseverança dos santos não se apressa em buscar prazeres diante da dor, crescimento espiritual só se realiza com superação da dor. Não estamos neste mundo por outro motivo que vencer a matéria, construímos o céu em nós morrendo para a matéria ainda vivos. Contudo, aos que não abrem mão de prazeres do corpo, que não conseguem controlar, não só apetites carnais, mas a vaidade de prevalecerem sobre os outros, só manterão dentro de si o inferno. 

27/08/22

Milagre: o que é? (27/92)

      “Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, a esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém.Efésios 3.20-21

      Se teu ponto de vista for outro, eu respeito, afinal, milagre é algo muito pessoal, mas quando digo que milagre pode não ser o que é dado, mas quando e como é dado, digo que Deus não age desobedecendo regras que ele mesmo criou. Se, por exemplo, entendemos pela ciência que Deus trabalha na natureza usando milhões de anos, por que acharmos que seja diferente em outras áreas? Não estamos dizendo que a ciência saiba tudo, e mesmo sabendo o que sabe não pode arrogantemente afirmar que o mundo espiritual não existe. Por outro lado, os que creem em Deus, não podem achar que Deus, mesmo sendo todo-poderoso, faça coisas extraordinárias. Pode fazer, mas só aos nossos sentidos humanos limitados. 
      Há outras áreas, mas em duas delas muitos dizem provar milagres que consideram impossibilidades que Deus realiza: áreas financeira e de saúde. Na financeira, se examinarmos com cuidado, entenderemos que o que aconteceu e consideramos milagre não foi algo impossível, já tinha alguma maneira viável de ocorrer e ocorreria de um jeito ou de outro. Já na área da saúde a coisa pode ser um pouco mais complexa, milagres nessa área também podem ter explicação se estudarmos o ocorrido com cuidado, ainda que seja só a atuação positiva de uma atitude de fé na força de vontade para o doente se restabelecer. Contudo, como ainda desconhecemos todo o poder da oração, podemos achar que houve algo impossível. 
      Na experiência pessoal que relatei na primeira parte desta reflexão (postagem de ontem), a diretora não poderia ter recorrido a uma lista de profissionais capacitados para a função e então escolhido alguém? Sim. Poderia ter usado critério de pontos que profissionais da área de ensino público acumulam por tempo e outras capacitações? Sim. Seria milagre se a escolha fosse feita dessas maneiras? Não. Seria bênção de Deus? Com certeza, e Deus seria louvado por isso. Contudo, na experiência que relatei havia duas opções, uma mais demorada e outra mais rápida e com outras vantagens, a opção melhor ter acontecido e antes foi fruto, não de esforço humano e material, não só disso, mas de oração aprovada por Deus. 
      Hoje, com o que a ciência sabe sobre espiritualidade, efeitos da oração podem ser considerados milagres, sejam eles quais forem. Se alguém estiver necessitando de auxílio financeiro, uma pessoa orar e uma terceira pessoa, que não conhece nem o necessitado nem o que orou, entender, porque lhe veio à mente ou porque sonhou, de ir até determinado lugar e ajudar o necessitado, isso poderá ser milagre. Por outro lado se alguém estiver desenganado pelos médicos, alguém orar e a pessoa for curada, isso também será considerado milagre. Mas vejam que em ambos os casos alguém orou, uma conexão com Deus foi feita, um poder espiritual saiu de Deus e tocou alguém, seja com uma orientação ou com cura física. 
      Podemos dizer que milagre é algo que acontece e que não se tem explicação científica de porque aconteceu. O correto é não sairmos dizendo que houve milagre sem analisarmos o ocorrido com cuidado. Muitos dizem provarem milagres mais para exaltarem a fé do homem que o poder de Deus, e muito disso é feito para que pastores sejam famosos, aumentem o número de ovelhas em suas igrejas e recebam mais dízimos. Mas mesmo que seja só a satisfação pessoal de se ter recebido uma graça, pode não ser algo saudável, não precisamos de milagres para provarmos comunhão, proteção, suprimento e cura em Deus. Deus tem interesse que sejamos crentes e espirituais, tanto quanto racionais e inteligentes. 
      Quem anda com Deus está sempre sincronizado com a bênção, mas quem quer amadurecer em todas as áreas, valorizará ciência, estudos, trabalho, tanto quanto saúde mental e afetiva, assim como virtudes morais e profunda intimidade espiritual com Deus. Quem anda de forma madura com o Senhor sabe que precisa fazer sua parte e fará, mas também sabe quando precisa orar de maneira diferenciada pedindo que Deus atue espiritualmente, e creiam, Deus age. Se os céticos e materialistas soubessem o poder que tem a oração não desacreditariam de milagres, mas se evangélicos desinformados e outros mal intencionados soubessem o que Deus faz pelos que o obedecem não promoveriam falsos milagres. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão
José Osório de Souza, 6/11/2021

26/08/22

Testemunho de milagre (26/92)

      “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes.Mateus 6.6-8

      Milagre pode não ser o que se recebe, mas o quando e o como se recebe. Minha família teve recentemente uma experiência abençoada, uma renda que eu tinha estava diminuindo, assim, uma solução viável seria aumentar a renda de minha esposa, para que pudéssemos manter nossa vida financeira em ordem. Minha esposa, que trabalha na área do ensino público do estado de São Paulo, recebeu um convite para um cargo novo que melhoria seus ganhos, mas isso só se realizaria no próximo ano, estávamos ainda em outubro. Eu já estava orando a Deus há algum tempo para que minha esposa tivesse uma evolução profissional, mas naquele mês eu aumentei meu clamor, eu estava bem aflito. 
      Na madrugada de uma segunda-feira para a terça-feira, enquanto eu orava ao Senhor, senti uma conexão forte com Deus, especial, e entendi do Espírito Santo a seguinte palavra: “o que você pede já está sendo feito neste momento”. Pela fé fiquei em paz, confiante que no próximo ano minha esposa teria uma promoção que resolveria nossa dificuldade financeira. Contudo, na terça-feira, ainda pela manhã, minha esposa telefonou me dando a notícia. Uma diretora de uma escola estadual, que estava se tornando escola integral (p.e.i.), tinha ligado para ela naquela manhã, convidando-a para ser vice-diretora e que poderia começar já em novembro, o salário seria maior que o que ela teria no cargo do outro convite.
      Entretanto, algo que a diretora falou nos deixou estarrecidos, ela disse que naquela noite tinha sonhado com minha esposa, vendo-a como a nova vice-diretora da escola. A mulher conhecia minha esposa superficialmente, não eram próximas, nem sabíamos qual sua religião, mas o entendimento que tive foi que no momento em que eu orava, na madrugada, Deus enviou um anjo à casa da diretora influenciando seu sonho. Acredite, meu relato é verdadeiro e fiel, além de minha esposa receber uma promoção profissional, foi melhor que o que esperávamos pelo outro convite e antes do tempo. Era algo impossível? Não, minha esposa tinha as qualificações profissionais adequadas, o milagre não foi o cargo em si.   
      Penso que se nossas vidas não estivessem em comunhão com Deus, se não houvesse em nós um temor para buscar o Senhor com todo o coração e crer que ele poderia atender o pedido, a resposta poderia nem ter sido dada. Não ocorre assim tantas vezes com os seres humanos? Algo parece justo, possível, mas não acontece? Por outro lado, como seres humanos que andam perto de Deus, se nossa oração tivesse sido só burocrática, feita, mas com certa frieza, talvez só tivesse sido respondida no próximo ano. Contudo, a resposta veio antes e melhor, parece que Deus solucionou um problema material, mas também recompensou um amadurecimento espiritual, o milagre foi o quando e o como.
      Tempos depois minha esposa soube que o outro cargo, que tinha sido prometido a ela por uma amiga que a conhecia bem, nem era tudo que achávamos que era. Se tivéssemos nos acomodado com o que pensávamos que era o justo e o possível, talvez tivéssemos ficado sem nada. O viável pode acontecer neste mundo? Pode. É controlado por Deus? É, tudo é. Mas o justo e o possível, por si sós, nos amadurecem espiritualmente? Não. Por isso temo pelos que, ainda que cidadãos honestos e esforçados, só confiam em si mesmos e nos sistemas deste mundo. Viver é mais que administrar o que se vê, o que se pode, o que se constrói com as próprias mãos. Vida eterna é se relacionar com Deus e crescer pela fé. 
      Certas coisas nos pegam de jeito nesta vida, parece que perderemos tudo, que não haverá saída, mas acredite, em Deus sempre há! Grandes provas trazem enormes crescimentos, e faltas significativas são só boas oportunidades de libertação, Deus tira porque não nos faz bem e tem algo muito melhor para nos dar. Não podemos é nos perder, antes, focarmos na oração, ultrapassarmos limites de fé, superarmos a nós mesmos e sem medo avançarmos para o desconhecido. Se Deus manda, Deus capacita, e os maiores desafios o são porque nos colocam diante do que não sabemos, assim, mais confiança em Deus é necessária. Contudo, se formos aprovados, sairemos mais fortes, mais livres, mais felizes. 

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a 2ª parte desta reflexão
José Osório de Souza, 6/11/2021

25/08/22

O justo vive pela fé (25/92)

      “Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé.” Romanos 1.17

      O versículo inicial fala do justo, alguém que antagoniza com o soberbo, citado em Habacuque 2.4. Enquanto o soberbo é materialista, o justo tem uma característica essencialmente espiritual, fé. Viver pela fé não é fácil, é escolha que Deus nos dá num determinado momento de nossas vidas de forma clara, assim todos seremos questionados pelo Senhor se queremos seguir pela fé nele ou sozinhos. Como vimos antes, sozinho ninguém segue, se não se quer Deus, adota-se ídolos. Alguns, dentro de boas igrejas, que iniciaram suas jornadas com sinceridade, num determinado momento são confrontados por Deus com a pergunta: “de agora em diante realmente terá que viver pela fé, você quer?”. Infelizmente muitos respondem não quero.
      Entenda que viver pela fé não se refere necessariamente a dependência de Deus na área material, principalmente para aqueles com chamadas ministeriais. Ocorre também que muitos dizem não, mas não assumem isso, nem para eles mesmos, continuarão em igrejas, se dizendo cristãos, falando e se vestindo como tais, defendendo Bíblia e o cristianismo, mesmo sendo pastores, pregadores, professores, teólogos. Esses são os que constróem “ídolos ideológicos” com cara de Deus, com boca de Deus, com corpo de Deus, mas só ídolos mortos e vazios, sem o Espírito de Deus. Para se viver pela fé tem que ser provado em provas em que não se terá outra saída que não seja crer em Deus, mesmo sem ver, sem ouvir e sem saber.
      O justo viverá pela fé! Por que a virtude justiça está aliada à fé? Podemos dizer, então, que injusto é o que não crê, ainda que tenha outras virtudes. Justiça é respeitar direitos, dar o bem a quem faz o bem e punição a quem não faz, mas mais que isso, o justo faz o bem a todos, e entrega o mau nas mãos de Deus para que faça justiça, não ele. Esse é o conceito de justiça do novo testamento, mas nesse caso alie-se o conceito de justificado por Cristo, assim ainda que não se tenha feito algo certo, se houver fé em Jesus pode-se ser livrado da justiça de Deus. Isso não implica em não colher em alguma instância efeito material ruim de uma causa ruim, ainda que o Senhor em sua misericórdia atenue a disciplina sobre o crente. 
      Mas o mistério por trás de “o justo viverá pela sua fé” de Habacuque 2.4 está em revelar a um povo do antigo testamento a importância da fé sobre as obras. Em outras palavras Habacuque diz, “o justo não é justificado por sua religião, pelos sacrifícios que faz no templo, por obedecer protocolos da Lei de Moisés”, não só por essas obras, mas principalmente por sua fé em Deus. Essa palavra é profética, Habacuque prenuncia o evangelho que oferece salvação pela fé em Jesus, o escritor da carta aos Romanos (Paulo?) estuda minuciosamente essa doutrina, inclusive citando Habacuque. Fé é o início, depois vêm as obras como efeitos dela, ela justifica para que pratiquemos obras, não obras religiosas, mas de virtudes morais. 
      Mesmo muitos cristãos sinceros e crentes, que já provaram ações (aparentemente) extraordinárias de Deus porque creram, não entendem o principal objetivo do Senhor em nos levar a viver pela fé. Deus não pede fé para que tenhamos coisas materiais que não podemos ter, mas para que conheçamos o mundo espiritual mesmo que encarnados no plano físico. O objetivo da fé é vida no Espírito e vai muito além de recebermos um benefício financeiro ou uma cura do corpo, ainda que essas coisas sejam relevantes para nós, e que o Senhor conceda-nos com amor. Quem se “inicia” no caminho da fé experimentará mistérios e terá acesso a conhecimentos especiais, reservados para os que aprendem a usar olhos e ouvidos espirituais. 
      O que nos leva a subir os degraus é a fé, para que atingindo uma posição trabalhemos para anexarmos aos nossos espíritos virtudes morais. Mas depois, novamente, seremos impulsionados por Deus para subirmos para um degrau mais alto, e novamente nos apropriarmos de novos valores morais, assim nos leva o evangelho, de fé em fé. Enquanto o soberbo se acomoda com as riquezas materiais que conquistou no mundo, com as próprias forças e para sua glória, o justo sabe que o caminho é infinito para quem quer espiritualidade eterna. Se a vaidade do mundo amarra, entedia e nunca satisfaz, a aventura espiritual é cada vez mais instigante, o objetivo da fé é cada vez mais elevado e iluminado, o que é bom sempre fica melhor. 

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a 1ª parte desta reflexão

24/08/22

O soberbo vive por si (24/92)

      “Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé.Habacuque 2.4

      O versículo inicial é um que citamos com certa constância aqui, segue mais uma reflexão sobre ele. Para um entendimento melhor, recomendo leitura dos dois primeiros capítulos do livro de Habacuque. No primeiro capítulo o profeta apresenta a Deus sua indignação diante de um povo, seu povo, que vive em desobediência à vontade do Senhor, e ainda assim, aos seus olhos, parece que nada acontece, que nenhuma ação ocorre para que o povo seja disciplinado e mude de atitude. Assim, o texto fala sobre gente vivendo errado, construindo uma prosperidade falsa, baseada em injustiças, mas não sofrendo nada por isso. No capítulo dois está a resposta de Deus para a indignação do profeta revelada no primeiro capítulo. 
      Habacuque 2.4 apresenta dois tipos de pessoas, o soberbo e o justo. O soberbo, ou orgulhoso, é o que confia em si mesmo e em ídolos. Atualmente ídolo pode ser coisas bem diversas, não é só a estátua ou a imagem de um santo, como os evangélicos gostam de dizer. Uso constantemente aqui o termo “ídolo ideológico” para definir um ídolo, não feito de gesso, pedra, madeira, ou desenhado num papel ou em outro material, relacionado a uma pessoa morta que teve alguma relevância numa religião. Ídolo atualmente também não é só estátua ou desenho de entidades espirituais, como os deuses do afroespiritismo, não necessariamente isso, que podem nem ser falsos deuses, podem não ser Deus, mas não são falsos. 
      “Ídolo ideológico” é um ser criado por ideias, nem sempre verdadeiras, muitas vezes só mistificações e superstições, que não tem forma física, mas que é bem definido nas cabeças e nos corações humanos. Esses ídolos podem ser construídos mesmo com ensinos bíblicos, com conceitos aliados até ao Cristo, mas que não são o Jesus espiritual verdadeiro que habita as regiões celestiais mais elevadas e que envia seu Santo Espírito à Terra para ensinar, consolar e guiar os que o buscam. Não que muitos que comecem buscando ídolos não achem o Jesus verdadeiro, Deus é misericordioso, ouve a todos, busca a todos e responde mesmo linhas não tão retas de comunicação. Mas algo é certo, o arrogante quer ídolos, não Deus.
      A obsessão por ter ídolos revela um lado bom do ser humano, sua necessidade de Deus, contudo, se torna algo ruim quando se busca um substituto falso para o verdadeiro Deus, que ao menos aplaque essa necessidade legítima. A sede existe, se não puder ser saciada com água pura e fresca será com qualquer líquido que se achar, mesmo água suja e quente. O arrogante não quer Deus porque sabe que esse lhe mostra verdades que ele não quer assumir, mas ele precisa adorar alguma coisa, todo mundo precisa, por isso que não existe ateu genuíno, só existem idólatras, ainda que sejam da ciência. Coisas físicas resolvem problemas físicos, como a ciência, mas coisas físicas não solucionam questões espirituais ou morais. 
      Sem Deus, ainda que alguém comece moralmente correto, um dia agirá incorretamente, não verá problemas maiores em ser egoísta ou imoral, mesmo que se ache civilizado. Quando não subimos para Deus caímos longe dele, quem acha que não quer Deus porque não quer estar preso a algo que não pode provar materialmente, acaba ficando solto para cair no caos onde não existem referências morais ou espirituais, nem luz mostrando o caminho, só trevas. Dessa forma o soberbo errará e não se dará conta que está errando, verá o coração cauterizar, o espírito gelar, a mente tomada por falsos deuses. Quem idolatra político ou artista se afastou de Deus um dia, assim um ídolo só ocupa um espaço que está vazio.
      O soberbo não vive por fé, mas isso não significa que ele seja desonesto ou vagabundo, ao contrário, ele pode ser mais esforçado e exigente até que o justo. A diferença é que ele vive pelas próprias forças e pelos próprios méritos, assim, ainda que diga crer em Deus, seus frutos serão para sua honra, e ele, soberbo, orgulha-se disso. O soberbo tem dificuldade para amar, para respeitar, ele não tem paciência, mas exige dos outros o que exige de si mesmo. Contudo, o soberbo poderá ser levado a uma queda fatal, que o deixará dependente dos outros e pobre materialmente, para aprender o caminho da humildade, o caminho do amor, o caminho da fé que confia em Deus, glorifica a Deus e se prepara para viver com Deus na eternidade. 

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a 2ª parte desta reflexão

23/08/22

Jesus diz a verdade (23/92)

      “E perguntou-lhe um certo príncipe, dizendo: Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna? Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe. E disse ele: Todas essas coisas tenho observado desde a minha mocidade. E quando Jesus ouviu isto, disse-lhe: Ainda te falta uma coisa; vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; vem, e segue-me. Mas, ouvindo ele isto, ficou muito triste, porque era muito rico.” Lucas 18.18-23

      Por várias vezes tenho me surpreendido com discursos de maus políticos, por mais que saibamos que são fatos seu crimes, envolvendo corrupção e no governo atual desprezo à ciência, falando em palanques tentam dar argumentos convincentes e emocionados que não erraram. Pegam a exceção e tornam regra, e mesmo que tenham acertado só depois de terem sido muito cobrados, dizem que faziam isso desde o início. É mau caracter ou insanidade? Ambos, falam tanta mentira que acabam acreditando que é verdade.
      Algo que nos protege de egocêntricos gananciosos é não cairmos na armadilha do carisma e da oratória. Não só políticos usam esses dons, advogados e líderes religiosos também podem usar. Essa armadilha foca na forma e não no conteúdo, em como é dito e não no que é feito, na sedução de mostrar e falar o que queremos ver e ouvir, e não aquilo que quem mostra e fala realmente faz. Carisma e oratória em si nada têm de errado, o problema é usa-los para vender mentiras, que beneficiam quem fala, não quem ouve. 
      No texto bíblico inicial, o homem que se apresenta a Jesus é claramente alguém que queria viver religião para se exibir aos homens, não por amar a Deus. Sua intenção errada, assim como uma possível idolatria por Jesus, são delatadas quando ele bajula o mestre, que prontamente discerne isso e o repreende, não se deixando envaidecer pelo elogio do príncipe. Bom, só Deus! Se Cristo não aceitou bajulação, mais ainda nós e mortais que idolatramos podem aceitar. Amemos mais a Deus e deixemos para lá os fakes
      Jesus não foi deselegante com quem parecia querer honra-lo, mas ele conhecia o coração do homem, e naquele momento a verdade precisava ser dita porque ela era importante para resolver o principal problema do homem. A clareza de Jesus é certeira, ele foi no ponto e sem perder tempo, o Espírito Santo age assim conosco hoje. Quem tiver ouvidos espirituais, após perguntar a Deus ouvirá uma palavra, ela será imediata e atingirá o alvo, responderá, não necessariamente o que queremos ouvir, mas o que precisamos.
      Não foi Jesus quem procurou o homem, foi o homem quem tomou a iniciativa, mas penso que ele não queria uma orientação, ele queria um reforço para seu comportamento, uma aprovação para seu modo de vida, no fundo ele achava que fazia o suficiente para ser bom. Mas quem quer agradar o homem faz tudo, menos o principal, ele obedecia a lei porque isso os religiosos aprovavam, mas ele tinha um ponto fraco, suas riquezas. O Senhor é especialista em trazer à tona o que escondemos no fundo de nossos corações. 
      Sou a favor de elogio pelas boas ações, penso que ele incentiva as pessoas a seguirem fazendo as coisas certas, ainda que muitos digam que elogio envaidece e pode ser arma do mal. Mas creio que é melhor administrarmos a vaidade, que um elogio legítimo pode trazer, que carência e insegurança, que a ausência do elogio deixa, principalmente em crianças e jovens. Mas na passagem bíblica, o elogio do homem a Jesus revelava algo que não era simplesmente dar honra a quem merece, era algo que não era verdadeiro. 
      Quem elogia inadequadamente quer elogio ilegítimo, o príncipe elogiou Jesus porque queria “confete”. Mas como aprovar modo errado de vida? Jesus não fez isso, ele sempre age com verdade com quem o busca, ainda que isso doa. Jesus não aceitou ser chamado de bom pois quem o disse queria ser chamado assim sem merecer, eis a intenção atrás do elogio do príncipe. Jesus não creu na aparência, nas palavras, nem no elogio, não havia verdade nisso, só na verdade existe o bem e Jesus só queria o bem do homem.

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22/08/22

Não acredite em tudo (22/92)

      “E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol. Então passei a contemplar a sabedoria, e a loucura e a estultícia. Pois que fará o homem que seguir ao rei? O mesmo que outros já fizeram. Então vi eu que a sabedoria é mais excelente do que a estultícia, quanto a luz é mais excelente do que as trevas.Eclesiastes 2.11-13

      Reputações são construídas e destruídas, conforme a conveniência de alguns, assim, não acredite nem em santos, nem em fascínoras, poucos de fato são tão bons como dizem ou tão maus como afirmam. Os seres humanos têm a tendência de acreditarem em extremos, isso tem a ver com a necessidade legítima que eles possuem de ter comunhão com Deus, o único ser de fato absoluto. Contudo, mal resolvida essa necessidade, saímos pelo mundo à caça de quem possa ocupar lugares extremos dentro de nós. 
      Quem muito idolatra, muito odeia, e quem idolatra e odeia demais é porque não ama corretamente a Deus. Amar a Deus é remédio para muitos males. Isso não deveria ser opcional, ainda que o próprio Deus dê livre arbítrio aos homens para isso, mas deveria ser imprescindível, cura para não se amar ou se odiar extremamente quem não merece nem uma coisa, nem outra. Idolatrar e odiar não são só consequências de falta de amor a Deus, é ser manipulado por quem inventa mentiras para que acreditemos e lucre com isso. 
      Contudo, amamos e odiamos equivocadamente não só porque cremos em mentiras, mas também porque muitas vezes julgamos só pela aparência. Você já deve ter tido a experiência de ver uma pessoa pela primeira vez e não se simpatizar com ela, mas depois, conhecendo-a melhor, perceber que ela é, na verdade, profunda e confiável. Por outro lado, muitos que amamos à primeira vista, depois vemos que são pessoas superficiais, pouco confiáveis. Precisamos de tempo para não julgar alguém equivocadamente.
      No mundo atual temos que tomar muito, mas muito cuidado com a internet, no afã de quererem divulgar novidade, novidade vende mais, muita mentira é inventada. Saber de fato o que é verdade é difícil no mundo virtual, e isso muda de um dia para o outro. A humanidade sempre foi assim, no Egito antigo, quando um novo faraó tomava o poder, ele destruía o legado do anterior, caso fosse seu inimigo, novos deuses eram eleitos, novos monumentos eram erguidos, uma nova memória era construída.
      Quem frequentou os ensinos fundamental e médio na década de 1970, lembra-se da matéria “Educação, Moral e Cívica”, onde aprendíamos sobre símbolos e heróis nacionais. Eram os heróis eleitos pelo governo federal vigente, militar e de direita, muitos nomes que ficaram em nossas memórias hoje sabemos que não eram tão heróis assim. Os heróis de hoje são os vilões de amanhã e vice-versa, a história não é uma ciência exata e é sempre contada pelos vencedores, ou os que detêm principalmente o poder econômico. 
      O autor de Eclesiastes está certo quando diz que tudo é vaidade, passageiro, não confiável. Verdades maiores não têm prazos de validade, uma molécula de água, por exemplo, é composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, isso não vai mudar. E as pessoas, o que elas são? Aí é mais complicado, nem elas sabem o que são, passamos a vida tentando descobrir quem somos, e muitas vezes enganamo-nos e aos outros com muita habilidade. Por isso não se pode santificar uns e demonizar outros, em tudo há exageros. 
      Não acredite em tudo que você vê, ouve, lê ou assiste, creia em Deus, mas ainda assim saiba, a verdade maior de Deus se conhece aos poucos e com perseverança. A insistência faz com que nos preparemos, que mudemos por dentro, para que sejamos moralmente confiáveis para que Deus possa nos revelar mistérios. Contudo, algo é certo, conhecer a Deus é amá-lo cada vez mais, quem ama confia, obedece e não trai, quem conhece a verdade maior do Senhor não perderá tempo idolatrando ou odiando quem quer que seja.

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