quarta-feira, agosto 31, 2022

Crer sem saber (31/92)

      “Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?” João 11.40

      Qual o interesse de Deus para a humanidade hoje, com relação às coisas espirituais: que ela explique cientificamente essas coisas ou que aprenda a confiar nele? É que ela aprenda a confiar nele, porque só ele pode levar os seres humanos a conhecerem e praticarem as virtudes morais mais elevadas. Usar a fé não é fraqueza, é fortaleza porque nos leva a ter comunhão com o único que pode nos tornar realmente fortes, não só na matéria, mas no espírito. Quem tem dúvida, crê, mas quem crê não terá mais dúvidas, ainda que seja aberto para fazer novos questionamentos, eis o paradoxo da fé. Isso não significa que você tenha que duvidar de Deus, mas que deva ter uma fé inteligente que confia, prova, questiona e acha a verdade. 
      Vou dar um exemplo. Quem sabe que existe céu e inferno não precisa crer, já racionalizou isso e aceitou sem questionar, mas quem crê no amor maior de Deus está aberto para que exista mais que penas eternas. O conhecimento de Deus é gradativo, cremos e temos paz, se não há paz, nem questione, ande sempre conforme a porção de fé que recebeu e que te conduz em paz. Mas quem anda de perto com Deus sempre será confrontado a saber mais, assim precisará de mais fé, já que novos questionamentos são feitos e novas respostas poderão ser conhecidas. Fé é viva, não é morta e estagnada, não porque tenha firmeza para receber coisas materiais maiores, mas porque tem a extensão para saber mais sobre o mundo espiritual. 
      Deus pode usar mais a dúvida que a certeza, na dúvida somos humildes e cremos, não nos achamos bons o suficiente para entendermos as coisas de Deus. Já na certeza nos achamos donos da verdade e assim pensamos que podemos seguir só por sabermos, sem termos que confiar em Deus. A religião e o mundo espiritual podem ser explicados cientificamente? Talvez um dia, contudo, acho impossível e desnecessário nos atuais níveis moral e intelectual do homem, como tentam fazer, por exemplo, os espíritas kardecistas, quando denominam suas óticas espirituais como ciência. Ainda não é momento para isso, convém ao ser humano que precise crer para ser humilde, ainda que o desenvolvimento científico tenha mudado isso. 
      Antes de termos as ciências médica e farmacêutica desenvolvidas o ser humano acreditava mais sem saber, ainda que muito em superstições e curandeirismos, mas no meio disso havia mais religiosidade. Por que não vemos hoje em igrejas evangélicas tanta expulsão de demônios como víamos há trinta anos atrás, ou na época de Jesus? Porque a psicologia e a psiquiatria têm tratado as pessoas, e não estou dizendo que não existam reais casos de possessão demoníaca, nem que tudo seja transtorno mental. Contudo, saber levou o ser humano a crer menos, e a ciência está aí para isso, para que saibamos, e ninguém a despreze, é dom de Deus tanto quanto os dons espirituais, ainda que se ocupando atualmente mais da matéria. 
      Enganam-se e bastante muitos cristãos que pensam que ciência é, de alguma forma, instrumento do diabo, para levar as pessoas a não crerem em Deus, isso é matar o cão para se livrar das pulgas, e me perdoem a metáfora. As pessoas precisam aceitar que usar um remédio para matar as pulgas não faz do veterinário o cuidador do cão, aquele que levou o cão ao especialista é o cuidador, mas que teve a humildade para reconhecer que não sabia tudo e que podia usar a ajuda de outros para ajudá-lo no cuidado de seu amado animal. Muitos, contudo, por orgulho têm preferido matar o cão só para não admitirem que seu afeto pelo animal não substitui a medicação dada por outro. Ciência é sofisticada ferramenta de Deus. 
      Mas nada impede tolos de serem tolos, nem as verdades espirituais únicas e profundas de Jesus Cristo e muito menos os conhecimentos sérios das ciências impedem, mas que se culpe o ferramenteiro, não a ferramenta, principalmente se ela é dom de Deus. Mas assim como nas coisas espirituais cremos porque não sabemos e assim devemos estar sempre abertos a novos questionamentos, ainda que confiando em Deus sejamos abençoados e ensinados pelos conhecimentos espirituais mais elevados, os cientistas e materialistas, talvez até mais que os crentes religiosos, deveriam estar abertos para todas as possibilidades, incluindo a existência do mundo espiritual, de um Deus espiritual e de uma eternidade espiritual. 
      Crer é confiar sem saber e sabendo que se saberá ainda menos depois que o que se crê se realizar, mas essa é a mais maravilhosa aventura que somos chamados a vivenciar no universo. Existe um véu entre o mundo material e o espiritual, por isso nossos olhos físicos não podem ver, nossos ouvidos físicos não podem ouvir, nosso corpo não pode sentir o mundo espiritual, quem retira esse véu é a fé. Ela não é só uma chave que libera nossa imaginação, que nos permite criar imagens, sons, sensações, que chamamos de experiências espirituais, não, caros ateus, não é isso. Fé é um voto de confiança no mistério, que só precisa disso para que experimentemos o mundo espiritual, e creiam, quem acredita enxerga a glória de Deus. 
      Engana-se o que acha que essa fé pode ser objeto de exaltação humana, que deva ser escancarada nos púlpitos a fim de convencer incrédulos que é fácil obter coisas materiais sem o esforço apropriado. A fé mais profunda é delicada, qual pequeno pássaro que pousa à nossa frente, no gramado de uma praça, se respirarmos um pouco mais alto ele voa e vai embora, quem a alcança cala e guarda. Infelizmente é o oposto disso que vemos principalmente em púlpitos pentecostais, pregadores esbravejando suas pretensas capacidades espirituais, como se fé fosse mérito do crente. Quem crê, vê a glória de Deus para a glória de Deus, não para si, a glória de Deus é espiritual, fé cresce à medida que vislumbramos além da matéria.

Leia na postagem de ontem e nas
próximas as outras partes desta reflexão
José Osório de Souza, 8/10/2021

Nenhum comentário:

Postar um comentário