quarta-feira, agosto 24, 2022

O soberbo vive por si (24/92)

      “Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé.Habacuque 2.4

      O versículo inicial é um que citamos com certa constância aqui, segue mais uma reflexão sobre ele. Para um entendimento melhor, recomendo leitura dos dois primeiros capítulos do livro de Habacuque. No primeiro capítulo o profeta apresenta a Deus sua indignação diante de um povo, seu povo, que vive em desobediência à vontade do Senhor, e ainda assim, aos seus olhos, parece que nada acontece, que nenhuma ação ocorre para que o povo seja disciplinado e mude de atitude. Assim, o texto fala sobre gente vivendo errado, construindo uma prosperidade falsa, baseada em injustiças, mas não sofrendo nada por isso. No capítulo dois está a resposta de Deus para a indignação do profeta revelada no primeiro capítulo. 
      Habacuque 2.4 apresenta dois tipos de pessoas, o soberbo e o justo. O soberbo, ou orgulhoso, é o que confia em si mesmo e em ídolos. Atualmente ídolo pode ser coisas bem diversas, não é só a estátua ou a imagem de um santo, como os evangélicos gostam de dizer. Uso constantemente aqui o termo “ídolo ideológico” para definir um ídolo, não feito de gesso, pedra, madeira, ou desenhado num papel ou em outro material, relacionado a uma pessoa morta que teve alguma relevância numa religião. Ídolo atualmente também não é só estátua ou desenho de entidades espirituais, como os deuses do afroespiritismo, não necessariamente isso, que podem nem ser falsos deuses, podem não ser Deus, mas não são falsos. 
      “Ídolo ideológico” é um ser criado por ideias, nem sempre verdadeiras, muitas vezes só mistificações e superstições, que não tem forma física, mas que é bem definido nas cabeças e nos corações humanos. Esses ídolos podem ser construídos mesmo com ensinos bíblicos, com conceitos aliados até ao Cristo, mas que não são o Jesus espiritual verdadeiro que habita as regiões celestiais mais elevadas e que envia seu Santo Espírito à Terra para ensinar, consolar e guiar os que o buscam. Não que muitos que comecem buscando ídolos não achem o Jesus verdadeiro, Deus é misericordioso, ouve a todos, busca a todos e responde mesmo linhas não tão retas de comunicação. Mas algo é certo, o arrogante quer ídolos, não Deus.
      A obsessão por ter ídolos revela um lado bom do ser humano, sua necessidade de Deus, contudo, se torna algo ruim quando se busca um substituto falso para o verdadeiro Deus, que ao menos aplaque essa necessidade legítima. A sede existe, se não puder ser saciada com água pura e fresca será com qualquer líquido que se achar, mesmo água suja e quente. O arrogante não quer Deus porque sabe que esse lhe mostra verdades que ele não quer assumir, mas ele precisa adorar alguma coisa, todo mundo precisa, por isso que não existe ateu genuíno, só existem idólatras, ainda que sejam da ciência. Coisas físicas resolvem problemas físicos, como a ciência, mas coisas físicas não solucionam questões espirituais ou morais. 
      Sem Deus, ainda que alguém comece moralmente correto, um dia agirá incorretamente, não verá problemas maiores em ser egoísta ou imoral, mesmo que se ache civilizado. Quando não subimos para Deus caímos longe dele, quem acha que não quer Deus porque não quer estar preso a algo que não pode provar materialmente, acaba ficando solto para cair no caos onde não existem referências morais ou espirituais, nem luz mostrando o caminho, só trevas. Dessa forma o soberbo errará e não se dará conta que está errando, verá o coração cauterizar, o espírito gelar, a mente tomada por falsos deuses. Quem idolatra político ou artista se afastou de Deus um dia, assim um ídolo só ocupa um espaço que está vazio.
      O soberbo não vive por fé, mas isso não significa que ele seja desonesto ou vagabundo, ao contrário, ele pode ser mais esforçado e exigente até que o justo. A diferença é que ele vive pelas próprias forças e pelos próprios méritos, assim, ainda que diga crer em Deus, seus frutos serão para sua honra, e ele, soberbo, orgulha-se disso. O soberbo tem dificuldade para amar, para respeitar, ele não tem paciência, mas exige dos outros o que exige de si mesmo. Contudo, o soberbo poderá ser levado a uma queda fatal, que o deixará dependente dos outros e pobre materialmente, para aprender o caminho da humildade, o caminho do amor, o caminho da fé que confia em Deus, glorifica a Deus e se prepara para viver com Deus na eternidade. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

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