08/08/21

Muitas mortes, uma vida (2/2)

      “E Jesus lhes respondeu, dizendo: E chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado. Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guarda-la-á para a vida eterna.João 12.23-25

      A existência no plano físico tende à morte o tempo todo, morremos e ressuscitamos constantemente, o final será só uma morte sem ressurreição, pelo menos no corpo material. Podemos aprender sobre a vida eterna morrendo e morte nunca é gostosa, sem dor, morte é perda de referências e para se viver novamente outras referências terão que ser estabelecidas. Mas só morre quem conclui que a existência que tinha até então não era a melhor, assim só se renasce com novas e melhores referências quem antes morreu, quem não morre não renasce e não melhora, continua com referências antigas e menores de vida. Que mortes experimentamos numa encarnação no mundo físico, sem que precisemos reencarnar, como creem muitos?
      Primeiro tem que morrer nossa dependência de pais, e entenda bem, não são os pais ou nosso respeito e afeto por eles, mas eles como nossos mantenedores físicos e até certo ponto afetivos. Só se torna homem quem deixa de ser filho, para então poder ser esposo e pai, é a ordem das coisas neste mundo. Essa morte é fácil? Não, difícil e dolorida, mas necessária, como se diz, cortar de vez o cordão umbilical, que muitos, mesmo com quarenta anos de idade, ainda mantêm presos às suas mães. A dependência no tempo errado deixa o ser humano covarde, limitado, assim ele não conseguirá se relacionar do jeito certo com outras pessoas, tentará ver nelas pais e mães, e não professores, chefes, pastores, irmãos ou cônjuges. 
      Mesmo a relação com Deus será limitada para quem ainda não morreu para uma dependência paterna e materna, não se pode servir a dois senhores, e quem insiste em idolatrar pais, não amará e obedecerá a Deus. Vemos isso em pessoas que teimam pertencerem às religiões cristãs de seus pais, ainda que não se sintam felizes nem resolvidas nelas, gente que teme o próprio inferno caso “desobedeça” às tradições religiosas paternas. Entenda o que vou dizer com sabedoria, mas na verdade, em algumas situações, a melhor maneira de honrarmos nossos pais é desobedecermos seus estilos de vida, nesse caso estaremos honrando não quem eles são, mas quem eles podem ser, caso façam melhores escolhas morais e espirituais.
      A morte do orgulho próprio é uma das mais difíceis que temos que enfrentar, orgulho que faz com que só nos sintamos valorizados sendo honrados e aprovados pelos outros, ainda que sejamos infelizes sendo o que os outros querem que sejamos. O segredo é conhecermos o que Deus quer que sejamos, nisso temos forças para encerrarmos, sepultarmos e esquecermos a identidade que os outros querem nos dar. Isso dói e muito, nos isola, pode nos levar a exílios, e no exílio somos forçados a começar tudo de novo, mas se isso for plano de Deus o novo será melhor que o antigo, e o que ganharmos compensará todas as perdas. Nada põe mais à prova nosso amor a Deus que abrirmos mão do falso amor que muitos têm por nós.
      Alguns, entretanto, “morrem” poucas vezes em vida, às vezes nenhuma vez, isso pode acontecer por dois motivos, ou porque não abrem mão de zonas de conforto que eles mesmos construíram e mantiveram, ou porque não estão preparados para “morrerem” muitas vezes. Deus os respeita e os ama, esses devem ter, contudo, humildade, para se conhecerem e se amarem, assim como para respeitarem outros que são diferentes deles, e que precisaram “morrer” muitas vezes para amadurecer. Não julgue ninguém a si mesmo como melhor que os outros por não ter “morrido” tantas vezes, e nem como pior, somos seres únicos, diferentes e todos igualmente especiais, independente de nossas jornadas de crescimento.
      O texto bíblico inicial, sobre a “morte do grão de trigo”, é a metáfora evangélica mais clássica sobre a necessidade de morrer para se reviver melhor, e ela também fala sobre o momento final da jornada do Cristo encarnado. A vida mais importante que este mundo teve alcançou a vitória mais importante da humanidade morrendo, e não vivendo, e uma morte não desejada e nem merecida, que diferença de nós. Nós desejamos a morte muitas vezes, mas só merece morrer o que expirou todas as oportunidades que podia ter para evoluir e conquistar a vida eterna, aproveitando bem essas oportunidades ou não. Sejamos úteis a Deus, usemos bem nosso tempo aqui, para que morramos só uma vez e no corpo, não no espírito. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão.

07/08/21

Dor antes da alegria (1/2)

      “A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.” João 16.21-22

      Muitas coisas, em nossas existências, funcionam semelhantemente ao processo de concepção de um novo ser humano físico no mundo, há uma fecundação, uma gestação e finalmente um nascimento. Pode até começar de forma agradável, mas precisará de um tempo para crescer o suficiente para, então, nascer e resistir à realidade do mundo exterior. É assim com nossas relações afetivas, o casamento, ou seja lá o nome que se dê a isso, é assim com nossas vidas profissionais, é assim com nossos ministérios em igrejas e com nossa evolução espiritual. Mas por que algo que começou de forma prazeirosa, que passou algum tempo protegido evoluindo, nos enchendo de esperanças, precisa acabar num momento dolorido? 
      Somos seres tão infantis, tão equivocados, que o universo precisa, sob autorização de Deus, muitas vezes usar de iscas para nos atrair. O início prazeroso de um relacionamento entre dois seres humanos, por exemplo, com paixão, é uma isca, de outra forma, se soubéssemos em tudo o que vai dar essa relação, nas provas, nas escolhas, nas responsabilidades, no abrir mão de si para amar o outro, nem começaríamos a relação. Mas ela começa, então, entramos na fase dois, a gestação, que apesar de ser uma situação diferente, não nos enfraquece, mas nos fortalece, a mãe deve estar saudável para oferecer ao feto as melhores condições para seu desenvolvimento. A gravidez, contudo, ainda é uma ilusão, não é a realidade. 
      Trinta e oito semanas (mais ou menos nove meses), em média, se passam, e o corpo da mãe naturalmente “expulsa” aquilo que criou e aperfeiçoou durante esse tempo, nascer é o destino de todo feto, tudo que acontecer externamente antes do parto, que interfira no nascimento e cesse a existência do feto é assassinato! Contudo, ainda que seja natural o nascimento, o corpo da mãe se livrar do bebê, o organismo materno sofre e uma agonia bem grande. Por quê? Muitos podem dizer simplesmente que foi o castigo que Deus impôs à mulher por ter pecado originalmente (Gênesis 3.16), mas duas razões importantes contribuem para um parto doído, adquiridas pelas fêmeas humanas em milhares de anos de evolução da espécie.
      A primeira razão é dificultar que o feto seja retirado antes do tempo adequado e venha ao mundo exterior despreparado para iniciar sua maturação rumo à sua independência como indivíduo. A segunda é conferir responsabilidade à mãe, que fica ligada afetivamente o suficiente ao filho para criá-lo adequadamente durante o tempo necessário. Contudo, usando esse processo como metáfora para muitas coisas em nossas existências, a lição principal que devemos aprender é que por mais gostoso que seja o início, por mais esperançoso que seja o meio, o final sempre será dolorido, mesmo traumático. Precisamos entender isso, aceitar e nos prepararmos para os partos que temos que experimentar rumo à maturidade. 
      Os discípulos passaram mais ou menos três anos com o Cristo encarnado, aprenderam palavras que nunca tinham ouvido, simples mas profundas, viram extraordinárias maravilhas físicas, presenciaram momentos de amor e luz que suas religiões não podiam lhes dar. Contudo, na passagem bíblica inicial se aproximava o último momento, e ele não seria agradável, o líder dos discípulos sofreria cruel e desumanamente, eles teriam medo e fugiriam, a identidade que tinham construído até então, que tinha lhes dado uma razão para viver, lhes pareceria pulverizada. Mas aquele momento era necessário, era o parto, final da mais importante concepção divina, antes do nascimento do Jesus redentor eterno da humanidade.  
      Não estranhe, se depois de um tempo bom, onde você se apaixonou, trabalhou e sonhou, quando esperava um térmico maravilhoso, as dores te pegarem de surpresa, elas são necessárias antes do nascimento. O universo é craque em nos pegar de surpresa, em nos infringir dor, mas os que foram inseminados pelo Espírito Santo, que geraram por Jesus, ainda que doa, darão à luz a vida eterna com Deus. Confie, se o Senhor esteve contigo em todo o processo, também estará no encerramento dele, e esse não é para a morte, mas para uma nova vida. Todo o trabalho, que você fazia e estava escondido dentro de você, virá à luz depois da dor, e todos se alegrarão com a “criança” linda que o Senhor gerou em você. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão.

06/08/21

No “espírito de Elias” (2/2)

      “E, naqueles dias, apareceu João o Batista pregando no deserto da Judéia, E dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas. E este João tinha as suas vestes de pelos de camelo, e um cinto de couro em torno de seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre.” Mateus 3.1-4

      “E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto.” Lucas 1.17

      Continuando o estudo começado ontem sobre Isaías 40.1-5, entendamos que o texto não é de maldição, mas de bênção, tanto que inicia-se dizendo “consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus, falai benignamente a Jerusalém”, bom é o Senhor para aqueles que passam pela disciplina com temor e paciência, serão provados e aprovados. Mas ele segue, “voz do que clama no deserto, preparai o caminho do Senhor, endireitai no ermo vereda a nosso Deus”, há algo a ser feito quando a disciplina acaba, preparar o caminho. O que o texto ensina a nós hoje com uma exortação feita no “espírito de Elias”? 
      A Bíblia Nova Versão Internacional traduz assim o versículo três de Isaías 40, “uma voz clama: "No deserto preparem o caminho para o Senhor; façam no deserto um caminho reto para o nosso Deus””. Depois de passarmos pela disciplina podemos voltar à glória de Deus, Isaías 40.5 diz que o objetivo do caminho ser preparado é para que a glória de Deus seja manifestada, mas antes disso um preparo deve ser feito no deserto. Sempre há um deserto entre a escravidão e a liberdade, entre o Egito e Canaã, entre o “inferno” e o “céu”, entre a expiação inicial e a aprovação final existe a missão.
      O que representa o deserto para nós? Um deserto nos lembra um lugar de privação e solidão, como era a vida de João Batista, sem vaidades, com certa dureza com relação a luxos e melindres humanos, mesmo ser visto como diferente e estranho pelos homens, pelo que vestia e comia, dizendo o que devia ser dito, sem temer ninguém, e com o risco de perder a própria cabeça, como de fato aconteceu com ele no final. Estamos preparados para esse deserto? Um ex-escravo não chega ao trono de Deus sem pagar o preço de João, sem vivenciar em toda a profundidade o “espírito de Elias”. 
      Qual o objetivo do deserto? A resposta está em Isaías 40.4, “todo o vale será exaltado, e todo o monte e todo o outeiro será abatido, e o que é torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará”. No deserto, onde os elementos imperam de forma extrema, onde não há para onde fugir, onde tudo parece igual e o diferente está distante, somos provados também ao extremo. Mas entendamos bem os tempos de nossas vidas, deserto não é escravidão, não é lugar para se pagar pecados. Um fraco, sentindo-se culpado e vítima dos homens, não teria forças para passar pelo deserto no “espírito de Elias”. 
      O deserto é a última prova do homem antes de ter direito aos novos céus e à nova Terra. Os que conseguem passar por ele veem enfim a justiça de Deus feita, veem os arrogantes sendo humilhados e os abatidos sendo exaltados, veem o confuso se endireitar e o complicado tornar-se simples. No deserto o caminho reto que conduz ao Altíssimo é apresentado e aqueles que de fato amam a Deus, mais que ao mundo e a si mesmos, seguirão nesse caminho, com alegria. Esse caminho é Jesus, é ele quem nos conduz à Canaã espiritual e eterna, é dele quem o “espírito de Elias” em João profetiza.
      Só quem experimentou o “espírito de Elias” como João terá direito ao Espírito Santo enviado por Jesus. “Pois a boca do Senhor o disse” (Isaías 40.5), que certeza teve Isaías para escrever, que convicção teve João Batista para cumprir sua missão. Não soframos desnecessariamente com este mundo, ele não precisa ser só lugar de disciplina, mas de missão, nosso deserto e a última fase antes da eternidade em Cristo. João cumpriu sua missão pois Deus o capacitou, e fez isso com alegria e fé, não como vencido ou coitado, mas como vencedor e honrado, por isso o próprio Cristo o exaltou (Lucas 7.27-28).

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a 1ª parte desta reflexão.

05/08/21

Preparem o caminho do Senhor (1/2)

      “Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai benignamente a Jerusalém, e bradai-lhe que já a sua milícia é acabada, que a sua iniquidade está expiada e que já recebeu em dobro da mão do Senhor, por todos os seus pecados. Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus. Todo o vale será exaltado, e todo o monte e todo o outeiro será abatido; e o que é torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará. E a glória do Senhor se manifestará, e toda a carne juntamente a verá, pois a boca do Senhor o disse.Isaías 40.1-5

      O texto inicial são palavras proféticas de Isaías sobre Jesus e João Batista (Mateus 3.3-4), muito tempo antes que esses vivessem no mundo, mas também são ensinos a todos nós, sobre nossas jornadas com Deus. Se existe um tempo de disciplina de Deus em nossas vidas, e todos os que forem honestos e humildes admitirão que esse tempo existe e é necessário para que haja crescimento, visto que todos somos pecadores aprendendo o melhor caminho para atingir o Altíssimo, também existe um tempo de consolo e honra. É importante sabermos diferenciar os tempos de nossas vidas. 
      O texto cita três coisas que findam com a disciplina, a primeira está em “sua milícia é acabada”. A versão Nova Almeida Atualizada traduz o versículo dois assim: “falem ao coração de Jerusalém e anunciem que o tempo da sua escravidão já acabou, que a sua iniquidade está perdoada e que ela já recebeu em dobro das mãos do Senhor por todos os seus pecados”. Com “fim da milícia” entendemos por essa versão “fim da escravidão”, ser escravo é ter liberdade limitada e ser obrigado a trabalhar para que outros lucrem com o seu esforço, sem que o retorno justo disso volte para si. 
      Quem já não se sentiu ou se sente assim, um escravo trabalhando para os outros, obrigado a agradar os outros e nunca tendo tempo ou o mais necessário para agradar a si mesmo? Sim, nossa vocação maior como cristãos é servir os outros em amor, mas uma coisa é fazer por escolha, de forma espiritual, e tendo o suficiente materialmente para ter uma vida digna no mundo, outra coisa é ser humilhado e injustiçado, como escravo de homem, não como servo de Deus. É sobre essa última escravidão que o texto se refere, ela pode ser disciplina de Deus, mas se for isso terá um fim. 
      Para que Deus nos liberta dos homens? Para servirmos a ele, e como consequência disso podemos ser úteis em amor também às vidas dos homens, iluminado-os de forma que conheçam a Jesus e seu caminho de vida eterna. Mas o texto inicial cita outra coisa que termina com a disciplina em “sua iniquidade está expiada”, a expiação pelo pecado. Alguém pode perguntar, “mas em Cristo nossos pecados não são perdoados, ele não pagou o preço por eles na cruz?” Sim, diante de Deus temos perdão e paz, mas mudar nossa natureza pecaminosa requer ser provado no tempo e com trabalho.
      Aquele que se humilha diante de Deus terá dele a misericórdia para passar pela disciplina em paz, sempre protegido para que não receba nem mais que possa suportar, nem menos que não mude seu caráter de forma efetiva. Ser perdoado não é ser poupado de disciplina, entendamos isso, e expiação  individual é um conceito que muitos cristãos do século XXI não entendem. Muitos acham que só por serem cristãos dizimistas e assíduos nos templos tudo está certo com Deus, e se existem lutas e injustiças e por causa da maldade dos outros, não por causa de seus pecados. 
      “Já recebeu em dobro da mão do Senhor por todos os seus pecados”, a terceira coisa que finda com a disciplina é mais que castigo pelo erro, mas a consequência do erro no universo, a colheita daquilo que se é plantado, o efeito da causa. Deus não pune diretamente as pessoas, ele não precisa fazer isso, no início dos tempos, quando tudo criou, já estabeleceu um lei eterna que diz que tudo que o homem plantar ele colherá, portanto, ainda que o pecado esteja perdoado e a iniquidade espiada, resta ainda o justo efeito da causa-pecado, esse efeito temos que colhê-lo até sua última porção.

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a 2ª parte desta reflexão.

04/08/21

Na velocidade certa

      “Porém, muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros.Mateus 19.30

      A vida é uma corrida com um carro defeituoso. Podemos até consertá-lo e continuar correndo, mas tornará a quebrar, o que nos forçará a uma nova parada para conserto. Enquanto corremos podemos ultrapassar alguém com um carro em piores condições que o nosso, as pessoas recebem carros diferentes com defeitos diferentes, mas isso não significa que estamos ganhando. O objetivo não é chegar antes, estar na frente dos outros, mas é nos mantermos em movimento, cada um no seu carro e em posições distintas. 
      A corrida da vida não é uma prova de velocidade, mas de resistência, e para resistirmos muitas vezes é melhor irmos mais devagar, à medida que conhecemos o carro que temos. Esse carro não pode ser trocado, invejarmos o carro dos outros não melhora o nosso, só o nosso trabalho pode melhorá-lo. Vence o que ficou menos tempo parado, ainda que em relação aos outros corredores esteja em último lugar, assim nossos oponentes não são os outros, mas nós mesmos, e nossa ferramenta é o nosso auto-conhecimento.
      A prova não é aprender a correr mais rápido, mas a consertar o carro diversas vezes e mantê-lo sempre funcionando, de um jeito ou de outro todos chegarão ao final da corrida, ainda que em tempos diferentes. O carro é o nosso espírito, sempre necessitando de ajustes, de evolução, de melhoras. Não aprendemos a consertá-lo olhando os outros a consertarem seus carros, os carros são diferentes, o aprendizado é pessoal, ainda que observando os outros possamos ser incentivados a não desistir, se houver em nós olhos certos.
      A plateia que realmente importa é Deus, um pai de amor que torce por todos os seus filhos igualmente, sem preferidos, isso ainda que muitos nos assistam e possam até desejar nosso sucesso ou nosso fracasso. O pódio é a presença mais alta de Deus, que não desiste de nenhum dos corredores, Deus está o tempo todos atraindo-os e incentivando-os com amor. Algo, contudo, pode ocorrer, muitos com carros mais rápidos chegarem por último, e alguns, com carros menos eficientes, chegarem nas primeiras posições. 
      A Bíblia insiste em “aquele que perseverar até ao fim será salvo” (Mateus 24.13), o motivo é que lutar com os mesmos problemas pode desanimar e nos fazer desistir de nós. Não me refiro a tentações da carne que diariamente todos experimentamos, também não me refiro a vícios maiores que Deus pode nos libertar, esses não são peças defeituosas nos carros. As peças são os espinhos na carne (II Coríntios 12.7), limitações que Deus permite para sermos humildes, essas temos que persistir administrando até o fim. 

03/08/21

No tempo certo

      “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.Salmos 1.1-3

      Queremos as coisas do nosso jeito e no nosso tempo, agindo assim nos colocamos como deuses que podem tudo, que sabem tudo e que conseguem exercer tudo isso no momento que desejam. Bem, esse é um motivo para andarmos tão aflitos, a razão de termos tanta dificuldade para segurar a paz, quem acha que pode controlar tudo não consegue reter o mais importante, paz de espírito. É certo que muitas coisas temos que fazer, mesmo sem pensar muito, principalmente aquelas que se referem à nossa sobrevivência no mundo material, nosso trabalho, nosso estudo, nossa relação com família.
      Isso não significa que essas coisas devam ser feitas sem temor a Deus, ao contrário, são nossas prioridades de oração, constituem nossa dignidade no mundo. Contudo, outras coisas, podemos fazer por escolha, podemos até deixar de fazer, essas são as que devem ser feitas ainda mais na comunhão com o Espírito Santo, não devem ser feitas simplesmente porque queremos e podemos fazer. Ansiedade é uma mal que domina muitos, alguns com menos intensidade, mas outros com muita força, tornando os homens obsessivos, fazendo com que eles queiram muito o tempo todo sem controle sobre isso. 
      Vencer a ansiedade é se deixar ser sincronizado com o tempo de Deus, saber quando fazer, quando não fazer, e principalmente, saber esperar para fazer melhor depois, sem a obsessão de querer tudo aqui, agora e sempre. Quem descansa no tempo de Deus acha paz, se der para fazer algo hoje, tudo bem, fará, senão, esperará, certo que quando der para fazer fará melhor, com as melhores condições e em melhores oportunidades. Vencer a ansiedade é importante principalmente em nossos relacionamentos com as outras pessoas, porque não sabemos o tempo delas, se estão ou não preparadas para nós.
      Deus sabe o melhor momento de todos, assim, se vencermos a ansiedade e acharmos paz no tempo de Deus seremos bênçãos nas vidas das pessoas, pois faremos e falaremos as coisas não só no nosso melhor tempo, mas no melhor momento delas também, tudo na harmonia maravilhosa da vontade de Deus. Como perdemos tempo angustiados porque não descansamos no tempo de Deus, que sempre nos leva tranquilamente para o melhor lugar e o melhor momento, num barco seguro, ainda que o mar esteja revolto e o mundo em trevas. Há paz no tempo de Deus, entendamos isso e sejamos felizes. 

02/08/21

Olhe certo

      “Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro. Por mim mesmo tenho jurado, já saiu da minha boca a palavra de justiça, e não tornará atrás; que diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua.Isaías 45.22-23

      Quando começamos a enxergar em injustiças, afrontas, agressões, desprezos, não somente maldade, egoísmo e inveja de homens, mas provas morais autorizadas por Deus, nossa perspectiva da vida muda. Não queremos mais nos justificar, fazer justiça com as próprias mãos, nos vingar de alguma maneira, mas começamos a entender o caminho da humildade, experimentando virtudes mais altas, mudando nosso homem interior. Isso constrói o céu em nós, agrada Deus nosso pai, nos ilumina para a mais alta espiritualidade, tira nossos olhos dos homens e do mundo e os coloca no Altíssimo. 
      Olhar certo nos faz entender o principal motivo de vivermos neste mundo, sermos provados para sermos aprovados e então evoluirmos. Quem se protege demais, não aceita injustiças, teima em dar a última palavra e em ter razão, principalmente quando de fato tem razão, pode até ser famoso e vencedor no mundo diante de outros homens, mas se distanciará de Deus e de seu propósito melhor para sua vida. A coisa mais importante que Jesus fez foi nos ensinar o caminho superior de morrer para viver, de dar a outra face, de calar em paz e deixar que Deus faça justiça por nós no seu tempo. 
      Provar essa mudança de perspectiva não é algo que fazemos sozinhos, mesmo com a melhor intenção, só acontece quando conhecemos e aceitamos a vontade de Deus para nossas vidas, e Deus tem coisas diferentes para pessoas diferentes, consequentemente provas diferenciadas. Quando nos apossamos da vontade de Deus temos forças, e se ela for calar diante da injustiça faremos isso em paz, e ainda assim não nos faltará o necessário para termos vidas dignas no mundo. Para olharmos certo os homens, antes temos que olhar certo para Deus, que depois nos permite olharmos certo para nós mesmos. 

01/08/21

Ouça certo

      “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.Marcos 13.31

      Para quantas palavras damos ouvidos, às que ouvimos nos programas da TV, no Youtube, às que lemos nos grupos de Whatsapp, no Facebook, no Twitter, e em tantos outros espaços virtuais desse mundo moderno. Mas também quantas palavras nos vêm à mente, lembranças, culpas, acusações, setas lançadas por outras pessoas, por espíritos maus, o que não faltam são palavras negativas neste mundo. Interessante que certos transtornos mentais levam as pessoas a ouvirem vozes, mas essas vozes nunca dizem coisas boas, sempre coisas ruins, ou no máximo ilusórias, isso nos faz pensar se essas são de fato palavras que ecoam de mentes doentes e que voltam para elas, ou se são outra coisa. Enfim, temos muita facilidade para captar e guardar o que não presta, já para discernir a voz mansa de Deus precisamos nos esforçar tanto, até calarmos todas as outras vezes, Deus é educado, não fala enquanto outros estão falando. 
      Todas as vozes passarão, ecoarão até sumirem, críticas, mentiras, mesmo as aparentemente positivas, mas falsas, que não soam promessas verdadeiramente de Deus, nasceram da morte e morrerão um dia, ninguém se fie nelas. A palavra de Deus, essa nunca passa, é eterna, confiável, sempre positiva, mesmo que seja de aniquilação, Deus desconstrói para depois construir melhor. A palavra de Deus não é só semântica, som, impressão superficial ou mesmo comentário jocoso, a palavra de Deus é sempre séria, ainda que cheia de graça, é criação, age para cumprir um propósito específico e faz isso no instante que é proferida. Tenhamos ouvidos espirituais limpos e tranquilos para ouvirmos essa palavra e descansarmos nela, Deus tem sempre uma palavra de vida para nos dar, vinte e quatro horas por dia, basta que nos acalmemos e creiamos. Todo o universo passará, de um jeito ou de outro, mas a palavra de Deus, não.

31/07/21

Princípios

      “E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.” João 8.10-11

      Algo que me marcou quando vim para o cristianismo protestante, foi a seriedade como ele trata o pecado e a reputação. Antes mesmo do batismo, éramos orientados a acertarmos nossas vidas, deixarmos vícios básicos, como tabaco e álcool, colocarmos vida matrimonial em ordem, pedirmos perdão para pessoas, caso tivéssemos coisas não resolvidas como discórdias ou males cometidos que de alguma forma tivessem ofendido ou machucado alguém. Da mesma maneira era a disciplina, caso alguém, que já fosse membro oficial do hall, “pisasse feio na bola”, seria deletado da igreja. 
      Contudo, acho que algumas coisas que funcionavam com convertidos de trinta, quarenta anos atrás, não funcionam mais com convertidos de alguns anos para cá, não que o pecado esteja menos relevante, mas com certeza as pessoas ficaram, digamos assim, bem mais complicadas, principalmente na área de sexualidade e matrimônio. Por outro lado, falando honestamente, na minha época - me converti em 1976 numa Igreja Batista tradicional - havia muita hipocrisia e superficialidade, coisas sérias e profundas não eram tratadas, só jogadas para longe, o “culpado” ficava sozinho.
      Eu mesmo tive que ser tratado sozinho por Deus em várias áreas, sem ajuda de minha igreja de origem. Infelizmente, principalmente em algumas igrejas protestantes tradicionais, com membros mais de classe média, ainda hoje existe um forte falso moralismo, que julga as pessoas por obras, não têm um trabalho eficiente de gabinete pastoral, de “cura interior”, de aconselhamento em amor, que de fato permita às pessoas serem tratadas. Algumas coisas ainda são simplesmente julgadas como pecados imperdoáveis, submetendo os que os praticam à sucinta exclusão do hall de membros.
      Por outro lado, e isso mais no meio mais pentecostal, com membros de classes mais baixas, os erros parecem ser mais tolerados, e se forem da liderança, talvez por motivos políticos ou financeiros, quando alguém “cai em pecado” não é disciplinado com tanta dureza, por favor, não estou generalizando nada, apenas constatando fatos. Mas de maneira geral dificuldades no casamento ainda são vistas de forma equivocada, e esse é um assunto bem complexo, que não pode ser resolvido passando a mão na cabeça ou excluindo, existem muitos tons de cinza entre o branco e o preto. 
      Não vou fazer aqui mais um estudo minucioso sobre a passagem da mulher adúltera, citei o texto inicial só para compartilhar o principal, a palavra de Jesus “nem eu também te condeno, vai-te e não peques mais”. Cristo não menosprezava o pecado, mas também não o espetacularizava, como já vi ser feito em sessões de exclusão de igreja, Jesus era objetivo visando a recuperação, não a condenação. A solução do evangelho para o pecado é uma, amor a Deus e aos homens, quem ama a Deus deseja santidade e quem ama os homens age com misericórdia, não com preconceitos ou displicência.
      Vou compartilhar um sonho que tenho para as igrejas cristãs não católicas, ainda que diferenças sejam úteis, que visões distintas de costumes, mesmo interpretações variadas de doutrinas devam existir, ainda que deva ser assim para que cada ser humano em sua idiossincrasia ache o cristianismo mais confortável, desde que não se mude o principal, meu sonho é: bom seria haver uma união das denominações. Para quê? Para zelar pela qualidade do cristianismo, para disciplinar quem precisa, ajudar quem quer ajuda. Isso testemunharia um evangelho mais próximo do original num mundo descrente.
      Quando vejo a mídia veiculando com prazer sórdido um escândalo do meio cristão não católico, generalizando nas entrelinhas de maneira injusta o povo crente, como se todos fossem iguais e de baixa qualidade, como seria bom se um grupo que representasse os evangélicos e protestantes se levantasse e se posicionasse. Que fosse então disciplinado quem escandalizou e deixado claro para a mídia e para o mundo que isso é uma exceção, não uma regra, enfatizando que existe crente que não vive só para trocar dízimos e fé por bens materiais, mas para praticar o evangelho verdadeiro de Cristo. 

30/07/21

Pão espiritual da boca de Deus

      “Todos os mandamentos que hoje vos ordeno guardareis para os cumprir; para que vivais, e vos multipliqueis, e entreis, e possuais a terra que o Senhor jurou a vossos pais. E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não. E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem.Deuteronômio 8.1-3

      “Se eu não comer, não beber, não dormir, eu não vivo”, todos nós pensamos assim. Mas quem permite que estudemos e trabalhemos para ganharmos dinheiro para comprarmos comida, bebida, roupas e poder ter um lugar protegido para dormir? É a palavra de Deus, e com palavra de Deus não nos referimos só aos registros de homens com experiências com Deus feitos no cânone bíblico. A palavra de Deus é o imperativo espiritual que mantém os planos físico e espiritual existindo, todo o universo visível e invisível, incluindo a natureza, as existências humanas, nós, eu e você. 
      Se uma permissão divina for dada um raio pode cair na minha cabeça, ainda que eu esteja protegido em minha casa, mas um carro também pode perder o controle e me atropelar, ainda que eu esteja tranquilo indo à igreja. Entretanto isso pode ser ainda mais sério, se o imperativo de Deus autorizar, um meteoro pode bater no planeta Terra e causar a morte de muita gente, nos acostumamos tanto com a vida que não paramos para pensar o quanto somos frágeis, o quanto a vida é muito mais que pagar o pão de cada dia. A palavra de Deus, esse é o verdadeiro pão que nos sustenta. 
      Jesus usou parte do texto bíblico inicial para repreender Satanás em sua tentação no deserto, “está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus” (Lucas 4.4b), isso parece simples de praticar? Mas não é, quantas vezes damos mais importância para encher o estômago que para encher o coração? E me refiro a nós que temos condição de ter a geladeira cheia de mantimentos, como é difícil para gente ansiosa, que sente fome o tempo todo, fazer um sacrifício agradável a Deus de um jejum por uma causa realmente importante, espiritual, não material. 
      Jejum não é cambiar abstinência física por algum favor material, não é isso, isso é trocar seis por meia dúzia, ficar uns dias comendo menos para ter um aumento de salário para poder comer rodízio com mais frequência. Muito crente sincero e que quer se consagrar não entende que o poder do jejum não é convencer o Senhor que temos fé e somos devotados a ele, para que ele nos dê algo, mas é acalmar nossas almas e permitir que nossos ouvidos espirituais se abram para ouvirmos mais a Deus. Deus não precisa do nosso jejum, somos nós que precisamos, para sermos transformados. 
      Precisamos de uma palavra de Deus todos os dias, não deveríamos ir para a cama sem descansarmos nossas almas e acharmos paz no silêncio, e não tentando saciar ansiedades entupindo-nos de comida. Isso nos permitiria ouvir a voz do Senhor e alimentarmos, não nossos corpos, mas nossos espíritos, o Espírito Santo tem algo para nos dizer todos os dias, ainda que seja só “descansa e fique em paz”. O alimento não está em sabermos algo racionalmente, isso podemos saber e continuarmos agoniados, somos alimentados quando recebemos a palavra que sai diretamente da boca de Deus. 
      Isso é vivermos o cristianismo pelo Cristo, no Espírito Santo, e não pela razão, só por nossas capacidades mentais e emocionais, nessas capacidades só achamos a morte, ainda que seja celebrando a vida. A vida está no Espírito Santo, ele dizer-nos “acalme-se” vale mais que um textão construído com os melhores argumentos teológicos, a palavra do Deus vivo é fogo que não consome e que nos aviva espiritualmente. Esse é o único alimento que pode vivificar nossos espíritos e se os espíritos estiverem vivos, corpo, mente e coração serão renovados, em paz e fortes para seguirem. 

29/07/21

Imaginar o mal não faz bem

      “Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor.I Coríntios 4.5

      Imaginar o mal não faz bem, olhar uma situação, analizar uma pessoa de longe, observar uma conversa à distância, e nessas situações sempre achar que algo ruim está sendo dito ou feito, nenhum bem nos traz. Você já percebeu que quando olhamos algumas coisas de longe nunca imaginamos algo bom? Quando vemos pessoas falando e rindo a nossa tendência é sempre achar que estão criticando alguém, e não raras vezes a nós? Isso não é paranoia de alguns, é fraqueza de muitos, mesmo que não assumam, que não verbalizem. Em raras situações isso não ocorre, poucas pessoas não nos levam a fazer juízo maldoso, mas com que facilidade nossa cabeça se torna rádio sintonizado em estação ruim.
      Nem precisa ser algo doentio que depois gruda em nós e nos atormenta por algum tempo, basta que seja um pensamento passageiro, se paramos por um momento para fazer o que não temos que fazer, que é cuidar da vida alheia, podemos tecer julgamento errado, e mais que isso, destrutivo. Dificilmente julgamos bem, ainda que sem conhecimento da verdade, ainda que só como imaginação, por que isso? Porque isso é uma tendência humana, mas também oportunidade aproveitada por seres espirituais do mal, que percebem uma fraqueza nossa e lançam sobre nossas mentes raciocínios tóxicos, invenções mentirosas, julgamentos injustos, para tirar nossa paz e nos jogar contra os outros. 
      A existência é basicamente mental, pensamos mais que falamos e fazemos, e o pensamento dispara a emoção que nos faz criar e sentir toda uma história, com enredo e personagens. É por essa razão que a Bíblia nos exorta tanto a vigiar na mente, por isso Jesus ensinou que o primeiro e mais importante pecado ocorre em nossas cabeças e em nossos corações, mesmo que nem se manifeste em ações. A mente é o maior campo de batalhas que existe, a vitória dos demônios sobre os homens começa nela. Se eles nos vencem em nossas mentes experimentaremos o pecado em nosso corpo mesmo que seja só nos sentimentos, e isso já torna o pecado real para nós, praticá-lo só envolverá outras pessoas. 
      Existem pessoas que têm mais facilidade para se isolar, não são tão imaginativas, mas isso pode ser mais deficiência que potência, pode ser insensibilidade, muitas vezes construída como mecanismo de defesa por causa do muito que se foi machucado. Mas quem tem coração, sente, quem tem cabeça, pensa, a questão é administrar isso bem, ocupá-los com coisas boas, altas, espirituais, e não com julgamentos maléficos. Precisamos entender que nosso mundo interior é a ferramenta que Deus nos dá para termos comunhão com ele e adquirirmos conhecimento do mundo espiritual, usemos essa ferramenta para a finalidade mais nobre assim nossas capacidades serão bençãos, não maldições. 

28/07/21

Deixe o outro ser outro

      “Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda. E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra.Apocalipse 22.11-12

      Não lute desnecessariamente por si mesmo, não se defenda diante do tolo, não queira dar a última palavra e às vezes nem a primeira. Se alguém tem a necessidade de se achar melhor que você, que se ache, e quer saber? Muitas vezes os outros são melhores que nós, devemos aceitar isso. Contudo, sem nos vitimizarmos ou nos frustrarmos, mas quebrantados diante de Deus que recebe o humilde e sempre permite que esse parta consolado. Quem está em paz com Deus não precisa provar nada a ninguém, e nos dias de hoje, com a polarização política, com gente se levantando defendendo esse ou aquele ponto de vista, muitas vezes desprezando bom senso e ciência, é importante demais não trocarmos nossa paz por fake news.
      Se alguém tem um ponto de vista diferente do nosso, e isso em si nada tem de errado, mas se tem e não tem temor do Senhor para exercer esse ponto de vista, e assim precisa agredir para se sentir melhor que os outros, mais informado, até mais cristão, cale-se e fique em paz. Na verdade, muitos que se envolvem em conflitos por motivos políticos, sempre tiveram algum problema pessoal não resolvido, algum recalque, alguma insegurança, mesmo alguma inveja e mágoa, o campo político só lhes deu uma causa (errada) para lutar, um álibi para odiarem. Se esses tivessem se resolvido em Deus e tivessem buscado Deus como causa maior de suas vidas, nem tomariam partido de homens em luta de homens maus num mundo mau.
      Não sejamos carnais como os que sempre foram carnais, para esses mudam as militâncias, mas seus corações continuam sujos e feridos, por não buscarem limpeza e cura no Altíssimo seguem enganando-se, achando-se melhores que os outros por portarem essa ou aquela arma. Mas quem está nas trevas não pode militar com as armas da luz, por mais sofisticadas e amedrontadoras que essas armas pareçam ser, são trevas, mentiras, enganos. Que os da luz continuem na luz, por esses quem lutam são os anjos de luz do Deus da luz mais alta, e por isso não precisam lutar ou se justificar, mas só confiar em Deus. Deixe o outro ser outro, quanto a você, seja diferente, seja o que Deus quer que você seja e permaneça bem tranquilo. 

27/07/21

Volubilidade humana

      “Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã. Eu dizia na minha prosperidade: Não vacilarei jamais. Tu, Senhor, pelo teu favor fizeste forte a minha montanha; tu encobriste o teu rosto, e fiquei perturbado.Salmos 30.5-7

      Nos achamos poderosos, inabaláveis, mesmo que saibamos que como cristãos é o Senhor quem nos sustenta, basta uma boa emoção, um acontecimento de vitória no plano físico, um dinheiro a mais na conta para nos colocarmos sobre um lugar alto e nos acharmos superiores. Contudo, basta que alguém nos pegue desprevenidos com uma crítica, basta um pensamento se soltar e sujar nossa intenção, basta uma mágoa pesar e nos prender ao passado, que sentimos Deus encobrir seu rosto para nós. Nossa fé apequena-se, nossa esperança sobe como fumaça e some, perdemos o prazer até das coisas mais básicas da vida e nossa alegria se converte em perturbação. Frágeis seres que somos. 
      Isso ocorre porque Deus está irado conosco? Apesar dessa ser a interpretação do salmista de acordo com a visão de homem e de mundo de seu tempo, não existe ira em Deus, e nem precisa, basta que não olhemos para Deus por um instante que nos sentiremos severamente punidos pela providência, sozinhos no universo. Podemos até pensar, “estava tudo indo tão bem, por que fui fraquejar? Deus se esqueceu de mim?”. Se nos afastamos de Deus ele se afasta de nós, e basta que ele faça isso por um milionésimo de segundo para sermos abatidos. Ele faz isso para que entendamos como funciona a existência, que é essencialmente espiritual, mesmo estando nós no mundo. 
      Depende de nós deixarmos-nos ser atraídos pelo amor do Senhor à sua luz mais alta para que tudo faça sentido. Mas ainda que nos sintamos sob a “ira” do todo-poderoso, essa dura só um instante, ainda que nós a retenhamos por uma noite, se na manhã seguinte buscarmos a Deus com humildade, aceitando nossa pequenez e nossa dependência dele, acharemos consolo e esperança para prosseguirmos. Deus não se afasta para sempre de ninguém, mas precisamos aprender a não confiar só em nossos sentimentos, mas pela fé confiarmos em Deus antes. Isso dá trabalho, nos leva a orar mais, a nos consagrarmos, mas nos amadurece e depois deixa em nossos sentimentos um prazer sem igual. 

26/07/21

Vigia e espera

      “Antecipei o cair da noite, e clamei; esperei na tua palavra. Os meus olhos anteciparam as vigílias da noite, para meditar na tua palavra.Salmos 119.147-148

      Só estarmos em paz não nos autoriza a fazer imediatamente alguma coisa, precisamos estar em paz para discernir a voz de Deus, que pode nos mandar fazer algo ou não. O trabalho espiritual do homem não é fazer algo sempre, mas ouvir a voz de Deus sempre e obedecer, mesmo se a ordem for só “vigia e espera”, enquanto aguardamos somos renovados e Deus faz aquilo que não nos compete fazer. Esse trabalho não se refere às nossas necessidades diárias de sobrevivência no mundo, que são passageiras, ao nosso desempenho profissional, coisas que exigem de nós uma constância, ainda que estejamos desanimados, e nesse caso a graça do Senhor poderá nos fortalecer se por ela clamarmos. 
      Contudo, com relação à vida de intercessão, trabalho que todo cristão é chamado a fazer em maior ou menor instância, precisamos ter sabedoria. Esse não depende só de nossas forças e iniciativas, mas do ambiente do plano espiritual, onde existem e atuam potências e intenções que muitas vezes para nós são desconhecidas. Vida de oração não é só pedir e agradecer pelo recebido no plano material, mas é vigiar pela obra do Senhor na Terra, que pretende que todos se salvem e que conta conosco como colaboradores. Vigiar e estar disponível para Deus por algo que vai além da luta pessoal que fazemos pela sobrevivência material nossa e de nossa família é o que de fato define nossa espiritualidade. 
      Alguém pode dizer, “mas o que eu tenho a ver com a salvação do planeta? já não me basta a salvação minha e de minha família?”. Sim, é verdade que muitos se conseguirem salvar a si mesmos já estará muito bom, mas Deus tem mais para nós, principalmente nestes tempos em que vivemos, no Brasil e no mundo, onde uma tragédia mundial assola a todos, a pandemia do Corona vírus. Hoje a humanidade precisa e muito de ajuda, desempregados precisam de comida, mas de oração todos precisamos e nessa tarefa só nos basta vocação e obediência. Todos podemos ser usados por Deus para iluminar espiritualmente as pessoas. Assim, vigia e espera, mas não pare de abençoar em oração a todos neste mundo. 

25/07/21

Para frente e para o alto

      “Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mimprossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.Filipenses 3.13-14

      Olhemos para frente, que o passado ruim não nos algeme pela culpa, que o bom não nos acorrente pela nostalgia, convencendo-nos que temos que nos conformar com o que já aconteceu. Todos os passados podem nos levar a crer que não podemos ser melhores, são armas de morte do mundo, dos homens e da matéria. Fé que o melhor está por vir é instrumento da vida espiritual eterna, que nos conduz a trabalhar mais e sempre, quem nos atrai é o Altíssimo, quem nos fortalece é o Espírito Santo, quem nos ensina é Jesus. Não percamos um só instante entristecendo-nos com o que passou.

24/07/21

Ser grato todo dia

      “Bendito seja o Senhor, que de dia em dia nos carrega de benefícios; o Deus que é a nossa salvação.Salmos 68:19 

      No final do dia, antes de dormirmos, como avaliamos nossas vidas? Vemos a providência constante de Deus e por isso somos humildemente gratos, ou procuramos culpados pelas nossas insatisfações? Quem procura acha o que procura achar, simples, se procurarmos problemas na vida os acharemos às pencas, e ainda que não existam nós os elucubraremos, aliás, somos especialistas nisso. Mas para problemas que focamos como desculpas para não confiarmos em Deus e não sermos felizes, porque na infelicidade pode haver identidade doentia mas útil, achamos culpados sempre nos outros, não em nós mesmos. Essa atitude não nos traz qualquer benefício, só torna-nos mais rancorosos, solitários e doentes.
      Contudo, achar coisas pelas quais agradecer, motivos para sorrir, momentos para sermos felizes, ainda que em meio às lutas comuns a todos os seres lúcidos e honestos, traz a nós a luz mais alta de Deus. Iluminados iluminam, abraçam, perdoam, deixam a existência leve, constróem pontes, não muros. Isso também não significa fechar os olhos para o mal e para injustiça, quem age assim não é lúcido ou não é honesto, mas louco ou desonesto, e esses não sofrem porque não podem ou não querem ver. Que “lanterna” usamos para vasculhar nossos dias, aquelas com luzes imperfeitas do egoísmo e da vaidade, ou a do Espírito Santo? Deus sempre acha o bem e o homem de bem sempre acha a Deus. 
      Esse positivismo sadio e espiritual precisa se refletir em nossas conversas com as pessoas, em nossas postagens na internet, em nossos comentários em posts e em mensagens no Whatsapp, isso também é testemunhar a luz no mundo, e não só falar de coisas religiosas em templos e reuniões cristãs com os “irmãos”. Precisamos anexar ao nosso modo de vida uma disposição de gratidão e temor a Deus, eis a ferramenta da luz contra as narrativas de ódio tão em moda atualmente, ao invés de perdermos tempo com política e polêmicas, coisas desse mundo que nesse mundo ficarão e que não seguirão conosco para a eternidade. Louvemos mais a Deus e critiquemos menos os homens, todos os dias. 

23/07/21

Tempos de mudança

      “E, chegando-se os fariseus e os saduceus, para o tentarem, pediram-lhe que lhes mostrasse algum sinal do céu. Mas ele, respondendo, disse-lhes: Quando é chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está rubro. E, pela manhã: Hoje haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Hipócritas, sabeis discernir a face do céu, e não conheceis os sinais dos tempos? Uma geração má e adúltera pede um sinal, e nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal do profeta Jonas. E, deixando-os, retirou-se.Mateus 16.1-4  

      Tempos difíceis, tempos diferentes, tempos que não foram previstos, tempos de conflitos, tempos de morte, de muitas mortes, tempos tristes, tempos que a realidade se impõem sem cera, sem dó, tempos de Deus? Sempre, tempos de trevas? Para quem se revolta indevidamente, para quem não confia na justiça divina, mas tempo de iluminação, para quem se humilha, que entende o tempo como de mudança, mudança que foi desprezada numa falsa estabilidade, mas mudou, como nós temos que mudar. Se o céu fechado e a ventania não avisam o tolo para ficar em casa, o temporal acabará avisando-o, mas talvez tarde demais, discernamos as mudanças a tempo de estarmos protegidos por Deus. 

22/07/21

A certeza que me faz prosseguir

      “Porquanto tão encarecidamente me amou, também eu o livrarei; pô-lo-ei em retiro alto, porque conheceu o meu nome. Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei. Farta-lo-ei com longura de dias, e lhe mostrarei a minha salvação.Salmos 91.14-16

      Que o Senhor nunca fecha a porta para mim, que nunca desiste de me chamar, que me atrai o tempo todo para a perspectiva mais bonita, mais clara, mais virtuosa, mais produtiva da existência, que sua luz mais alta nunca, nunca cessa de brilhar, que nessa luz há o prazer maior, espiritual, que supera toda dor, toda culpa, todo medo, toda injustiça humana, que o Senhor é Deus, não homem, assim não muda e não cria ou retém qualquer espécie de mal, de trevas, de rancor ou de vingança, a certeza disso tudo é que me faz prosseguir em paz. Que adianta bens e honra no mundo e estar fora da casa de Deus? Melhor ser pobre e desconhecido, mas íntimo do Senhor. 

21/07/21

Se não der trabalho, não é amor real

      “E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento; e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés, e ungia-lhos com o ungüento.Lucas 7.37-38

      Se não der trabalho cavarmos buracos profundos, retirando terra e pedras, a ponto de vermos nossas mãos sangrando, se não exigir busca persistente dentro de nós, de intenção sincera, de benignidade sem falsidade, de generosidade verdadeira, se não levar às lágrimas, não só nossos olhos, mas nossos corações, se não nos compungir e não conduzir nossos espíritos a irradiar a luz mais pura, se isso tudo não acontecer não é amor, contudo, se for amor não será abençoado só quem se ama, mas quem ama, e dessa experiência sairão pessoas melhores. Um coração partido por ter buscado o amor, é melhor que um coração inteiro, mas duro e cheio de dor, que nunca se deu ao trabalho de amar. Deixa o vaso se quebrar, só assim o óleo pode derramar…

20/07/21

Sigamos em frente!

      “O homem de grande indignação deve sofrer o dano; porque se tu o livrares ainda terás de tornar a fazê-lo. Ouve o conselho, e recebe a correção, para que no fim sejas sábio.Provérbios 19.19-20

      Algumas coisas não podem ser mudadas, não mais, assim só nos resta suportar suas consequências, humildes, calados, em paz, porque ainda que certos erros que cometemos não possam mais ser anulados, principalmente na cabeça de algumas pessoas, e legitimamente por irresponsabilidades nossas, ainda assim, se buscarmos a Deus e nele confiarmos ele nos perdoará e nos dará forças para seguirmos em paz, construindo coisas novas e tendo de outras pessoas o respeito e o afeto que precisamos para ser felizes até o final. Na humilhação fui formado, na humildade achei a paz, permaneci quebrantado, guardado e suprido pelo Pai. 

19/07/21

Não desistamos de amar…

       “Filho meu, se o teu coração for sábio, alegrar-se-á o meu coração, sim, o meu próprio. E exultarão os meus rins, quando os teus lábios falarem coisas retas.Provérbios 23.15-16

     “Te procurei, aos prantos, para te amar, mas você se escondeu, dentro de você, só mostrou uma máscara dura e irônica, que eu sempre tive certeza que não era você. Aguardo pela eternidade, a iluminada eternidade espiritual, para a qual você será atraída, e então, no amor de Deus, poderei finalmente te ver e te abraçar, você de verdade, tua melhor versão, doce, feminina, delicada, tranquila, em paz, como toda alma livre e curada é, ainda que tenha se escondido por anos dentro da ilusão tóxica da matéria”. O que se entrega por amor achará os braços de Deus abertos para acolhê-lo, ainda que aquele pelo qual se entregou lhe feche o coração, não desistamos de amar. 

18/07/21

Corra até o final

      “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.I Coríntios 9.24-27

      O corredor, que já percorreu uma longa jornada, não para dez metros antes do final para apreciar a paisagem, para namorar, para fazer um lanche, para descansar. Não, ainda que esteja cansado, tirará de dentro de si as últimas forças, o último suspiro, esquecerá das dores nas pernas e pés, mesmo da sede, e terminará a corrida, afinal, falta-lhe tão pouco. Esta palavra é para todos, jovens, maduros, velhos, que estão lutando por algo, que estão se esforçando para alcançar um objetivo, superando limites próprios assim como tantas adversidades dos homens e do mundo. 
      Não desista nunca, se é algo bom, digno, justo, se há paz e a ninguém prejudica, é de Deus, seja um diploma, um emprego, uma promoção, um casamento, e principalmente a libertação de um vício. Mas se os que estão iniciando não devem desistir, mais ainda os mais velhos, principalmente em suas caminhadas espirituais com Deus. Quando a paixão passa, quando o corpo cansa, ainda temos o Espírito Santo, e ele sempre renova nosso espírito, esse não precisa envelhecer, ao contrário, pode tornar-se mais vivo e mais iluminado à medida que conhece e obedece a Deus.
      Aquele que persiste em Deus, quando parece que não tem mais forças, descobrirá não o fim, mas um novo começo, mas repito, experimentará isso se persistir em Deus. O que faz o “milagre” (e veja que coloquei a palavra entre aspas) não é a matéria, a persistência humana, mesmo a boa intenção, mas o Espírito de Deus, é ele que nos leva em direção ao altíssimo, numa jornada espiritual, que independe das forças do corpo físico. O trabalho do homem é descobrir como dar liberdade a esse Espírito, ainda vivendo em sua existência no mundo aprisionado a um corpo.
      O milagre é o homem descobrir isso, não o que ele pode fazer depois que descobre, o milagre é a causa, não o efeito, é a fé, não o mover da montanha, é a fonte, não a água, é a água, não o vaso, é o vaso, não a mão. O milagre desconstrói o óbvio e surpreende, só corre até o final o que aprende a se surpreender, a desacreditar, não para se perder, mas para se achar. Deus se agrada dos que descansando nele se inquietam, não para produzirem ansiedade e consequente fuga em prazeres do corpo, mas para conhecerem mais a ele em espírito e em verdade, eis o final da corrida. 
      Muitos desistem quase no final porque depois de passarem a vida tentando mover montanhas se esgotam, fazem de tudo para achar fé para isso, mas não entendem que quem tem fé não precisa mover montanhas. Para que mover montanhas? Para provar a si mesmo que tem fé, ou pior, para mostrar para os outros que tem? Quem acha a fé maior lhe bastará o mínimo neste mundo para estar em paz, não se preocupará com aparências e conhecerá mais a Deus. Quem assim procede não precisa de milagres, já provou o maior deles, esse terá forças para finalizar a corrida. 

17/07/21

A quem temerei?

      “Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, nisto confiaria. Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor, e inquirir no seu templo. Porque no dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo me esconderá; por-me-á sobre uma rocha.Salmos 27.3-5

      É difícil fazer uma seleção de textos bíblicos favoritos que não contenha muitas passagens de Salmos. Davi e os outros salmistas fizeram registros formidáveis nesse livro, quando arte musical e poética se misturam com intimidade espiritual com o Senhor pedras preciosas são criadas, palavras simples e atemporais que falam diretamente aos nossos corações, sem perder tempo em nossos raciocínios. De um salmo que contém textos memoráveis como “o Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei?” (v.1a) e “quando meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me recolherá” (v.10), separei os três versículos iniciais para uma reflexão.
      O salmista começa o texto inicial falando sobre a realidade de seu tempo e sobre um perigo de seu tempo, mais difíceis de serem experimentados hoje por pessoas que vivem em países civilizados, ele fala sobre o risco de vida que se tem em meio a uma guerra. “Ainda que um exército me cercasse”, mas mesmo que não provemos isso de maneira física, com certeza provamos na área emocional. Quantas vezes não nos sentimos cercados e sozinhos, ainda que no ambiente profissional, acadêmico ou mesmo numa reunião familiar? Para muitos dos homens do mundo moderno a guerra não é física, mas psicológica, ainda que a nossa percepção seja semelhante. 
      O salmista diz “ainda que a guerra se levantasse contra mim”, podemos não estar numa guerra física, mas nossa alma sente-se assim frequentemente, com inimigos nos atacando por todos os lados. A vitória que o salmista experimentou nós também podemos experimentar, ainda que nosso inimigo não seja exterior, e nossas cabeças podem imaginar, criar, alimentar opositores tão ou até mais fortes que os que existem no mundo exterior. Mas o que importa, se nos sentimos mal, o mal existe e precisa ser vencido. O salmista segue em sua visão, mas se lermos sem nos atermos acharemos que o que ele pede nada tem a ver com exércitos, inimigos e guerra.
      “Uma coisa pedi ao Senhor e a buscarei, que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida”, o que tem a ver a casa do Senhor com guerra? O que exatamente é a casa do Senhor? O refúgio da guerra, a proteção contra os inimigos o salmista diz achar na casa do Senhor, mas será que essa casa era o templo de Jerusalém? Davi podia fugir dos inimigos, esconder-se para sempre no templo e vencer a batalha? Não, a casa do Senhor que o salmista se refere não é o templo, mas a presença íntima e alta de Deus, que se alcança com oração e consagração. O salmista podia até ir ao templo, mas para orar, não para se proteger dentro da construção física desse.
      Se para uma guerra física, com espadas, lanças e flechas materiais, o salmista achava proteção na presença de Deus, quanto mais nós hoje, seres de um tempo onde a vida é muito mais mental que material, psicológica que física. Paulo disse que “não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Efésios 6.12). Contra esses inimigos não se luta com metralhadora, mas com vida de oração, por ela entramos na casa do Senhor, “para contemplar a formosura do Senhor e inquirir no seu templo”. 
      “No dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão no oculto do seu tabernáculo me esconderá, por-me-á sobre uma rocha”, ah, os mistérios escondidos nessas palavras. O refúgio não está fora de nós, mas dentro, não está nos homens, em políticos que se dizem do lado dos cristãos, em igrejas fortes, em pastores carismáticos, em alianças com religião, o refúgio maior é espiritual, acessamos com vida de oração que alcança as regiões celestiais mais altas em Cristo. Quem se esconde nesse tabernáculo protege-se de todos, sejam inimigos desse mundo, sejam do outro, quem posiciona o espírito no Altíssimo tem os pés numa rocha e não temerá ninguém. 
      Quantas vezes andamos trôpegos, com a cabeça pesada, instalando doenças que depois darão trabalho para curar (quando conseguimos curar), porque não paramos e contemplamos a formosura do Senhor. Quem tem um encontro com Deus sai apaixonado. “Ver” a Deus não só nos limpa moralmente, nos dá uma paz singular, mas nos oferece uma experiência estética prazeirosa. Além de tudo, Deus é lindo, sim, meus queridos, a sabedoria do Senhor, sua emanação de luz, é linda, mais que qualquer coisa ou ser do universo, a beleza de Deus faz todo o resto menor, dores e amores, passado e futuro, ficam menos importantes. Quem se apaixona por Deus nada teme. 

16/07/21

Cuidado ou descuidado?

      “Nos muitos cuidados que dentro de mim se multiplicam, as tuas consolações me alegram a alma.Salmos 94.19

      Se há remorso demais, houve cuidado de menos, a culpa segue a falta de vigilância, quem abre o coração para qualquer um estará sempre só em busca de companhia. Quem anda sem sabedoria, achando que pode tudo e sempre, não perceberá a cilada, não verá a vala, cairá e nem saberá onde. Os fracos devem se fortalecer em Deus e não no espelho, os sensíveis devem ter mais respeito com a sensibilidade alheia, senão não será sensibilidade, mas melindre. Os que se machucam com facilidade devem machucar menos os outros, os que gostam de falar devem estar preparados para ouvir bastante. 
      Como medimos, somos medidos, o que damos, recebemos, o que buscamos, achamos. Quem fala e gosta de qualquer jeito ouvirá o que não quer e se aliará a falsos. No cuidado persistente há paz e graça, mas cuidado não só de si, também dos outros. Proteger as pessoas de nós mesmos é responsabilidade nossa, não dos outros. Se todos pensam nos outros ninguém é esquecido. Quem quer ter razão sempre não vê a razão óbvia do outro. Se duvidamos de tudo que seja também de nossas dúvidas, certo sempre só Deus. Quem descuida de si para cuidar do outro é cuidado pela providência. 

15/07/21

O jovem e o velho

      “Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento; antes que se escureçam o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuvaEclesiastes 12.1-2

      O jovem pode mas não sabe, o velho sabe mas não pode, ditado antigo sobre o antagonismo que existe entre a força física e força moral. Quantos de nós, mais velhos, já pensamos, “ah, se eu tivesse a vitalidade da juventude com a cabeça que tenho hoje”, e não é só para desfrutar de prazeres físicos, mas para fazer escolhas melhores em muitas áreas. Nesta curta passagem neste mundo, presos a corpos materiais, força física e força moral parecem ser mutuamente exclusivas, não se consegue ter as duas simultaneamente, mas isso tem um objetivo, nossa vida aqui deve nos preparar para a vida além.
      Morrer neste mundo nos permite nascer para o outro, envelhecer é o fim de um momento e o início de outro, muito mais duradouro. Por isso a providência divina leva-nos a nos libertarmos da matéria e priorizarmos o espírito, diminuindo nossa força física e nos fazendo focar na moral. Queremos forças para sermos livres, mas qual é a liberdade melhor, a do corpo, a da alma ou a do espírito? O certo é que o liberto espiritualmente o é mesmo tendo o corpo aprisionado, envelhecido, limitado, o velho que anda com Deus sabe e pode, porque sabe o melhor da vida, não a vida deste mundo, a eterna. 

14/07/21

Sincero e sincero

      “A sinceridade dos íntegros os guiará, mas a perversidade dos aleivosos os destruirá.Provérbios 11.3

      Sinceridade é mostrar o que se sente e se pensa com lisura, a palavra sincero pode ter origem num antigo hábito de passar cera nas esculturas em mármore para esconder as imperfeições, assim “sem cera”, sem esconder nada. Mas sinceridade por si só não é uma virtude, exibir insegurança e maldade com honestidade, usando o álibi de que se procede assim porque se é sincero, e achar que isso é virtude, é uma engano, não é útil, não é virtude, é irresponsabilidade estúpida. Nem toda verdade deve ser mostrada. 
      Alguns fariam melhor se esconderem e se acertarem antes de saírem por aí jogando má sinceridade na cara dos outros. O sincero que a Bíblia se refere é o sincero do bem, que mesmo com limites deseja acertar, ser alguém do bem e obedecer a Deus, esse sincero prefere calar que falar, agir que discursar, agradar a Deus que aos homens, e não usa nem essa intenção melhor para desrespeitar os outros. O sincero foca em Deus, mas ama os homens, pois sua verdade é boa e se harmoniza com a verdade do Altíssimo.

13/07/21

Ilusão e esperança

      “Mas desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança; para que vos não façais negligentes, mas sejais imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas.Hebreus 6.11-12

      Ilusão, como toda paixão, é passageira, também é passageira a esperança, mas ilusão não é esperança. Esperança, apesar de poder ser sobre algo difícil, se realiza pois espera uma verdade, deixa algo benigno e concreto no final, ainda que seja só em áreas subjetivas como a emocional e a moral. Já ilusão, ao término, deixa amargas memórias, um vazio que antes era preenchido por uma mentira. Que tipo de seres somos, iludidos ou esperançosos? Esperamos a realização de uma fantasia ou da vontade de Deus? 
      Ainda que coloquemos Deus na história podemos estar apenas iludidos, e outros, mesmo que nem creiam em Deus, têm esperanças legítimas que se realizarão um dia. Melhor, contudo, é poder esperar em Deus, nisso não há dor, nem mentira, mas harmonia com os planos do Altíssimo que sempre sabe quando e o que faz. Só se desilude quem se ilude, mas quem espera sempre alcança, dizem os ditados, façamos nossa parte e esperemos o melhor em Deus, ser feliz neste mundo é administrar a espera no tempo.  

12/07/21

Sabedoria e malícia

      “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada.Tiago 1.5

      Sabedoria é diferente de malícia! O tempo, irremediavelmente, traz experiências, essas tornam algumas pessoas sábias e outras maliciosas, isso depende de como se assimila e se resolve as experiências. O que busca temor a Deus vê as coisas sob o ponto de vista mais alto e é sábio. O que se isola e se afasta de Deus vê as coisas sob o ponto de vista humano e mundano e se torna malicioso. O malicioso envaidece-se com o que acha saber, o sábio é humilde e sabe que nada sabe.
      A malícia pretende lucro e prazer pessoal, é inteligência usada pelo egoísmo, projeta fora o mal que existe dentro. O malicioso usa decepções e agressões que sofreu para prender os homens ao passado e a seus erros, espera o pior pois não crê em mudanças interiores, é um armazém de rancores e invejas. O sábio tem fé e esperança, sabe perdoar, dá aos outros uma nova chance, não mata antes do tempo e não condena para sempre, cultiva ainda no mundo o céu dentro de si. 

11/07/21

Se o outro não é razoável, seja espiritual (2/2)

      “Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras.” Daniel 10.12      

      “Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” Isaías 6.5      

      “Este era o aspecto da semelhança da glória do Senhor; e, vendo isto, caí sobre o meu rosto, e ouvi a voz de quem falava. E disse-me: Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo.” Ezequiel 1.28b, 2.1      

      Seguindo com a reflexão “Se o outro não é razoável, seja espiritual”, algumas coisas sobre o plano espiritual e nossa relação com ele. A primeira coisa é a consciência de que não temos que orar por todas as pessoas, podemos sentir claramente Deus dizendo, “essa pessoa já está em minhas mãos, não ore mais por ela”, e isso pode ser final. Contudo, isso às vezes pode não ser um não definitivo de Deus, mas apenas uma primeira impressão nossa, em outras palavras Deus pode estar dizendo: “cuidado, esse assunto é mais sério que você acha que é, se quiser interceder por essa pessoa terá que se comprometer mais espiritualmente”. Deus é responsável, não nos chama para algo além de nossos limites e orar por uma causa pode nos colocar numa guerra espiritual séria, se for o caso nos dará sensibilidade do que isso envolve (Daniel 10).
      A segunda coisa é sobre o medo que uma experiência espiritual mais profunda pode nos fazer sentir. Quando adquirimos intimidade com Deus e depois com o plano espiritual, e correm sérios riscos quem se atreve a “entrar” no mundo espiritual sem autorização e proteção do Altíssimo, aprendemos que sentir medo nem sempre signifiva estarmos próximos do mal ou de algo perigoso para nós. A proximidade de Deus e de seus anjos de luz também causa medo, mas nesse caso não é terror, opressão, mas temor, que exige de nós respeito por nos aproximarmos de algo santo e poderoso. Isaías teve essa experiência (Isaías 6), Ezequiel teve (Ezequiel 1), profetas de Deus se sentiram desfalecidos quando o céu se abriu para eles e seres santíssimos se manifestaram, terrível é a presença dos servos do mais alto escalão do Onipotente. 
      Sobre o título desta reflexão, devemos ser sempre espirituais, com ou sem razoabilidade alheia, mas muitas vezes basta-nos calma para dialogarmos quando negociamos com alguém sensato. Com outros, contudo, é preciso discernimento para não entrarmos em polêmicas, e se houver um assunto importante para nós em jogo a oposição pode, sim, ter apoio espiritual do mal, e por isso deve ser confrontada no mesmo nível e com as mesmas armas. Uma das estratégias do mal é nos levar a lutar com ele no campo de batalha dele, escolhido por ele. Como amigos de Deus não precisamos nos rebaixar a isso, não devemos ser arrogantes, mas discernirmos quando isso está para acontecer para nos retirarmos e buscarmos a Deus, autorizando o Senhor a lutar por nós, com armas espirituais numa batalha igualmente espiritual. 
      Outra coisa sobre os seres espirituais do mal: eles não têm poder sobre o mundo físico, pelo menos não com facilidade, quando têm é em eventos menores e com autorização de homens, como as ocorrências fantasmagóricas, movimento de objetos, barulhos etc, onde se exige que homens autorizem “espíritos” para agirem. Na maioria das vezes seres das trevas só influenciam os seres humanos em seus pensamentos e sentimentos, os que vivem na luz de Deus sentirão desconforto nisso e porão o diabo para correr, o mal não prevalece sobre os filhos da luz. Contudo, aqueles que se entregam ao mal neste mundo, mantêm na mente raciocínios e intenções ruins, não buscam cura emocional e seguem doentes no espírito, esses dão legalidade aos espíritos maus, pois acham em suas influências empatia para suas maldades e vaidades.
      Nós evangélicos nos acostumamos com um estereótipo de pessoa endemoniada que pode não condizer com um tipo de obsessão do mal muito comum nos dias atuais, são pessoas que se você colocar a mão na cabeça e orar nada vai acontecer, ao contrário, elas poderão zombar de você e te porem para correr. Precisamos ser mais sábios nos dias de hoje, muitos cristãos continuam vivendo um cristianismo ultrapassado, muitas coisas não são hoje e não serão no futuro da maneira física e ao pé da letra como eles interpretam a Bíblia. O ser humano evoluiu intelectualmente e em sua relação com a espiritualidade, assim o mal não age e se manifesta de maneira tão simples e explícita. Nem todo “satanista” perde o controle de sua consciência e fica endemoniado, lançando-se ao chão e falando sacrilégios só com a visão da cruz. 
      É preciso oração em santidade e com a autoridade de Jesus para “expulsar demônios”, isso nunca vai mudar (Marcos 9.28-29), mas mesmo essa expulsão pode ser só temporária, para mudanças definitivas os “endemoniados” precisam escolher mudar. Numa libertação temporária as pessoas terão chance de decidir com mais clareza e justiça sobre uma causa que tem a ver com as nossas vidas, mas não é definitiva porque apesar de podermos afastar a influência espiritual das trevas, se depois as pessoas quiserem atrairão essa influência novamente para elas, no mundo espiritual semelhantes se atraem. Assim, se precisarmos novamente que as pessoas não nos prejudiquem, ou oramos o tempo todo por elas, ou tentamos aconselhá-las a mudarem de vida (Mateus 5.25), dessa forma serão melhores e não poderão mais nos fazer mal. 
      Entendamos corretamente esse assunto, do mal estamos protegidos sempre que andamos certo com Deus, assim não é porque temos um colega de trabalho, de escola ou um parente, que tem ligações mais fechadas com demônios, que estamos o tempo todo em perigo. O mundo espiritual tem espaços geográficos bem delimitados por Deus e os “seres espirituais” respeitam isso, desde que não invadamos seus limites. Mas o ponto dessa reflexão foi sermos orientados a fazer uma “oposição espiritual” contra uma pessoa com quem temos um assunto a resolver, assim, de algum jeito nosso “espaço” cruzou o “espaço” dessa pessoa, há interesses, ainda que materiais, em comum. O sábio é depois de resolvido o assunto, dando-nos Deus vitória em nossa causa, se a pessoa não se converteu a Deus, mantermos distância segura. 
      A verdade é que certas pessoas não dão abertura para diálogo razoável, por isso precisamos orar por elas à distância. A melhor espiritualidade é realizada em segredo, principalmente para interceder por pessoas que insistem em se colocarem como nossas opositoras, quem não entender isso será esbofeteado várias vezes, humilhado e injustiçado, sem forças para reagir. Por quê? Porque com certas pessoas não tem papo, e se acharmos que é possível, que como cristãos podemos resolver o problema com uma boa conversa, só estaremos alimentando ansiedade e até construindo doenças dentro de nós. Com certas pessoas não devemos ter mais boas expectativas, devemos ser educados e mantermos distância, ainda que em nossos momentos de oração lutemos por elas em amor esperando que elas escolham mudar. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão
José Osório de Souza, 19/02/21

10/07/21

Se o outro não é razoável, seja espiritual (1/2)

      “Em ti me alegrarei e saltarei de prazer; cantarei louvores ao teu nome, ó Altíssimo. Porquanto os meus inimigos retornaram, caíram e pereceram diante da tua face. Pois tu tens sustentado o meu direito e a minha causa; tu te assentaste no tribunal, julgando justamenteSalmos 9.2-4

      “Deus não revogará a sua ira; debaixo dele se encurvam os auxiliadores soberbos. Quanto menos lhe responderia eu, ou escolheria diante dele as minhas palavras! Porque, ainda que eu fosse justo, não lhe responderia; antes ao meu Juiz pediria misericórdia.Jó 9.13-15

      “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.Efésios 6.12

      Com muitas pessoas podemos chegar a um entendimento conversando, às vezes não é uma negociação fácil, mas é possível, e isso em áreas diversas, seja profissional, afetiva ou outra. Com outras pessoas não é necessário nem trabalho de negociação, há uma concordância fácil e justa para ambos os lados. Contudo, com algumas o diálogo é impossível, as pessoas parecem falar uma língua diferente da nossa, e por mais que tentemos conduzir as coisas para um campo de paz, elas são beligerantes, parece que se sentem sempre lesadas de alguma maneira por nós, sendo que isso não reflete de maneira alguma nossas intenções. Quando um lado não pode ser razoável é preciso que o outro seja mais que hábil, e em termos cristãos, seja espiritual, é preciso colocar o negócio nas mãos de Deus e pedir sua ação. 
      Em toda questão difícil, conforme a ótica espiritual do evangelho (e não da justiça material e ao pé da letra do antigo testamento) precisamos considerar dois entendimentos, um sob o nosso ponto de vista e um segundo sob o ponto de vista do outro. Por mais difícil que possa parecer, como cristãos temos que analisar o ponto de vista do outro avaliando a possibilidade do outro estar sendo duro conosco por causa de um erro nosso, não dele. O espiritual não vê um conflito como uma guerra, onde ele é a vítima inocente que precisa que Deus aja com seu poder a seu favor, dando ao outro o papel de inimigo, ele entende que todos somos em alguma instância opressores e oprimidos, como sempre falamos aqui, todos precisam da misericórdia de Deus e podem ser ajudados pelo amor do Altíssimo (Mateus 5.44). 
      Se nos sentimos oprimidos por alguém, olhemos antes para nós mesmos e nos avaliemos, verifiquemos se há algum motivo para merecermos tal opressão. Façamos isso antes de pedirmos mão pesada de Deus sobre os outros, entendamos o que precisamos mudar, onde devemos ser melhores para não recebermos opressão como efeito de atitude errada nossa. Isso é nos aproximarmos de Deus com humildade, sem nos acharmos com mais direitos que os outros por sermos vítimas ou mais ”chegados” do Senhor (e Deus quer ser amigo de todos, não só de nós). Mas mesmo que nos avaliemos como justos, não peçamos vingança, mas misericórdia do Senhor para os outros. Se estivermos errados, sejamos humildes, mas se estivermos certos, sejamos ainda mais humildes, sejamos sempre espirituais, só assim venceremos. 
      Esse posicionamento espiritual inicial sério é de suma importância para que ajamos de forma correta com os desarrazoados. Se o homem não pode contra o homem, Deus pode agir contra forças espirituais que podem estar influenciando o homem, e não contra o homem, já que nem Deus vai contra o livre arbítrio humano. Deus, contudo, só age em prol dos que chegam a ele do jeito certo. A ação de Deus é em sua origem espiritual e como consequência tem efeitos no plano material, toda ação espiritual interfere no material, seja benigna ou maligna. Quando pedimos uma interferência de Deus estamos entregando uma causa nas mãos dele para que ele aja de forma espiritual sobre agentes espirituais, que nós, seres encarnados, não temos como agir contra. Mas por que o conflito tem que ser levado a esse nível? 
      Nem todos que vivem vidas longe de Deus se colocam diretamente de forma injusta contra os outros. Quem não tem um nível moral adequado atrai para si seres espirituais que prejudicam sua vida privada, o prendem a vícios, mas esses seres não farão, necessariamente, mal aos outros, assim quem vive dessa forma pode precisar de oração por sua vida, mas não por prejudicar os outros. Mas existem pessoas que fazem o contrário, têm vidas morais adequadas, não são escravas de vícios, são boas cidadãs, mas alimentam dentro de si ódios, invejas, rancores, que atraem espíritos maléficos que potencializam assuntos internos não resolvidos e projetam isso nos outros, um desconforto espiritual pessoal que acaba descontando nos outros injustiças e intransigências. São por esses que podemos ser levados a lutar espiritualmente. 
      Quando alguém se coloca contra quem está com a vida em harmonia com Deus e cria um embate que não pode ser resolvido de forma racional, essa pessoa pode estar sob influência de espíritos malignos, que podem estar acentuando sua falta de razoabilidade, oprimindo seus sentimentos e convencendo sua mente sobre determinado posicionamento. Muitas vezes não temos ideia de quantas mentiras alguém que se afasta de Deus pode manter em sua alma, eis um ambiente perfeito para a atuação de “demônios”. Por essas pessoas podemos ser levados a fazer guerra espiritual, não contra elas, mas contra o mal que as oprime e que elas mesmas atraíram. Isso pode exigir de nós consagração e oração diferenciadas, para entendermos como alguém pode estar amarrado no fundo de um poço sob o peso de seres espirituais das trevas. 
      Nosso trabalho nessa guerra é clamar para que a luz mais alta e poderosa de Deus destrua as trevas e toque a consciência da pessoa, levando-a a sair de sua irrazoabilidade, isso não é algo fácil e rápido. Guerra espiritual se faz com santidade, autorização de Deus, mas também com amor, afinal de contas tem uma vida humana envolvida e sofrendo, não a de quem está lutando, mas a daquele por quem se está lutando. Se o homem não pedir Deus não age? Exato, Deus não age. Não basta dizermos que nossas vidas estão entregues nas mãos do Senhor, de forma protocolar e religiosa, é preciso um envolvimento maior nosso, e é assim não só para que uma questão material seja resolvida a nosso favor, mas para que cresçamos espiritualmente e alguém, justamente quem se colocou como nosso inimigo, seja libertado. 
      O problema não é o problema, mas a maneira como interagimos com ele, a solução não é algo posterior manifestado no plano físico, mas um posicionamento anterior no plano espiritual. A vontade de Deus talvez nem seja quebrar o coração de um teimoso para nos abençoar, mas abençoar o teimoso, levando-nos a lutar por ele. Parece uma “piada cósmica”, quem se coloca como nosso inimigo ter em nós o único amigo que lutará por ele, mas não é piada não, são os maravilhosos caminhos do Senhor usando-nos para abençoar os outros. Não pense que a recompensa será um aumento de salário, mas a vida de seu chefe libertada do mal, e como consequência seu coração estará quebrantado o suficiente para aumentar teu salário. Qual foi o maior ganho nesse exemplo, dinheiro ou um amigo? Lutemos por amigos e não nos faltará nada. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 19/02/21

09/07/21

Não é fácil ser bom

      “Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados. Sendo hospitaleiros uns para com os outros, sem murmurações, cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.I Pedro 4.8-10

       Não sei você, mas para mim não é fácil ser bom, eu preciso estar numa vigilância constante, me esforçar muito, para ser principalmente paciente, e consequentemente, amoroso, não conseguimos amar sem estarmos em paz e ter paz é não se incomodar com o mundo externo. Entretanto, se precisamos nos esforçar tanto para amar o outro, será que o problema está no outro ou em nós? Em nós, com certeza, mas como pode ser difícil nos controlarmos para sermos bons e não seres em conflito que perdem a paz por qualquer coisa. Sei que estou enganado, mas olhando de fora para algumas pessoas, elas me parecem tão controladas, tão benignas, demonstram tranquilidade com tanta facilidade, parece que nada, ou muito pouco, as desestabilizam, olhando de fora chego a invejá-las. 
      Mas como eu disse, sei que estou enganado, todos têm grandes conflitos internos, ninguém é perfeito, senão não estariam neste mundo em expiação, a diferença é que alguns escondem seus conflitos mais facilmente. Será que essa facilidade melhora as coisas? Talvez não, quem esconde melhor o problema tem a tendência de manter o problema sem solução por mais tempo, já que se os outros não sabem, parece que está tudo bem, nos preocupamos mais com aparência externa que com a verdade no interior. Não sei você, o ponto, contudo, é que eu enfrento uma batalha diária para deixar Deus brilhar em mim, para não ser estúpido com os outros, para não julgar mal, para ter paciência, para estar em paz e amar sempre com o amor sacrificial de Jesus, e essa luta me faz sofrer muito, meu Deus sabe. 
      Talvez, sentir que se está perdendo constantemente uma batalha tenha um lado bom, significa que continuamos combatendo, que não desistimos, já que muitos não perdem mais batalhas porque simplesmente pararam de lutar, perderam tantas vezes que concluíram que não valia mais a pena. Muitos, cansados de se humilharem e pedirem perdão, assumiram para si que o problema está nos outros, não neles, que se eles não têm paciência com os outros é porque os outros são insuportáveis, não são eles que são estúpidos. Isso parece estranho? Mas digamos a verdade, não é assim que na prática e com o tempo, nós e muita gente age, no meio familiar, com os irmãos na igreja, com os colegas de trabalho, no trânsito? Nos dias atuais, quando vivemos em constante pressão, paciência parece ser um luxo. 
      Como sabemos se isso ocorre conosco? Simples, respondendo a uma pergunta: há quanto tempo eu não peço perdão para alguém? Ou pelo menos, há quanto tempo eu não peço perdão a Deus pela falta de paciência que tenho com os outros? Isso é assumir que fomos deficientes no amor. Não basta pedir perdão a Deus por pecados mais explícitos e que cometemos sozinhos, em segredo, muitas vezes até nossa oração e assunções de pecados são feitas por orgulho, para nos sentirmos com a consciência tranquila, enquanto o principal que o evangelho manda, amar o próximo, não fazemos. Sim, é preciso uma batalha constante, não só por santidade moral e por disposição de justiça na área material, é preciso que lutemos pelo amor, ele será exaltado acima da fé na eternidade, ele cobre multidão de pecados. 
      Como nos ensina Pedro no texto inicial, cada um administre aos outros o dom como o recebeu, todos podemos ser úteis aos outros de alguma maneira. Nem todos temos uma amabilidade fácil e leve no jeito de ser, a vida fez muitos de nós duros e mesmo um pouco frios, muitos de nós tivemos que achar um jeito para vivermos com o passado, com a dor e com a solidão. Mas o que tem o Espírito Santo com liberdade dentro de si, achará um jeito de servir, um jeito de ser bom, mesmo que seja escrevendo textos para pessoas que nunca vai conhecer (pelo menos neste mundo), como é o caso deste que vos escreve, ou orando nas madrugadas por pessoas que não fazem a mínima ideia do quanto são importantes para nós, do quanto nós as amamos e queremos para elas tudo o que há de melhor em Deus.