21/09/24

Qualidade do sofrimento (3/4)

      “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.Mateus 5.10-11

      Em sofrermos porque erramos e não assumimos, não há benefício, em sofrermos a consequência de um erro que cometemos e assumimos, há benefício para nosso próprio crescimento, mas ao sofrermos pelo erro do outro há benefício para o outro, isso é o mais puro amor. Jesus chama sofrimento de qualidade de sofrimento de justiça, nisso há mistérios que muitos cristãos não sabem. Achamos que suportar fraqueza do outro é amenizar erro do outro, já que não reagimos na mesma altura, mas pagamos mal com bem, contudo, ninguém sofre injustiça de graça. Se alguém nos faz mal é porque merecemos, ainda que não tenhamos noção disso. Só Jesus de fato recebeu mal que não merecia, por isso seu sofrimento teve tanta qualidade. 
      Mas foi dito no início que beneficiamos o outro sofrendo injustamente, por quê? Porque quebramos o loop do nosso mal, bem feito hoje anula mal feito antes, assim sofrermos pela justiça paga dívida e passa a responsabilidade para o que recebeu a justiça. Esse por sua vez poderá sofrer injustiça para pagar a injustiça que fez, assim caminha a humanidade, causas e efeitos constantes. Qual o papel da grande injustiça que Cristo sofreu por todos? Nos dar paz com Deus para sofrermos injustiças com justiça, o sacrifício de Jesus não exime-nos de sofrer, mas permite-nos sofrer para crescermos, não apenas como sacos de pancadas do destino, senão sofreríamos para sempre sem nunca achar paz, já que não teríamos forças para sofrer certo.

20/09/24

Todos sofremos (2/4)

      “Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte.I Pedro 4.15-16

      Há poder no sofrimento, repito, o poder de confrontar o ser humano com provas específicas, que nelas sendo aprovado conquista um crescimento moral, portanto, espiritual, diferenciado. O que pouca cobrança recebe, pouco precisa fazer, pouco sofre, com efeito pouco cresce. Mas será que existe alguém que vem a este mundo “a passeio”, que não é provado de alguma forma? Não, ainda que sob nossos míopes olhos possamos achar que alguns se esforçam menos que nós, podem até se esforçar menos, mas não para fazer o que nós temos que fazer. Provas são diferentes para pessoas diferentes, por isso que não devemos julgar pela aparência, só Deus conhece o coração, a prova, o sofrimento e o esforço de cada um. 
      Mas muitos sofrem justamente por não quererem sofrer, assim, ao invés de aceitarem com humildade os limites que o “universo” lhes impõe e que têm um propósito divino, sofrem por orgulho, assim, ao invés de serem vitoriosos e crescerem, permanecem derrotados e acrescentam à sua luta original e útil uma segunda e inútil luta. Só temos vitória nas batalhas que Deus nos coloca, nas que inventamos ou que nos colocamos por teimosia ou vaidade sempre somos derrotados, vitória nessa batalhas podem até nos fazer importantes diante de homens, mas nada acrescenta a nossos homens interiores, portanto não levaremos como virtudes que definirão nossa posição na eternidade espiritual. Qual a qualidade do nosso sofrimento? 

19/09/24

Há poder no sofrimento (1/4)

      “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus. Porque, como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação por meio de Cristo.II Coríntios 1.3-5

      Há poder no sofrimento! Como costumo fazer, quando toco em alguns temas, sofrimento “masoquista”, de quem se submete à qualquer espécie de violência, que podendo reagir, não reage, não é o tipo de dor a que me refiro nesta reflexão. Isso pode ser só efeito de mente doente, de quem não se respeita e é carente por qualquer atenção, mesmo que seja atenção estúpida, mas principalmente, sofrimento sem comunhão e paz com Deus. Há limites e quem estabelece a referência é nossa conexão verdadeira com o Deus verdadeiro. Contudo, precisamos olhar diferente quem traz em si alguma limitação impossível de ser superada, com a qual terá que conviver por toda a vida, na área física, mental e mesmo social.
      A cadeirantes e portadores de transtornos mentais devemos tratar com cuidado, a dificuldade que para os que se acham “normais” parece menor, para esses pode ser maior, assim chama-los de ociosos ou covardes é injusto. Limites físicos são fáceis de serem verificados, já os psicológicos, não, e não estamos generalizando, mas muitos não constroem enfermidades psiquiátricas por fazerem escolhas morais erradas, mas podem ter dificuldade para escolher certo por serem enfermos. Creio num Deus justo, que “dá o frio conforme o cobertor”, se há alguma lucidez com humildade, a pessoa tem condições de ser feliz e de fazer os outros felizes, seja qual for sua capacidade, e isso também não nos exime de auxiliar os fracos. 

18/09/24

Apaixone-se por Deus hoje (4/4)

      “Não apaguem o Espírito.I Tessalonicenses 5.19

      Um cilindro fino e comprido de parafina, com um pavio no meio, que é queimado para produzir uma chama, mas sob um vento que teima em apagar o fogo o tempo todo, eis o desafio maior de se viver neste mundo. No mundo estamos limitados a isso para iluminar, só na eternidade seremos livres para clarear infinitamente, isso se perseveramos em manter, ainda que com muita dificuldade, a vela acesa o máximo possível no plano material. O que acende nosso espírito é o Espírito de Deus, estando a vela limpa pela fé no perdão que há em Cristo, mas são as obras que o mantêm aceso. A oração é só início do processo, não se acende uma vela para escondê-la, é preciso dar utilidade à luz que ela produz.
      Utilizar a luz da vela, entretanto, a expõe ao mal do mundo e aos limites do nosso corpo. Unção, um tipo especial de paixão, paixão por Deus, não por religião nem por igreja, é chama de uma pequena vela, facilmente se apaga, assim precisa ser acesa o tempo todo, vigiando com cuidado para que os ventos do mundo não a apaguem. Não pense que um culto abençoado de domingo à noite, com um louvor “quente” e envolvente, te dará unção para muito tempo, às vezes na segunda-feira à tarde a unção do domingo à noite já se apagou. Temos que nos apaixonar por Deus todos os dias, não dormirmos sem acendermos a chama, para acordarmos com ela, buscando mantê-la acesa o máximo que pudermos. 

17/09/24

Uma paixão eterna (3/4)

      “Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro.” I João 4.19

      A existência temporária na matéria é uma grande metáfora da vida espiritual eterna, assim nossos corpos, nossos sentimentos, nossas relações sociais e afetivas, nossa interação com o planeta, animais, natureza e tantos elementos da Terra e dos outros corpos celestes, são meios que aprouve a Deus usar para que evoluamos no espírito. Se antes vivemos neste mundo para depois experimentarmos “céus” e “infernos” no outro mundo é por dois motivos: o primeiro é que não somos “criados” já prontos para a vida espiritual, o segundo é que antes de experimentarmos posições mais “duradouras” passamos por uma preparação ou por um teste em existências mais limitadas. Se é assim com tudo, também é com a paixão. 
      Provamos paixões temporárias para aprendermos a escolher a duradoura, essa não é potencializada pelas emoções humanas da alma e do corpo, mas pelo espírito pessoal eterno conectado ao Altíssimo Santo Espírito de Deus. Se paixões passam, a que experimentamos por Deus, ainda que queimando numa vela pequena e frágil, que facilmente se apaga, pode ser acesa e acesa neste mundo, todos os dias, até ser acesa para sempre no outro mundo. Amar a Deus não cansa, nunca decepciona, sempre nos alimenta, para isso basta que escolhamos amá-lo, a princípio pela fé, de forma racional, para depois provarmos uma emoção especial, que chamamos de unção, uma paixão que nasce e permanece no espírito imortal, não na carne. 

16/09/24

Vivemos sem paixão? (2/4)

      “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra.Tiago 5.17

      Versões bíblicas usam termo paixão mais como algo negativo, como sendo as iniciativas irresponsáveis e fúteis da carne, mas o termo pode se aplicar de forma genérica a uma “energia” emocional, gerada por algo que nos toca de forma especial e mesmo desconhecida. Se passamos grande parte de nossas vidas sendo impulsionados pela paixão, como viver sem ela principalmente depois que amadurecemos? É possível? Se paixão não é má em si, mas é uma ilusão, uma experiência no mínimo imatura, como nos aproximarmos mais de Deus sem ela? Como muitas coisas que fazemos potencializados pela paixão, também exercemos fé em crenças espirituais muito mais por paixão, que por uma convicção realmente pura e sem ilusões. 
      Nunca deixamos de nos apaixonar, a diferença é que ao envelhecermos paixão pode ser opção racional, não obsessão, podemos escolher nos apaixonar. Isso não deixa a paixão sempre boa, ainda velhos podemos nos apaixonar pelas coisas erradas, que não gerarão bons frutos que permanecem. Contudo, há uma diferença entre envelhecer e amadurecer, quem amadurece, ainda que o corpo envelheça se mantém vivo e lúcido. Já o imaturo não aceita a sensatez nem o próprio envelhecimento do corpo, tentará permanecer jovem fisicamente, não para estar vivo e lúcido, mas enganosamente apaixonado. Paixão como causa, vira fim em si mesmo e vício, mas como efeito de amadurecimento, torna-se escolha que liberta e aprimora. 

15/09/24

Paixão sempre acaba (1/4)

      “Foge também das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor.II Timóteo 2.22

      Até uma idade, a maioria das pessoas experimentam paixão com mais constância. Como sentimento poderoso, efeito de nosso confronto inicial com uma experiência, pode nos potencializar para fazer coisas que normalmente não podemos fazer. Paixão pode tanto nos fazer amar como odiar, mas é sempre uma força inicial, que é gerada após a surpresa, depois, com o tempo, atenua-se. Nos apaixonamos por pessoas, pela profissão, por um hobby, pela religião, por um ministério cristão, mesmo por Deus, essas são as boas paixões. Mas pessoas e situações também podem provocar em nós revoltas, ódios, um desejo de destruição, que também são paixões, mas ruins. Paixão é intrinsecamente ligada à emoção, assim não é racional. 
      Nas asas da paixão empreendemos com coragem, uma relação afetiva, um projeto financeiro, uma ação humanitária, uma ideologia. Paixão em si não é errada, se nasce com bases legítimas e se produz frutos que permanecem. Contudo, num determinado momento de nossas vidas, ficamos menos susceptíveis a ela, não a geramos mais com facilidade, ficamos mais frios. Isso é bom, nos tornamos mais racionais, mas pode ser ruim, ficamos menos produtivos. Nossa conexão com Deus, que nos fortalece para sermos santos e amorosos, pede de nós um posicionamento diferente se não tivermos mais paixão para exercê-la, pede fé racional, é nesse momento que amaduremos espiritualmente e que começamos a entender a eternidade.