14/08/25

Alguém para culpar e temer (4/8)

      “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte. Não erreis, meus amados irmãos.Tiago 1.14-16

      Se viver em grupo é melhor, jogar a culpa nos outros, para não assumi-la como minha, é mais fácil. Novamente o dualismo de “nós” e “eles” é usado, agora como vítima e agressor. Gostamos de ver o agressor no outro, por isso o prazer mórbido por assistir programas jornalísticos que mostram assassinatos, estupros, violência. Se o “outro” comete um crime que achamos que nunca seremos capazes de cometer, isso nos entrega um consolo, que ainda que sejamos errados há gente pior. Por isso amamos fofocar, falar mal do outro, achar e se não achamos extrapolar e inventar erros dos outros. Há estudiosos que dizem que o que manteve seres humanos em grupo foi a necessidade de fofocar, mais até que outras necessidades. 
      O ser humano tem a tendência de criar ídolos para substituir Deus. Na tentativa mal sucedida de saciar sua sede de um Deus espírito, todo-poderoso material e espiritualmente e de moral superior, em santidade, amor e justiça, ele busca no plano físico e no espiritual potências que lhe satisfaçam. No plano material temos instituições, religiões, partidos políticos, que dizem defender agendas nobres e poderosas, essas são reconhecidas e adoradas. No plano espiritual potências ficam por conta da sensibilidade e trabalho espiritual de cada ser humano, mas também de sua fantasia. Um plano que se acessa mentalmente, está mais aberto para que o homem ache ilusão e enganos, portanto, mentira, portanto o chamado diabo.
      Achar alguém para ser culpado, alguém grande e poderoso, um ídolo maligno, eis o que é o diabo na cabeça de muitos. Mas o ser humano não cria só ídolos do mal, de outros deuses, entidades ou poderes espirituais, o pior ídolo é o que o homem chama de “Deus”, ao qual é agregado conceitos bíblicos. Em seu amor Deus ouve a todos, abençoa mesmo os que não o adoram como o verdadeiro Deus, mas como um ídolo mental semelhante a ele. Se não fosse assim poucos receberiam favor divino. Interessante, que diferente de nós, que quando caluniados ou destratados queremos cobrar as pessoas, nos defender, Deus não faz isso, simplesmente porque não pode. Poucos estão preparados para o que Deus é de fato. 
      A humanidade evoluiu, a ciência se desenvolveu, o homem conhece a si mesmo, seu corpo, sua psique, o planeta, parte do universo, assim como entendeu a importância de direitos iguais para todos, indiferente de sexualidade, raça, cor de pele, religião, cultura ou poder aquisitivo. Se uma religião coletiva para agregar e direcionar a humanidade à verdade moral e espiritual teve algum interesse para Deus no passado, já há algum tempo não tem mais, não para todos, eu penso assim. O momento, que ao meu ver iniciou-se no final do século XIX, é de busca individual, não desprezando religiões coletivas, mas aprendendo delas o que é possível e depois seguindo numa jornada pessoal rumo à luz mais alta de Deus. Isso já é possível. 
      Quando olhamos para fora e para baixo fugimos de nós e de Deus, não encaramos a verdade e somos enganados por mentiras. Quando olhamos só para os homens buscamos felicidade na glória dos homens, na aprovação de religião, nisso geramos medo, que procura algo proporcional para temer. Como nessa situação estamos em trevas, não temos conhecimentos reais, assim nossa mente inventa, fantasia, e como é poderosa a criatividade humana. Comprovamos isso na literatura e no cinema, quantos monstros, quantos espectros, quantos alienígenas, quanto terror e quanta ficção fantasiamos, uma realidade falsa, mas que teve origem em mentes que se afastaram da verdade e se refugiaram na mentira, no mundo, nos homens, no diabo. 

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