“Quanto à vossa obediência, é ela conhecida de todos. Comprazo-me, pois, em vós; e quero que sejais sábios no bem, mas simples no mal. E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco. Amém.” Romanos 16.19-20
Que fique claro, quando levantamos a hipótese de como seríamos nós, como administraríamos a existência, neste mundo e no outro, caso não existisse um diabo eterno, como define a teologia tradicional protestante, não estamos dizendo que não haja pecado, que não haja mal, e que não haja uma avaliação divina, após a nossa morte física, para verificar se vencemos ou não o mal, pelo menos na maior parte do tempo em que vivemos na Terra. Ninguém force um entendimento errado desta reflexão, dizendo que não queremos admitir o diabo para que possamos viver em pecado e não sermos punidos por isso. O ponto não é se há o mal, mas até que ponto fugimos de uma responsabilidade pessoal numa fantasia diabólica.
A verdade é que por séculos o cristianismo tem usado um diabo como bode expiatório, tem pego o diabo pra “cristo”, perdoem-me o uso das palavras. O tamanho do diabo é proporcional ao tamanho do medo que o ser humano tem da verdade, portanto, medo de Deus, já que ele tem toda a verdade, inclusive sobre o diabo. O diabo é conveniente, como já dissemos, para manipuladores e comerciantes da fé de grupos humanos. Contudo, o diabo é útil para cada um de nós, oferece-nos um inimigo para odiarmos e culparmos, uma entidade por trás de teorias conspiratórias e escatológicas. Mas se Nietzsche disse que Deus estava morto, a verdade é que o diabo está morrendo, e creiam, haverá um dia que será citado só como história.
O filósofo acertou sob um ponto de vista, o “Deus” do catolicismo e mesmo do protestantismo, graças a Deus, está diminuindo, e novamente me perdoem os termos. À medida que o falso “Deus” decresce, o poder do diabo também míngua, os conceitos estão ligados. Superstições cristãs e superstições satanistas são dois lados de uma mesma moeda, ainda que Deus atenda a todos no que lhe permitem atender. No máximo, o diabo é uma influência ruim, coletiva e espiritual, sob indivíduos humanos encarnados. Espírito não tem corpo, mas se temos medo dele e não buscamos conhecê-lo em Deus, podemos imaginar o que quisermos. Um indiano imagina um diabo diferente de um italiano, de um chinês ou de um nigeriano.
Diabo é escuridão moral, ausência da luz de Deus, mas não de Deus. Deus está em todo lugar e nada foge dele. Só há um lugar que Deus só ilumina se for-lhe autorizado, o interior dos seres. Se dizemos não a Deus, nosso interior escurece-se, torna-se território diabólico. Não nos enganemos, temporariamente podemos ser instrumentos do diabo, ainda que religiosos e não possessos, como são instrumentos os egoístas e cruéis ou simplesmente ateus e materialistas de forma mais duradoura. Obviamente não na mesma proporção, mas o diabo e consequentes trevas podem estar dentro de qualquer um neste mundo, ainda que por pouco tempo. Após a morte infernos persistentes na Terra serão liberados ao inferno maior.
O inferno maior é local distante da luz mais alta de Deus, onde se reúnem e tentam se esconder os que não querem subir a Deus. Muitas trevas reunidas não tem o poder que tem uma finíssima emanação da luz do Altíssimo, que nós podemos refletir quando obedecemos a Deus, contudo, essas trevas podem ser grandes o suficiente para fantasiarem um diabo e influenciarem seres humanos simpáticos na Terra. Mas o tempo passa, o “inferno” recebe seres cada vez menos supersticiosos, ainda que em trevas, assim aquele diabo que por séculos aterrorizou a humanidade morre. Aproxima-se o tempo onde esse diabo morrerá de vez, é o que João o evangelista tentou descrever em Apocalipse, com sua mente do final do século um.
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