domingo, novembro 11, 2018

Paixão, amor, sexo e casamento

      “Quão formosos são os teus pés nas sandálias, ó filha de príncipe! Os contornos das tuas coxas são como jóias, obra das mãos de artista. O teu umbigo como uma taça redonda, a que não falta bebida; o teu ventre como montão de trigo, cercado de lírios. Os teus seios são como dois filhos gêmeos da gazela. O teu pescoço como a torre de marfim; os teus olhos como as piscinas de Hesbom, junto à porta de Bate-Rabim; o teu nariz é como torre do Líbano, que olha para Damasco.
      A tua cabeça sobre ti é como o monte Carmelo, e os cabelos da tua cabeça como a púrpura; o rei está preso pelas tuas tranças. Quão formosa, e quão aprazível és, ó amor em delícias! Essa tua estatura é semelhante à palmeira, e os teus seios aos cachos de uvas. Disse eu: Subirei à palmeira, pegarei em seus ramos; então sejam os teus seios como os cachos da vide, e o cheiro do teu fôlego como o das maçãs, e os teus beijos como o bom vinho para o meu amado, que se bebe suavemente, e se escoa pelos lábios e dentes.
      Eu sou do meu amado, e o seu amor é por mim. Vem, ó amado meu, saiamos ao campo, passemos as noites nas aldeias. Levantemo-nos de manhã para ir às vinhas, vejamos se florescem as vides, se estão abertas as suas flores, e se as romanzeiras já estão em flor; ali te darei o meu amor. As mandrágoras exalam perfume, e às nossas portas há toda sorte de excelentes frutos, novos e velhos; eu os guardei para ti, ó meu amado.”
Cânticos 7

      Sexo, um assunto que o ser humano dificilmente dá a importância correta, ou dá relevância demais, ou de menos. A grande maioria de nós somos sexualmente desequilibrados, e só aprendemos a verdade sobre o tema no fim da vida, não como escolha, mas como falta de outra opção melhor. O mundo chama sexo de amor, mas na maior parte das vezes está se referindo só à paixão, quando a poesia secular diz, “é preciso amar”, está querendo dizer, “é preciso se apaixonar”. O amor sacrificial e eterno do evangelho nada tem a ver com a busca de prazer egoista e passageira que os homens chamam de amor, e que é apenas sexo superficial. 
      Sexo casual, liberdade para se ter prazer quando, onde é com quem se quer, sem haver necessidade de compromisso, de amor de verdade, mas apenas de desejo, do corpo e da alma, é uma mentira, uma das maiores da agenda do mal. Por quê? Porque na prática é simplesmente impossível. Os que dizem que é possível mentem, em primeiro lugar a si mesmo, e eles sabem disso. Essa prática leva o ser humano a mudar de gênero, passa de homem ou mulher a adúltero ou adúltera. Promíscuo pode ser um adjetivo, pela língua portuguesa, mas moralmente é um tipo de ser, diferente do humano original, é um ser degenerado, cujos valores morais e espirituais foram corrompidos. 
      Os motivos que levam um ser humano a fazer e usar sexo da maneira errada são vários? Acho que não, algo que entrega tanto prazer com certeza é usado para enganar a dor, aquela dor peculiar a todo ser humano. A maioria não quer sexo por dar prazer, mas por fazer esquecer da dor, mesmo que por pouco tempo. Dor pela solidão, pela carência de companhia ou de aprovação, dor que nasce no espírito, que contamina a alma e finalmente acha no corpo uma solução fácil e rápida, nos vícios, nas bebidas e nas comidas, mas principalmente no clímax que uma relação sexual proporciona. Isso confere alguma legitimidade ao sexo errado, mas não para sempre, é preciso crescer, deixar pra lá quem nos machucou, nos distanciarmos dele, nos libertarmos dele, procurar não repetir os mesmos erros dele, nos curarmos das obsessões para então administrarmos sexo e amor de uma maneira melhor.
      É preciso querer fazer as coisas do jeito certo, amar alguém de verdade e num compromisso duradouro, evoluir nesse compromisso, aceitar o envelhecimento físico e não achar que se pode ser jovem para sempre, nem pensar que envelhecimento é ruim. É preciso fazer alianças e ser fiel com elas, um adúltero não será infiel apenas com companheiros de sexo, mas com tudo, ele tem um defeito de caráter que precisa ser resolvido. Não, não é um processo fácil, muitos de nós casam-se e descasam-se, oficialmente ou não, por vezes, antes de assumir que só nós somos responsáveis por mudar nossos caminhos e que não adianta nós fazermos de vítimas e colocar a culpa nos outros, na vida, ou até em Deus. 
      O que Deus pensa sobre sexo? Se quer saber, ele não dá tanta importância como nós damos, ocidentais doutrinados pela moralidade católica, damos, e quando me refiro à moralidade e valores pseudo-espirituais católicos incluo protestantes e evangélicos, não pense você, “crente”, que está livre disso. Nas raízes da grande seita pagã católica está o pensamento herege que prazer é pecado, um desvio natural para quem se afasta do Espírito Santo, como referência verdadeira e espiritual sobre santidade, mas que não tem coragem de quebrar de vez sua ligação com o cristianismo e acaba criando uma religião que ritualiza ícones cristãos, e não o Cristo de fato. 
      Damos importância demais ao sexo quando achamos que Deus só aprova casamento oficializado pela lei ou pela religião, e não o compromisso de dois seres humanos que se amam de fato e estabelecem uma aliança de fidelidade que perdure. Damos importância de menos quando achamos que só porque não era uma relação legalizada ou com cerimônia religiosa prévia, podemos quebrar e estabelecer outra, sem nos sentirmos adúlteros ou “divorciados”. Deus vê e julga conforme o coração, não legalizar relação conjugal não tira da relação uma legitimidade de casamento, até a lei vê dessa maneira, portanto muitos que batem no peito se dizendo apenas namoradores, e não “divorciados”, são na verdade pessoas que já tiveram muitos casamentos, mas ainda não têm um cônjuge de fato. 
      O que diferencia namoro de casamento? Sim, é sexo, a relação mais íntima que um ser humano pode experimentar com outro ser humano. Nesse aspecto sexo é algo muito especial, único, exclusivo, que deveria ser tratado com muito, mas com muito cuidado. Qual o ideal, o mais sábio, o que eu ensino para meus filhos e para os jovens? Ensino que a vida é bem mais que sexo, que eles devem estudar e muito, trabalhar, para que tenham uma vida financeira independente. Liberdade, de verdade, está ligada à independência financeira, e não a “faço porque desejo”, querer é poder quando se pode pagar por isso através de uma vida responsável e que assume o que acredita e suas consequências. 
      “Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á a sua mulher” (Marcos 10.7), a primeira parte desse versículo diz tudo, deixará o homem a seu pai e a sua mãe, isso significa independência, quando isso ocorre não estamos mais sujeitos a orientação direta de nossos pais, ainda que seja sábio e coerente levarmos uma vida semelhante com a daqueles que nos criaram de perto e com amor. Assim, vida profissional é muito importante, nos dá independência e pode nos conduzir por esse mundo, a lugares bem diferentes e distantes da casa de nossos pais. Nesse caminho mudamos assim como muda aquilo que queremos para nós, incluindo o ideal de esposa ou esposo.
      Quando damos prioridade à vida profissional, em nossa juventude, antes do casamento, damos também à vida uma oportunidade de nos apresentar pessoas muito mais adequadas a nós, não só com valores em comum com aqueles recebemos em casa de nossos pais, mas também com os da nossa vida adulta, como profissionais. A pressa em se casar, pressa que muitos líderes religiosos e pais têm com os jovens, tudo por darem a sexo e procriação importância demais, leva casamentos serem feitos entre pessoas que ainda não estão prontas em si mesmas. Assim, quando a vida passa, quando a carreira profissional chama, quando elas mudam, percebem que se uniram a pessoas que nada têm a ver com elas.
      Contudo, que bom seria se nós pudéssemos esperar em Deus, crescendo e nos conhecendo, de maneira a só nos entregarmos totalmente, emocional e fisicamente, para aquela pessoa pela qual estivéssemos totalmente apaixonados, respeitando a nossa integridade e a da outra pessoa. Então, depois de conhecer tal pessoa, e de nos prepararmos financeiramente, nos casássemos debaixo da bênção da sociedade com a qual convivemos, na igreja que comungamos, em paz e desejando experimentar uma aliança fiel até o final de nossos dias neste mundo. Como seria bom se acontecesse dessa maneira para todos nós.

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