sábado, fevereiro 13, 2021

Repreensão adequada ao mal (1/2)

      “E admiravam a sua doutrina porque a sua palavra era com autoridade.Lucas 4.32

      Uma palavra de autoridade basta para repreender o mal, mas como é essa palavra, que males ela pode repreender? Contemplemos novamente as três áreas do ser humano, física, emocional e espiritual, em cada uma delas o mal pode ser instalado e palavras de autoridades distintas podem ser usadas para repreendê-lo. Forma ou conteúdo, o que importa na repreensão? Uma palavra pode ser dita num volume mais alto ou mais baixo, essa é a forma, mas ela pode conter uma ordem curta e direta, assim como um texto longo e repleto de termos misteriosos, esse é o conteúdo. Formas e conteúdos diferentes podem ser adequados para repreender males instalados em áreas humanas distintas. 
      O ocultismo e mesmo a igreja católica podem utilizar encantamentos mágicos complexos para exorcismo e repreensão de demônios ou espíritos rebeldes das trevas, já os cristãos protestantes e evangélicos usam frases mais curtas e explícitas, são ordens, não rituais. O próprio termo exorcismo não é usado no meio protestante e evangélico, justamente porque ele nos remete a algo complicado e misterioso, que difere do que entendemos nos relatos de expulsão de demônios no novo testamento, feita por Jesus e pelos seus discípulos diretos. Jesus não era exorcista nem mágico, ele simplesmente tinha uma legítima palavra de autoridade, efeito de uma vida equilibrada em todas as áreas, física, emocional e espiritual. 
      Mas mesmo com conteúdo mais simples e semelhante, os evangélicos podem diferir na forma que dão à palavra de autoridade. Vemos muito em igrejas pentecostais atuais, repreensões feitas aos gritos, de maneira teatral e escandalosa, isso é bastante divulgado na TV, o que passa uma imagem ainda mais inadequada do cristianismo, principalmente para os que já se colocam como seus opositores. Até que ponto esse tipo de repreensão tem propriedades realmente práticas e espirituais, ou são só formas de exaltar mais o homem que faz a expulsão do mal que o Espírito Santo que de fato permite a expulsão, já que ela é feita no nome de Cristo? Falar mais baixo ou mais alto, contudo, pode ter sua utilidade.   
      Os pais repreendem seus filhos, os amorosos entenderão que não é preciso punição física ou ameaça dela, mas os amorosos e sábios verão que muitas vezes só um olhar basta, ou no máximo uma palavra em volume baixo, sem gritos. Isso porque autoridade é algo que começa no interior das pessoas, e quanto mais coerentes formos, mais forte será nossa autoridade. Ser coerente é não ser hipócrita, é se viver o que se fala, as crianças sabem quando não somos hipócritas e assim reconhecem nossa autoridade, mesmo que só olhemos para elas ou falemos pouco e num volume baixo. Quem precisa usar violência física ou mesmo gritar, na verdade tem dúvidas sobre a própria autoridade, não a possui legitimamente dentro de si. 
      Infelizmente, algumas pessoas são mal educadas, criadas com gritaria e violências, para essas pode ser preciso, no nível emocional, uma palavra de autoridade mais enfática, ainda que encharcada de amor e unção. Não estou dizendo que o machucado emocionalmente deve ser tratado de maneira estúpida e autoritária, é bem o contrário, pessoas socialmente problemáticas precisam de muita paciência e de bastante amor, só com a ajuda do tempo é que elas serão totalmente curadas. Mas as pessoas podem surtar e nisso podem até simular possessões demoníacas, não existe uma atuação espiritual direta do mal, mas só um descontrole psicológico, nesse caso pode ser preciso, sim, uma palavra firme de chamada de atenção. 
      Se essas pessoas forem reeducadas, e a igreja deveria ter também esse papel, de cura e reeducação emocional e afetiva, no futuro poderá bastar um olhar ou uma repreensão mais branda para tranquiliza-las. Contudo, se para um mal psicológico pode ser necessária uma palavra de autoridade, que deixe claro para a pessoa que sofre o mal que existem regras, que é preciso que ela se porte de maneira adequada à civilidade, ao meio social, que ela não é uma criança egocêntrica nem está sozinha no mundo, mas que vive em sociedade e precisa respeitar seus limites e os direitos dos outros, um mal puramente físico não é curado com repreensão, mas com ajuda médica profissional adequada. 

Leia na postagem de amanhã a 2ª parte dessa reflexão
José Osório de Souza, 31/10/20

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