segunda-feira, fevereiro 14, 2022

“Porque Deus quis” (15/90)

      “E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.” 
I João 2.17

      A resposta que muitos dão a questionamentos que contrariam princípios que acham inquestionáveis é infantil: “porque Deus quis”. Assim, muitas das perguntas levantadas no “Como o ar que respiro” são desconsideradas, simplesmente porque muitos pensam que certas coisas Deus quer que sejam de um jeito e não temos que questionar. Por que um Deus ensinado no evangelho como pai de amor condena os que não aceitam seu amor ao inferno? “Porque quer, e se ele quer, quem somos nós para discordar?” Assim pensam muitos, argumentando que Deus faz o que quer e não precisa dar satisfação a ninguém. Não discordamos disso, o que o Senhor faz temos que aceitar, mas será que Deus faz muitas coisas que dizem que ele faz? 
      “Porque Deus quis” não é só displicência com Deus, mas com o ser humano atual, que já atingiu um nível intelectual e moral, pelo menos na teoria, para raciocinar mais profundamente sobre muitas coisas. Uma verdade é preciso ser aceita, fé é algo pessoal, pode fortalecer as pessoas em níveis que muitas vezes não acreditamos. Cada um crê no que quer, no que escolhe crer, ainda que pense crer porque é a verdade maior de Deus, a única verdade, e como tal não pode ser duvidada. Conciliar amor divino com penas eternas é crença de milhares de pessoas através dos séculos, por isso a igreja católica sobrevive forte, por isso evangélicos se multiplicam tanto. Mas será que é vontade de Deus ou a versão dos homens sobre ela? 
      Será que para se provar uma experiência com Deus, com o mundo espiritual, basta isso, acreditar? Cegamente? Sim, o plano espiritual exige escolha e fé, mas escolha racional e fé inteligente, essa é a percepção que podemos ter hoje, no século XXI. Por que este espaço faz tanta critica ao cristianismo tradicional do catolicismo e do protestantismo? Para demonstrar que religião é coisa de homem e não tem que ser absolutamente crível. A intenção aqui não é desacreditar Deus ou Jesus, mas os homens, ainda que sejam líderes religiosos, teólogos, mestres e profetas de suas crenças. Entende isso quem quer fazer uma escolha racional através de uma fé inteligente, que foca diretamente no Deus Altíssimo, não em dogmas.
      Tradições seculares, grandes catedrais, templos luxuosos, concílios, convenções, teologias, instituições, escolas, hierarquias, títulos, papa, bispos, “apóstolos”, padres, pastores, reverendos, missionários, diáconos, presbitérios, tanta pompa e circunstância hipnotiza as pessoas, seduz e amedronta. Concordo que é preciso coragem e iluminação para ir contra tudo que esses ensinam, e não só como religião, como verdades irrefutáveis. Mas também não podemos negar totalmente o cristianismo do mundo, ainda que distorcido foi usado por Deus para levar Jesus à humanidade por séculos. Demonizar radicalmente catolicismo e protestantismo é negar a providência divina que permitiu e teve bom propósito nessas religiosidades. 
      Mas no tempo em que vivemos o homem mudou, dizermos a nós mesmos que certas coisas são como são porque Deus quer que sejam assim não basta, principalmente se o que acreditamos que Deus diz, na verdade é dito por homens, não por Deus. Muitas pessoas, contudo, estão convencidas que creem certo, e que suas igrejas estão certas, simplesmente não enxergam que mentira não pode gerar verdade, só mais mentira. Que mentiras um cristianismo pela metade gera? Vidas infrutíferas, de homens que por mais esforçados e sinceros que sejam, não conseguem pôr em prática os ensinos do Cristo, e não conseguem porque as próprias igrejas que eles tanto defendem e temem, não lhes dão meios para viverem isso. 
      O que depõe contra o cristianismo do mundo, que se funcionou pela metade, hoje pode não funcionar mais, se quer saber nem são ensinos teológicos equivocados, sobre o fim dos tempos e a eternidade por exemplo, isso na verdade nem importa tanto. O que depõe é a inviabilidade de se viver o exemplo de amor de Jesus homem, que existe no que catolicismo e protestantismo entregam à humanidade. Essa responsabilidade será cobrada de líderes religiosos um dia. Mas depende de nós, seguirmos enganados, confortáveis em religiões, hipócritas, ou buscarmos a Deus e sabermos o que de fato ele quer para nós. O que ele quer é que vivamos o amor de Jesus sem precisarmos pagar preços desnecessários a homens. 
      O que Deus quer não muda, e se mudar é porque nunca foi vontade de Deus, ainda que instituições cristãs poderosas digam que seja. Quem seremos na eternidade? Não pense que ter sido batizado, crismado, ter feito primeira comunhão, recebido título em igreja cristã, aliará algum valor moral ao teu homem interior. Na eternidade seremos aquilo que retemos em nós da verdadeira vontade de Deus, virtudes que foram fixadas ao nosso espírito através de perseverantes obras. “O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” (Apocalipse 3.5-6).

Esta é a 15ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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