sexta-feira, junho 30, 2023

Como nasce o preconceito

      “Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor.I Coríntios 4.5

      Temos a tendência de beneficiar quem é mais parecido conosco, quem faz parte do mesmo grupo social que nós. Para isso, é difícil não usarmos critérios que não sejam materiais, nos basearmos no que nossos olhos veem, no que os homens valorizam, características físicas, status quo. Contudo, só uma ótica espiritual do ser humano nos impedirá de sermos de alguma maneira preconceituosos. Responda uma pergunta, numa situação terrível, onde tivesse que escolher entre duas pessoas uma para morrer, qual você deixaria viva nas seguintes condições: uma criança e um velho, uma mulher e um homem, um homossexual e um hétero, um não cristão e um cristão, um negro e um branco, um amigo e um desconhecido? 
      Se alguém for um cristão protestante que de fato conhece a doutrina em que diz crer, entenderá que a vida é uma oportunidade no mundo para aceitar Jesus como único e suficiente salvador e se livrar do inferno eterno. Entenderá também que mais tempo é mais oportunidade para acertar e também para errar, assim um velho pode ter errado mais que uma criança, e se crianças não pecam têm direito ao céu ainda que não tenham feito decisão racional por Cristo. Apesar de parecer cruel, a morte de uma criança é menos danosa para a própria criança, nesse ponto de vista. Parece uma análise fria demais? Mas se é assim, por que nos apegamos tanto às crianças, por que somos capazes de morrer para livrá-las da morte? 
      Essa tendência natural de todo ser humano minimamente sadio emocional e psicologicamente, revela algo mais profundo sobre o ser humano e sua existência, que o que a doutrina tradicional protestante diz. Se vermos a vida, não como livramento do inferno, mas como encaminhamento para o céu, entenderemos que crianças e outros seres humanos mais fragilizados no mundo atual, oprimidos e descriminados por algum motivo na sociedade, precisam mais de tempo nesse mundo, que outros mais fortes e privilegiados. Velhos já tiveram tempo para fazerem as melhores escolhas e saírem do mundo melhores, crianças ainda não, não se as vermos como espíritos eternos, não como seres menores por causa da pouca idade de seus corpos. 
      Nessa ótica, uma criança inocente precisa de mais tempo para viver, amadurecer e evoluir que idosos. Respondendo à pergunta do início, o ideal seria darmos oportunidade para seguir vivendo quem mais precisa dessa oportunidade para se aproximar mais de Deus, assim um assassino precisa de mais tempo de vida que um homem de bem. Veja que fazer essa escolha implica em misericórdia e graça, que não condena mesmo o pior dos pecadores, mas dá a ele nova chance para se acertar. Nesse ponto de vista, suicídio e pena de morte são coisas inadmissíveis, é apressar o juízo tentando fazer justiça com as próprias mãos, não temendo a Deus, o único justo juiz, o único que decide sobre o tempo de provas dos homens no mundo. 
      No exemplo do assassino e do homem de bem há algo mais fácil de ser identificado, já com pessoas parecidas moralmente a escolha fica mais difícil, pelo menos para nós seres humanos, que não conhecemos o coração dos homens como Deus conhece. É claro que se buscarmos a Deus, ele nos dá discernimento espiritual sobre as pessoas. O fato, contudo, é que temos a tendência de privilegiar quem é mais parecido conosco. Outro fato é que a teologia tradicional protestante, se aceita de forma rasa, tem mais a tendência de condenar que de salvar, com mais facilidade mantém conceitos baseados em conhecimentos passados, levando-nos a pensar que alguém que cometeu um grande erro perdeu os direitos e não tem mais salvação. 
      Quantas vezes vimos alguém errar pela segunda, pela terceira, pela quarta vez, e dissemos, “agora não tem mais jeito, está tudo perdido para essa pessoa”. Saibamos, eu e você, que quando dizemos isso pecamos contra uma virtude de Deus, que move todo o universo e todos os seres humanos, o amor do Senhor. Deus nunca tem pré-conceitos, porque ele sempre nos olha e nos trata como aquilo que de melhor podemos ser, não pelos nossos erros, ainda que reincidentes. Deus não vê diferenças em seus filhos, ainda que permita as diferenças para que cada filho seja provado, aprovado e evolua. Qual ser humano Deus deixaria viver? Todos. Essa precisa ser também nossa maneira de ver as pessoas, uma maneira espiritual. 

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