sexta-feira, janeiro 26, 2024

Doce amargura

      “E a voz que eu do céu tinha ouvido tornou a falar comigo, e disse: Vai, e toma o livrinho aberto da mão do anjo que está em pé sobre o mar e sobre a terra. E fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. E ele disse-me: Toma-o, e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel. E tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; e na minha boca era doce como mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo. E ele disse-me: Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e reis.Apocalipse 10.8-11

      O tempo muda muitas coisas, com o seu passar até nossa amargura fica doce, mas isso se a decantarmos com Deus. Muitos podem não entender, não ainda, mas é filtrando nossos erros e fraquezas que o Senhor tira o melhor de nós. Amargura é necessária, prova que vivemos, quem vive, erra, mas também pode provar, após errar, arrependimento. O perdão não faz com que todas as consequências de nossos erros simplesmente desapareçam, há resto de remorço, de culpa, que mesmo o perdão de Deus não anula, que gera um gosto amargo dentro de nós. É essa amargura que nos lembrará que certas coisas que fizemos nos magoaram e a outros, por não esquecermos, não desejaremos cometer o mesmo erro de novo. 
      Com o tempo aquilo que era amargo adocica-se, nos confere identidade, maturidade, uma boa malícia, mas é mais que isso, é sabedoria. O tempo nos deixa no final meio capengas, ninguém que viveu chega no fim com dois pés, duas mãos, dois olhos, dois ouvidos, temos que perder algo no caminho. Isso não é prejuízo, é medalha de honra, que recebem soldados que participaram de guerras importantes, foram gravemente feridos e sobreviveram. Desconfie de quem diz ter chegado no fim e estar inteiro, quase igual ao que era no início, esse na verdade não viveu, não lutou, não se machucou, não perdeu e também não ganhou e não mudou para melhor. Temos que chegar vivos, mas com cicatrizes de feridas fechadas. 
      Uma doce amargura, contudo, muitos podem conter, mas quem se humilha diante de Deus e o obedece verá todo amargor adocicar-se no final, o Espírito Santo faz isso em nós. Haverá memórias, aquele olhar profundo que sempre procura algo mais nas coisas e nas pessoas, um calar que sabe a resposta, mas não a diz, não para qualquer um, mas haverá vida eterna. Eis o processo da existência, começa doce e ingênua, amarga-se até que as ilusões morram, então fica insuportável, mas lentamente a amargura vai sendo decantada, filtrada, e do pior veneno surge o licor mais doce, puro, raro. A destilaria de Deus é o tempo, mas o trabalho que faz funcionar essa destilaria é a humildade, os humildes serão doces no final. 

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