13/02/20

Não se preocupe com o tempo

      “E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna. Porém, muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros.Mateus 19.28-30

      O texto inicial é o final da passagem onde um jovem rico procura Jesus, tal jovem queria saber o caminho da vida eterna, e ele era de fato um bom religioso. Contudo, conhecendo como sempre a verdade do coração humano, Jesus revela ao jovem aquilo que ele não queria ouvir, que não bastava ser um bom religioso, com uma vida moral e social correta, ele teria também que abrir mão daquilo que era importante para ele, riquezas materiais. Talvez para outro rico, Jesus teria dado uma orientação diferente, um rico que talvez pelas contingências da vida fosse rico, mas que na verdade não era preso à riqueza, mas no caso do jovem em questão, riqueza era um ponto sensível, algo que ele deveria se desprender se quisesse conhecer a eternidade melhor com Deus. Riqueza não é necessariamente problema, mas para o jovem era. 
      Os discípulos ficaram preocupados com a revelação, mas Jesus lhes disse que nada que se faz para Deus fica sem recompensa, assim se alguém abre mão de algo importante pelo evangelho terá com certeza honra retribuída por Deus, principalmente na eternidade. Contudo, sempre conhecendo o coração do homem, Jesus faz uma nova revelação, essa é o ponto dessa reflexão, “muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros”, ou em outras palavras, ninguém se julgue melhor por ter começado a seguir a Jesus antes e nem menos privilegiado por ter começado a seguir Jesus depois. Para Deus, ao contrário de para nós, tempo não significa nada, apenas a sinceridade do bem que busca o Deus altíssimo com todo o coração, em verdade e com fé, para Deus qualidade vale mais que quantidade.
      Com sessenta anos faço certas medidas, e muitas vezes chego a conclusões equivocadas, acho que por ter vivido algumas décadas tenho certos direitos, mas também me considero com pouco tempo para começar certas coisas e ganhar novos direitos. O texto inicial, contudo, pelo Espírito Santo me consola, me ensina que mesmo que eu comece a acertar só agora e que me reste pouco tempo para ser melhor, não importa. O que importa é a qualidade da minha escolha e do que eu vou construir sobre ela. Ainda que eu tenha pouco tempo, se eu for humilde, benigno, persistente, verdadeiro comigo mesmo, com as pessoas e com Deus, o Senhor saberá e me dará retorno adequado, mesmo que eu, a essa altura, queira fazer o que é certo só para cumprir meu dever no mundo, adorar a Deus e abençoar minha esposa e minhas filhas. 

12/02/20

Deus é acessível a todos

      “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.Mateus 18.20

      Sou um crítico da igreja cristã oficial, de todas as denominações, seja a católica, as protestantes, as evangélicas, quem acompanha o “Como o ar...” verifica isso, defendo uma igreja cristã pura e bíblica, a que estava no coração de Cristo quando esse falou aos apóstolos no momento de sua subida ao céu transformado após ter ressuscitado, ou a que pode mais se aproximar dessa na medida do possível. Muitos podem dizer que isso é tão impossível quanto desnecessário, impossível porque onde há o homem há o erro, desnecessário porque Deus na verdade nem se importa tanto com essa integridade, se se importasse nenhum homem seria abençoado na história da humanidade.
      Contudo, esse último argumento, que diz que a procura de uma igreja ideal é desnecessária, acha base bíblica no texto inicial, e isso nos ensina algo sobre o amor e a graça de Deus, “se somente dois me buscarem juntos, isso já constitui uma igreja e eu no meio dela estou”, diz Mateus 18.20. Sim, ainda que não gostemos de certos ajuntamentos, que discordemos de seus costumes, mesmo que achemos, do alto de nossa (ou de minha) arrogância que essa ou aquela igreja é herege, se há uma busca verdadeira a Deus por meio de Jesus, Deus ouve e responde. Eu ou você podemos não concordar com isso, mas creia, é assim que Deus age, que sempre agiu. 
     O homem complica as coisas, a religião, a espiritualidade, os ritos, as invocações, as rezas, as doutrinas, mas Deus é simples com os simples, se há busca genuína ele permite ser achado, por qualquer um, em qualquer lugar, qualquer mesmo. Deus olha o coração e fala, docemente, poderosamente, verdadeiramente e simplesmente. Quem o ouve se alegra, se consola, é alimentado, é restabelecido, curado, perdoado, levantado com esperança e com novo vigor. Busquemos a Deus com persistência, em profundidade e em verdade, o que caminha com ele há anos tem o dever de crescer, e muito há de se saber sobre Deus e a razão de nossa existência no universo.
      Todavia, não impeçamos nem nos escandalizemos com o pequenino que se aproxima de Deus com pouco conhecimento, mas com um coração aberto e sincero, esse tem o mesmo direito que nós de se abrigar nos braços do Pai eterno. Muitos doutores na lei, teólogos no evangelho e profundos conhecedores dos mistérios espirituais, se surpreenderão na eternidade, ao constatarem que todo o seu conhecimento não lhes conferiu qualquer graduação a mais de espiritualidade, e que aquele que eles achavam ignorantes, superficiais, mesmo hereges, ganharam uma intimidade com Deus que eles chamais tiveram, só porque se aproximaram do Senhor sem vaidade e sem segundas intenções. 

11/02/20

Com ou sem muletas?

      “Pois tu és a minha esperança, Senhor Deus; tu és a minha confiança desde a minha mocidade. Por ti tenho sido sustentado desde o ventre; tu és aquele que me tiraste das entranhas de minha mãe; o meu louvor será para ti constantemente.Salmos 71.5-6

      Todo vício é uma muleta emocional, anda de muleta quem não consegue andar só com as próprias pernas, assim precisa de um artifício para desempenhar uma função que normalmente poderia fazer sozinho. Muletas emocionais são agregadas de tal maneira às vidas das pessoas que essas acabam acreditando que as muletas fazem parte delas, e que assim são suas aliadas, amigas e por isso devem ser protegidas, mesmo adoradas. Dessa forma muleta é um vício que se torna um ídolo, algo falso que se coloca no lugar de algo verdadeiro, material ou não, mesmo de Deus, ser espiritual. Eu e você, conseguimos andar sozinhos ou somos dependentes de muletas? 
      Como se tornam amigas, companheiras, caminhar sem muletas pode trazer a princípio um sentimento de solidão, podemos até tentar andar sem elas, mas sentindo-nos sozinhos voltamos a elas, é preciso coragem, força, para andar sem muletas. O caminho mais alto com o Deus verdadeiro muitas vezes (ou quase sempre) é solitário, ao menos em alguns aspectos, assim pode ser secreto. No segredo não achamos aprovação humana nem aplauso de homens, mas nele provamos uma comunhão diferenciada com Deus. Conhecer a Deus intimamente não é para todos, só para os íntegros e libertos de muletas, de vícios e de ídolos, sejam quais forem as muletas, os vícios e os ídolos. 
      Religião pode ser muleta tanto quanto drogas, vício pode ser tanto gostar de más companhias quanto assistir cultos, e ídolos não são apenas santos romanos, podem ser também heresias retiradas da Bíblia. A pergunta, contudo, é simples: como queremos andar, com as próprias pernas ou com muletas? Cuidado, muita coisa que muitos de nós achamos ser espadas e escudos, armas de ataque ou ferramentas de defesa, são na verdade muletas, não nos deixam mais fortes e protegidos, mas fracos, dependentes, viciados, idólatras. Só sabemos de fato se usamos muletas e só entendemos que precisamos nos livrar delas, quando temos um encontro real com Deus, um encontro muitas vezes solitário e secreto. 

10/02/20

“Sobre ele deves dominar”

      “E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou.” Gênesis 4.6-8

      Todos nós temos tendências ruins, pecaminosas, egoistas, que buscam direitos de maneira injusta, isso será até o fim de nossas existências neste mundo, portanto é a constante. A variável maravilhosa que Deus nos chama para viver em Cristo, é o domínio sobre essas tendências, que permite que o nosso desejo não se torne ação. Caim tinha uma tendência, tinha um desejo, mas ele não buscou domina-lo em Deus, antes foi dominado por ele e assim se tornou assassino de seu próprio irmão. Por quê? No caso dele foi por inveja, alimentou uma insegurança tão grande, que o acabou levando a matar aquele que ele achava que era melhor que ele. 
      Não nos iludamos, ninguém está livre de seus maus desejos, assim como ninguém pode fugir da responsabilidade de controlar esses desejos, ou então pagar um alto preço pelas consequências de desejos ruins realizados. Contudo, todos nós podemos escolher andar com Jesus, o tempo todo, para assim ter vitória sobre as tendências ruins que dia a dia nos tentam. “Sem mim nada podeis fazer.” (João 15.5b), tenhamos cuidado, não coloquemos a culpa de nossas fraquezas em homens ou em diabos, mas “se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito” (Gálatas 5.25), sempre conscientes de que sem Jesus nada podemos fazer. 

09/02/20

Adoração: santidade e liberdade

      “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.Filipenses 2.3-8

      Vemos nas igrejas protestantes e evangélicas tipos diferentes de atitudes durante o período denominado louvor. Alguns ficam calados, só observando o ambiente, outros cantam, acompanham a música com alguma som e quando se pede pelos ministros, mesmo com palmas, outros cantam emocionados, batem palmas quase o tempo todo numa interação maior de corpo e alma. Dizer que qualquer um desses três tipos presta uma adoração mais verdadeira a Deus não nos compete, não nos compete mesmo, infelizmente o julgamento é erro que muitos cometem, e pior ainda, que pastores e ministros de louvor cometem. Como vemos líderes de louvor dando ordens de comportamento, querendo nivelar todos por aquilo que acham que é mais “espiritual”, mandando cantar mais alto ou bater mais palmas.
      As pessoas têm níveis de expressão emocional diferentes, isso se deve às suas personalidades moldadas por criações diferentes como também por pré disposições naturais distintas. Algumas dessas características podem mudar com o tempo, precisam que algumas áreas da vida sejam curadas para que a pessoa se “solte”, digamos assim, mais em público, contudo, muitas pessoas não manifestarão grandes diferenças, mesmo depois de experimentarem curas psicológicas e espirituais profundas e verdadeiras. Outras pessoas, contudo, parece já nascerem “soltinhas”, mas essas ”mexerão o esqueleto” tanto num período de louvor quanto ouvindo um pagode, um sertanejo ou uma música eletrônica, farão isso sem maiores dificuldades e mesmo sem que ninguém precise “ministra-las”.
      Período de louvor deveria ter só duas regras, santidade e liberdade, mais nada. Em primeiro lugar os tais “ministros” deveriam ter a obrigação de levar as pessoas a entenderem a seriedade do momento, que louvor não se presta com o espírito de qualquer jeito, que adorar a Deus é entrar em sua presença mais íntima e nessa experiência somos levados a nos santificar. Assim um momento para oração, assunção de pecados e posse de perdão é imprescindível para que uma adoração real a Deus exista. Contudo, depois disso, que as pessoas tenham liberdade para adorar cada uma à sua maneira, que “ministros” parem com a deselegância que muitos chamam de espiritualidade de mandar as pessoas se levantarem, sentarem, baterem palmas, e o pior de tudo, dançarem e fazerem coreografias.
      Isso tudo não tira necessariamente de ninguém uma adoração melhor, só deixa os “soltos” mais soltos, e os mais discretos, desconfortáveis. Quer levantar, dançar? Esteja à vontade. Quer ficar sentado com os olhos fechados cantando em som mais baixo? Não tem problema. Que ninguém julgue ninguém, mas que ninguém escandalize ninguém, que se olhe só para Deus durante a adoração pública e permita-se que cada um preste sua adoração como quer. Para que isso ocorra em primeiro lugar os líderes de louvor devem ser mais maduros, não basta ter uma boa voz e vontade de pegar microfone, o que muitos fazem só por vaidade, ainda que se achem chamados e ungidos, apoiados por pastores também equivocados, sejam manipuladores ou imaturos. 
      A imaturidade leva muitos líderes a exigirem tal e tal atitude dos outros por insegurança pessoal, e não por se preocuparem com a qualidade do louvor dos outros. Liderar adoração nos cultos não é momento para que o líder tenha um momento de louvor pessoal, isso não é a prioridade, mas para permitir que os outros tenham esse momento, ainda que o líder tenha que abrir mão de valores e liberdades, que pessoalmente para ele permitiriam uma adoração melhor. O líder de louvor precisa ter humildade e maturidade para pensar nos outros, e não em si mesmo, para isso pode ser que precise cantar menos, fazer menos segundas vozes, momento de louvor coletivo não é espaço pra solos e apresentações de alguns, mas para a adoração da maioria possível. Bons solistas nem sempre dão bons ministros de louvor. 
      Por isso, a maneira do líder cantar, o tipo de música que escolhe para a igreja cantar e o jeito como lidera a congregação, devem ser sempre visando santidade, sim, qualidade, sim, mas também liberdade para que cada um adore do jeito que prefere. É de conhecimento geral que a música se tornou um marketing importante em muitas igrejas, mais que oração e palavra, assim importa a muitos que querem igrejas cheias terem um “período de louvor” onde todos participem. Esse desvio conduz as pessoas a acharem que experiência com Deus é emoção, alegria, e não prática de vida amorosa e misericordiosa, mas também é terreno propício para heresias como teologia da prosperidade, fé na fé e dizimolatria, enquanto isso Deus de fato não é adorado, enquanto isso se olha para baixo e não para o alto. 
      Quem perde com isso são as pessoas, não Deus, Deus não é menos Deus quando as pessoas não o adoram, mas nós somos melhores à medida que o adoramos. Mas ainda que filho legítimo de Deus e não só um bom religioso, se não adora o altíssimo perde o privilégio de experimentar o nível mais alto e íntimo de espiritualidade, muitos, com medo de perderem o “controle”, têm negado a si mesmos essa maravilhosa experiência, limitando-se a uma adoração meramente intelectual. Mas o nível de verdadeiro adorador nos liberta mais quem a alegria passageira de cantar músicas religiosas, mais que uma interação só emocional e física com uma comunidade cristã, aliás, muitos se enchem de uma coragem para se mostrarem cheios do Espírito nos cultos, a mesma coragem que se ausenta para se mostrarem cristãos diferentes no mundo.
      As melhores experiências que tenho com Deus são na privacidade de meu lar, numa sala escura na madrugada, enquanto esposa e filhas dormem. A liberdade e a santidade que experimento nesses momentos é o que me faz continuar no evangelho, seguir estudando a Bíblia e confiando em Deus. Talvez os que me vejam quieto durante um período de louvor não saibam disso, e vejam que sou músico, trabalhei por anos atrás de um piano, de um órgão e de teclados, vendo a igreja receber chuvas de bençãos no período de louvor. Mas ainda assim, tendo experimentado dons no Espírito e tantas outras experiências espirituais, prefiro, em culto público, quando estou sentado com a congregação, uma atitude de tranquilidade, de menos sons e gestos, esse é o meu jeito de melhor adorar a Deus, mas é só o meu jeito. 

08/02/20

Isaías 35 - Profecia para todos!

      “O deserto e o lugar solitário se alegrarão disto; e o ermo exultará e florescerá como a rosa. Abundantemente florescerá, e também jubilará de alegria e cantará; a glória do Líbano se lhe deu, a excelência do Carmelo e Sarom; eles verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus.Isaías 35:1-2

      Uma das belezas singulares da Bíblia é que suas palavras proféticas não são só predições do futuro, mas são palavras poéticas, isso revela muito sobre a espiritualidade mais pura e alta, ela é plenamente harmoniosa esteticamente, responde à razão, à emoção e também ao espírito. A glória espiritual de Deus é metaforizada na glória terrena e humana, da natureza, da arte e do melhor que o homem pode construir. 
      A profecia do capítulo 35 de Isaías, sobre o futuro glorioso de Israel, livre do cativeiro e tendo seu melhor momento restaurado, é compartilhada com essa harmonia, que emoção o profeta deve ter experimentado quando recebeu do Espírito Santo tal revelação. O maior dos mistérios, porém, é entender que a mais sublime das glórias divinas é revelada em Jesus, o verbo do Deus altíssimo. 

      Fortalecei as mãos fracas, e firmai os joelhos trementes. Dizei aos turbados de coração: Sede fortes, não temais; eis que o vosso Deus virá com vingança, com recompensa de Deus; ele virá, e vos salvará. Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão. Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará; porque águas arrebentarão no deserto e ribeiros no ermo. E a terra seca se tornará em lagos, e a terra sedenta em mananciais de águas; e nas habitações em que jaziam os chacais haverá erva com canas e juncos.Isaías 35.3-7

      Em seu amor único, Deus não dá em primeiro lugar a profecia aos rebeldes e maus que traíram sua aliança e levaram Israel a sofrer a disciplina do cativeiro, não, Deus a dá aos fracos, aos humildes, aos que sofrem injustamente por causa de erros de poderosos e líderes ruins, devassos e gananciosos. Mas a palavra profética de libertação iminente promete milagres, cegos verão, surdos ouvirão, coxos saltarão e mudos falarão. 
      Será que a profecia se refere a problemas físicos, a deficiências no corpo material? Não, os cegos, surdos, coxos e mudos o são espiritualmente, essas limitações não nasceram com eles ou lhes foram atribuídas por acidente, mas eles mesmos as adquiriram por terem se afastado de Deus e consequentemente serem levados cativos. A prisão tira direitos, de ir e vir, de se expressar, de escolher o próprio caminho.
      A disciplina do cativeiro, todavia, depois de executada, tem a função de despertar o homem espiritualmente e trazê-lo novamente para perto de Deus. É claro que quando isso acontece a benção se manifesta também no plano físico, a saúde é curada e a prosperidade material é restabelecida, tudo entra novamente em sincronia com o melhor do plano de Deus e o homem passa a ter novamente liberdade. 

      E ali haverá uma estrada, um caminho, que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para aqueles; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão. Ali não haverá leão, nem animal feroz subirá a ele, nem se achará nele; porém só os remidos andarão por ele. E os resgatados do Senhor voltarão; e virão a Sião com júbilo, e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido.Isaías 35.8-10

      As profecias do antigo testamento bíblico têm sempre mais de uma camada, a primeira refere-se a predição de fatos históricos futuros como resposta a situações históricas do presente e do passado do povo judeu. A segunda, no caso de profecia para a nação física de Israel, refere-se também à Igreja universal, abrangendo o conceito do povo de Deus judeu para o povo do reino de Deus estabelecido pelo evangelho de Cristo. 
      A terceira camada refere-se à minha e à tua vida, à aplicação que fazemos do ensino genérico para as nossas existências atuais. Essa terceira interpretação muitas vezes pode ser equivocada (alguns teólogos acham inapropriado seu uso), pois coloca o texto fora do contexto original, mas ainda assim, pela sua misericórdia, o Espírito Santo nos consola com textos que originalmente nada têm a ver com nossas realidades.
      A verdade é que é impossível entendermos de fato a atemporalidade de Deus, o fato dele existir sempre, não envelhecer, saber de tudo o tempo todo e de sua palavra ter diversas camadas para abençoar a pessoas diferentes e de tempos diferentes. A verdade é que a maioria de nós e na maior parte do tempo não conhece o Deus incognoscível, ele é sempre mistério, e assim deve ser. Muitas coisas preditas na Bíblia só serão entendidas por gerações futuras. 
      A profecia de Isaías 35 quando cita “resgatados” e “caminho santo” podemos dizer que se refere não só ao livramento final dos judeus de seu cativeiro, mas também aos salvos da Igreja universal (os filhos de Deus de todos os tempos e lugares) e a Jesus, ela não se refere só a Israel, mas a toda a humanidade. Muitas vezes nem o profeta tem noção do poder da palavra que está entregando, ainda que ele seja limitado o Espírito não é. 
      Mas ainda assim, Israel foi e sempre será um povo especial para Deus, eu creio que ainda que a salvação em Cristo seja uma aliança mais abrangente e completa que a Lei mosáica e o Templo de Jerusalém, Deus cumprirá todas as promessas que fez aos judeus, incluindo uma volta não como homem humilde mas como rei eterno. Deus é fiel ainda que nós não sejamos e nenhuma de suas palavras deixará de ser cumprida. 
      Eu penso que essa volta ainda não aconteceu, ela não foi a encarnação de Jesus há dois mil anos atrás, mas será aquela que ocorrerá no evento depois do arrebatamento, quando Jesus voltará em Jerusalém com os mortos em Cristo e arrebatados em meio a um conflito mundial envolvendo o mundo e a nação de Israel. No final não haverá judeu ou gentio, israelita ou cristão, mas todos seremos restaurados por Deus do cativeiro maior que é viver encarnados neste mundo. 

07/02/20

Se Deus chama, não cansa

      “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?Salmos 42.1-2

      “Eu tento orar, mas me dá um sono, fico sem assunto, não consigo orar por muito tempo”, muita gente alega isso sobre oração, principalmente jovens atuais, mas como já dissemos aqui, boa oração não é quantidade, mas qualidade. Precisamos entender que vida com Deus, desde o recebimento da salvação até todo o processo de crescimento e maturidade espiritual, é sempre vertical e de cima para baixo, é Deus chamando o homem, e não o contrário. Isso não significa que devemos ficar esperando “Deus chamar” para que oremos e o conheçamos, andando de qualquer jeito e sem vigilância, o homem deve querer, e com convicção, mas sempre obedecendo a voz suave do Espírito Santo. 
      O que vive com temor a Deus, que está sempre sensível à voz de Jesus, sentirá de maneira maravilhosa o Espírito Santo chamando-o a orar, para confessar, para adorar, para conhecer a boa, perfeita e agradável vontade do Senhor. Penso que atingimos um grau de maturidade espiritual quando oração se torna como a respiração física, natural, na medida certa, sem que precisemos forçar nada, apenas provar da presença do Espírito Santo nos chamando e nos ensinando, fazemos simplesmente porque queremos viver bem. Se Deus chama, não cansa, mas vivifica nosso espírito, ainda que nossos corpos e almas estejam tão sobrecarregados de existir neste mundo. Se Deus chama, orar é como respirar e a presença de Deus, “como o ar que respiro”, simples mas vital. 

06/02/20

Fale em línguas espirituais estranhas

      “Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem.” I Coríntios 14.39-40

      Uma prova de experiência profunda em oração com Deus é falar em línguas espirituais estranhas, aqui preciso deixar algo bem claro: não estou dizendo que os que não falam em línguas não estão tendo experiência profunda com Deus, nem que todos devem falar em línguas espirituais estranhas. Mas segue um conselho de um cristão com alguma experiência em vários ministérios, tanto protestantes tradicionais como pentecostais, se você não tiver esse dom, busque-o! Nem precisa ser para usá-lo em público, aliás em muitos casos é mais espiritual e sábio não usar dom espiritual em público que usar, vaidade espiritual também é vaidade, e pior que as outras (porque usa o nome de Deus). 
      Assim que use o dom de línguas espirituais estranhas só em teus momentos privados de oração, isso entrega uma experiência profunda com o Senhor, espiritual e emocional, que nos fortalece e nos ensina. Mas se já tiver o dom, suba mais um degrau, peça a Deus o dom de interpretação de línguas estranhas, e repito, que se também for usado em momentos pessoais de oração nos cura e consola sobremaneira. Ore, fortaleça-se no Senhor para enfrentar a vida, mas não enfrente as batalhas que Deus nos manda lutar com armas inadequadas, carnais e mesmo intelectuais, mas com as armas espirituais. Oremos, mas oremos mesmo, e se possível, revestidos dos dons espirituais.

05/02/20

Nos ocupemos com o bem

      “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito; falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coraçãoEfésios  5.18-19

      Não ocupe tua alma com coisas vãs e de pouca validade para o bem maior, que o vaidoso se iluda com com os falsos aplausos, que o mentiroso se vicie nas mentiras sobre si mesmo, que o ganancioso use e manipule para ganhar rápido o que não merece, o tempo dará sua resposta. Quanto ao verdadeiro filho de Deus siga fazendo o melhor e a tempo, trabalhando quando preciso, descansando quando necessário, mas nunca dependendo de si mesmo, mas de Deus. Não invejemos o mal intencionado que faz e acontece, e que ainda assim parece não ser apanhado e ser honrado pelos homens, a inveja congela a vida numa referência de homem, impede crescimento em Deus e amarga a alma. Fujamos de qualquer sombra de contenda, é melhor está com poucos na luz que com muitos nas trevas.
      Olhemos para frente e para o alto, nada passa desapercebido a Deus, nada fica sem medida e sem recompensa, nenhuma causa fica sem efeito, assim, não percamos tempo e energia com o que não resistirá aos anos, às provas, à luz do altíssimo. Purifiquemos nossos espíritos com o sangue do cordeiro que é Jesus, consolemo-nos com os dons do Espírito Santo, sejamos fiéis a Deus, aos nossos cônjuges, aos nossos filhos e aos nossos patrões, o resto administremos com equilíbrio nunca dando mais valor que realmente merece. Deus é com o justificado, com o misericordioso, com o verdadeiro homem de bem, com aqueles que sabem que nada são sem ele e que não fitam seus olhos na efêmera glória humana. 
      Enchei-vos do Espírito e não vos embriagueis com vinho, e vinho não é só bebida fermentada de uva, é qualquer alegria que não se baseia na justiça, na misericórdia e na paz, é qualquer obsessão que leva ao vício, que nos domina e sobre o qual não temos controle, e como vício é idolatria que tenta substituir o vivo Espírito de Deus. Religião de homens é vinho, legalismo doutrinário é vinho, fé na fé é vinho, assiduidade em cultos pode ser vinho à medida que o simples fato de não faltar a um culto se torna mais importante que praticar o que se aprende no culto. O Espírito de Deus é vida e liberdade, para obedecer a Deus sem se importar com reconhecimento humano. 
     Nos ocupemos com o bem e o maior bem é adorar a Deus, em espírito e em verdade, em palavra e na prática, diante dos homens e na intimidade. Saibamos, contudo, que a verdadeira adoração só presta um coração realmente puro, sincero do bem, quebrantado diante de Deus. O melhor louvor vem dos inocentes, crianças são inocentes, alguns tipos de limitados mentais são inocentes (e não qualquer espécie de maluco), mas os lavados com o sangue de Cristo se tornam inocentes à medida que caminham com Jesus e limpam intenções e ações. Louvor liberta, abre portas, mas o verdadeiro louvor é o que revela de fato quem somos, já que ele não vem de boca e corpo, mas do coração que se aproximou de Deus com todas as suas forças e de fato tocou o santo altar do altíssimo.

04/02/20

Orai sem cessar

      “Orai sem cessar. Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias.I Tessalonicenses 5.17-20

       Eis uma tentação que na maior parte das vezes sofre, não o cristão novo e menos atuante na igreja, mas o mais velho de igreja, o mais maduro e mesmo aquele com mais atuação em cargos e lideranças ministeriais. Às vezes entramos numa integração tão intensa com a roda viva da vida que simplesmente paramos de orar como se deve, até oramos nos cultos, pensamos em Deus, pedimos sua orientação durante situações de decisões e de seriedade, mas orar mesmo, isso não fazemos. Esse mecanismo pode se instalar de tal forma em nossas mentes que acabamos acreditando que somos espirituais, mesmo orando pouco ou errado. 
      Bem, o que é “orar mesmo”, qual a maneira certa de orar? É ter uma interação direta, profunda e a sós com Deus, envolvendo razão, emoção, fé e espírito, isso nem precisa acontecer em períodos longos, oração não é quantidade mas qualidade. Numa experiência assim confessamos todos os pecados, assumimos um desejo firme de não comete-los mais e depois adoramos a Deus, com todo o coração, com todo o pensamento e no Espírito Santo. Santidade e adoração são as provas que estamos tendo de fato vidas de oração verdadeira, já se os pecados se acumulam e se a adoração mais emocional é difícil, podemos até estar trabalhando muito na obra, mas não estamos em comunhão com Deus em oração.

03/02/20

Tranquilo mas vigilante

       “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.Mateus 26.41

      Ande tranquilo e descansado, mas só depois de ter orado e entregado tua vida nas mãos de Deus. Essa entrega deve ser constante, assim que não se passe muito tempo entre um período de oração sério na presença do Senhor e outro, nem precisa ser longo, mas tem que ser profundo, almejando sempre a santidade e a adoração. Não enfrente o dia a dia, o mundo, o trabalho e o estudo secular, e mesmo as relações sociais dentro de igreja e família, de qualquer jeito, e é claro muito menos compromissos com o ministério, compartilhamento de palavra, ministração de louvor ou direção de oração. 
      O espírito está pronto, mas a carne não, e ela pode conter a unção espiritual de forma limitada, é um vaso pequeno, assim deve ser constantemente cheio com o Espírito Santo. É importante, contudo, que se entenda uma coisa, tranquilo não significa displicente ou passivo, aquele que descansa em Deus não se enfraquece, mas fortalece-se, pois está calmo não por confiar nas ilusões do mundo, da carne e do diabo, mas por firmar-se no altíssimo. Assim, o segredo da força esta em confiar plenamente, pela fé em Deus, e crer não é fazer força, mas descansar, Deus é a nossa força.

02/02/20

Simples ou bipolar?

      “Quisera eu me suportásseis um pouco na minha loucura! Suportai-me, porém, ainda. Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo. Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.” II Coríntios 11.1-3

      Às vezes refletimos tanto, pensamos tanto, raciocinamos tanto, que nos esquecemos da simplicidade de agradecer ao Senhor por tudo, sem filosofar demais, sem se preocupar em basear-se demais na teologia, e desculpe-me se este texto se refere somente a mim, se é pessoal demais, quem me acompanha aqui entenderá minha sinceridade. Não, ser profundo, ser sério, analizar a fé, o cristianismo, a prática do evangelho com coerência, pesando teoria com prática, não é costume da maioria, aliás, uma das ênfases do “Como o ar...” é justamente sobre a ociosidade intelectual de muitos cristãos atuais, ociosidade que leva tantos a serem presas de heresias e hipocrisias. É preciso crer mas com sabedoria, com crítica, sempre!
     Contudo, só às vezes, arrogantes como eu, que se acham melhores por serem mais informados (ou se acharem mais informados), descobrem na simplicidade do primeiro amor do evangelho uma satisfação maior. Mas o que de fato é ser profundo no evangelho? O cristianismo oferece um acesso a Deus diferenciado justamente por ser descomplicado, e por isso pode ser provado por todos, de todos os tempos e lugares, de níveis intelectuais e financeiros distintos, o cristianismo é simples. Glória a Deus por isso, e por mais que precisamos ser íntegros, conhecer a Deus não só com fé e emoção mas também com razão e trabalho, não podemos nos esquecer disso. 
      Se analisarmos a história da igreja cristã no mundo, a primitiva, a católica, a protestante, a pentecostal, a neo-pentecostal e a atual (misturada e sem identidade), veremos um jogo de queda de braço. Entre quem, entre o homem e Deus? Não, isso é desnecessário tanto quanto impossível, mas entre polos de visões do que seja o cristianismo. Por um lado está a liberdade emocional no Espírito Santo e por outro lado o legalismo racional dos textos bíblicos. Mas esse jogo na verdade é do homem contra o próprio homem, que se perde na liberdade emocional e se abriga nos grilhões do racional, depois desfalece nas cadeias do legalismo doutrinário e deseja de novo a liberalidade passional do que acha que é o Espírito. 
      Os extremos ficam interessantes quando o homem deixa a simplicidade do evangelho, da fé e obras, do crer e praticar, do sentir mas avaliar racionalmente, isso dá trabalho, exige tanto conhecimento bíblico quanto vida de oração, isso exige cérebro e intuição espiritual, inteligência e dons do Espírito. Quem não quer se dar a esse trabalho considera melhor simplesmente repousar num extremo e ou não pensar mais ou não sentir mais. Equilíbrio dá trabalho, mas cansa, por isso às vezes, basta sermos simples, talvez Deus conte com o nosso cansaço, não para que estacionemos num polo, mas para que descansemos realmente nele, para que achemos o ponto de equilíbrio.
      A verdade é que o equilíbrio é uma quimera, desejado mas poucas vezes provado, somos seres bipolares, passamos a vida num jogo de queda de braço que nos leva de um lado para outro. Todavia, às vezes ser simples basta, e é nesses momentos que provamos Deus de maneira mais pura e direta, que ouvimos sua voz com clareza, que entendemos a vontade de Deus para nossas vidas e que vemos que tudo faz sentido e que somos felizes. À medida que envelhecemos no corpo e amadurecemos no espírito esses momentos aumentam, mas só quando vencemos a desesperança, que também podem ser tentação forte à medida que o tempo passa. Desculpe-me novamente se essa reflexão só serviu a mim...

01/02/20

Filosofar no Espírito

      “Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória. Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.” I Coríntios 2.7-11

      “Filosofia (do grego Φιλοσοφία, philosophia, literalmente «amor pela sabedoria» é o estudo de questões gerais e fundamentais sobre a existência, conhecimento, valores, razão, mente, e linguagem; frequentemente colocadas como problemas a se resolver. O termo provavelmente foi cunhado por Pitágoras (c. 570 – 495 BCE). Os métodos filosóficos incluem o questionamento, a discussão crítica, o argumento racional e a apresentação sistemática. As questões filosóficas clássicas incluem: É possível saber qualquer coisa e provar que se sabe? O que é mais real? Os filósofos também colocam questões mais práticas e concretas, como: Existe uma maneira melhor de se viver? É melhor ser justo ou injusto (se haver como se safar)? Os seres humanos têm livre arbítrio?“ Fonte: Wikipedia 

      Quem acompanha o “Como o ar...” já entendeu que a “pegada” aqui é filosofia, e não tem nada errado em cristão filosofar, isso usa outras partes importantes do nosso ser, filosofia é uma ferramenta, não uma religião, usada pelo nosso intelecto. Analizar aquilo que nos toca, que impressionou em nós fortes sentimentos, que mudou de alguma maneira nossas vidas, entender o que somos, porque nos tornamos assim, e o que nos leva tanto a sofrer quanto a sermos felizes, é importante. A diferença entre filósofo e cristão filósofo e que o cristão não encerra o processo na reflexão, nem está sozinho para praticar as conclusões obtidas, mas ele tem Deus morando nele numa íntima ligação.
     O cristão tem o privilégio de filosofar no Espírito Santo, que tanto o conduz às melhores conclusões quanto o fortalece para viver de fato o que concluiu, pensar é preciso, ainda que conquistemos os mistérios espirituais por fé que é o primeiro passo, depois temos que refletir sobre o mistério e chegar mais perto da mente de Deus. Quem crê e vive abençoa a si mesmo, mas quem crê, vive e pensa a respeito (filosofa), consegue verbalizar e então ensinar o que aprendeu, isso abençoa os outros. Por outro lado o motivo da humanidade ser joguete nas mãos de maus líderes religiosos é justamente porque muitas vezes deixou que outros pensassem por ela. 
     Paulo não só acreditava, tinha experiências com o Espírito Santo, praticava o evangelho e o pregava, ele também escreveu os textos maiores e mais importantes do novo testamento, que têm ensinado a igreja desde o início. Por que Deus escolheu Paulo para escrever esses textos e não outros, como João e Pedro? Porque Paulo tinha inteligência, tinha cultura, pensava e escrevia com profundidade e verdade, Paulo era também um filósofo cristão, mais do que qualquer outro escritor bíblico, refletiu profundamente sobre o reino de Deus estabelecido por Cristo, argumentou com os judeus que insistiam em permanecer debaixo da lei, mesmo depois de convertidos. 
      Salomão é outro escritor bíblico que também foi útil nos planos de Deus porque era um profundo pensador além de temente a Deus, Eclesiastes prova isso. Moisés, criado como príncipe no Egito, com a melhor educação, foi incumbido por Deus de escrever o pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia. Podemos citar também Daniel, um dos “jovens em quem não houvesse defeito algum, de boa aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e doutos em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para assistirem no palácio do rei, e que lhes ensinassem as letras e a língua dos caldeus” (Daniel 1.4), outro selecionado pelo Espírito Santo para registrar profecias sobre o fim dos tempos no nível de Apocalipse de João.
      Moisés, Salomão, Daniel, Paulo, são homens que escreviam bem porque pensavam bem, eles, e não outros, foram as ferramentas usadas por Deus para registrar mais que crônicas históricas e políticas ou biografias, mas pensamentos profundos sobre Deus, o homem e a vida, isso nos ensina que pensar, sim, é preciso, obviamente depois de crer e buscar a Deus. Eu pessoalmente creio que mais do que nunca, nesses tempos de tanta manipulação ideológica, de tanta heresia, de tantas vozes virtuais, o cristão precisa pensar mais, avaliar mais as coisas, buscar coerência entre palavras e vida. Contudo, tudo isso para voltar à simplicidade do evangelho de Jesus e de fato vivê-lo, não para se perder nos extremos. 

31/01/20

Mente de Cristo

      “Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus. As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais. Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.I Coríntios 2.12-16

      Eu amo o texto inicial de Paulo, muitos não captam sua profundidade, nele o apóstolo-teólogo une conceito espiritual com intelectual, fé com conhecimento, constrói um entendimento maduro sobre a obra de Cristo em nossas vidas, que vai muito além do leite espiritual que muitos acham atualmente que é alimento de cristão crescido quando não é. O que é leite espiritual? São as primeiras e básicas coisas do caminhar com Cristo, fé, perdão de pecados, salvação eterna, santidade e adoração, mesmo dons espirituais, que muitos acham serem efeitos de vida altamente espiritualizada, também é o início da caminhada, não o fim (como tantas vezes já refletimos aqui).
      Alimento espiritual de cristão crescido leva a um confronto com todas as realidades, sem a proteção inicial que as crianças precisam, conduz a um longo processo de cura pessoal e conhecimento divino, que não interfere na salvação, mas que permite tanto o auto-conhecimento quanto uma intimidade profunda com Deus e o mundo espiritual. Não, ninguém precisa de maturidade espiritual para ter direito à eternidade melhor e a um cuidado especial do Senhor neste mundo. Maturidade, assim como o novo nascimento inicial, é uma questão de escolha, ainda que o Espírito Santo que habita o homem após o novo nascimento atraia o filho de Deus sempre para o crescimento, mas só cresce quem se permite crescer. 
      Como sabemos se damos ao Espírito de fato liberdade? Quando experimentamos um conhecimento crescente daquilo que nos foi dado gratuitamente no início, como diz o texto. Veja bem, Deus já está em nós e nos abençoa, mas ainda assim podemos não entender ou conhecer sua atuação, porque ainda que ser curado só dependa de fé, saber como essa cura é operada depende de nós, de “filosofarmos no Espírito”, digamos assim. Isso é nos alimentarmos de comida espiritual de adulto, isso é uma escolha de trabalho, assim implica em querer isso e em se dar ao trabalho de buscar. O que nós precisamos saber é que no novo nascimento, quando o Espírito Santo nos sela, ganhamos a “mente de Cristo” e o potencial para crescer.
      “Dado gratuitamente por Deus”, “não com palavras de sabedoria humana”, “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus porque lhe parecem loucura”, isso tudo vai contra o entendimento de ocultistas e esoteristas (e filósofos) que diz que o conhecimento mais profundo pode ser adquirido por homens que queiram isso. Sim, querer é preciso, deve-se escolher querer questionar e aprender mais, mas só depois que o Espírito de Deus é dado por Deus através de uma fé que dá um pulo no escuro, sem conhecimento. Muitos podem até, por esforço próprio, adquirirem profundos conhecimentos sobre o mundo espiritual, alguns até desconhecidos pela maioria dos cristãos.
      Mas por si só ninguém nunca entenderá a relevância de Jesus, e portanto nunca será salvo e terá o melhor da eternidade. Ninguém conhece a Deus, assim Deus precisa nos dar sua mente, em Cristo, para que possamos conhecê-lo, ao menos um pouco. Ah se os cristãos entendessem de verdade a profundidade desse mistério, que recebemos a mente de Cristo, não só o privilégio de sentir a presença de Deus, mas também o intelecto de Cristo para conhecer de fato as verdades universais. Essa capacidade muitos que se acham espirituais não têm, vai muito além dê emoções, só ela pode nos levar a uma maturidade espiritual realmente verdadeira de auto-conhecimento e intimidade com o altíssimo.

30/01/20

O homem, o tempo e o fruto

      “A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um.” I Coríntios 3.13

      Não tente ofuscar, esconder ou destruir, de alguma maneira, o trabalho de alguém, que ele seja feito e que venham à tona os frutos, que esses frutos revelem as intenções, a luz, o bem de quem trabalhou para que eles brotassem. Se você tem dificuldade para se relacionar com alguém, se você, por algum motivo, se desentendeu com alguém e não conseguiu mais ter um bom relacionamento com esse alguém, não use esse desconforto como álibi para diminuir o trabalho dessa pessoa. Deus ama a todos e todos têm seu espaço de honra debaixo do Sol, mesmo que nós não gostemos de alguns ou alguns não gostem de nós, assim respeitar o trabalho de todos é temor a Deus, que nos guarda de amargura.
      Os que criticam e buscam defeitos nos trabalhos de algumas pessoas só porque essas pessoas de alguma maneira os deixam desconfortáveis com suas auto-imagens e vaidades, serão envergonhados e caminham para a solidão, ainda que sejam pessoas até mais competentes que aquelas as quais criticam. Valorizar os seres humanos, todos eles, é honrar a Deus, é adorar ao Senhor por suas criações e sua providência, que distribui com sabedoria dons e talentos aos seres humanos, assim, se os amigos merecem nossos elogios, mais ainda os que se fazem de nossos inimigos, e na pior das situações, só o nosso silêncio distante e totalmente entregue nas mãos de Deus, sem qualquer espécie de retaliação. 
     Abaixo de Deus e sob seu gerenciamento, a maior potência sob os homens é o tempo, encarnados somos obrigados a conviver e administrar o tempo, os que não têm paciência estão mais fragilizados para cometerem muitas espécies de pecados, não ter temor a Deus é basicamente ser impaciente. O tempo mostra a verdade sobre os homens, o tempo depura as intenções e prova os corações, frutos precisam de tempo para aparecerem a partir de uma simples semente escondida na terra. Assim, nunca julgue o trabalhador, não sem antes ver o fruto, e mesmo depois tema a Deus e cale-se, caso o fruto seja amargo, fruto amargo deve ser provado só pelo que o plantou, por mais ninguém.
      Mas aos que forem pacientes, que prosseguirem trabalhando, se esforçando, fazendo o melhor possível, que nem se importarem com o ponto de chegada, apenas em serem excelentes no processo, fazendo de cada dia um dia especial, aos que mesmo após terem colhido os primeiros frutos, não se contentarem e pararem para viverem de louros iniciais, aos que olharem para além da primeira morte, que vislumbrarem a eternidade, esses serão agraciados pelo tempo. Não, não é fácil ser paciente, eu que o digo, a impaciência colhe verde e azedo, assim como julga mal e injustamente, mas no Espírito podemos gerar paciência em nós para entendermos um pouco como é a essência do Deus para o qual tempo não existe. 

29/01/20

Seja!

      “Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” Filipenses 3.13-14

      Não pareça ser, seja, mas saiba, que se não conseguir ser o que deseja, você já é o que é (parece óbvio mas muitos não aceitam isso). Aceitar a verdade sobre si mesmo é o primeiro passo para ser melhor, pensar, todavia, que se é mais do que se é, impede-nos de melhorar porque em nossas cabeças já somos bons o suficiente. Assim, o desafio de vivermos em paz está em nos olharmos como realmente somos, sem medo e sem ilusão, mas ainda assim tentarmos melhorar, ao menos um pouquinho, a cada dia. Deus nos mede (e não nos julga), não pelas grandes coisas, mas pelas pequenas. 
      Existir baseados em aparência, contudo, é uma das grandes tentações do ser humano, e queremos exibir algo melhor do que de fato somos simplesmente para impressionar as pessoas. Quanto a Deus isso é impossível, ele sabe quem somos de verdade, e não nos considera mais ou menos por isso, Deus é verdade, ama a verdade, e colocou em cada um de nós uma verdade útil. Se entendêssemos e aceitássemos essa utilidade, seríamos felizes mais facilmente e realmente viveríamos no universo nossa singularidade. No final, somos o que somos, e pela misericórdia de Deus isso basta. 

28/01/20

A luz só luta pelos que estão na luz

      “Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz. (Porque o fruto do Espírito está em toda a bondade, e justiça e verdade); Aprovando o que é agradável ao Senhor. E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as. Porque o que eles fazem em oculto até dizê-lo é torpe. Mas todas estas coisas se manifestam, sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo manifesta.” Efésios 5.8-13

      Não adianta nada confiarmos que as coisas estão nas mãos de Deus, que Deus fará a sua vontade, que teremos vitória em Deus, se estivermos, ainda que falando de Deus, agindo contra ele, lutando com armas que não são dele. Não adianta invocar a luz estando nas trevas, a luz luta pelos que estão nela, Deus luta pelos que estão nele, nosso trabalho a princípio nem é lutar, mas nos colocarmos na luz, só isso dará a Deus legalidade para lutar por nós. Como nos colocamos na luz? Assumindo as verdades, todas elas. 
      Em primeiro lugar a verdade sobre nós mesmos, que somos pecadores, que precisamos assumir isso, e que queremos deixar essa condição, isso só acontece na posse do perdão único de Jesus. Depois nossa verdade diante das alianças que fazemos com a sociedade, deixando a infidelidade e as mentiras com cônjuges, trabalhando honestamente e cumprindo nossos compromissos profissionais com patrões e governo, assim como evitando usufruto de qualquer serviço por meios ilegais. 
      Mas as verdades humanas só podem ser assumidas quando nos assumimos diante de Deus, tendo uma relação próxima, pessoal e diária com o altíssimo, não só de comtemplação mas principalmente de obediência. Assim, tenhamos cuidado ao dizer, “Deus está no controle e me ajudará”, têm direito a dizer isso os que não só oram e creem, mas os que praticam a vontade de Deus, com obras na luz, com amor e em verdade. Na luz podemos lutar com as armas das luz e essas são invencíveis. 

27/01/20

Trabalho e santidade, o resto Deus faz

      “Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? (Porque todas estas coisas os gentios procuram). De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas. Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” Mateus 6.31-33

      Gostamos da consequência do ensino do texto inicial, mas muitas vezes complicamos a causa, a espiritualizamos demais, e muitas vezes, ainda que inconscientemente, deixamos a causa meio inatingível talvez para que a possamos usar como álibi para não exercê-la. Qual é a consequência? Sermos supridos por Deus em todas as nossas necessidades materiais. Qual a causa para que isso aconteça? Buscarmos em primeiro lugar o seu reino, e é aí que complicamos as coisas. Na maioria das vezes achamos que buscar o reino de Deus em primeiro lugar  é ser ativo e visto nós trabalhamos das igrejas, assim quando vemos alguém com assiduidade nos cultos, nos “altares”, com o microfone na mão pregando e orando, já achamos que esses são os mais espirituais, os que de fato buscam o reino de Deus em primeiro lugar e que consequentemente possuem vidas prósperas e vitoriosas, que engano. 
      Muitos fazem tudo isso mesmo que não tenham vidas materiais bem sucedidas, e esses podem ser os mais sinceros que fazem sem buscarem retorno material ou honra humana. Outros são frequentes na liderança e nos ministérios e de fato possuem vidas materiais bem sucedidas, mas no fundo não glorificam a Deus por isso, só a si mesmos. Outros, contudo, nem são muito vistos nos altares e nos eventos das igrejas, mas de fato buscam a Deus em primeiro lugar, o que esses fazem de diferente? Obedecem a Deus naquilo que Deus pede individualmente a eles, não para serem vistos por homens e muitos menos nas igrejas, mas por Deus. 
      É claro que para alguns Deus pede que liderem ministérios, que pastoreiem rebanhos, que sejam frequentes nos cultos, Deus usa as igrejas, todas elas e de alguma maneira, e esses organismos precisam estar em funcionamento para que muitos outros sejam abençoados, assim quem obedece esse chamado para as sua vidas, busca em primeiro lugar o reino de Deu e Deus cuida deles com carinho especial. Mas quanto a mim e a você, o que é para nós buscar em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça? Buscar em primeiro lugar o reino de Deus pode se resumir a duas coisas, e isso serve para todos: nos esforçarmos no nosso trabalho diário para a sobrevivência neste mundo e não abrirmos mão da santidade de Deus em nossas alianças, com Deus, com nós mesmos, com cônjuges, com família, com amigos, com líderes profissionais e também com igrejas e ministérios. 
      Trabalho e santidade, duas coisas que por mais dura que seja a vida, por mais teimosos e egoístas que sejamos, por mais cruel e injusto que seja o homem, devemos perseverar em fazer e buscar, até o fim, que faz isso é cuidado por Deus. Confie na promessa do texto inicial, ainda que muitos de nós passemos tempos de disciplina de Deus, desertos, quando e onde Deus nos trata para nós amadurecer, tempos em que temos só o mínimo para viver com dignidade, no tempo certo começamos provar um cuidado maravilhoso do Senhor, na área espiritual, na área afetiva e também na área material, não ficaremos milionários, não todos, mas teremos uma vida neste mundo tranquila, ainda que o mundo esteja em lutas. Mas isso só acontece aos que buscam, descobrem e praticam o reino de Deus e sua justiça em primeiro lugar. 

26/01/20

O que nos identifica como seres humanos?

      “Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado. E havendo lançado fora o homem, pós querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida.” Gênesis 3.22-24

      O que revela nossa humanidade, o que nos identifica como seres humanos? Nossas qualidades? Nossos defeitos? Nossos sonhos? Nossas frustrações? Como ser humano cada um de nós tem necessidade de mostrar coisas diferentes para identificar nossa identidade. Uns querem ser vistos como pessoas com aparência física bonita, querem se vestir bem, estarem sempre arrumados, com cabelo bom, pele boa, unhas boas, dentes bons. Outros querem ser reconhecidos como pessoas inteligentes, cultas, estudadas, com conhecimento profundo sobre as coisas. 
      Outros, ainda, querem ser conhecidos como pessoas espirituais, religiosas, caridosas, e outros querem mostrar identidade como defensores do planeta, que lutam por causas como ecologia, defesa dos animais, reciclagem de lixo etc. Mas tudo isso pode ser somente máscaras, personagens, não a verdadeira identidade humana, pode ser só maquiagem para esconder a verdadeira identidade, uma que é única, e que é comum a todos, seja qual for o poder aquisitivo, a estética externa ou a formação intelectual das pessoas. 
      Muitos não vão entender, nem aceitar, pelo menos a princípio, mas o que nos identifica como seres humanos, em primeiro lugar, é a corrupção, somos todos nós seres corrompidos, essencialmente corruptíveis, pelo simples fato de estarmos encarcerados em matéria, em corpos físicos, limitados e que nascem com uma única certeza, a morte. Não, a morte não é simplesmente uma passagem, quem dera fosse assim, o rápido movimento de um estado para outro, como a água se transforma em vapor quando submetida à alta temperatura. 
      A morte é um processo, ainda que um instante em relação à eternidade espiritual, um instante longo no plano físico. Se fosse só uma passagem, se esse termo fosse o mais adequado para a morte, ela seria rápida, mas a verdade é que começamos a morrer no exato momento em que nascemos. Contudo, espere aí, essa verdade, de que somos seres corrompidos morrendo, não é o motivo principal para que sejamos tristes, derrotados e desmotivados enquanto encarnados, e é justamente aí que nossa identidade humana adquire mais um segundo aspecto, tão maravilhoso quanto misterioso. 
      Ainda que fadados à morte nós acreditamos na vida, e em vida eterna, e ainda enquanto no corpo físico, aliás, nos dias atuais isso está ainda mais em voga. Atualmente as pessoas não aceitam o processo de morte, tanto o envelhecimento físico quanto as responsabilidades da maturidade, conquistar e manter família, todos querem ser jovens para sempre, usufruindo de uma liberdade de direitos e sem deveres. Mas quem nos atrai à vida é a porção de eternidade que nos habita, o espírito, o sopro do pai de todas as almas, espírito que mesmo encarcerado nos anima e nos faz seguir com esperança. 
      Em uma morte inevitável e com uma fé inexplicável na vida, essa é nossa identidade, uma bipolaridade inerente à humanidade, tentar repousar em qualquer outro ponto é impossível, ilusório e na verdade, desnecessário, porque o encanto da existência encarnada está em oscilar entre esses dois polos. Nessa vibração existimos, nessa onda somos humanos, assim não se engane quando a vida reluz forte como uma festa ao redor do Sol, nem dê muita importância à escuridão solitária que só tem a Lua como companhia, oscile, vibre, esteja em Deus. 
      Só Deus para nos dar paz nessa existência tão louca, estranha, sem regras, ainda que debaixo de leis universais, só Deus para nos livrar da morte eterna, nos consolar na morte temporária e dar algum sentido a uma passagem longa, doída, surpreendente e tediosa, ainda que depois que os anos passem pareça ter sido tão curta. Se a existência como ser humano é inexplicável e incerta, na infinita sabedoria do altíssimo achamos equilíbrio e direção, só um Deus “incognoscível” para dar sentido à nossa identidade irreconciliável, já que viver é aprender a viver com o inviável.

25/01/20

Auto-estima

      “Autoestima é uma avaliação positiva ou negativa que uma pessoa faz de si mesma em algum grau a partir de emoções, ações, crenças, comportamentos ou qualquer outro tipo de conhecimento de si próprio.Fonte: Google

      A ausência de auto-estima é a raiz de todos o s males? Não de todos, mas de muitos, contudo, auto-estima demasiada também pode prejudicar. Eis um tema tão falado atualmente, quando psicologia virou censo comum, onde auto-ajuda e filosofia são as novas religiões, mas ainda assim é assunto relevante, que muitos desprezam e por isso são tão infelizes. Para se gostar, antes é preciso se conhecer e se aceitar, e o problema principal ocorre aí, muitos não se conhecem ou se equivocam com relação a si mesmos, e quando se conhecem não se aceitam, não se acham viáveis para uma existência feliz.  
      Muitos se acham menos do que aquilo que são de verdade? Sim, por isso não se gostam, e isso ocorre após uma vida de maus tratos e desrespeito, sendo criados por gente que nunca elogiou mas sempre criticou e amaldiçoou. Esses foram feridos por outros? Sim, mas também por si mesmos, pois de um jeito ou de outro num determinado momento nos afastamos de quem nos faz mal, mas ainda assim podemos continuar acreditando nas mentiras que nos disseram, mentiras que diziam que somos pessoas ruins e que nunca conseguiremos vencer. Esses precisam de fato se conhecerem e acreditarem que têm qualidades e que podem ser vitoriosos e felizes com o que são.
      Outros, contudo, acham que são mais do que são, por quê? Porque foram mimados, e esse erro de criação ocorre muito nas famílias atualmente. Muitos acham mais fácil dizer sim que não, dar bens materiais que princípios morais, dar liberdade, que limitar, e esse erro ocorre apoiado por pedagogias e psicologias modernas. Isso não acontece só em famílias com alto poder aquisitivo, não, existe muito pobre mimado também. Gente com baixo poder aquisitivo, sem estudo de qualidade, e sem caráter, causa um mal maior a si mesma e à sociedade, pois para continuarem tendo o que receberam e sendo o que disseram que eram, podem cair na marginalidade e criminalidade. 
      Enquanto pessoas mimadas de alto (ou suficiente) poder aquisitivo podem se transformar em doentes psiquiátricos e dependentes de remédios controlados, além de dependentes econômicos dos que as criaram erradamente, as de baixo poder podem virar marginais. Contudo, como em tudo na vida, o problema não é o problema, já que ele não é variável mas constante, o problema é o que fazemos com o problema, como administramos algo que é inerente a todo ser humano. Acho que ninguém nunca dirá que foi criado da maneira correta, não se for honesto, se o Adão mítico que teve como pai o criador não confiou em seu progenitor e desobedeceu as melhores regras da vida, o que diríamos de nós. 

      “E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.” Marcos 12.29-31

      Quando não nos aceitamos criamos uma “persona” para existirmos, um personagem, uma mentira, pelo menos para nós, baseada em algo que gostaríamos de ser, que achamos melhor para nós ser ao invés daquilo que somos de verdade. O mundo atual é um enorme shopping center vendendo identidades, máscaras para esconder as pessoas de suas verdades? Sim, mas mais que isso, falsos refúgios que são usados pela agenda anti-cristianismo para controlar as pessoas, reconstruirem-nas à imagem da antítese do Deus verdadeiro. Essa é a estratégia da serpente desde o início. 
      Na prática ocorre o seguinte quando não convivemos bem com a verdade sobre nós mesmos, quando não gostamos do que somos: quem não se respeita não respeita os outros e não faz escolhas respeitosas para si mesmo, já que se não se acha bom não se acha merecedor do que é bom e nem dá o que o é bom aos outros. Assim o que começou mal vira uma bola de neve e só vai piorando, e ainda que por algum motivo se faça uma boa escolha não se tem repertório de vida para segura-la e passá-lo à frente. Auto-estima errada nada mais é que preservação de passado não resolvido ou mal resolvido, isso impede qualquer crescimento humano sustentável. 
      A tal agenda anti-cristianismo atual, hipócrita e falsa, ainda que diga que prega tolerância e respeito com diferenças, só conduz as pessoas a conflitos, frustrações e enganos, à medida que leva todos a acreditarem que podem tudo, como diz a falácia disneyana, “believe and your dreams come true”, falácia que está doutrinando as crianças e muitos nem se dão conta do quanto é perigosa. Sob um aspecto esse princípio é até cristão, o evangelho mesmo ensina que se tivermos fé podemos alcançar muitas coisas, mas essa fé cristã é baseada numa experiência real com o Deus verdadeiro, experiência que leva o ser humano a ter um auto-conhecimento único. Quem tem esse auto-conhecimento sabe o que é em Deus, aceita isso com humildade e aprende a buscar com fé aquilo que de fato pode ter e é bom para si. 
      Só se conhece e se ama quem conhece e ama a Deus, querer amar o mundo, as pessoas, lutar por grandes causas, se preocupar e se ocupar com o bem da humanidade, sem ter antes uma experiência de amor com um Deus altíssimo e pessoal, é inútil, no máximo levará o homem a se achar um deus, no máximo o aproximará do desejo maior dos grandes anjos caídos. O humanismo, a ciência, as entidades espirituais, por mais verdades que contenham, sozinhos, sem a experiência de salvação em Cristo, não fornecem o espelho puro e cristalino da verdade espiritual mais alta que permite ao homem não só uma visão integra do que ele é, mas a capacidade em amor de aceitar isso e ser feliz. Auto-estima equilibrada só em Jesus! 

      “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.I Tessalonicenses 5.23

      Como sabermos se temos uma auto-estima equilibrada? Se temos equilíbrio em todas as áreas de nossas vidas, física, emocional e espiritual. Aceitamos nossa aparência física, nosso corpo, nosso tamanho, nossa altura, nosso cabelo, nosso rosto, ainda que façamos o possível para ter uma boa saúde, não achamos que somos feio porque não temos aquelas referências de beleza pregadas pela mídia, pelo cinema, pela internet. Nos satisfazemos com o nosso poder aquisitivo, nos vestimos, comemos, temos a casa e o carro que podemos pagar de forma honesta, com o fruto de nosso trabalho. Aceitamos nossos limites emocionais, nossa timidez, ou nossa voluntariedade, nossa ansiedade, nossa indiferença, mesmo que nos esforcemos para sermos melhores, para reagirmos e agirmos de maneira mais produtiva e amorosa. 
      Todavia, é preciso ter um vida espiritual equilibrada, e isso a religião não fornece por si só, a simples negação dos apetites carnais não confere por si mesma, ter uma fé enorme e sincera em algo ou alguém também não significa que sejamos espiritualmente equilibrados. É preciso, como já dissemos, ter uma experiência pessoal com Deus através de Jesus, um novo nascimento em Cristo, nos tornarmos de fato filhos de Deus, e não só criaturas dele. É preciso olhar Deus de frente, Deus verdadeiro, e isso só é possível através de Jesus, nessa experiência nós também nós olhamos de frente pois em Cristo o Espírito Santo tanto nos revela como pecadores tanto quanto nos entrega o perdão para todos os nossos pecados.
      Perdoados podemos perdoar, e nisso nos conhecemos de fato e gostamos do que somos, sem maquiagem, nisso adquirimos auto-estima equilibrada. Mas isso não acontece assim, num passo de mágica, a vida é sempre um caminho, nunca um ponto de chegada, ser feliz é aprender a ser feliz no processo, e não porque se chegou ao ponto final. O universo se conhece e se ama à medida que nós, seres humanos, nos conhecemos e nos amamos, o universo se ilumina à medida que equilibramos nossa auto-estima. Assim, todo dia, é preciso olhar para Deus e depois para o espelho, se ver, se aceitar, querer melhorar, mas aceitar com humildade o que não pode ser mudado, e muitas coisas não podem e nem precisam ser mudadas.
      Deus em sua multiforme sabedoria fez a cada um diferente, belo em sua singularidade, para que sua multiforme beleza se reflita em cada um de maneira diferente, única, de forma que todos, sem excessão, possam contribuir para que o universo seja melhor e equilibrado. A beleza maior é espiritual, e essa muitas vezes passa a vida escondida dentro de nós, enquanto lutamos contra nós mesmos para revelá-la, para liberta-la. Quando entendemos isso damos menos importância à aparência física, ainda que não a desprezemos. O corpo não pode iluminar o espírito, por mais belo que seja, e arrumado que esteja, mas a beleza de espírito inunda alma e corpo e nos permite gostar de nós mesmos de forma equilibrada. 

24/01/20

Só faça teu melhor

      “E veio a mim um dos sete anjos que tinham as sete taças cheias das últimas sete pragas, e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a esposa, a mulher do Cordeiro. E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu.” “E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro.” “E as nações dos salvos andarão à sua luz; e os reis da terra trarão para ela a sua glória e honra.” “E não entrará nela coisa alguma que contamine, e cometa abominação e mentira; mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro.Apocalipse 21.9-10, 22, 24, 27 (se possível leia todo o capítulo 21 de Apocalipse)

      Ninguém, de fato, vai entender a razão maior de tua existência nesta vida, entenderá um pouco depois que você for para a próxima existência, mas ainda assim não será um entendimento completo, que te console, que te satisfaça e dê à tua vida o sentido que você tanto busca aqui, é isso mesmo que você já esteja do outro lado. Assim, faça, não te importe muito com os outros, não dependa de homens, e faça bem feito, como se cada dia teu fosse o último, faça sem esperar recompensa ou justiça, não humana. 
      Quem de fato importa está vendo tudo, e em algum momento te recompensará, não necessariamente para que os homens vejam e te honrem, e também não nesta vida, para esse nada passa desapercebido e aos seus olhos cada palavra, cada pensamento, cada sentimento, cada atitude que vivenciamos é anotada num livro, um não feito de matéria, mas de espírito, não de qualquer espírito, mas do Santíssimo, onde só uma caneta pode escrever, a da luz mais alta e pura. 
      Esse livro não envelhece, ainda que seja antiquíssimo, nem é esquecido, ainda que seja imenso, é de conhecimento exclusivo do altíssimo, na verdade  esse livro é a própria consciência do altíssimo, em quem vivemos e no qual habitaremos, nele portas se abrem quando merecemos, quando as construímos, e portas se fecham quando as desprezamos, não só com indiferença, mas com falta de paciência, com negação de misericórdia, com excesso de ego, com idolatria de superficialidade. 

      Sobre o texto inicial, a cidade maravilhosa que existe no céu espiritual são os próprios salvos, cada pedra ou mineral precioso são as virtudes de nossas existências acumuladas no plano físico, são nossas consciências purificadas habitando novos corpos espirituais. O templo em que adoraremos a Deus é o próprio Deus, compartilhado, revelado e cognoscível. Precisamos entender que a cidade e o templo foram interpretados por João, e Deus mostrou as coisas de um jeito que ele entendesse, para que uma relevância maior fosse entendida.
      Que relevância? Na eternidade os salvos e o altíssimo terão um valor, uma pureza e uma beleza ímpares, superiores a tudo o que conhecemos no plano físico, essa relevância será manifestada de forma espiritual. Nós, seres humanos encarnados, ainda que selados com o Espírito Santo, somos incapazes de mensurar e compreender o mundo espiritual, tanto o de trevas quanto o de luz, contudo, há um mistério. Ainda que inferior o mundo material é uma metáfora do espiritual, principalmente a natureza, uma metáfora construída por Deus. 
      Os que tiverem olhos entenderão o mistério de “assim na terra como no céu” (ou “tanto em cima quanto em baixo”). Mas o que foi construído pelo homem, tanto na arquitetura quanto pela ciência, também revela o céu espiritual e o altíssimo. Ainda que muitos excelentes e geniais arquitetos e cientistas não creiam no céu espiritual, o sopro de Deus está neles e é o que lhes dá as inspirações mais excelentes. O que se vê é uma sombra maravilhosa do que não se vê, o passageiro do eterno, a matéria do espírito, e matéria não era para ser inicialmente sinônimo de carne, de pecado.
      Deus não faz nada escondido, são nossos pecados que nos fizeram esconder, fugir do Éden e nos refugiarmos numa caverna de ignorância espiritual, ainda que achando que estávamos buscando o conhecimento do bem e do mal e escolhendo o caminho da ciência. O tal conhecimento (talvez?) apressado concedido pelo pecado original, criou o mistério, entregou as trevas, autorizou os grandes anjos caídos a terem autoridade no plano físico. Para descrever o céu, João usou as sombras, mesmo que com o privilégio único de ter visto o original, privilégio que nenhum outro homem teve. 
      No final do texto inicial, o livro da vida do cordeiro é citado. Bem-aventurado o homem que tem como desejo principal estar nesse livro, mas que além de desejar persiste em viver em Cristo uma vida digna, dia a dia, de estar inscrita nele. O conhecimento de quem está no livro só saberemos no final da era desse mundo físico. Contudo, se como nos ensina o evangelho, obter é abdicar, viver é morrer, ganhar é perder, talvez a grande chave para estar no livro seja existir nesse mundo sem nos preocuparmos com certas coisas, e ainda assim sendo produtivo, benigno, iluminado e caridoso. 

23/01/20

A sabedoria de Deus não está em palavras

      “Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem. Amém.João 21.25

      Jesus falava pouco, estou convencido disso, em relação ao tempo que viveu encarnado, a tudo o que sabia, a inteligência emocional que experimentava, ao equilíbrio espiritual que tinha, à prática de oração e consagração que exercia, ele falava muito menos que podia e que tinha direito de dizer. Nele não havia vaidade, hipocrisia ou qualquer necessidade emocional baseada em carência ou insegurança de convencer as pessoas sobre quem era e o que fazia, assim o pouco que falava era suficiente. Mas com certeza Jesus vivia o amor, e nesse aspecto, sim, como diz João, não haveria livros o suficiente para registrar todo o amor que ele viveu, como o tratamento que ele deu à mulher pega em adultério.
      Isso contrapõem-se aos homens que achamos sábios hoje em dia, pregadores, teólogos, filósofos, escritores, nos encantamos com belos discursos, com estudos bíblicos meticulosos, com pregações emocionais que nos levam às lágrimas e a uma intensa alegria. Mas acredite, experimentar uma sabedoria nas palavras, sejam faladas ou escritas, entender o universo, o mundo, a vida, o homem, Deus, e explicar tudo isso com simplicidade e poesia, de maneira que todos entendam e comprem o que as palavras dizem, não confere a ninguém a verdadeira sabedoria de Deus, ainda que seja uma sabedoria que fale da sabedoria de Deus. A sabedoria de Deus é prática, mais que sons gostosos de se ouvir.
      Em João 8.4-11 está parte da passagem sobre a mulher pega em adultério e trazida à Jesus, é incrível como Jesus fala pouco nesse registro, aliás, demonstrando um imenso amor parece que tenta ficar invisível. Isso foi para se abster de interagir com a armadilha que os religiosos judeus tentavam armar para ele, esses demonstrando total frieza e falta de amor com a mulher? Não, Jesus não temia os falsos e arrogantes, Jesus só sentia empatia pela mulher humilhada e procurava não humilha-lá mais ainda. Jesus não falava, ele praticava a sabedoria de Deus, a sabedoria de Deus é o verdadeiro amor, aquele que eu você precisamos tantas vezes, muito mais que palavras. Ah, como eu preciso falar menos, como eu preciso amar mais.

22/01/20

Tenho achado vida nesse conhecimento

      "E a vida eterna é esta: que conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que enviaste." João 17.3

      Nas igrejas cristãs, no cristianismo institucionalizado, eu conheci Jesus, achei o conhecimento de Deus, mas esses lugares, essas pessoas, não são o conhecimento puro de Deus, ainda que sejam, eu creio, os melhores guardadores desse conhecimento, os mais fieis, os mais puros. Nesse conhecimento tenho achado vida, tenho achado cura, tenho achado perdão, tenho achado paz e vitória. Isso não é ilusão, não é teoria, não é só religião, mas é verdade e prática, provada por mim durante muitos anos. Essa verdade e prática me fez o que sou hoje, me deu uma família e me trouxe até aqui vivo e lúcido. 
      Existe verdade em outras religiões, em outros “ismos”? Sim. Isso me interessa? Sim, todo conhecimento verdadeiro me interessa. Mas isso pode de alguma maneira desmentir as bases do cristianismo que eu provo? Não. Pode revelar algo que substitua e se eleve além do principal que aprendi com o cristianismo? Não, ainda que revele verdades periféricas que o próprio cristianismo não se aprofunde. Em Jesus eu recebi o principal de Deus, nisso há a melhor das vidas, aqui e na eternidade, e disso nunca abrirei mão. Só Cristo salva, só Jesus é o caminho direto para o Deus único e altíssimo.
      Esse conhecimento me leva a adorar a Deus, com todo o meu coração e com todo o meu entendimento. Adoração não é só verbalizar palavras lisonjeiras a Deus, não é só dizer frases de exaltação ao Senhor, também é muito mais que praticar as orientações de Jesus para as nossas vidas. A verdadeira adoração nos coloca em sintonia com o Altíssimo, harmonizados com ele conhecemos como somos conhecidos, ou pelo menos o melhor que se pode conhecer de Deus nesta existência encarnada. Adoração é vibrar com Deus, ser um com ele, e assim provar a eternidade ainda neste plano.
      O diabo imita essa harmonização, assim quando as pessoas cantam e dançam em rituais de afro-espiritismo, por exemplo, elas estão sincronizando-se com entidades espirituais. Na verdade o princípio está correto, nos harmonizamos com o mundo espiritual vibrando com ele, sentindo, pensando, crendo, colocando todo o nosso ser em sua “onda”, e isso é adorar. Os afro-espíritas exercem uma adoração profunda e verdadeira em seus rituais, ainda que com entidades espirituais do mal, demônios e diabos, e aqui não vai uma crítica, só uma constatação de acordo com a doutrina cristã. 
      Que todas as pessoas tenham liberdade para se harmonizarem e adorarem quem elas desejam, e que ninguém proíba ninguém disso, mas que todos também respeitem a interpretação doutrinária que outras religiões dão sobre o mundo espiritual e suas prioridades. Eu tenho achado vida no conhecimento de Jesus baseado no cristianismo, nesse conhecimento tenho adorado ao Deus altíssimo, e nessa adoração tenho achado harmonia com o mais alto dos espíritos, o Santo de Deus, que tem transformado minha vida de uma maneira inequívoca, isso nunca negarei e nisso persistirei até o fim. 

21/01/20

Bem em si mesmo

      “Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita; Para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente.” Mateus 6.2-4

      O bem é um bem em si mesmo, significa que só fazê-lo já é colher uma recompensa, ele não necessita de qualquer outro retorno ou reconhecimento. Isso parece simples? Mas como nós temos dificuldade para aceitar isso, e desse entendimento depende qualquer experiência real com virtude e espiritualidade. A dificuldade existe porque não nos conhecemos de fato, e muito menos a Deus, pensamos de nós mais do que somos e de Deus muito menos do que é, ainda que digamos que cremos num Deus todo-poderoso.
      Toda a espiritualidade se resume a um princípio, fazer o bem sem precisar de motivação, só fazer e ficar em absoluta paz depois, experimentando a ausência de qualquer espécie de expectativa de ganhar algo por isso. Adquirir essa paz é provarmos a mais alta e pura das virtudes, é tocarmos o centro da vontade de Deus para as nossas vidas, é sermos libertos de vaidades e orgulhos, é entendermos a essência do evangelho, é colocarmos os pés nas pisadas de Cristo, é experimentarmos na carne o melhor da eternidade.
      Mas o segredo para entender isso é conhecer e aceitar de todo o coração que nós homens não podemos fazer qualquer bem, se fazemos é porque Deus permite e realiza o bem em nós. Assim, porque não somos nós quem fazemos, não temos direito de exigir nada por isso, e ainda devemos estar muito gratos a Deus, louva-lo muito, pelo bem que foi feito, como se não tivesse sido feito por nós. Para isso é preciso vigilância e exercício, nossa alma essencialmente egoísta não pratica o bem verdadeiro com facilidade.
      O homem é confrontado o tempo todo com um pecado, talvez o maior deles, a vaidade, assim o que pouco sabe é tentado a ser vaidoso, mas o que muito sabe é muito tentado para ser vaidoso. Na prática do bem também há essa tentação, e a maior das vaidades é se achar melhor que os outros por ser espiritual, por ser virtuoso. Fazer o bem mais alto requer a mais alta das vigilâncias para não cair no pecado da maior das vaidades depois, anjos do mais alto nível caíram justamente nesse pecado. 
      Dessa forma, talvez o maior dos trabalhos espirituais não seja fazer o bem, mas não se achar melhor que os outros e consequentemente se ver no direito de fazer exigências depois de fazer esse bem. Alguns podem até serem tentados pelo diabo não fazendo o mal, mas tendo a oportunidade de fazer o bem. A saída, o escape, a solução é louvar a Deus, sempre e por tudo, assim entregamos toda glória ao Senhor, anulando toda energia que possa existir em nós para nos gloriarmos. 

20/01/20

Deus é delicado

      “E Deus lhe disse: Sai para fora, e põe-te neste monte perante o Senhor. E eis que passava o Senhor, como também um grande e forte vento que fendia os montes e quebrava as penhas diante do Senhor; porém o Senhor não estava no vento; e depois do vento um terremoto; também o Senhor não estava no terremoto; E depois do terremoto um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo; e depois do fogo uma voz mansa e delicada.” I Reis 19.11-12

      Deus é educado, elegante, os que têm ouvidos e sensibilidade saberão discernir a sua voz no meio de tantas outras, entenderão seu delicado falar e farão a coisa certa no melhor momento. Quanto aos outros, farão escolhas erradas ainda que na certeza que estão fazendo as melhores escolhas, trabalharão em vão, gastarão tempo e dinheiro, verão a vida passar sempre colhendo frutos estranhos, ainda que tenham se esforçado tanto. Por quê? Porque não tiveram paciência, não pararam um instante, para ouvir a voz educada de Deus. O que é viver de verdade? É aprender a discernir a voz de Deus em em meio a tantas outras que gritam conosco nesta vida, no trânsito, nos shopping centers e mesmo nas igrejas e em nossos lares, sem falar das milhares de vozes que falam e falam nas redes sociais da internet e na televisão. 
      Deus é delicado, manso, mas certo, direto, em sua voz não há dúvida nem confusão, quando ela fala o faz em nossos corações exatamente após nós questionarmos o Senhor sobre alguma decisão que precisamos tomar, e responde exatamente aquilo que precisamos ouvir, que nos levará ao melhor caminho. Como tenho provado esse Deus delicado, pela sua misericórdia tenho aprendido a ouvi-lo e a obedecê-lo, e graças a isso as coisas têm dado certo para mim e para minha família, minha esposa e minhas filhas, e ainda que eu, por um motivo ou outro, não tenha arrumado um tempo para ouvi-lo, ele tem protegido o meu caminho, reservado para mim o melhor, no tempo e no espaço, neste mundo e no plano espiritual. Deus é, sempre foi e sempre será delicadamente elegante comigo, toda glória ao Senhor por isso! 

19/01/20

Exercemos de fato livre arbítrio?

      “Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.João 3.18

      Até que ponto fazemos escolhas na vida, enxergamos com atenção as opções, as analisamos com calma para no final fazer a escolha de fato melhor para aquilo que de fato somos? Acho que não fazemos, pelo menos não na maior parte das vezes, para escolher é preciso que se tenha liberdade e nós, muitas vezes, escolhemos o que nos “cativou”. A palavra cativo significa escravo, bem, o escravo não é livre assim não pode exercer livre arbítrio. Eu não disse que não temos livre arbítrio, temos sim, entregue a todos nós pelo pai eterno e altíssimo de todas as almas, contudo, nós não o exercemos porque somos escravos. 
      Somos escravos do quê? Dos falsos prazeres da carne e das verdadeiras feridas da alma, isso mesmo, os prazeres são falsos, mas as feridas são genuínas, assim outra questão se levanta, não exercemos livre arbítrio e na verdade isso não importa muito, talvez não seja isso o que nos defina. Podemos escolher o melhor para sermos de fato felizes? Não, não escolhemos o melhor e muito menos precisamos ser felizes, não o tempo todo, não na maior parte das vezes, e muitas vezes, nunca. A vida é longa, mas passa depressa, nós somos sempre escravos de algo, mas ainda assim não devemos desistir de querer ser livres. 
      Escolhemos a Jesus? Essa é a melhor escolha que podemos fazer na vida e na qual todas as outras boas escolhas se basearão? Sim e não, escolhemos porque Deus nos escolheu primeiro, mas quem escolhe parece que já nasce escolhido, e quem não escolhe para que toda a sua vida foi um engano. Sem entrar na questão de que se Deus escolhe ele não dá oportunidade para alguns o conhecerem e serem mais felizes, principalmente na eternidade, sem entrar na polêmica “teologia da predestinação”, parece que algumas pessoas, por mais erradas que andem, amam a Deus, sempre voltam a ele para pedir perdão, e não fazem isso por causa de religião, como instituição ou tradição humana. 
      Por outro lado outras pessoas, mesmo que sejam boas cidadãs, prósperas materialmente, e muitas vezes boas religiosas, sempre se mantêm intimamente distantes de Deus, nunca se entregam de fato totalmente. Seja como for, Jesus é sim a melhor e mais importante escolha, seja lá por qual motivo a fazemos, talvez isso também não importe tanto assim. O que importa é seguirmos insistindo no melhor, talvez o que nos defina não seja o que fazemos mas o que tentamos fazer na maior parte das vezes, talvez o que importe sejam nossas boas intenções, por mais que, como dizem, “o inferno esteja cheio delas”, mas isso é só um ditado popular. 

18/01/20

O mal está no controle, não no caos

      “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” Gênesis 2.16-17

      A pior das opressões, das injustiças, das escravidões, não nasce da baderna generalizada, da liberalidade egoísta e irresponsável, da criminalidade, da ociosidade que tenta roubar para obter sem executar trabalho honesto em troca, mas ela vem de se tentar estabelecer à força uma sociedade justa e igualitária, impondo aquilo que alguns acham que é o melhor para uma maioria de pessoas sem que essa maioria queira de fato isso. Por incrível que pareça, neste mundo o mal maior está no controle, não no caos. 
      O pior dos males está num estabelecimento forçado de ordem, ainda que em nome do bem, porque uma pessoa ou um grupo delas achou que pode ditar para as outras pessoas aquilo que é bom, e que na verdade é bom, na melhor das circunstâncias, só para um ou para um grupo. No caos há tudo, inclusive liberdade para se fazer o bem, mas na ordem imposta só existe escravidão, bem imposto é mal. Neste mundo, contudo, há caos porque existe livre arbítrio, dado aos homens não por homens mas pelo altíssimo.
      Foi por isso que Deus só se revelou integralmente como Deus quando deu esse livre arbítrio aos homens, permitindo que o ser humano escolhesse o caos no lugar da ordem. Contudo, ainda assim, tendo do próprio Deus o melhor dos exemplos, muitos, principalmente religiosos e cristãos, e nem vou me referir a políticos e filósofos, buscam controle do mundo com aquilo que eles acham que é o melhor para mundo, para todas as pessoas. A escolha deve ser individual, e cada um escolhe e vive com as consequências disso. 
      Mas como já disse aqui outras vezes, minha crítica é para os de dentro da minha casa, nos aos das casas dos outros, e novamente vai para os cristãos que insistem em crer que podem se envolver com política exercendo cargos, apoiando e confiando em ditos cristãos que exercem cargos: o evangelho permite o estabelecimento do reino de Deus nos corações dos homens, não no mundo, o mundo jaz no maligno e será assim até o fim. Querer um mundo inteiro governado por princípios cristãos não foi plano de Deus. 
      Os querubins foram colocados no jardim do Éden (Gênesis 3.24) depois que o homem desobedeceu a ordem de Deus, eles não estavam antes guardando a árvore do conhecimento do bem e do mal (e a árvore da vida), assim o caminho até elas estava livre, para que o homem fizesse a opção que achasse melhor, comer ou não dos frutos, obedecer ou não a Deus, isso é livre arbítrio. Se as consequências são tão sérias, por que não colocar guardas nas árvores, ou melhor, por que colocar tais árvores no jardim?
      Depois da escolha pior, mais trabalhosa, mais dolorida, contudo, as coisas mudaram, e mudaram para sempre, não há mais volta somente um perdão por Jesus, perdão para a eternidade, que ainda assim não livra ninguém de continuar vivendo uma vida dura neste mundo, no plano físico. Uma vida sob controle? Não, ninguém tem nada sob controle, ainda que todos nós queiramos obsessivamente controlar as vidas alheias, de um jeito ou de outro. Alguns malucos, todavia, de tempos em tempos tentam dominar o mundo.
      O melhor que podemos fazer é seguir insistindo em tentar dar liberdade para que o Espírito Santo viva em nós, só Deus é de fato livre, o Espírito Santo é Deus em nós através de Jesus. Também temos que dizer não a qualquer espécie de controle humano, mesmo de igrejas e por pastores, dentro dos templos, mas também no mundo, controlar o mundo com o evangelho não é a maneira de Deus trabalhar, Deus não quer o mundo só quer eu e você, e isso se eu e você permitirmos.