10/01/22

Narrativa do falso testemunho

      “Não admitirás falso boato, e não porás a tua mão com o ímpio, para seres testemunha falsa. Não seguirás a multidão para fazeres o mal; nem numa demanda falarás, tomando parte com a maioria para torcer o direito. Nem ao pobre favorecerás na sua demanda. 
      Se encontrares o boi do teu inimigo, ou o seu jumento, desgarrado, sem falta lho reconduzirás. Se vires o jumento, daquele que te odeia, caído debaixo da sua carga, deixarás pois de ajudá-lo? Certamente o ajudarás a levantá-lo. Não perverterás o direito do teu pobre na sua demanda. 
      De palavras de falsidade te afastarás, e não matarás o inocente e o justo; porque não justificarei o ímpio. Também suborno não tomarás; porque o suborno cega os que têm vista, e perverte as palavras dos justos.” 
Êxodo 23.1-8

      A palavra “narrativa” está em moda atualmente no meio político, ela significa uma interpretação de fatos. Os fatos deveriam ser a verdade, e portanto impassíveis de interpretação, os fatos são os fatos, não boatos. Mas não tem sido assim, mentira também está em moda, e alguns a repetem à exaustão utilizando a estratégia que diz que mentira repetida torna-se verdade. Quando tantas falsas testemunhas se levantam me lembro das orientações da velha aliança sobre falso testemunho, eis um ensino que muitos cristãos que querem a prosperidade do antigo testamento não seguem. Isso, contudo, só é mais uma narrativa, que pega o que convém e desconsidera o resto, tomando partes da verdade inteira, mas meia verdade é na verdade uma mentira inteira. 
      Vou dar um exemplo, um bêbado, depois de passar num bar e tomar muitas cachaças, tropeça na calçada e cai dentro de um templo, no chão, desacordado, ele fica durante toda a missa. Depois, ele consegue se pôr de pé e voltar para a casa, lá, a esposa pergunta-lhe: onde esteve? Ele responde, na missa. É mentira? Não, mas é só parte da história, contudo, o alcoólatra pode construir toda uma narrativa sobre isso, dizer que a esposa é uma megera, que desconfia dele, que o calunia, mesmo quando ele está numa missa na igreja. Atualmente no Brasil existe muito “bêbado” caindo dentro de “igreja” dizendo que foi à “missa”, e não só políticos, como a mídia, ainda que ela diga ser dona exclusiva de fatos e da narrativa verdadeira. A narrativa da verdade só Deus detém. 
      Não há novidade, o homem sempre foi mau, os poderes sempre construíram a narrativa histórica que lhes convinha, o rei deposto sempre foi o vilão e o posto o herói, entretanto, o triste é ver muitos cristãos defendendo narrativas. Todavia isso também não é novidade, um estudo sem muita profundidade na história do cristianismo católico e protestante mostrará uso de narrativas manipuladas, usando até partes da verdade, mas sempre para beneficiar uns e deslegitimizar outros. O que mais me assusta é que evangélicos que ouviram por tanto tempo que o mundo jaz no maligno, que o deus do mundo é o pai da mentira, ainda são enganados, tomam partido de homens que só têm interesse em poder no mundo, esses cristãos não entenderam que sua Canaã está no céu. 
      Sobre o texto bíblico inicial, em primeiro lugar precisamos recordar que as leis de Moisés não eram para uma vida espiritual, para preparar o homem para a eternidade, isso até poderia ser consequência, mas o foco das orientações de Deus para Israel era conduta social no mundo. As leis de Moisés eram a constituição política, o código penal, recomendações de saúde e higiene, relação completa de regras para a existência de um povo de forma civilizada. Isso tudo além dos protocolos de religião, de sacrifícios, de festas, de manutenção da tribo de sacerdotes de Levi e do templo. O texto fala sobre justiça social, sobre falso testemunho e outras injustiças, isso abrangeria a todos, indiferente de classe social ou ligação afetiva, e nisso há mais que regras de cidadania.
      A orientação que chama a atenção é se vires o jumento daquele que te odeia caído debaixo da sua carga, deixarás pois de ajudá-lo?”. Deus é paciencioso, num tempo da lei de talião, de um ser humano infantil social e intelectualmente, o Senhor dava orientações para uma vida moral madura que conduziria o homem daquele tempo à espiritualidade que seria avaliada na eternidade. A lei poderia ter dito somente, ajude a todos, mas o detalhe aquele que te odeia é revelador, e não diz o que você odeia, que poderia dar a alguém motivo para não ter que ajudar o outro. Auxilie o que te odeia, ou, “amai a vossos inimigos… fazei bem aos que vos odeiam” (Mateus 5.44), se alguém já age certo não odiando, mesmo o que o odeia, faça mais, dê a outra face, ajude esse em sua necessidade. 
      O que isso tem a ver com “narrativas” e falso testemunho? Talvez não tenha nada a ver para os que não temem a Deus, mas para os cristãos isso deveria significar muito na prática de vida real. Ficarmos do lado da verdade, pagando o preço que for preciso, temos coragem para fazer isso? Mas ficar sempre com a verdade é ficar sempre com Deus, isso é possível? É, em primeiro lugar se desconectarmos Deus de religiões e de líderes religiosos, mas também se desligarmos religião de política. Sim, podemos ter religiões e relações com política, mas passando tudo pelo filtro de Deus. Se isso não acontecer, se não tivermos coragem para isso, e nisso implica não sermos aprovados por muitos homens, seremos só marionetes de narrativas de homens, portanto, falsas testemunhas. 

09/01/22

Vocação para a paz (9/9)

      “Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens.” Romanos 12.18

      Não creio que no século XXI Deus chame seus filhos para morrerem pelo que creem, não como regra, não como foi nos primeiros séculos num mundo dominado pelo paganismo greco-romano, não no Brasil ou em nações civilizadas. A morte para a qual o Espírito Santo chama não é a física em batalha da direita política contra esquerda, da democracia contra o comunismo, de crentes contra ateus, não, a humanidade já passou desse momento, e se muitos teimam em ver o final da tempos assim serão surpreendidos e manipulados. A morte para a qual somos chamados é a do ego, das vaidades, do orgulho e dos preconceitos, para que amor e justiça vençam. Será que a maioria do povo evangélico brasileiro está preparada para morrer do jeito realmente certo?
      Pelo que temos visto muitos evangélicos preferem pôr as mãos em armas e atirar contra os que o atual presidente considera seus opositores, que oferecerem a outra face e orarem pelos que os perseguem. Nessa análise nem estou dizendo que as causas pelas quais muitos evangélicos lutam e querem lutar não são legítimas, só estou dizendo que a maneira como eles querem lutar não é a maneira legítima do evangelho, não é modo de ser de pacificadores. Para que as causas fossem legítimas teriam que ser, por exemplo, por liberdade de culto, por direito de testemunhar suas crenças em público, por direito de possuir, levar e estudar a Bíblia. Mas eu pergunto, é por isso que certos líderes evangélicos estão conclamando o povo cristão para se manifestarem politicamente? 
      Não, é só para fazerem prevalecer sobre os outros a visão ideológica que eles acham ser a certa, a de Deus, eles não são prejudicados, mas querem prejudicar os outros. Tudo isso apoiando desobediência à constituição, a volta da ditadura militar, o desrespeito com os poderes judiciário e legislativo. Eu pergunto, se os evangélicos tivessem todo esse poder que agora querem ter, como eles administrariam, por exemplo, os afroespíritas? Isso mesmo que hoje a verdade seja que evangélicos destruindo terreiros de candomblé e umbanda são excessões, não é a regra que, ainda nas entrelinhas, a mídia de esquerda diz ser. Muitos evangélicos chegaram hoje num ponto que não acreditávamos que fosse possível que chegassem há anos atrás, contudo, eu temo, não sei se isso pode ficar pior.
      Os evangélicos brasileiros não são mais inexpressivos e muito menos vítimas injustiçadas, e eis o cenário para que humildade e pacificação sejam dispensáveis. Como diz o ditado, dê poder ao homem para conhecer quem de fato ele é. Bastaram mais ou menos trezentos anos para o cristianismo primitivo e puro se transformasse no catolicismo pagão e corrupto, parece que não está sendo diferente com o protestantismo. “A soberba precede a ruína e a altivez do espírito precede a queda. Melhor é ser humilde de espírito com os mansos, do que repartir o despojo com os soberbos” (Provérbios 16.18-19). “A luz dos justos alegra, mas a candeia dos ímpios se apagará. Da soberba só provém a contenda, mas com os que se aconselham se acha a sabedoria” (Provérbios 13.9-10). 
      O Espírito Santo já vinha há alguns anos me alertando sobre certos desvios, a teologia da prosperidade, a “dizimolatria”, a doutrina preconceituosa sobre homoafetivos, o uso de igrejas como empresas para fins lucrativos etc. Mas isso se restringia aos templos e às vidas internas das igrejas, contudo, bastou um político no âmbito federal surgir dizendo-se “evangélico” e com viés ideológico de direita, que o desvio tomou proporções mais sérias. Um falso cristianismo beligerante e querendo poder no mundo só segue, ainda que de maneira mais civilizada, revivendo as antigas cruzadas e a inquisição, se não com a mesma violência, com o mesmo espírito. Quanto ao Espírito Santo, permanece longe de tudo isso, chamando os filhos de Deus para serem pacificadores.  

08/01/22

Pacificadores, não soldados (8/9)

      “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.Mateus 5.9 

      Deus não chama para a batalha, mas para a paz! Ser pacificador não é escolha para um filho de Deus, não é virtude opcional, que às vezes pode ser deixada de lado, como para conquistar algo quando se considera que assim como Deus autoriza também libera meios mais agressivos. No antigo testamento Deus autorizava e apoiava guerras físicas, onde inimigos eram submetidos e muitas vezes aniquilados, incluindo mulheres e crianças desses. Mas esse definitivamente não é o modo de agir de um povo de Deus debaixo da nova aliança em Cristo, aliás nessa aliança não existe uma nação de Deus e povos inimigos, existem só indivíduos, todos chamados para a comunhão com Deus e portanto com privilégios de serem filhos de Deus, amigos entre si e em paz. 
      A marca de um filho de Deus é ser pacificador, ainda que isso custe sua vida! Isso é ponto passivo no evangelho, assim, não há espaço para embates de qualquer espécie, sejam verbais ou físicos, entre indivíduos, e principalmente entre um filho de Deus e outro indivíduo que não aceita sê-lo. Por ser essencialmente um pacificador, o filho não tem direito de ser agressivo em confrontos com a certeza de vitória só por ter Deus como pai. Mesmo o filho de Deus, se colocar-se como opressor, não terá o apoio do Senhor, e mais, pode ter uma derrota mais vergonhosa que o que não se posta como filho. Isso porque o que não se liga a Deus não precisa dar testemunho dele, mas o que se põe na posição de filho precisa, a esse Deus tem que disciplinar com rigidez. 
      Se algum pastor evangélico discorda disso que rasgue de sua Bíblia as páginas com o sermão da montanha, o das bem-aventuranças. Pode-se argumentar, “Jesus perdeu para que ganhássemos, se ele morreu nós não precisamos morrer, ganhamos vida pela cruz”. A teologia da substituição tem levado os cristãos a enganos, a ideia de que Cristo se tornou salvador morrendo, por isso tendo o poder de dar vida aos que creem nele, pode conduzir a uma valorização exagerada da fé. Os judeus precisavam de uma ideologia que lhes permitisse a passagem de sua religião para uma religião mais espiritual, que permite a religação com Deus entregue à humanidade por Jesus, assim o sacrifício de Jesus foi ensinado como substituto para sacrifícios de animais.
      Em Cristo, neste mundo, não somos chamados à vida, mas à morte, para que tenhamos direito à vida eterna no outro mundo. Por não aceitar essa vocação é que muitos evangélicos, amando mais a si que a Deus, querendo a glória do mundo e não a do céu, não aceitam a missão de pacificador. “Se Cristo morreu por mim eu posso viver”, pensam muitos, “se ele venceu o mal eu posso vencer as batalhas”, esbravejam tantos, “se Jesus é o caminho, a verdade e a vida eu não preciso me curvar a homens de religiões idólatras e satanistas”, creem tantos evangélicos. Vendo as coisas assim não se sentem na obrigação de serem pacificadores, mas “exército de Deus marchando para a batalha”, eis o entendimento equivocado que muitos fazem do evangelho de Cristo.
      Fé em Jesus não substitui obras, somente dá ao homem a paz do perdão de Deus que fortalece o homem para trabalhar e ter direito à vida eterna. Qual foi a principal missão de Jesus? Foi morrer ou foi viver? Foi substituir ou mostrar como ser? A trajetória de Cristo teve vários significados, e um ser humano acostumado, pela sua infantilidade intelectual, moral e espiritual, a mistificações e superstições, a rituais de sacrifícios de sangue, precisava de algo que impressionasse fortemente a ideia que ele tinha (e que muitos ainda têm) sobre religião que aplaca a ira dos deuses e paga o preço dos pecados. Mas Jesus foi muito mais que isso, foi o modelo de ser humano espiritual que todos devem almejar, e isso inclui dar a própria vida por amor, para ser pacificador, não soldado.

07/01/22

Não há paz mundo (7/9)

      “Porque desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à avareza; e desde o profeta até ao sacerdote, cada um usa de falsidade. E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz. Porventura envergonham-se de cometer abominação? Pelo contrário, de maneira nenhuma se envergonham, nem tampouco sabem que coisa é envergonhar-se; portanto cairão entre os que caem; no tempo em que eu os visitar, tropeçarão, diz o Senhor.Jeremias 6.13-15

      Só há paz quando há luz e verdade, nas trevas e na mentira não há paz. Só Deus tem luz moral e verdade espiritual, sem Deus há sujeira moral e engano espiritual. Se há mentira, há “diabo”, a Bíblia diz que ele é o “pai da mentira” (João 8.44). Quem vive na mentira não consegue ter vitória moral, assim há trevas, e também há “diabos”, a Bíblia diz que eles são os “príncipes das trevas” (Efésios 6.12). O que evidencia ausência de Deus e consequente presença do “diabo” é trevas e mentira, sujeira moral e engano espiritual, ainda que existam religião e ensinos bíblicos envolvidos. 
      “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.” (João 10.9-11). Eis uma definição detalhada do mal, mas será que ela se aplica só ao conceito tradicional cristão sobre o “diabo”? Se alguém se coloca em nome de Deus, pregando a Bíblia, mas roubando, matando e destruindo, também está na papel de “diabo”, ainda que diga ser sacerdote cristão. 
      Pelos frutos alguém é reconhecido, não pelas palavras ou pelo marketing. Alguém pode dizer, “as igrejas estão cheias de gente com fé, sentindo-se fortalecida com o que ouve e pratica, há frutos e portanto há Deus”. Mas isso é muito relativo, o ser humano se adapta a qualquer coisa para sobreviver e adapta qualquer coisa para crer e achar respostas sobre o mundo espiritual, para o qual a ciência não tem respostas. O ponto desta reflexão é: não pode haver paz, seja num mundo sem Deus, seja em igrejas, que ainda que falem de Deus são desvios do verdadeiro caminho de Deus.
      A colheita é relativa ao plantio e plantio de mentiras tem colheita rápida. Já plantação de meias verdades, principalmente quando o nome de Deus é envolvido, demora mais tempo para ser colhida. Deus tem misericórdia de todos, se o nome dele é dito, ainda que por bocas mentirosa e para fins materialistas e egoístas, ele abençoa os que ouvem. Muitos, mesmo dentro de igrejas hereges, como foi no catolicismo e como é hoje em muitas igrejas evangélicas, querem o Deus verdadeiro, precisam dele, ainda que não saibam como buscá-lo ou não tenham lugares melhores para isso. 
      Contudo, sempre há colheita, toda mentira e trevas colherão seus justos frutos, ainda que sob o poderio de um Vaticano controlando riquíssimas catedrais em todo o mundo, ou de falsos “Templo de Salomão” que recebem milhares de pessoas em seus cultos. Infelizmente antes da disciplina, e como gatilho para ela, vem uma falsa elevação, Deus permite essa elevação para que depois, na disciplina, a maior parte possível de pessoas possa ver a queda em vergonha. Esse é o fim de um cristianismo desviado apoiando líderes políticos no mundo e desejando o conflito e não a paz. 
      Não há paz no Terra, não pode haver, lutar por ela mesmo em nome de religião é tão inútil quanto tendência à violência, foi assim no catolicismo, é assim em religiões do mundo árabe, onde se tenta criar uma sociedade conforme utopia doentia de homens e impô-la ao mundo. Brasil evangélico, volte à humildade, seja espiritual, não carnal se achando exército divino sob ordens divinas, isso é uma mentira que conduz às trevas e que num determinado momento deixará muitos envergonhados, não sem paz do mundo, mas sem paz de espírito, e essa é possível aos humildes. 

06/01/22

Paz de espírito (6/9)

      “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” João 16.33

      Se um não quer, dois não brigam, diz o ditado, só há guerra quando há dois lados se opondo, basta alguém estar com paz de espírito para não existir conflito! Ocorre que dois lados opositores se levantaram no Brasil, e ambos sem paz de espírito, e o pior é que em um dos lados se posicionam um grande número de cristãos evangélicos, os que mais deveriam praticar a paz. Se uma guerra política ideológica ocorrer em nosso país será por culpa dos últimos que entraram no embate, e infelizmente esses são muitos cristãos evangélicos fomentados por líderes evangélicos carnais.
      “Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, vos digo, mas antes dissensão; porque daqui em diante estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, e dois contra três.” (Lucas 12.51-52), amo textos bíblicos assim, que entregam superficialmente uma contradição, e eu disse superficialmente pois só é contradição aos que entendem Bíblia ao pé da letra, sem se darem ao trabalho de buscar orientação de Deus. Esse texto não apoia qualquer espécie de “guerra santa”, mas deixa claro que quem segue verdadeiramente a Deus poderá ser visto como inimigo por outros, ainda que não seja.
      Trevas naturalmente se opõem à luz, mas a luz vence só por existir, sem que precise fazer mais nada, muito menos exercer violência. Só a luz traz paz de espírito, em paz ninguém sente necessidade de entrar em conflitos. Desejo de fazer guerra é necessidade de impor um ponto de vista, tem essa necessidade quem não tem certeza sobre o que é e pensa, por isso tentando convencer a si mesmo tenta convencer os outros. A luz não argumenta, simplesmente existe e ilumina, Jesus homem vivia assim, como luz, por isso convencia por amar, não por dizer a última palavra ou se impor por força.
      “Sendo os caminhos do homem agradáveis ao Senhor, até a seus inimigos faz que tenham paz com ele” (Provérbios 16.7), muitos evangélicos deveriam prestar atenção a esse versículo. Se nada justifica violência, pelo menos não numa sociedade civilizada, muito menos é justificável aos que se denominam cristãos entrarem em guerras, mesmo que sejam só manifestações políticas por ideologias. Se agradamos a Deus a luz vence e a paz é possível, não militando por política, mas dando testemunho de amor como indivíduos com paz de espírito, ainda que num país sem paz.

05/01/22

Oremos pela paz do Brasil (5/9)

      “Orai pela paz de Jerusalém; prosperarão aqueles que te amam. Haja paz dentro de teus muros, e prosperidade dentro dos teus palácios. Por causa dos meus irmãos e amigos, direi: Paz esteja em ti. Por causa da casa do Senhor nosso Deus, buscarei o teu bem.Salmos 5.6-9

      Oremos pelo Brasil! Isso é dito em muitas igrejas evangélicas por pastores, com a intenção sincera de que haja paz e prosperidade no país. Mas será que esses entendem de fato o que estão dizendo? O Brasil tem uma população atual de quase 214 milhões de habitantes, apesar das estatísticas dizerem que a maioria é de católicos penso que seja de evangélicos e praticantes, mas existe muitos espíritas (se diz a nação mais espírita do mundo), incluindo afroespíritas, além de porcentagens menores de outros religiosos. O que se pretende para todos esses orando genericamente pelo Brasil?
      A resposta do evangelista é clara, que todos sejam evangélicos, mas será que é para ser assim? E ainda que haja um grande número de evangélicos oficialmente em igrejas, isso representaria (ou representa) um cristianismo de qualidade no país? Penso que não, e o catolicismo já provou isso, se o homem é corruptível, o poder é mais e o poder religioso é mais danosamente corruptível. O texto inicial diz “orai pela paz de Jerusalém”, num tempo em que guerras era estilo de vida e ferramenta para conquista e manutenção de poderes, paz era um bem precioso.
      O homem sempre foi beligerante, ainda é hoje e mesmo sendo cristão, mas o que de fato é querer e estabelecer hoje a paz no Brasil? Em primeiro lugar é abrir mão de tomar partido de um lado, posicionar-se no mundo é opor-se aos que se posicionam contrariamente. Mas cristãos não podem se posicionar? Podem e devem, mas não por partidos humanos, por Deus, e de maneira alguma achar que neste mundo possa existir um partido de Deus. Deus não precisa de partido no mundo, nem de representantes oficiais, seu único representante é o Espírito Santo. 
      O cristão não deve envolver-se com política? Como cidadão, sim, não como cristão. Isso é possível? É, mas é difícil e não é para todos, não querer impor o que sabe que é o melhor para o homem, respeitando livre arbítrio e administrando política para todos e não somente para cristãos, é missão que não sei se Deus dá a alguém. Por isso o melhor é exercer cidadania votando certo, não exercendo cargo político e nem fazendo campanha para políticos, principalmente em templos, ou pior, de púlpitos. Cristão genuíno tem bandeira melhor por que lutar, de paz, não de guerra. 

04/01/22

O Espírito conduz à paz (4/9)

      “Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.Romanos 8.5-6

      O ensino do texto bíblico inicial é simples, paz é inclinação do Espírito Santo, Deus nos atrai à paz, quem está em comunhão com Deus deseja e vive a paz. Por isso uma pergunta se levanta: como podem muitos evangélicos, e alguns sendo líderes desses, acharem em vida política beligerante algo agradável a Deus? Algumas respostas podem ser dadas, tentando ser justo com todas as pessoas e compreensivo com o amor irrestrito de Deus. 
      As pessoas não estão no mesmo nível espiritual no mundo, e muitas ainda creem num Deus que tem como prioridade dar a elas recursos materiais para sobrevivência. Isso é justo, por exemplo, num país onde falta emprego, infraestrutura de água e esgoto, sistemas de ensino e saúde, não podemos ser extremistas achando que os que vão a cultos pedir milagres físicos são menos espirituais, eles só são o que podem ser, e nisso não há nada de errado.
      Deus ama a todos, e os “pequeninos” (Mateus 18.6) que entendo ser os espiritualmente infantis, Deus cuida respeitando suas limitações. O problema não são esses, mas líderes, que ao invés de servirem respeitando as limitações dos liderados, usam as limitações para manipular e obterem poder no mundo. É claro que muitos líderes estão no mesmo nível espiritual dos liderados, assim não se pode exigir desses mais do que eles são, Deus não exige. 
      Essa reflexão pode explicar como se levanta um líder político estúpido, se dizendo cristão e tendo apoio de tantos evangélicos e líderes cristãos. Talvez o papel de quem vê em tudo isso infantilidade espiritual seja ser maduro espiritual, aceitar essa situação e orar por todos, buscando a paciência que Deus tem com todos nesse momento, e não ser mais um sem paz, alimentando conflitos, em nada contribuindo para que o melhor de Deus prevaleça. 
      O Espírito Santo que inclina para a paz não vive só nos que passaram do nível de ver a existência humana sobre o ponto de vista do antigo testamento, também habita nos “pequeninos” e os inclina à paz, ainda que esses entendam conquista de paz de maneira diferente. Não reajamos àquilo que não concordamos, nem para dizer que não deve haver conflitos, só isso já gera conflito, mas oremos pela paz do Brasil, o momento urge por isso. 

03/01/22

Jesus, pacificador (3/9)

      “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.Isaías 9.6

      No início de um ano em que haverá eleições presidenciais, sabendo que esse processo não será fácil, já vivendo desde a última eleição um momento de ânimos acirrados, com polaridades definidas e ambas se achando donas da verdade, algumas reflexões sobre “pacificador”. A passagem bíblica inicial é uma profecia sobre Jesus feita pelo profeta Isaías, nela várias características do messias são citadas, a última é “Príncipe da Paz”. 
      Quem segue Jesus deve ser um pacificador, a missão do Cristo foi trazer paz aos seres humanos, não ao mundo, pois enquanto houver os que pelo livre arbítrio não querem essa paz não haverá paz no planeta como um todo. Nós cristãos temos vocação para a paz, nisso achamos felicidade, nisso agradamos a Deus, nisso cumprimos nossa missão, administrarmos em paz a escolha de muitos em não quererem a paz é uma de nossas missões.
      Pergunte a si mesmo, minhas palavras e atitudes, na internet e no mundo, têm sido de pacificador? Ou tenho usado minha posição de filho de Deus para promover polêmicas e gerar conflitos, principalmente hoje no Brasil? Se até aos que recebem a paz do “Príncipe da Paz” falta equilíbrio, guerras têm liberdade para existir, deixando o mundo em trevas. Sejamos pacificadores, isso é missão dos verdadeiramente da luz, não dos outros. 

02/01/22

Para sermos achados em paz (2/9)

      “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz. II Pedro 3.13-14

      Ainda que num mundo injusto, onde a paz é difícil, com homens dominando sobre homens para terem lucro, temos uma certeza. Aguardamos novos céus e nova terra na eternidade, quando seremos avaliados e honrados com justiça e com amor, um mediando o outro. Esse é o motivo de podermos ter paz, a força para aperfeiçoarmos nossos caminhos. O objetivo é alto, chegarmos ao final sem máculas e necessidade de repreensão, mas Jesus é luz que vai conosco. 
      Com os pés firmes na terra andemos entre os homens com sensatez e lucidez, com humildade e temor a Deus, mas com os olhos espirituais firmes no Altíssimo, buscando as virtudes eternas mais que as riquezas e os bens materiais. Com as mãos no trabalho, servindo e não buscando ser servidos, ouvindo e não querendo só sermos ouvidos, mas com o coração no Santo Espírito do Deus que tudo vê, avalia e a todos permite colheitas justas no tempo adequado.

01/01/22

Paz na Terra (1/9)

      “Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens.Lucas 2.14

      Glória ao Deus único e verdadeiro que emana sua luz sobre nós neste mundo, dando-nos paz e inteligência para conhecermos sua vontade, nos acolhendo com seus braços de amor para nos perdoar, consolar e libertar. Esse Deus é o Altíssimo, cuja mente está nas maiores alturas espirituais, as elevadas regiões celestes das quais só Jesus Cristo é a porta, e pela qual somos todos chamados a entrar no mover do Espírito Santo, que nos conduz em santidade e glória.
      Paz na terra, paz no mundo, paz no Brasil, paz a todos os homens, para que possam ser livres para fazerem suas escolhas, respeitando os direitos dos outros, mas sendo o que desejarem ser, como indivíduos, como profissionais, como famílias. Boa vontade em todos para que se respeite a todos assim como ao planeta, suas águas, suas terras, seus vales, seus montes, seu ar, sua natureza, seus animais, boa vontade para que se busque entendimento, justiça e harmonia.

31/12/21

Fim de ano

      “Mas a terra que passais a possuir é terra de montes e de vales; da chuva dos céus beberá as águas; terra de que o Senhor teu Deus tem cuidado; os olhos do Senhor teu Deus estão sobre ela continuamente, desde o princípio até ao fim do ano.Deuteronômio 11.11-12

      Terra de montes e de vales, nessas especificações a descrição das terras físicas que Israel possuiria no antigo testamento lembra nossas vidas no mundo sob o ponto de vista emocional. Não experimentamos uma vivência equânime, em maiores ou menores dimensões provamos variações de humor, intercalando prazer e dor, medo e coragem, paz e tristeza. Aceitemos isso com humildade, todos provam isso. 
      Da chuva dos céus beberá águas, novamente podemos ver algo físico como metáfora, agora de nossa vida espiritual. Nosso alimento melhor, para nossos espíritos eternos, não vem da água dos rios ou do pão feito com o trigo, mas diretamente de Deus. Esse não podemos produzir ao nosso bel-prazer, a única fonte é o Altíssimo, a ele temos que buscar para receber. Não confiemos em águas estranhas de poços de homens. 
      Terra de que o Senhor teu Deus tem cuidado, o que Deus nos dá hoje ele pode ter estado preparando para nós há muito tempo, aguardando só o momento adequado para nos entregar. Quando conseguimos entender isso entendemos que Deus nunca para de trabalhar, não desperdiça tempo nem se apressa, faz tudo no tempo certo, assim esperar seu tempo é o melhor. Confiar nisso é crescer e ter paz mesmo na espera.
      Os olhos do Senhor teu Deus estão sobre ela continuamente, desde o princípio até ao fim do ano. Nada anula promessas de Deus, nem os homens, nem o mundo, nem o findar de um ano. Agradeça ao Deus que cuidou de você e de sua família por todo um ano e que continuará cuidando. A obra que Deus começa ele termina, para quem o teme é obra de vida eterna, não é uma Canaã visível neste mundo de homens. 

30/12/21

Fim da construção

      “O teu coração não inveje os pecadores; antes permanece no temor do Senhor todo dia. Porque certamente acabará bem; não será malograda a tua esperança.Provérbios 23.17-18

      Olhos no presente, isso é bom, permite que vivamos o momento e não nos culpemos pelo passado ou ansiemos o futuro. Contudo, quem anda com Deus está num trabalho de construção, assim sabe que no presente está aquém do seu melhor. Para ser construído antes precisa ser desconstruído, você já foi desconstruído pela vida? Ou sempre se viu tão suficiente e competente que até acha que precisa melhorar, mas sobre uma base indestrutível? 
      Por outro lado, ter consciência da construção que é a vida, não pode nos levar à tristeza de nos acharmos perdedores que nunca terão jeito, vendo os outros em condições melhores, sendo mais felizes e podendo zombar de nós por isso, o que nos leva a inveja-los. Reforma tem um custo, quem já passou por ela morando na casa sabe disso, mas nessas situações não nos prendemos ao presente, olhamos para o futuro, para o que a casa será após a reforma. 
      A construção que Deus nos chama a fazer tem essa peculiaridade, não podemos nos ausentar de nós mesmos enquanto é feita, ela ocorre enquanto vivemos no mundo, convivemos com as pessoas, tendo que ser produtivos para sobreviver na Terra. Se pudéssemos simplesmente colocar uma placa, “fechado para reformas”, seria mais fácil, mas não pode ser assim, e na verdade é isso que confere qualidade à construção, pois exige de nós paciência. 
      O que nos leva a cometer muitos pecados é a pressa, a falta de paciência, assim, muitas vezes Deus permite que o recebimento de algo demore, não só para aprendermos a usufruir o que receberemos, mas para que aprendamos a ser pacientes. Deus não tem nenhum interesse em que não tenhamos uma boa casa para morar, mas não poderemos levar uma casa para céu, o que levaremos são virtudes morais, dentre elas, a paciência que gera esperança. 
      “Nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança” (Romanos 5.3-4), não será malograda a tua esperança, que promessa maravilhosa essa. Malograr significa desperdiçar ou fracassar, esperar em Deus não frustra, não é trabalho inútil, mas tem recompensa, se é que permitimos que Deus nos desconstrua para depois nos construir melhor, conforme sua vontade. 

29/12/21

Fim da opressão

      “Habitem contigo os meus desterrados, ó Moabe; serve-lhes de refúgio perante a face do destruidor; porque o homem violento terá fim; a destruição é desfeita, e os opressores são consumidos sobre a terra.Isaías 16.4

      O homem é o único ser na Terra que oprime semelhantes e não para fins de sobrevivência básica. Ele não o faz só por necessidade de obter alimento, mas por vaidade, querendo ter mais que necessita, de forma criminosa tomando o que não é seu, por crueldade, só pelo simples prazer de oprimir. Opressão, uma das piores faces da inferioridade espiritual do homem no mundo, e em alguma instância todos a praticam.
      Lutas por causas sociais neste mundo são importantes, fim da opressão sobre as crianças, sobre as mulheres, sobre os homoafetivos, sobre os africanos e descendentes, mas a opressão na alma do opressor só pode ser curada com o amor de Jesus. Assim, enquanto a humanidade luta por isso, os que conhecem a Deus devem testemunhar da importância de todos crerem no Altíssimo, buscarem sua vontade e fazerem.
      Isso deve ser testemunhado não como algo aliado a instituições e de direito exclusivo de determinadas igrejas e denominações, mas como prática de vida eterna, exercendo justiça, amor e paz. Se for buscado só como uma religião pode também ser instrumento de opressão, de imposição da crença de um grupo sobre os outros grupos. Só se consegue isso livrando-se da pior das vaidades, a vaidade religiosa. 
      O Espirito de amor de Cristo repudia toda espécie de violência, mesmo que seja só palavra exaltada usando Bíblia e o nome de Deus, isso não é manifestação de fé e unção, mas de opressão. Jesus homem não agia assim e quando agiu de maneira mais enfática (João 2.13-17) foi colocando ordem em sua religião, não destruindo templos de outras religiões, exemplo também visto no antigo testamento (Ezequiel 8.6). 
      O ser humano em Deus é sempre manso com todos, aberto a todos, humilde em tudo, e nele não existe qualquer forma de opressão. A voz do Espírito Santo é sempre calma, ainda que segura, poderosa e terrível. Deus, pela luz de sua santidade, afasta o mal, não os malvados, ele não destrói por imposição de poder, seu amor está sempre atraindo os seres, e se esses deixarem o mal e a opressão serão abraçados por Deus. 

28/12/21

Fim do choro

      “Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.Salmos 30.5

      “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados” (Mateus 5.4), quando o choro é a tempo, é de arrependimento e conduz à presença do Senhor. “E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou” (Hebreus 12.16-17), mas ainda que seja choro, se feito no tempo errado, não achará cura, não porque Deus não perdoe, mas porque o homem não se perdoa e assim não acha arrependimento. 
      A alegria que vem pela manhã é fruto de uma noite de choro, ela não vem sem um trabalho, e o melhor trabalho do homem é buscar a humildade do fundo de seu coração. Agora, não queira quem passou a noite em festa achar paz com Deus pela manhã, e muitos fazem festas dentro de templos cristãos, cantando e celebrando quando é tempo de arrependimento e choro. Num determinado momento não é mais tempo de choro, mas de disciplina, aí o choro não adiantará mais, só restará ao duro de coração sofrer a ordem de Deus. Choremos enquanto há tempo, na presença do Senhor ele não é inútil, nem fraqueza, mas sabedoria. 
      “Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria. Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos” (Salmos 126.5-6), ah, como o ser humano, principalmente o atual criado no triunfalismo, tem dificuldade para pagar o preço do choro, da humildade, do calar-se e não se defender, deixando que Deus o defenda e faça sua vontade. Mas no mundo uma coisa não ocorre sem a outra, choro é provação que todos têm que passar para sorrirem depois, negar-se a isso é perder tempo, ainda que se faça todos os sacrifícios para ser exaltado entre os homens. 

27/12/21

Fim da morte

      Ele põe fim às trevas, e toda a extremidade ele esquadrinha, a pedra da escuridão e a da sombra da morte.Jó 28.3

      A dor não tem fim, a solidão não tem fim, a ilusão não tem fim, o prazer tem fim. O mistério sobre o universo não tem fim, a vaidade do homem não tem fim, o egoísmo humano não tem fim, o mundo tem fim. O que vemos, tocamos, ouvimos e levamos, tem fim, o que imaginamos não tem fim. A matéria tem fim, o espírito não tem fim, o homem tem fim, Deus não tem fim, a morte tem fim, a vida não tem fim.
      Deus é Deus porque vai além dos fins, chega à beira do precipício, segue e não se perde. Deus constrói e desconstrói o abismo. A luz do corpo tem fim, a escuridão da alma não tem fim, Deus é luz sem fim na escuridão. Deus é espírito, Deus é o pai de todos os espíritos, Deus está além da vida e da morte, da luz e das trevas. Deus é vida eterna e essa não tem fim, Deus é amor e seu amor não tem começo nem fim. 
      Não tema a morte, tema a vida, depois da morte há outra vida para se viver e não se morrer mais. Enquanto há morte, há vida, mas sem morte há algo que vai além da vida, a vida eterna. Nós, seres humanos neste mundo, somos incapazes de entender o que é vida eterna, por isso veio Jesus. Jesus não foi só um santo encarnado, um organismo materialmente vivo, ainda que saudável por dentro e por fora. 
      Cristo homem foi a manifestação das virtudes eternas de Deus, verdade, amor e luz, o tanto quanto um espírito elevado pode se expressar encarnado. Ele não se sentia desconfortável por isso, amarrado, limitado, mas sereno, sob controle, satisfeito, ciente de tudo e ainda assim como se nada soubesse, esperasse ou quisesse, só ser, a verdade, o amor, a luz, e não falar, impossível verbalizar no mundo tais virtudes. 

26/12/21

Luz de Jesus

      “E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele. Não era ele a luz, mas para que testificasse da luz. Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo.João 1.5-9

      Jesus, a luz que muitos não compreendem. Como pode a luz não ser entendida? É luz, mostra a verdade, revela os erros, ilumina o caminho. Mas muitos não querem saber da verdade, até gostam de jogar “verdades” nas caras dos outros, mas fogem, quando a verdade lhes é dirigida. Muitos não querem admitir seus erros, isso os fragilizaria e fracos não conseguiriam enfrentar a vida, confiam só em si mesmos. 
      Muitos não querem seguir no caminho iluminado, reto e estreito, mas difícil, porque ele exige preços. Muitos preferem as margens escuras, morada do homem mal e de espíritos enganadores, saem para elas e nelas ficam, constróem lá fortalezas, para serem vistas pelos homens, torres de Babel, tentando ser mais altos que o que está no final do caminho iluminado, a morada do Santíssimo e Altíssimo Deus. 
      Jesus é a luz mais alta e verdadeira de pureza moral, fora dele há trevas, ainda que fora estejam seres humanos que lutam por causas humanitárias e pela preservação do planeta, que buscam qualidade de vida e respeito à diversidades e à ciência. Não basta ser bom, tem que sê-lo em Deus e para Deus, só aí haverá a luz espiritual mais alta, que chega até nós por Jesus, a manifestação mais perfeita da espiritualidade. 
     Ainda que os tempos atuais pareçam confusos, onde muitos que dizem serem da luz façam escolhas das trevas, ainda que o cristianismo no mundo esteja tão corrompido, ainda que a direita política ache em evangélicos eleitores para mantê-la no poder, ainda assim Jesus é a luz mais linda, mais poderosa. Ainda que eu tenha que abrir mão de tudo até de religião, Jesus sempre será a luz da minha vida. 

25/12/21

Luz conosco

      “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz; eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chama-lo-ão pelo nome de Emanuel, que traduzido é: Deus conosco.Mateus 1.21-23

      Faça uma oração, simples, não precisa ser longa, mas feita com o coração, com todo o sentimento, com a mente cheia de fé, e ainda que dando um passo no desconhecido, certo que Deus ouvirá, pois é uma oração feita no nome de Jesus Cristo, o Emanuel, o Deus conosco, que está perto de nós, nos entendendo, nos amando e nos auxiliando. Isso é o que temos que fazer para acharmos paz e esperança na vida. Depois glorifique a Deus, por ser Deus, por ter enviado seu filho, e siga perseverando no caminho da virtude, trabalhando honestamente, sendo fiel com tuas alianças, deixando o mal e buscando o bem. A luz de Deus é contigo, entre e permaneça nela, nela não há confusão nem armadilhas, só o Senhor, sorrindo para você e te mostrando como ser humilde e feliz. Deixemos Jesus nascer em nós todos os dias! 

24/12/21

Luz do mundo

      “Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada no alto de um monte. Nem se acende uma lamparina para colocá-la debaixo de um cesto, mas num lugar adequado onde ilumina bem todos os que estão na casa. Assim brilhe também a luz de vocês diante dos outros, para que vejam as boas obras que vocês fazem e glorifiquem o Pai de vocês, que está nos céus.” 
Mateus 5.14-16 (v. Nova Almeida Atualizada)

      Quem tem comunhão com Deus, conhecendo-o e fazendo sua vontade, é luz espiritual, não se esconde uma cidade sobre o alto de um monte, mas o que fazer com essa luz? Como fazê-la brilhar para iluminar toda a casa? O texto diz que é por obras objetivas no dia a dia de nossas vidas, sendo exemplos morais, justos nos negócios, misericordiosos nas relações, amando e fazendo tudo com amor, e sendo assim para a glória de Deus, não para a nossa, para que reflitamos a luz que recebemos de Deus, não a nossa. Nossa luz pode até ser honesta, de boas obras, mas nós, mesmo sendo seres humanos exemplares, não poderemos de fato abençoar as pessoas sempre e em tudo, principalmente no plano espiritual, isso só Deus pode fazer. 
      Existe, contudo, uma outra maneira pela qual podemos brilhar nossas luzes para abençoar as pessoas, é intercedendo espiritualmente por elas. Parece simples, sabido pelos cristãos, mas muitos cristãos não têm noção da utilidade da oração, assim como de sua necessidade, principalmente aquela oração feita em segredo, que as pessoas não precisam saber que fazemos, e mais ainda aquelas pessoas pelas quais oramos. Somos vaidosos, se não temos mais dinheiro, queremos pelo menos ser mais “espirituais”, mas onde existe vaidade não há espiritualidade, assim a virtude que unge todas as outras é a humildade. O humilde ama em silêncio, espera o tempo que for para colher o fruto, e só pretende honra quando e se Deus quiser lhe dar. 
      Eis agora um mistério, a única coisa que “dribla” o livre arbítrio é o amor, e o que ora por quem fechou o coração para Deus reflete nesse a luz do Altíssimo de forma indireta, ainda que igualmente eficiente. Nem Deus vai contra a vontade do homem e se esse decide se afastar dele, o Senhor respeita isso. Deus, contudo, pode tocar outras vidas, que também por livre arbítrio podem interceder pelo que se afastou. A obra de Deus pode ser executada tendo-nos como colaboradores, e quando é para abençoar alguém que não quer ser abençoado, essa pode ser a única maneira dela ser feita. De alguma forma o amor de Deus chega aos homens, mesmo aos mais teimosos e orgulhosos, no final o nome do Senhor é sempre glorificado. 
      Quando estabelecemos comunhão com Deus, esse, a partir da porta que é Jesus, emana sua luz sobre nós pelo Espírito Santo, assim uma linha reta e direta de poder nos toca. Esse poder nos dá vida, nos cura, nos protege, nos fortalece para seguirmos com esperança e santidade. Quem diz não a Deus não recebe esse toque de poder na vertical, mas pode recebê-lo horizontalmente, nossa oração consegue “driblar” o livre arbítrio contrário e abrir passagem para que alguém tenha ao menos um momento de iluminação e pense na possibilidade de ter novamente comunhão com o Altíssimo. Não podemos mudar a vontade de alguém, mas podemos refletir sobre uma pessoa uma iluminação que recebemos de Deus, suficiente para que ela ore. 
      Fazer isso é entrar em “guerra espiritual”, quem fecha a porta para Deus abre para espíritos malignos, esses sentem quando a luz de Deus toca aquele que eles torturam, e sabem de onde ela veio. Assim, pode ocorrer uma “retaliação”, o mal de quem oramos vir sobre nós, esse mal não tem sobre nós o mesmo poder que tem sobre o outro, mas pode nos oprimir, por isso antes de orarmos por alguém assumidamente distante de Deus, tomemos alguns cuidados. Coloquemos nossas vidas em ordem e peçamos a Deus proteção por nossos próximos, que pertencem à nossa “cobertura espiritual”, cônjuges e filhos, se formos casados, parentes e outros, dependendo de por quem diariamente intercedemos de forma mais diferenciada. 
      Deus chama a todos que têm comunhão com ele para orar, mas alguns levam isso mais a sério, esses podem ser usados como luzeiros no mundo. A luz de Deus não é só claridade para melhorar a visão, ainda que também faça isso espiritualmente, mas ela é mais, é poder ativo de santidade e bem, e isso basta para que o mal espiritual, que influencia tanto o mundo, parta em retirada. Deus é Senhor dos exércitos e tem legiões de anjos de luz que lutam sob sua ordem, mas a vitória não consiste em destruição, Deus não destrói ninguém, ele afasta daqueles que confiam nele aqueles que praticam o mal. O mal é trevas e trevas fogem para a escuridão quando a luz de Deus, seja pelos anjos, seja pela oração dos santos, é emanada. 
      Existe um ensino importante logo no começo do texto bíblico inicial, “vocês são a luz do mundo, não se pode esconder uma cidade situada no alto de um monte”. Quando Deus nos chama nos coloca espiritualmente numa posição distinta e que não pode ser mudada, uma posição alta e iluminada. Quer aceitemos ou não somos diferentes e os que estão em trevas percebem isso, assim como os espíritos malignos. Infelizmente muitos evangélicos tomam posicionamentos errados, ou tentam se esconder ou aparecer egoisticamente. Luz de Deus não se esconde e nem se manipula, ela existe para brilhar e abençoar os homens. Não podemos ser covardes, nem vaidosos, mas o que somos chamados para ser, luz do mundo. 

23/12/21

Luz para o meu caminho

      “Oh! quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia. Tu, pelos teus mandamentos, me fazes mais sábio do que os meus inimigos; pois estão sempre comigo. Tenho mais entendimento do que todos os meus mestres, porque os teus testemunhos são a minha meditação. Entendo mais do que os antigos; porque guardo os teus preceitos.
      Desviei os meus pés de todo caminho mau, para guardar a tua palavra. Não me apartei dos teus juízos, pois tu me ensinaste. Oh! quão doces são as tuas palavras ao meu paladar, mais doces do que o mel à minha boca. Pelos teus mandamentos alcancei entendimento; por isso odeio todo falso caminho. Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho.” 
Salmos 119.97-105

      Aquele que buscar o Senhor com todo o seu coração, libertando-se da religião, dos preconceitos, dos dogmas, achará a luz mais alta. A religião até pode proteger, dar algum consolo, ajudar a focar a fé em objetos legitimados pela tradição cristã através de séculos de discussões teológicas, mas quando mais precisarmos ela não bastará. Se você até agora esteve satisfeito com tua religião, com tua igreja, com tua espiritualidade, e não é hipócrita, mas realmente sincero, agradeça ao Senhor, ele tem sido misericordioso com você, respeitado teus limites, mas isso não pode ser assim para sempre. Em algum momento Deus terá que te confrontar com a verdade, a tua, a do mundo, a da vida, a dele, nesse momento uma escolha te será apresentada. 
      Quem escolhe conhecer mais a Deus ultrapassa os muros impostos pela religião e é libertado, poderá viver a santidade que sempre quis, mas que não conseguiu viver dentro dos limites da religião. Liberdade espiritual não é para se perder, mas para se achar e em Deus, nela há mais clareza, não trevas. Não, meus queridos, nos aprofundarmos na palavra de Deus não é adquirirmos mais conhecimentos teológicos, checarmos várias versões da Bíblia, entendermos as línguas originais do cânone bíblico, isso é só olhar a superfície com microscópio, é preciso cavar fundo com pás. Quem nos entrega essas pás não é nossa intelectualidade, mas os dons do Espírito Santo, sem eles não receberemos a lâmpada da palavra de Deus que ilumina o caminho. 
      Quanto amo a tua lei, é a minha meditação em todo o dia, sim, isso inclui conhecer e refletir na Bíblia, estamos fazendo isso aqui, estudando um texto bíblico, mas é mais que isso. Tu fazes mais sábio do que os meus inimigos, tenho mais entendimento do que todos os meus mestres, entendo mais do que os antigos, por que o salmista podia dizer isso? Porque o Espírito do Deus vivo tinha liberdade nele o tempo todo. Precisamos aprender a diferenciar os locais onde a palavra de Deus pode estar dentro de nós, em nossa mente está aquilo que já foi revelado, que nos lembramos ou lemos e que se analisarmos com calma aprenderemos mais. Contudo, a palavra nova, original, viva, é a que é recebida pelo nosso espírito do Espírito Santo.
      É a essa palavra viva do Espírito que o salmista se refere quando diz, quão doces são as tuas palavras ao meu paladar, mais doces do que o mel à minha boca. A palavra escrita e já conhecida nos alimenta, mas a revelada em primeira mão dentro de nós pelo Espírito Santo nos transforma, e como lâmpada joga iluminação até nos antigos textos bíblicos. Ainda que possa discordar da maneira que alguns homens veem a Bíblia, a palavra revelada, se for realmente de Deus, nunca entra em choque com a palavra registrada na Bíblia, é por não confiarem nisso que muitos têm calado o Espírito Santo em tantos lugares. Deus, contudo, não vai contra si mesmo, nele não há incoerência, ainda que a Bíblia, como registros de homens, possa não ser coesa. 
      Não estou dizendo aqui algo que você nunca experimentou, já deve ter se sentido muito angustiado, mesmo a leitura bíblica não te consolava, então, você orou e te veio à mente uma frase, pequena, simples, mas que foi como se uma lâmpada muito forte se acendesse no quarto escuro da tua alma. Essa frase disse exatamente o que você precisava ouvir, de maneira direta e positiva, não te acusou, não te condenou, mas te deu esperança, como se a vida corresse de novo em tuas veias espirituais. Que frase foi essa? Na maioria das vezes é só um texto bíblico, mas que ainda que você conhecesse só veio em tua cabeça depois que orou, e com um sentido novo, como que escrito com letras de fogo, o fogo da luz da lâmpada da maravilhosa palavra de Deus. 

22/12/21

Luz para meus olhos

      “Até quando te esquecerás de mim, Senhor? Para sempre? Até quando esconderás de mim o teu rosto? Até quando consultarei com a minha alma, tendo tristeza no meu coração cada dia? Até quando se exaltará sobre mim o meu inimigo? Atende-me, ouve-me, ó Senhor meu Deus; 
      ilumina os meus olhos para que eu não adormeça na morte; para que o meu inimigo não diga: Prevaleci contra ele; e os meus adversários não se alegrem, vindo eu a vacilar. Mas eu confio na tua benignidade; na tua salvação se alegrará o meu coração. Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem.
Salmos 13

      Interessante compararmos a primeira frase do salmo treze com a última: “até quando te esquecerás de mim, Senhor?” e “cantarei ao Senhor porquanto me tem feito muito bem”. São afirmações opostas, mas para entendermos esse antagonismo temos que avaliar o salmo não só como doutrina, mas como expressão artística, poema e letra de uma canção. Como tal, o autor não pretende descrever tecnicamente as virtudes de Deus, mas expressar o seu sentimento diante de uma situação. Deus se esquece de alguém? Não, mas o salmista sentiu-se como todos nós nos sentimos muitas vezes, como se Deus se esquecesse de nós, tal nossa angústia numa tribulação. 
      Mas o salmista entende que está sendo esquecido por Deus, não porque Deus o tenha deixado, mas porque vê um inimigo prevalecendo sobre ele, “até quando se exaltará sobre mim o meu inimigo?”, diz ele. Se estamos bem materialmente, se não falta emprego, dinheiro e a saúde está legal, nem damos tanta importância para termos uma experiência mais íntima com Deus em oração, mesmo sentirmos certa distância de Deus não nos abala. Contudo, basta que algo saia do nosso controle no plano material, ou sermos prejudicados de alguma forma pelo homem, que buscaremos o Senhor com mais afinco, desejando de todo o coração sua proximidade e sua paz. 
      A frase “ilumina os meus olhos para que eu não adormeça na morte” é reveladora, não é o homem que prevalece contra nós, muito menos Deus quem de nós se esquece, mas somos nós que fraquejamos na vigilância. O salmista reconhece seu erro em “os meus adversários não se alegrem, vindo eu a vacilar”, não são os outros que nos vencem, somos nós que nos tornamos vencíveis quando deixamos de olhar a existência com os olhos espirituais abertos, quando isso acontece nos deixamos enredar pelos laços da morte. Estar na luz espiritual do Altíssimo é o que nos fortalece e nos alegra, Deus nunca se esquece dos que fitam os olhos nele, vigiemos! 
      “Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem”, quem anda vigilante não é ingrato, não vive reclamando, e principalmente, não tem inimigos, pelo menos não da parte dele, antes, adora um Deus misericordioso, que cuida dos seus com amor. Isso não significa que no mundo não provemos altos e baixos, injustiças e agressões, ganhos e perdas, mas na vigilância da luz de Deus entendemos que tudo isso é para que aprendamos a confiar mais e mais no Senhor e sermos espirituais. Cai quem é desestabilizado pelo mal, o é quem para de olhar para Deus e olha para os ídolos, medos e falsos deuses, quem olha para Deus vai sempre em paz.

21/12/21

Não zombe de Deus!

      “O Senhor Deus, a quem a vingança pertence, ó Deus, a quem a vingança pertence, mostra-te resplandecente. Exalta-te, tu, que és juiz da terra; dá a paga aos soberbos. Até quando os ímpios, Senhor, até quando os ímpios saltarão de prazer? Até quando proferirão, e falarão coisas duras, e se gloriarão todos os que praticam a iniquidade? Reduzem a pedaços o teu povo, ó Senhor, e afligem a tua herança.Salmos 94.1-5

      Não zombe de Deus! Calma, isso não quer dizer que se você fizer ou disser algo que desagrada a Deus ele pessoalmente vai se levantar contra tua vida e fazer-te um mal, não é assim que as coisas funcionam. Zombamos de Deus quando somos injustos e apoiamos a injustiça, quando acusamos sem conhecimento, quando humilhamos o que já está prostrado, mas principalmente, quando usamos seu nome em vão. Zombamos de Deus quando queremos fazer justiça com as próprias mãos, e isso pode ser pior que fazer o mal, já que o que faz mal pode fazer se achando nas mãos do mal, o que não é mentira, mas quem julga e condena pode fazer isso achando-se instrumento divino, quando não é. 
      Alguém que defende um presidente da república que não tem a elegância para fazer uma crítica, para expor seu ponto de vista, com o mínimo de decoro exigido de um chefe de estado, ofendendo outros líderes de poderes, não acha em mim qualquer consonância. Contudo, alguém que faz isso sendo cristão, se dizendo evangélico, e até pastor, sinto muito, mas o cristianismo desses não me representa mesmo. Muitos têm argumentado, “o presidente é casado com uma protestante, vai a cultos, tem apoio de boa parte da liderança evangélica, defende os valores tradicionais da família, ele é contra o aborto, cita a Bíblia, enfim, ele é cristão e eu como evangélico devo apoiá-lo, ainda que seja grosso”. 
      Mas pergunto: a liderança religiosa da época de Jesus também não conhecia os textos sagrados, não eram reconhecidos e respeitados como líderes oficiais pelo povo e pelo estado, incluindo os dominadores romanos, essa liderança não ensinava as leis e os mandamentos de Moisés, os valores da pessoa, da família e da nação vistos como de Deus? Sim, no entanto essa liderança e muitos do povo judeu, incluindo homens e mulheres que tinham sido abençoados pelos milagres e ensinos de Jesus, condenaram e mataram o Messias. Meus caros, não adianta se parecer ou andar com quem se parece, tem que ser, somos nossa prática de vida, nossos frutos de amor, santidade e humildade em paz. 
      Não vejo, até o momento, esses frutos no atual presidente do Brasil, se alguém vê, me ajude. O que se vê e ele não faz questão de esconder, é agenda de ódio e ganância, que quer seguir no poder, incentivando o conflito, com armas vulgares e mentirosas, não há evangelho nisso. Esse e os que o apoiam, principalmente os que usam o nome de Deus para isso, zombam de Deus. Isso terá fim! Meus queridos, Deus não se vinga, ele segue amando, chamando, esperando para abençoar, mas o universo tem leis que o próprio Deus criou, esse universo retorna efeitos a todas as causas. Que efeito é mais terrível que o da causa “zombar de Deus”? Não foi a criatura que foi injuriada, foi o próprio criador. 
      “Reduzem a pedaços o teu povo, ó Senhor, e afligem a tua herança”, essa violência tem ocorrido hoje no Brasil, mas pasmem, não é de homens contra cristãos, do mundo contra o evangelho, das outras religiões contra os evangélicos, mas de evangélicos equivocados contra verdadeiros cristãos. Deus não precisa usar o errado, não para sempre, é o humilde quem será exaltado. Eu creio que existe uma herança do Senhor guardada no Brasil e no mundo, o remanescente de Israel, que não se contaminou com ídolos e com mitos, que não se dobrou a Baal, que não bebeu do cálice da mentira e do ódio, que permanece humilde, orando a Deus, esperando que Deus faça justiça do seu jeito e no seu tempo.

      “Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os teus profetas, e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma? Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos a Baal. Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça.” Romanos 11.2-5

20/12/21

Deus é perfeito

      “O caminho de Deus é perfeito; a palavra do Senhor é provada; é um escudo para todos os que nele confiam.” 
Salmos 18.30
      “E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.” 
Mateus 7.14

      Sei que muitos sofrem e muitos esforçam-se muitíssimo para sobreviverem neste mundo, trabalham às vezes em mais de um emprego para ganharem honestamente o mínimo para terem alguma dignidade. Será que esses acham que a vida é perfeita? Depende, muitos desses acham, são bem humorados, generosos, sempre enxergam a mão de Deus em suas vidas e agradecem a ele por tudo. Não, não são só evangélicos que são assim, mas católicos, espíritas, de outras religiões e mesmo não praticantes de alguma religião, o bem está no espírito, não em costumes externos ainda que religiosos. 
     Mas existem outros, que ainda que tenham tudo e não precisem se esforçar muito para viver e bem, acham que a vida é uma “droga”, é um grande problema, está longe da perfeição, vivem agoniados, entupidos de remédios, comidas e bebidas, mas sempre insatisfeitos. Esses guardam a imperfeição dentro deles, e nada que está fora pode mudar isso, justamente porque eles tentam esconder o que está dentro com o que está fora. A sensação de satisfação não está no que está fora e entra no homem, mas no que está dentro dele e sai, o espírito influenciando a matéria e não o contrário.
      Em Davi temos exemplos bíblicos das duas situações. Na caverna de Adulão (I Samuel 22-24) ele estava perseguido e injustiçado, ainda assim não matou Saul seu principal inimigo, não satisfez um ego que sabia de seus direitos. Davi via em seu caminho a perfeição da vontade e do tempo de Deus, nela estava sincronizado e por isso estava satisfeito, ainda que vivendo um momento crítico. Já rei (II Samuel 11) e com o reino estabelecido, Davi não estava no caminho perfeito de Deus, não foi à guerra, estava entediado em seu palácio e tentou satisfazer-se com o adultério que o levou ao homicídio. 
      O caminho de Deus é perfeito, mas só vê e prova isso quem se coloca em Deus, na posição espiritual mais alta que temos acesso por Jesus. Vemos como o melhor jeito de algo ser conduzido, a única maneira que todos os envolvidos no tempo certo serão abençoados, ainda que entendendo que é uma situação difícil, ruim, dolorida. Mas provamos um caminho bom como o caminho perfeito de Deus se antes agimos de maneira adequada, tomamos as melhores decisões baseados no temor do Senhor, na humildade e no amor, assim, ainda que muitos perigos existam, seremos livrados e vitoriosos. 
      Entender os caminhos da vida como condutas perfeitas de Deus é confiar na palavra do Senhor, sim, nas promessas da Bíblia interpretadas e contextualizadas pelo Santo Espírito, mas principalmente na palavra direta da pessoa do Espírito Santo dentro de nós. Essa palavra não é qualquer palavra, ela é provada, porque já funcionou, funciona e sempre funcionará. Deus fala de maneira simples e objetiva, respeitando nossos limites, mas ainda assim nos surpreendo, mostrando uma saída onde não víamos, essa palavra satisfaz nosso espírito e esse, em paz, satisfaz todo o nosso ser. 
      Entretanto, o caminho de Deus é perfeito mas é estreito. É preciso cuidado para não desviar-se dele nas ilusões e frustrações da vida, é preciso vigilância para não parar por tempo demais ou retroceder, é preciso estar atento e forte para continuar seguindo. O caminho que nos leva ao Altíssimo, no qual nos movemos porque o próprio Deus nos atrai a ele, fica mais perfeito e mais estreito à medida que caminhamos, assim, não espere ninguém descanso antes do final. Mas a recompensa é a proximidade do Senhor, nela há o maior de todos os prazeres, e forças para vencermos as imperfeições.  

19/12/21

Trabalho de formiguinha

      “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso; olha para os seus caminhos, e sê sábio. Pois ela, não tendo chefe, nem guarda, nem dominador, prepara no verão o seu pão; na sega ajunta o seu mantimento.” 
Provérbios 6.6-8
      “Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti que trabalha para aquele que nele espera.” 
Isaías 64.4

      Você já deve ter visto um fileira de minúsculas formigas indo a um lugar, coletando pedacinhos de alguma coisa, e retornando, pelo mesmo caminho. Sozinhas elas não podem com grandes pedaços, ainda que em relação a seu tamanho sejam bem fortes, mas trabalhando devagar, juntas, levando um pedacinho por vez, podem conduzir coisas grandes de um lugar para suas moradas. Usa-se o termo “trabalho de formiguinha” para se referir a um trabalho que requer paciência, tempo, um pouquinho de cada vez, mas que alcança seu objetivo em um momento, esse exemplo implica em trabalho organizado e de equipe. E quanto a nós como indivíduos, que podemos estar sozinhos diante de uma tarefa, o que podemos aprender com as formiguinhas? 
      Apesar de nos vermos sós no mundo, não estamos sós no universo, para que algo aconteça e façamos a nossa parte, outros devem fazer suas partes assim como outros farão suas partes depois que fizermos as nossas. Só Deus tem a ótica do todo, sabe de onde vem e para onde vai, a nós cabe fazermos nossas partes, da melhor maneira possível, e confiarmos no Senhor. É bom que seja assim, com isso aprendemos que não somos tudo e muito menos deuses, dependemos dos outros e principalmente do Senhor. Quem tiver olhos espirituais entenderá a maravilhosa interdependência que existe entre os seres humanos, com os homens no mundo, assim como com os seres espirituais invisíveis. Por isso só anda na luz quem anda com Deus, aquele que tudo vê sempre. 
      Se estiver fazendo a tua parte e se isso é aprovado por Deus, descanse enquanto trabalha, e o descanso é espiritual, não necessariamente físico. Por outro lado tem muitos fazendo mais que o que lhes é necessário e ainda assim sentido-se inúteis, preguiçosos, porque o são espiritualmente. O trabalho mais importante é confiar em Deus, nele até o trabalho de formiguinha é eficiente. A Bíblia é sempre completa, para os que têm olhos espirituais, registra Provérbios 6.6 mas também registra Isaías 64.4, um texto completa o outro. O homem deve fazer sua parte, ainda que lhe pareça pouco, mas confiando no Deus que faz muito mais pelos que nele confiam. A mensagem da nova aliança do evangelho de Cristo põe na fé a relevância que a velha aliança punha nas obras. 
      Obras são efeitos da fé, não substituem a fé, mas devem existir na vida do que crê em Deus. Deus não sustenta vagabundo, mas também não honra quem se acha deus. Deus não pode abençoar colheita sem que antes se tenha plantado a semente, contudo, nem toda plantação é de trigo, há colheitas de vidas que foram alimentadas com o pão espiritual da palavra. Muitos semeiam carregando tijolos, alguns fazendo cálculos, mas outros o fazem levando a palavra de Deus aos famintos, e isso de maneiras bem diversas no mundo atual. Dessa forma, não julguemos servo alheio, pelo Senhor foi chamado, para o Senhor semeia e do Senhor receberá a colheita. Já o que planta, seja o que for, não faça com amargura ou por vingança, mas com alegria, para o Deus que tudo vê. 

18/12/21

Igrejas: quem sai, quem fica

      “Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos. Pois comerás do trabalho das tuas mãos; feliz serás, e te irá bem.Salmos 128,1-2

      A reflexão que segue é sobre um assunto que penso que você ainda não leu em postagem na internet ou ouviu de pregação de púlpitos em igrejas, mas acho que ela é relevante, assim como reflete uma experiência comum, que a maioria dos evangélicos hoje já viveu, e se não viveu, viverá. Entre as décadas de 1970 e 1980 cheguei a ser membro de uma mesma igreja por mais de dez anos, mas nos tempos atuais, muitas vezes mudando de cidade por necessidades profissionais, eu e muitos outros, temos ficado algum tempo nunca igreja e depois nos mudado para outra.
      A primeira coisa a dizer é: quem nunca mudou de igreja não arrogue se achar mais espiritual que quem já mudou, e o oposto também é válido, quem mudou não se ache mais lúcido por ter mudado. Deus usa muitas coisas em nossas vidas para trabalhar em nosso homem espiritual, vivências em igrejas é uma dessas coisas. Vários motivos nos levam a mudar de igreja, um deles é escolhas que fazemos na vida pessoal, que até podem ser interpretadas, por homens e seus protocolos religiosos, como erros. Por exemplo, muitos são excluídos de rol de membros por se divorciarem. 
      O assunto desta reflexão não é divórcio ou outros assuntos que podem nos levar a desobedecer regras de religiões, nem vou fazer juízo de valor se divórcio é certo, é errado, necessário ou só pecado. Mas, sim, podemos sair de uma igreja porque um casamento acabou e não temos mais conforto social para convivermos próximos a um determinado grupo, aliás, acho que muitos deveriam fazer isso, não só para assumirem uma nova relação, mas também para tentarem salvar uma antiga de acabar. Muitas vezes igrejas e “irmãos” mais atrapalham que ajudam.
      “Brigou com o pastor”, eis outro motivo comum em saídas de igrejas, e isso também pode ter vários motivos, desde rebeldia de membro até pecado de líder. É claro que quem fica sempre terá a tendência de defender a igreja e o pastor, e quem sai mais provavelmente será julgado por quem fica como rebelde. Quem fica dificilmente reconhece erro em sua igreja ou em seu líder, e mesmo se reconhecer dirá que o que saiu é imaturo, não soube aceitar que toda igreja é imperfeita e todo pastor é humano, que não existem igreja e pastor ideais no mundo.
      Dizer que toda igreja tem defeitos e que defeitos não são motivos para se deixar uma igreja é o clássico álibi para quem não quer sair de zona de conforto, por isso o cristianismo permanece errado por séculos. Quem acompanha este blog sabe que levanto com frequência, não erros humanos, mas heresias, que têm desviado catolicismo e protestantismo. Não faço isso por amargura ou rebeldia, mas como orientação de Deus, se Deus orienta ele sustenta, e o sustento do Senhor com paz é critério para nos certificarmos que somos aprovados em nossos posicionamentos. 
      Mas novamente, esse não é o assunto dessa reflexão, o ponto é: por que cremos na nossa verdade com Deus e duvidamos da verdade dos outros, principalmente se o outro é alguém que saiu da igreja que frequentamos porque não a considerou boa para ele? Penso que os dois lados erram em situações assim. Quem sai, se for orientado por Deus, deve fazê-lo com muito cuidado, respeitar não só quem fica mas o plano de Deus para as vidas desses, assim como quer respeito com o plano de Deus para sua vida que ele entendeu quando decidiu sair. 
      Já quem fica talvez deva ter um trabalho espiritual ainda maior, contudo, na maior parte das vezes é o que acha que tem menos obrigações no acontecimento. Se estamos bem em uma igreja e alguém sai, devemos tentar falar com a pessoa, saber o motivo, se é algo que pode ser resolvido, devemos tentar ajudar em amor, principalmente se for um cristão novo na fé ou com alguma dificuldade como vício. Contudo, se quem sai for alguém mais experiente, e não estiver com problemas na vida pessoal, é importante sabermos o motivo e o considerarmos.
      Meus queridos e minhas queridas: se estamos oficialmente ligados a uma igreja, devemos obediência ao pastor, mas se não der mais para obedecer um pastor devemos sair dessa igreja, ou ficamos inteiros, ou saímos, mas ficar para criticar, manter rancor, dividir, isso não é de Deus. Deus respeita mais o quente e o frio que o morno, porque o morno nem a si mesmo respeita, por não se posicionar. Já quem fica deve ajudar quem saiu, respeitar sua posição ou então verificar se esse não tem um motivo legítimo para não querer mais estar debaixo de uma liderança.
      Quem crê no errado facilmente não crerá no certo, lógica simples de inversão de valores, por outro lado, nós seres humanos amamos zonas de conforto, que achamos, por exemplo, quando estamos ligados a um grupo social por laços familiares. Muitas igrejas hoje são grupos fechados, isso não é algo assumido, mas na prática é o que ocorre, assim, muitos não deixarão o rebanho, ocorra o que ocorrer, e outros, que chegaram tarde demais, serão recebidos com a mesma facilidade que serão mandados embora, assim como mal interpretados se saírem. 
      Não julguemos, nem os que ficam, nem os que saem. A vida não é curta, nem fácil, não conhecemos todos os caminhos de Deus, mal conhecemos os nossos, quanto mais os dos outros. O final só sabemos no fim, quem pode dizer que naquilo que recriminamos alguém hoje não será o que faremos amanhã? Deus é amor, o Senhor dos destinos e das novas oportunidades, não fechemos portas a ninguém, mas também não coloquemos a mão no fogo por ninguém. Oremos por todos, abençoemos a todos, e não tenhamos medo, nem de sair, nem de ficar. Deus sabe de cada um.

17/12/21

A vida não é romance com final feliz

      “Então respondeu Jó ao Senhor, dizendo: Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido. Quem é este, que sem conhecimento encobre o conselho? Por isso relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, e que eu não entendia. Escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza.Jó 42.1-6

      Jesus não teve o final feliz que teve Jó, não merecia sofrimento, mas no final sofreu ainda mais. Isso de alguma forma contraria as leis do universo? Se sofre quem merece, por que sofreu um justo? Sofreu pelos injustos. Isso nos leva a entender que o mais espiritual passará do nível de ter que sofrer só por si mesmo e de forma passageira, para sofrer pelos outros e até o fim. Contudo, qual de nós está preparado para ser espiritual dessa forma? Mesmo assim nos achamos inteligentes, achamos que podemos explicar tudo. 
      Se compararmos o final da vida de Jó com o final da vida de Jesus entenderemos o que era a religião de Deus e para onde ela devia conduzir o ser humano em tempos diferentes da humanidade. Em um tempo, mesmo tendo que sofrer, o temor a Deus levou o homem Jó a ser não só próspero, mas ainda mais próspero materialmente. No outro tempo, o temor a Deus levou o homem Jesus, não só a ter o suficiente materialmente que teve durante sua vida, mas a perder até isso no final, acabando sua existência assim. 
      Jó é o arquétipo de vitória em Deus presente em muitos personagens do antigo testamento na história de Israel, Jesus é o modelo de ser humano da nova aliança que todos somos chamados a ser. Infelizmente muitas igrejas evangélicas, ainda que usem o conceito de fé do novo testamento, o fazem para alcançar o padrão de vida material de muitos do antigo testamento, incorrendo assim numa engano doutrinário. O texto bíblico inicial é a resposta final de Jó a Deus, quando enfim entende o que o Senhor queria dele. 
      Apesar de Jesus ter sido profetizado no antigo testamento, a Bíblia não é um livro tão coeso como muitos querem que seja, ela fala de coisas diferentes. Mas é justamente querendo achar, de forma obsessiva, uma coesão que não existe, na letra e não pelo Espírito Santo, que o cristianismo se desvia e que Jesus não é apresentando como precisa ser para ajudar o ser humano. Outra característica da Bíblia é que ela não é um romance com final feliz, o final do Israel bíblico foi infeliz como foi o do Cristo homem. 
      Ainda assim, principalmente se somos cristãos, queremos achar coesão e finais felizes em nossas vidas. Nestes últimos tempos, a pandemia tem levado muita gente, nessa tragédia ouvi uma pessoa que se diz cristã dizer assim, após perder o esposo, “isso não é justo”, e outros também já me disseram, “você diz que teme a Deus porque não perdeu ninguém do jeito que eu perdi”. Terei coragem para dizer algo, e que Deus tenha misericórdia de mim, se eu perder alguém ficarei muito triste, mas jamais direi que Deus é injusto.
      Lutarei sempre para entender porque Deus me faz passar pelo que passo, sabendo que o objetivo do Senhor é que eu seja alguém melhor, ainda que surpreendido pela vida de forma dura. Ninguém está isento de sofrer, e sofremos de formas diferentes, alguns por terem que fazer algo, outros por não poderem fazer algo, alguns para aceitarem perdas, outros para conquistarem ganhos. Contudo, nossa missão principal é aliarmos ao nosso espírito eterno virtudes morais, por isso seremos avaliados na eternidade. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão.

16/12/21

Ninguém está isento de sofrimento

      “Depois disto o Senhor respondeu a Jó de um redemoinho, dizendo: Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? Agora cinge os teus lombos, como homem; e perguntar-te-ei, e tu me ensinarás. Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência.Jó 38.1-4

      O livro de Jó, muitos dizem ser o texto mais antigo da Bíblia, talvez só compilado por Moisés e outros, mas a história podendo ter se passado muito tempos antes. De um homem rico mas temente a Deus, que perde tudo, recebe a visita de amigos que tentam explicar o porquê das perdas, até o final quando depois de dialogar com Deus recebe do próprio Deus a explicação da provação, a lição principal é: ninguém está isento de sofrer, mesmo aparentemente não merecendo ou já tendo sofrido tudo que achava que precisava.
      Isso nos ensina sobre a lição principal de nossas vidas: não somos medidos pelo que fazemos ou ganhamos no plano físico, mas por nossa evolução moral e espiritual. Sob o ponto de vista mundano Jó não precisava passar por mais nada para ser alguém melhor, mas sob o ponto de vista espiritual, precisava, e passou. Outra lição aprendemos disso: só sabemos tudo que precisaremos viver neste mundo no último instante de nossas vidas, até lá, creiam, tudo é possível, por isso devemos temer a Deus sempre. 
      Entretanto, o ponto desta reflexão é a pergunta que Deus faz a Jó, “faze-mo saber, se tens inteligência”, e como nós, seres humanos, nos achamos, cada um à sua maneira, espertos. Alguns se acham preparados para a vida porque têm fé, outros porque confiam na ciência, outros por terem bens e dinheiro, outros ainda por não terem nada e por isso não terem medo de perder nada. Mas tudo é vaidade, com diz o autor do livro de Eclesiastes, ou pelo menos tudo que foque o homem em seu ego, e não no Deus verdadeiro. 
      Acho maravilhoso como a vida pode surpreender a todos os seres humanos, e muitas vezes com coisas não agradáveis, mostrando que ninguém é melhor que ninguém. Ela faz isso na proporção inversa do temor que temos do Senhor, por isso esse temor importa mais que fé, ciência, grana e mesmo abnegação. Só Deus sabe tudo e quem não confia nisso em primeiro lugar sempre será surpreendido, e será porque essa é uma das grandes lições da vida, se não a tivermos aprendido seremos surpreendidos para aprendê-la. 
      A insensatez está nos extremos, em olhar a existência, mesmo que com lucidez, mas só por um ponto de vista, desconsiderando o outro. Por isso tantos se esforçam, dão seus máximos, estudam, trabalham, poupam, negam vaidades e consultam sempre a ciência, tudo para terem controle sobre a vida e o mundo, mas só considerando o plano físico acabam tendo amargas surpresas no final. O mesmo ocorre com quem se esmera na fé e na religião, e desconsidera ciência, estudos, inteligência, e conhecimento intelectual.
      Nossa missão principal no mundo não é sermos prósperos materialmente, assim se tivermos que perder prosperidade para aprender o que é importante, assim será, ainda que Deus sempre sustente com dignidade os que o temem. O engano sempre nos leva a achar que já sofremos o suficiente e que merecemos usufruir de prazeres, nesse engano caem tanto homens de Deus como outros trabalhadores honestos. O universo é engenho complexo, mas os que temem a Deus tem seu funcionamento a seu favor, ainda que sofram.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão.

15/12/21

Deus nos ama!

      “Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados.” Versão Tradicional 
      “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.Nova Almeida Atualizada
I João 4.10 

      Deus te ama! Uma frase popular, clichê para evangelismo, mas mais que isso, a origem da obra de redenção de Deus por Jesus, enfim, estamos cansados de saber, Deus nos ama! Mas será que entendemos de fato a importância disso? O texto diz nisto está o amor ou nisto consiste o amor, quer dizer que a razão principal do amor existir está no que segue, numa iniciativa de Deus em nos amar indiferente de qualquer coisa, não em nós amarmos a Deus. Deus nos ama independentemente de nós o amarmos e sempre, seu amor se manifestou assim, consciente de quem somos. 
      Temos dificuldades para amar as pessoas, mas muito mais quando sabemos que uma pessoa não é tão legal, ou pior, que não gosta de nós, mas mais dificuldade ainda temos de amarmos um criminoso, uma pessoa má e que não quer mudar de estilo de vida. Pois saiba que Deus ama a todos, os que não gostam de nós, assim como os assassinos, cruéis e egoístas, que vivem só para satisfazerem seus prazeres. Deus ama o tempo todo, não existe qualquer interferência no movimento ou na qualidade de seu amor, aliás, se houvesse, todo o universo entraria em caos, física e espiritualmente. 
      Sabermos disso é razão para duas coisas, a primeira é não termos qualquer espécie de timidez ou receio de nos aproximarmos de Deus, ainda que envergonhados pelo pecado, às vezes reincidente, humilhante, e é bom que nos sintamos assim, com vergonha, é sinal que ainda não perdemos a sensibilidade moral. Contudo, temos que saber que nada nos separa do amor de Deus, só nossa escolha de não nos aproximarmos dele. Então, nos cheguemos a ele, com fé para recebermos o perdão que no traz a paz, que nos fortalece para seguirmos e não cometermos mais o mesmo erro. 
      A segunda coisa que o conhecimento de termos um Deus que nos ama sem exigências nos dá é gratidão. Quem agradece, ama, quem ama quer agradar, e quem quer agradar não quer cometer um pecado novamente, principalmente quando sabe que o pecado interfere na relação com aquele que ama. Deus não fica magoado conosco, mas nosso espírito fica ferido, nessa condição nosso espírito tem dificuldade para sentir o Espírito Santo e se colocar em comunhão com Deus. Que a mágoa não tenha espaço, mas que a gratidão sempre ache tempo para louvar ao Senhor pelo seu amor. 
      O amor de Deus é a energia mais poderosa do universo, emanação da luz do Altíssimo, é o que mantém a vida e é muito mais que sentimento. A palavra de Deus é ação, não só som ou ideias compartilhadas, é movimento e transformação que se completa quando encontra vontade positiva no ser. Jesus é o verbo, Jesus é a palavra de Deus, a palavra é amor, Jesus é amor, Jesus é a ação de Deus atraindo e transformando o ser. Deixemo-nos levar por esse amor, ele nos torna leves, santos, bons, iluminados, satisfeitos, curados, espirituais, vivos, e ele só precisa de nossa autorização para agir. 

14/12/21

Se há urubus há carniça

      “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?João 11.25-26

      A natureza, ar, terra, rios, mares, flora e fauna, é simbologia para muitas coisas, que se prestássemos mais atenção e entendêssemos sua simplicidade, compreenderíamos muitas coisas de nossas vidas, não só físicas, mas também espirituais. Leões matam e comem a carne ainda viva, ou quase viva, eles são carnívoros, já nós, seres humanos, apesar de na maior parte das vezes cozinharmos e assarmos as carnes, comemos a carne de animais bem morta, como os urubus, assim não somos carnívoros, somos carniceiros, parece nojento mas é isso. 
      A lei da matéria é essa, morte, e precisa de mais morte para se manter viva, ainda que numa existência passageira neste mundo. A lei do espírito é oposta a essa, vida, e vive à medida que entra em sintonia com a vida eterna do Deus Altíssimo, mesmo preso a um corpo mortal o espírito precisa do Espírito de Deus para viver. Ocorre que muitos seres humanos estão com “urubus” circulando sobre suas cabeças, e ainda assim não assumem que estão espiritualmente mortos, e possivelmente com mortes físicas próximas que os pegarão de surpresa. 
      Os urubus, nessa simbologia, são avisos, mas no mundo material nem precisamos ver urubus ou outros carniceiros, para sabermos que o cadáver de um homem ou bicho está próximo, sentimos o fedor, e como é forte e desagradável o cheiro de corpo em decomposição. É para ser assim, para que identifiquemos um cadáver e o enterremos, a sete palmos de terra. No caso de morte espiritual há uma opção, a ressurreição do espírito, Jesus tem o poder de ressuscitar mortos espirituais, ninguém precisa ser enterrado ainda com o corpo físico vivo. 
      O fedor moral se nota na soberba, na impaciência, na malícia, no engano que faz o ser humano ser presa de mentirosos, egoístas, sensualistas, desejosos de satisfazerem apetites do corpo, ainda que usando os outros. Mortos morais podem estar bem banhados, vestidos com marcas luxuosas, aromatizados com perfumes caros, sentados às mesas dos restaurantes sofisticados, tomando vinhos raros, e ainda assim federem. Já os vivos no espírito, ainda que com vidas simples, exalarão cheiro agradável que sobe até o trono do Altíssimo. 
      “Pobre mais limpinho”, se diz por aí, quem já não percebeu isso, ainda que não conseguisse entender bem, estar diante de alguém bem aparentado, mas sentir algo desagradável, e estar com alguém pobre no exterior, mas perceber algo nobre? Vida espiritual não se compra, se ganha gratuitamente de Deus quando a ele se busca com humildade. Estejamos atentos aos sinais, “urubus” não voam sobre vivos, se eles estão presentes algo está morrendo ou morto, sejamos sábios e busquemos a única vida que é eterna, comunhão íntima com Deus.