quarta-feira, dezembro 22, 2021

Luz para meus olhos

      “Até quando te esquecerás de mim, Senhor? Para sempre? Até quando esconderás de mim o teu rosto? Até quando consultarei com a minha alma, tendo tristeza no meu coração cada dia? Até quando se exaltará sobre mim o meu inimigo? Atende-me, ouve-me, ó Senhor meu Deus; 
      ilumina os meus olhos para que eu não adormeça na morte; para que o meu inimigo não diga: Prevaleci contra ele; e os meus adversários não se alegrem, vindo eu a vacilar. Mas eu confio na tua benignidade; na tua salvação se alegrará o meu coração. Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem.
Salmos 13

      Interessante compararmos a primeira frase do salmo treze com a última: “até quando te esquecerás de mim, Senhor?” e “cantarei ao Senhor porquanto me tem feito muito bem”. São afirmações opostas, mas para entendermos esse antagonismo temos que avaliar o salmo não só como doutrina, mas como expressão artística, poema e letra de uma canção. Como tal, o autor não pretende descrever tecnicamente as virtudes de Deus, mas expressar o seu sentimento diante de uma situação. Deus se esquece de alguém? Não, mas o salmista sentiu-se como todos nós nos sentimos muitas vezes, como se Deus se esquecesse de nós, tal nossa angústia numa tribulação. 
      Mas o salmista entende que está sendo esquecido por Deus, não porque Deus o tenha deixado, mas porque vê um inimigo prevalecendo sobre ele, “até quando se exaltará sobre mim o meu inimigo?”, diz ele. Se estamos bem materialmente, se não falta emprego, dinheiro e a saúde está legal, nem damos tanta importância para termos uma experiência mais íntima com Deus em oração, mesmo sentirmos certa distância de Deus não nos abala. Contudo, basta que algo saia do nosso controle no plano material, ou sermos prejudicados de alguma forma pelo homem, que buscaremos o Senhor com mais afinco, desejando de todo o coração sua proximidade e sua paz. 
      A frase “ilumina os meus olhos para que eu não adormeça na morte” é reveladora, não é o homem que prevalece contra nós, muito menos Deus quem de nós se esquece, mas somos nós que fraquejamos na vigilância. O salmista reconhece seu erro em “os meus adversários não se alegrem, vindo eu a vacilar”, não são os outros que nos vencem, somos nós que nos tornamos vencíveis quando deixamos de olhar a existência com os olhos espirituais abertos, quando isso acontece nos deixamos enredar pelos laços da morte. Estar na luz espiritual do Altíssimo é o que nos fortalece e nos alegra, Deus nunca se esquece dos que fitam os olhos nele, vigiemos! 
      “Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem”, quem anda vigilante não é ingrato, não vive reclamando, e principalmente, não tem inimigos, pelo menos não da parte dele, antes, adora um Deus misericordioso, que cuida dos seus com amor. Isso não significa que no mundo não provemos altos e baixos, injustiças e agressões, ganhos e perdas, mas na vigilância da luz de Deus entendemos que tudo isso é para que aprendamos a confiar mais e mais no Senhor e sermos espirituais. Cai quem é desestabilizado pelo mal, o é quem para de olhar para Deus e olha para os ídolos, medos e falsos deuses, quem olha para Deus vai sempre em paz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário