sábado, dezembro 18, 2021

Igrejas: quem sai, quem fica

      “Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos. Pois comerás do trabalho das tuas mãos; feliz serás, e te irá bem.Salmos 128,1-2

      A reflexão que segue é sobre um assunto que penso que você ainda não leu em postagem na internet ou ouviu de pregação de púlpitos em igrejas, mas acho que ela é relevante, assim como reflete uma experiência comum, que a maioria dos evangélicos hoje já viveu, e se não viveu, viverá. Entre as décadas de 1970 e 1980 cheguei a ser membro de uma mesma igreja por mais de dez anos, mas nos tempos atuais, muitas vezes mudando de cidade por necessidades profissionais, eu e muitos outros, temos ficado algum tempo nunca igreja e depois nos mudado para outra.
      A primeira coisa a dizer é: quem nunca mudou de igreja não arrogue se achar mais espiritual que quem já mudou, e o oposto também é válido, quem mudou não se ache mais lúcido por ter mudado. Deus usa muitas coisas em nossas vidas para trabalhar em nosso homem espiritual, vivências em igrejas é uma dessas coisas. Vários motivos nos levam a mudar de igreja, um deles é escolhas que fazemos na vida pessoal, que até podem ser interpretadas, por homens e seus protocolos religiosos, como erros. Por exemplo, muitos são excluídos de rol de membros por se divorciarem. 
      O assunto desta reflexão não é divórcio ou outros assuntos que podem nos levar a desobedecer regras de religiões, nem vou fazer juízo de valor se divórcio é certo, é errado, necessário ou só pecado. Mas, sim, podemos sair de uma igreja porque um casamento acabou e não temos mais conforto social para convivermos próximos a um determinado grupo, aliás, acho que muitos deveriam fazer isso, não só para assumirem uma nova relação, mas também para tentarem salvar uma antiga de acabar. Muitas vezes igrejas e “irmãos” mais atrapalham que ajudam.
      “Brigou com o pastor”, eis outro motivo comum em saídas de igrejas, e isso também pode ter vários motivos, desde rebeldia de membro até pecado de líder. É claro que quem fica sempre terá a tendência de defender a igreja e o pastor, e quem sai mais provavelmente será julgado por quem fica como rebelde. Quem fica dificilmente reconhece erro em sua igreja ou em seu líder, e mesmo se reconhecer dirá que o que saiu é imaturo, não soube aceitar que toda igreja é imperfeita e todo pastor é humano, que não existem igreja e pastor ideais no mundo.
      Dizer que toda igreja tem defeitos e que defeitos não são motivos para se deixar uma igreja é o clássico álibi para quem não quer sair de zona de conforto, por isso o cristianismo permanece errado por séculos. Quem acompanha este blog sabe que levanto com frequência, não erros humanos, mas heresias, que têm desviado catolicismo e protestantismo. Não faço isso por amargura ou rebeldia, mas como orientação de Deus, se Deus orienta ele sustenta, e o sustento do Senhor com paz é critério para nos certificarmos que somos aprovados em nossos posicionamentos. 
      Mas novamente, esse não é o assunto dessa reflexão, o ponto é: por que cremos na nossa verdade com Deus e duvidamos da verdade dos outros, principalmente se o outro é alguém que saiu da igreja que frequentamos porque não a considerou boa para ele? Penso que os dois lados erram em situações assim. Quem sai, se for orientado por Deus, deve fazê-lo com muito cuidado, respeitar não só quem fica mas o plano de Deus para as vidas desses, assim como quer respeito com o plano de Deus para sua vida que ele entendeu quando decidiu sair. 
      Já quem fica talvez deva ter um trabalho espiritual ainda maior, contudo, na maior parte das vezes é o que acha que tem menos obrigações no acontecimento. Se estamos bem em uma igreja e alguém sai, devemos tentar falar com a pessoa, saber o motivo, se é algo que pode ser resolvido, devemos tentar ajudar em amor, principalmente se for um cristão novo na fé ou com alguma dificuldade como vício. Contudo, se quem sai for alguém mais experiente, e não estiver com problemas na vida pessoal, é importante sabermos o motivo e o considerarmos.
      Meus queridos e minhas queridas: se estamos oficialmente ligados a uma igreja, devemos obediência ao pastor, mas se não der mais para obedecer um pastor devemos sair dessa igreja, ou ficamos inteiros, ou saímos, mas ficar para criticar, manter rancor, dividir, isso não é de Deus. Deus respeita mais o quente e o frio que o morno, porque o morno nem a si mesmo respeita, por não se posicionar. Já quem fica deve ajudar quem saiu, respeitar sua posição ou então verificar se esse não tem um motivo legítimo para não querer mais estar debaixo de uma liderança.
      Quem crê no errado facilmente não crerá no certo, lógica simples de inversão de valores, por outro lado, nós seres humanos amamos zonas de conforto, que achamos, por exemplo, quando estamos ligados a um grupo social por laços familiares. Muitas igrejas hoje são grupos fechados, isso não é algo assumido, mas na prática é o que ocorre, assim, muitos não deixarão o rebanho, ocorra o que ocorrer, e outros, que chegaram tarde demais, serão recebidos com a mesma facilidade que serão mandados embora, assim como mal interpretados se saírem. 
      Não julguemos, nem os que ficam, nem os que saem. A vida não é curta, nem fácil, não conhecemos todos os caminhos de Deus, mal conhecemos os nossos, quanto mais os dos outros. O final só sabemos no fim, quem pode dizer que naquilo que recriminamos alguém hoje não será o que faremos amanhã? Deus é amor, o Senhor dos destinos e das novas oportunidades, não fechemos portas a ninguém, mas também não coloquemos a mão no fogo por ninguém. Oremos por todos, abençoemos a todos, e não tenhamos medo, nem de sair, nem de ficar. Deus sabe de cada um.

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