sábado, janeiro 08, 2022

Pacificadores, não soldados (8/9)

      “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.Mateus 5.9 

      Deus não chama para a batalha, mas para a paz! Ser pacificador não é escolha para um filho de Deus, não é virtude opcional, que às vezes pode ser deixada de lado, como para conquistar algo quando se considera que assim como Deus autoriza também libera meios mais agressivos. No antigo testamento Deus autorizava e apoiava guerras físicas, onde inimigos eram submetidos e muitas vezes aniquilados, incluindo mulheres e crianças desses. Mas esse definitivamente não é o modo de agir de um povo de Deus debaixo da nova aliança em Cristo, aliás nessa aliança não existe uma nação de Deus e povos inimigos, existem só indivíduos, todos chamados para a comunhão com Deus e portanto com privilégios de serem filhos de Deus, amigos entre si e em paz. 
      A marca de um filho de Deus é ser pacificador, ainda que isso custe sua vida! Isso é ponto passivo no evangelho, assim, não há espaço para embates de qualquer espécie, sejam verbais ou físicos, entre indivíduos, e principalmente entre um filho de Deus e outro indivíduo que não aceita sê-lo. Por ser essencialmente um pacificador, o filho não tem direito de ser agressivo em confrontos com a certeza de vitória só por ter Deus como pai. Mesmo o filho de Deus, se colocar-se como opressor, não terá o apoio do Senhor, e mais, pode ter uma derrota mais vergonhosa que o que não se posta como filho. Isso porque o que não se liga a Deus não precisa dar testemunho dele, mas o que se põe na posição de filho precisa, a esse Deus tem que disciplinar com rigidez. 
      Se algum pastor evangélico discorda disso que rasgue de sua Bíblia as páginas com o sermão da montanha, o das bem-aventuranças. Pode-se argumentar, “Jesus perdeu para que ganhássemos, se ele morreu nós não precisamos morrer, ganhamos vida pela cruz”. A teologia da substituição tem levado os cristãos a enganos, a ideia de que Cristo se tornou salvador morrendo, por isso tendo o poder de dar vida aos que creem nele, pode conduzir a uma valorização exagerada da fé. Os judeus precisavam de uma ideologia que lhes permitisse a passagem de sua religião para uma religião mais espiritual, que permite a religação com Deus entregue à humanidade por Jesus, assim o sacrifício de Jesus foi ensinado como substituto para sacrifícios de animais.
      Em Cristo, neste mundo, não somos chamados à vida, mas à morte, para que tenhamos direito à vida eterna no outro mundo. Por não aceitar essa vocação é que muitos evangélicos, amando mais a si que a Deus, querendo a glória do mundo e não a do céu, não aceitam a missão de pacificador. “Se Cristo morreu por mim eu posso viver”, pensam muitos, “se ele venceu o mal eu posso vencer as batalhas”, esbravejam tantos, “se Jesus é o caminho, a verdade e a vida eu não preciso me curvar a homens de religiões idólatras e satanistas”, creem tantos evangélicos. Vendo as coisas assim não se sentem na obrigação de serem pacificadores, mas “exército de Deus marchando para a batalha”, eis o entendimento equivocado que muitos fazem do evangelho de Cristo.
      Fé em Jesus não substitui obras, somente dá ao homem a paz do perdão de Deus que fortalece o homem para trabalhar e ter direito à vida eterna. Qual foi a principal missão de Jesus? Foi morrer ou foi viver? Foi substituir ou mostrar como ser? A trajetória de Cristo teve vários significados, e um ser humano acostumado, pela sua infantilidade intelectual, moral e espiritual, a mistificações e superstições, a rituais de sacrifícios de sangue, precisava de algo que impressionasse fortemente a ideia que ele tinha (e que muitos ainda têm) sobre religião que aplaca a ira dos deuses e paga o preço dos pecados. Mas Jesus foi muito mais que isso, foi o modelo de ser humano espiritual que todos devem almejar, e isso inclui dar a própria vida por amor, para ser pacificador, não soldado.

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