17/08/25

Mordaça no Espírito (7/8)

      “Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim.João 15.26

      Um ponto importante aos que querem usar textos bíblicos como comprovação para muitos dogmas cristãos, é que os seres humanos, mesmo profetas, apóstolos e outros escritores do cânone bíblico, não tinham as convicções que o cristianismo tem hoje, após quase dois mil anos da ressurreição de Cristo, quase dezesseis séculos de catolicismo e quase quatro séculos de protestantismo. Hoje para muitos em templos cristãos, certas informações parecem óbvias, mas não eram nos tempos bíblicos. A religião mosáica orientava obediência a leis, respeito a festas e sacrifícios no templo, mas para se ter uma vida agradável a Deus, e consequentemente digna de receber dele proteção, neste mundo, não na eternidade. 
      Algum israelita esotérico podia saber mais sobre existência no além, mas não era relevante ao israelita comum. Mesmo os profetas mais íntimos de Deus, não pregavam sobre juízo, céu e inferno, se sabiam guardavam para si, a palavra que entregavam a reis, a sacerdotes e ao povo era para serem fiéis a Deus para terem prosperidade no mundo. A princípio isso não era muito diferente nos tempos do novo testamento, mas nesse momento o homem já estava preparado para saber mais. Teria sido diferente, se os que ouviram a palavra em primeira mão de Jesus, tivessem passado à frente só o que o Cristo ensinou, se não tivessem perdido o foco tão depressa? Mas isso estava nos planos divinos, o grande desvio católico foi necessário. 
      Paulo dedicou grande parte de suas epístolas para ensinar judeus sobre dois temas. O primeiro é que fé no sacrifício do Cristo é superior à obediência às leis de Moisés, assim ele estendeu o messias esperado por um povo para salvador de todo o mundo. O segundo tema é que a vida não se encerra na morte, há uma ressurreição, não no plano material com corpos físicos, mas no espiritual, onde se passa pela avaliação divina, o juízo. Ao que nos parece, as pessoas, mesmo as com tradição religiosa israelita, tinham certa dificuldade para entender plano espiritual e vida eterna, assim como a superioridade da vida no além à vida terrena. Até Jesus cumprir sua missão, o ser humano era materialista, não por escolha, mas por limitação. 
      Muitos cristãos não fazem ideia da importância real de Jesus Cristo, tudo que ele representa e é, tudo que praticou como homem e se tornou como espírito. Por algum motivo, no quarto século, o imperador romano Constantino se converte ao cristianismo, cristianismo que não era mais o puro evangelho de Jesus, se fosse não teria se tornado tão rapidamente na Igreja Católica. Seja como for, uma seita judaica, nascida entre judeus e pregada a princípio a judeus, torna-se universal, ou ocidental, pelo menos na cultura. O catolicismo construiu a teologia que muitos creem hoje serem doutrinas oficiais do cristianismo, na verdade o cristianismo passou por um processo lento adaptando paganismo e reinterpretando textos sagrados. 
      O número de adeptos cresceu, igrejas se organizaram, a religião ganhou valor entre poderosos e uma grande maioria de denominados cristãos, ovelhas e pastores, se desviou da palavra viva, reta e pura que Deus entrega ao ser humano pelo Santo Espírito, experiência que Jesus inaugurou no momento que a humanidade estava preparada para tal. O lado positivo foi que se conseguiu calar a voz do politeísmo, o ser humano entendeu que a voz direta de Deus podia ser ouvida pela autoridade do nome de Jesus. O lado negativo foi que dogmas foram criados, a princípio para coibir desvios e subjetividades, mas que depois levaram a cristandade a calar também a voz do Espírito Santo, o que se podia saber estava escrito e ponto. 

16/08/25

O mal é útil ao bem (6/8)

      “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta.” “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.Tiago 1.13, 17

      Não tem como ser diferente, mal é praticado por um ser mau, chame-se esse ser de demônio, homem ou o que for. Sendo algo mau causa sofrimento, contudo, sofrimento pode ser usado pelo bem para gerar algo bom. O que é o bem? Em última instância é disposição benigna do ser humano para aprender algo bom, ainda que seja com a dor, então, não ser mais atingido pelo mal ou não atingir outros com esse. Mas como cristãos precisamos considerar o texto bíblico inicial, bem genuíno vem de Deus, Deus diretamente não faz mal. Deus, contudo, autoriza que o mal seja feito por alguém mau, assim como administra tudo no universo, tendo objetivo de conduzir o ser humano a ser bom, para mais perto dele.
      Seres maus têm utilidade para Deus, fazem algo que outros seres não podem fazer, senão iria-se contra uma lei universal, luz gera luz, trevas geram trevas, luz não pode gerar trevas assim como Deus de forma direta não pode fazer o mal. Diabo, demônios, infernos e sofrimento têm utilidade nas mãos de Deus. Para nos aprofundarmos nessa reflexão algo tem que ser levantado, alguns dizem que o inferno é aqui, outros dizem que aqueles que acham que o mundo é um inferno não têm ideia do que seja o inferno verdadeiro. A teologia tradicional protestante pensa no inferno como lugar de tortura sem fim no plano espiritual, já no plano físico, por mais que soframos, sempre temos algum momento de refrigério. 
      Quem vive na Terra de forma lúcida, assumindo seus erros, não fugindo das consequências deles em prazeres ilusórios, nem jogando a culpa nos outros, fazendo a coisa certa do jeito certo, assim também não fazendo o certo com peso, achando que faz algo porque outro não está fazendo, mas fazendo com amor, esse sabe que viver é experimentar uma dor constante. Bom que seja assim, quem sofre no mundo do jeito correto entendeu que ter um espírito eterno, que anseia estar perto do Altíssimo, encarcerado num corpo fisico, gera sofrimento. Sensíveis sofrem, não sofrem os frios, cínicos, irresponsáveis e que deixaram de receber e dar perdão porque se acham certos demais para errarem e arrependerem-se.
      A dor certa não diminui com o tempo, mas aumenta, não porque erramos mais, mas justamente pelo contrário, porque erramos menos, nos tornamos mais santos e andamos mais perto de Deus. O que é o inferno senão saber que o melhor existe, está em Deus, mas ter a consciência que não consegue-se ser melhor e estar perto de Deus? Inferno pode ser provado na Terra, mas o pior inferno só prova os que temem a Deus, os outros seguem iludindo-se e fugindo. Na eternidade todos seremos confrontados com a verdade, além disso lá só haverá um modo de se ter paz, o céu, que nada mais é que subir para Deus. Quem não foi humilde, santo e amoroso o suficiente no mundo cairá em sofrimento sem consolo. 
      Se o que acerta mais sofre mais, então esse prova mais inferno aqui que os outros. Você concorda com esse raciocínio? Mas não foi isso que vimos no Cristo homem? Um ser humano que não fez nada errado, que andou o tempo todo perto de Deus, que amou sem limites, mas que ainda assim não foi entendido, honrado nem respeitado, antes foi perseguido, preso, torturado e morto, e justamente por aqueles que estavam em posições religiosas mais altas? Concluo que ser cristão, mas não ser compreendido nem aceito por muitos que se auto-denominam cristãos, é honra, é provar inferno no mundo, assim pagar dívidas e conquistar glória maior na eternidade. Provar inferno aqui conquista o céu lá. 

15/08/25

Fim da fantasia diabólica (5/8)

      “Quanto à vossa obediência, é ela conhecida de todos. Comprazo-me, pois, em vós; e quero que sejais sábios no bem, mas simples no mal. E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco. Amém.Romanos 16.19-20

      Que fique claro, quando levantamos a hipótese de como seríamos nós, como administraríamos a existência, neste mundo e no outro, caso não existisse um diabo eterno, como define a teologia tradicional protestante, não estamos dizendo que não haja pecado, que não haja mal, e que não haja uma avaliação divina, após a nossa morte física, para verificar se vencemos ou não o mal, pelo menos na maior parte do tempo em que vivemos na Terra. Ninguém force um entendimento errado desta reflexão, dizendo que não queremos admitir o diabo para que possamos viver em pecado e não sermos punidos por isso. O ponto não é se há o mal, mas até que ponto fugimos de uma responsabilidade pessoal numa fantasia diabólica. 
      A verdade é que por séculos o cristianismo tem usado um diabo como bode expiatório, tem pego o diabo pra “cristo”, perdoem-me o uso das palavras. O tamanho do diabo é proporcional ao tamanho do medo que o ser humano tem da verdade, portanto, medo de Deus, já que ele tem toda a verdade, inclusive sobre o diabo. O diabo é conveniente, como já dissemos, para manipuladores e comerciantes da fé de grupos humanos. Contudo, o diabo é útil para cada um de nós, oferece-nos um inimigo para odiarmos e culparmos, uma entidade por trás de teorias conspiratórias e escatológicas. Mas se Nietzsche disse que Deus estava morto, a verdade é que o diabo está morrendo, e creiam, haverá um dia que será citado só como história. 
      O filósofo acertou sob um ponto de vista, o “Deus” do catolicismo e mesmo do protestantismo, graças a Deus, está diminuindo, e novamente me perdoem os termos. À medida que o falso “Deus” decresce, o poder do diabo também míngua, os conceitos estão ligados. Superstições cristãs e superstições satanistas são dois lados de uma mesma moeda, ainda que Deus atenda a todos no que lhe permitem atender. No máximo, o diabo é uma influência ruim, coletiva e espiritual, sob indivíduos humanos encarnados. Espírito não tem corpo, mas se temos medo dele e não buscamos conhecê-lo em Deus, podemos imaginar o que quisermos. Um indiano imagina um diabo diferente de um italiano, de um chinês ou de um nigeriano. 
      Diabo é escuridão moral, ausência da luz de Deus, mas não de Deus. Deus está em todo lugar e nada foge dele. Só há um lugar que Deus só ilumina se for-lhe autorizado, o interior dos seres. Se dizemos não a Deus, nosso interior escurece-se, torna-se território diabólico. Não nos enganemos, temporariamente podemos ser instrumentos do diabo, ainda que religiosos e não possessos, como são instrumentos os egoístas e cruéis ou simplesmente ateus e materialistas de forma mais duradoura. Obviamente não na mesma proporção, mas o diabo e consequentes trevas podem estar dentro de qualquer um neste mundo, ainda que por pouco tempo. Após a morte infernos persistentes na Terra serão liberados ao inferno maior
      O inferno maior é local distante da luz mais alta de Deus, onde se reúnem e tentam se esconder os que não querem subir a Deus. Muitas trevas reunidas não tem o poder que tem uma finíssima emanação da luz do Altíssimo, que nós podemos refletir quando obedecemos a Deus, contudo, essas trevas podem ser grandes o suficiente para fantasiarem um diabo e influenciarem seres humanos simpáticos na Terra. Mas o tempo passa, o “inferno” recebe seres cada vez menos supersticiosos, ainda que em trevas, assim aquele diabo que por séculos aterrorizou a humanidade morre. Aproxima-se o tempo onde esse diabo morrerá de vez, é o que João o evangelista tentou descrever em Apocalipse, com sua mente do final do século um. 

14/08/25

Alguém para culpar e temer (4/8)

      “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte. Não erreis, meus amados irmãos.Tiago 1.14-16

      Se viver em grupo é melhor, jogar a culpa nos outros, para não assumi-la como minha, é mais fácil. Novamente o dualismo de “nós” e “eles” é usado, agora como vítima e agressor. Gostamos de ver o agressor no outro, por isso o prazer mórbido por assistir programas jornalísticos que mostram assassinatos, estupros, violência. Se o “outro” comete um crime que achamos que nunca seremos capazes de cometer, isso nos entrega um consolo, que ainda que sejamos errados há gente pior. Por isso amamos fofocar, falar mal do outro, achar e se não achamos extrapolar e inventar erros dos outros. Há estudiosos que dizem que o que manteve seres humanos em grupo foi a necessidade de fofocar, mais até que outras necessidades. 
      O ser humano tem a tendência de criar ídolos para substituir Deus. Na tentativa mal sucedida de saciar sua sede de um Deus espírito, todo-poderoso material e espiritualmente e de moral superior, em santidade, amor e justiça, ele busca no plano físico e no espiritual potências que lhe satisfaçam. No plano material temos instituições, religiões, partidos políticos, que dizem defender agendas nobres e poderosas, essas são reconhecidas e adoradas. No plano espiritual potências ficam por conta da sensibilidade e trabalho espiritual de cada ser humano, mas também de sua fantasia. Um plano que se acessa mentalmente, está mais aberto para que o homem ache ilusão e enganos, portanto, mentira, portanto o chamado diabo.
      Achar alguém para ser culpado, alguém grande e poderoso, um ídolo maligno, eis o que é o diabo na cabeça de muitos. Mas o ser humano não cria só ídolos do mal, de outros deuses, entidades ou poderes espirituais, o pior ídolo é o que o homem chama de “Deus”, ao qual é agregado conceitos bíblicos. Em seu amor Deus ouve a todos, abençoa mesmo os que não o adoram como o verdadeiro Deus, mas como um ídolo mental semelhante a ele. Se não fosse assim poucos receberiam favor divino. Interessante, que diferente de nós, que quando caluniados ou destratados queremos cobrar as pessoas, nos defender, Deus não faz isso, simplesmente porque não pode. Poucos estão preparados para o que Deus é de fato. 
      A humanidade evoluiu, a ciência se desenvolveu, o homem conhece a si mesmo, seu corpo, sua psique, o planeta, parte do universo, assim como entendeu a importância de direitos iguais para todos, indiferente de sexualidade, raça, cor de pele, religião, cultura ou poder aquisitivo. Se uma religião coletiva para agregar e direcionar a humanidade à verdade moral e espiritual teve algum interesse para Deus no passado, já há algum tempo não tem mais, não para todos, eu penso assim. O momento, que ao meu ver iniciou-se no final do século XIX, é de busca individual, não desprezando religiões coletivas, mas aprendendo delas o que é possível e depois seguindo numa jornada pessoal rumo à luz mais alta de Deus. Isso já é possível. 
      Quando olhamos para fora e para baixo fugimos de nós e de Deus, não encaramos a verdade e somos enganados por mentiras. Quando olhamos só para os homens buscamos felicidade na glória dos homens, na aprovação de religião, nisso geramos medo, que procura algo proporcional para temer. Como nessa situação estamos em trevas, não temos conhecimentos reais, assim nossa mente inventa, fantasia, e como é poderosa a criatividade humana. Comprovamos isso na literatura e no cinema, quantos monstros, quantos espectros, quantos alienígenas, quanto terror e quanta ficção fantasiamos, uma realidade falsa, mas que teve origem em mentes que se afastaram da verdade e se refugiaram na mentira, no mundo, nos homens, no diabo. 

13/08/25

Diabólico poder dos homens (3/8)

      “Ai dos que descem ao Egito a buscar socorro, e se estribam em cavalos; e têm confiança em carros, porque são muitos; e nos cavaleiros, porque são poderosíssimos; e não atentam para o Santo de Israel, e não buscam ao Senhor.Isaías 31.1

      Sem dúvida é mais fácil viver em grupo, o ser humano descobriu isso quando começou a fazer troca de alimentos, vestes e outros bens com outros seres humanos. O motivo é simples: ninguém é igual, cada um tem capacitações e habilidades diferentes, e todos podem ser surpreendidos pela existência neste planeta, pelo clima, por doenças e por acidentes, de maneiras diferentes. Assim o que nos falta num momento pode estar sobrando para outro, que pode pedir em troca pelo que tem algo que temos e que lhe falta. Se para a sobrevivência material viver em sociedade é melhor, também é para se compartilhar crenças e experiências com o sobre-humano, o divino e o plano espiritual. Viver em grupo não é o problema, é solução. 
      Contudo, podemos usar participação em comunidades, agremiações, sociedades e religiões, de forma negativa. A força e a convicção que não temos sozinhos, achamos quando estamos em grupo, vide por exemplo violências praticadas por torcidas de futebol, por gangues de bairros, por defensores de uma determinada ideologia política. Mas o erro pode ser pior quando nos unimos em torno de uma ótica religiosa, já que nesse caso pomos o nome de Deus no meio e o usamos como razão para crermos, falarmos e fazermos determinadas coisas, coisas que podem chegar a negar radicalmente os princípios que uma religião ensinava em seu início puro. Mentira sempre pede mais mentira para seguir existindo. 
      Vende-se porque há quem compre, assim o ser humano percebeu que o ser humano não quer só o que objetivamente supre necessidades reais, mas pode consumir muita coisa por vaidade, para não ser diferente, em busca de aprovação do grupo e assim ser abraçado e protegido por esse grupo. Enfim, o ser humano entendeu que o ser humano gosta de ser enganado e, portanto, de enganar para obter algum lucro. Se isso acontece nos alimentos, quando se bebe uma marca de refrigerante porque está na moda, também ocorre na religião, com o agravante de usar o nome de Deus. Assim cria-se mentiras religiosas para atrair e manter um grupo de pessoas num credo, mas também para conferir poder e riqueza a algumas pessoas. 
      A verdade purifica-se à medida que é conhecida, assim fica mais simples e pode até parecer diminuir, não para restringir, mas para explicar e unir tudo. A mentira aumenta com o tempo, precisa de novas e complicadas mentiras para continuar enganando os que não buscam a verdade na fonte, mas querem barganhar a mentira com os mentirosos. A mentira escraviza, limita, divide, assim leva a embates para que tenha poder, por isso precisa de inimigos claros e fortes. Só se tem uma grande vitória quando se vence um inimigo grande, a qualidade do inimigo engrandece aquele que se opõe a ele e o vence. Fiz essa introdução sobre vida em grupo para entendermos a relevância e a necessidade de existir um diabo. 
      Será que um cristão que se diz seguidor do Cristo precisa do diabo para ser forte? Ou pior, será que Deus precisa de um inimigo oposto e tão poderoso para ser Deus? Jesus e Deus não precisam, mas religiões construídas e mantidas por homens maus precisam, justamente porque essas religiões são mentirosas. O diabo importou para uma Igreja Romana que quis manter controle sobre um ser humano pouco instruído e supersticioso da idade média. O diabo interessa a falsos pastores que exploram crentes pobres e carentes do básico para sobreviverem neste mundo, assim como de algum alento para suas almas cheias de remorsos, mágoas e medos que querem o céu no outro plano. Diabo é mais vendável que Deus, infelizmente. 

12/08/25

E se o diabo não existisse? (2/8)

      “Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito da vossa mente; e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.Efésios 4.22-24

      E se o diabo, no sentido de um ser espiritual que se opõe a todas as virtudes do Altíssimo, eterno em sua maldade, que nunca poderá se arrepender e mudar, não existisse? Não estou dizendo que o mal não existe, mas como cristãos administrariam o mal sem ter um diabo para lançar certas culpas, tê-lo como origem do mal e zelador eterno do inferno. Talvez enfrentássemos nossos “demônios” interiores com mais maturidade, mesmo com mais eficiência, pois teríamos a certeza que se há mal a culpa é unicamente nossa, de mais ninguém. Se por um lado tem um bando de gente teimosa querendo viver desacreditando de Deus e do plano espiritual, tem um outro bando pensando demais no diabo e perdendo a lucidez. 
      Assim, a pergunta melhor talvez seja: é necessária a existência do diabo da teologia tradicional cristã? Que utilidade boa de fato isso tem? Não queremos retroceder aos tempos do antigo testamento, onde o inimigo era o outro povo e o deus desse povo era inimigo do meu Deus. Penso que o cristianismo precisa tratar Deus e a Bíblia com mais respeito. Procurar pôr em prática suas crenças, mostrando nas obras santidade, amor, tolerância, justiça, paciência, colocando em segundo plano bens e posições materiais, ainda que trabalhando muito e cuidando do planeta Terra, mas deixando que atos falem mais que discursos. Chegamos num momento onde precisa-se de menos fé, igreja e evangelismo e de mais vida. 
      Muitos podem dizer: “mas vida cristã é fé, igreja e evangelismo”. Mas quais têm sido os frutos disso no cristianismo protestante atual: fé para receber milagres físicos, igreja para inflar contas bancárias e egos, evangelismo para dominar o mundo com uma religião e ser intolerante com as outras? Desculpe-me, mas no meu ponto de vista isso não é a vida que Jesus viveu, assemelha-se mais a um plano diabólico para dominar a Terra, plano que o catolicismo já executou enquanto dizimava muitos nas cruzadas, na inquisição e no negacionismo científico. O “diabo” existe e está fantasiado de “Deus” dentro de templos cristãos, enganando os que querem ser enganados porque perderam a humildade para obedecer a Deus. 
      Infelizmente o diabo existe e muitos o acharão na eternidade, diabo potencializado por um lado pelos que se identificam como satanistas, e por outro lado, tragicamente, pelos que se denominam crentes fiéis e cristãos sérios. Não quero escandalizar ninguém, mas levanto a possibilidade de não existir um ser maligno eterno, mas que um ser maligno e infinito exista enquanto o ser humano acreditar que existe. A existência espiritual neste mundo é mental, no outro essa existência mental será liberada do corpo físico, o plano espiritual não só se acessa por fé, mas também é gerado e mantido por fé. Fé é energia mental e emocional, acredita-se porque se foca emoção e se visualiza, assim o diabo tem origem e vida na mente humana. 
      Vencemos o diabo, seja lá o que ele for, com força de vontade, contudo, só somos fortes conectados a Deus. Deus não é uma potência prepotente e vaidosa, criada pela mente carente e ignorante do ser humano, que busca dependentes e adoradores. Deus é espírito, está em todo lugar, mas sua mente está na região espiritual mais elevada de luz moral. Nós somos porções desse espírito, de Deus viemos e para ele voltamos, portanto, só temos paz conectados ao Altíssimo. Se em Deus há luz, há verdade, longe dele há trevas, portanto mentiras, o diabo é pai da mentira. Dizem que a maior mentira do diabo é nos dizer que ele não existe, mas será que não é o contrário, alguém, não o “diabo”, nos fazer crer que há um diabo? 

11/08/25

Um diabo construído? (1/8)

      “Ainda não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre, e é lançado fora? Mas, o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.Mateus 15.17-19

      Diabo e demônios quase não aparecem no antigo testamento, o inimigo era o outro ser humano, visível, objetivo, não seres invisíveis e espirituais. A “serpente”, da tentação do homem no Jardim do Éden, é uma figura misteriosa, mais esotérica que cristã. Um animal possuído ou sendo usado como médium? Um ser angelical caído? Ou só a representação de um lado do ser humano, cuja existência é necessária para que ele tenha livre arbítrio, livre arbítrio que é necessário que Deus entregue para não gerar escravos ou ignorantes, mas seres com direito a múltipla escolha, ainda que a consequência da escolha ruim seja o sofrimento. Bem, isso pelo menos é como entende a existência humana a teologia tradicional cristã. 
      Nos evangelhos, demônios aparecem às pencas. Seriam sinal dos novos tempos, de um ser humano mais maduro, pronto para entender, não leis extremas, mas nuanças das virtudes morais? O que poderia ter como efeito colateral negativo uma violência descontrolada, que geraria surtos psicóticos que foram chamados de possessão demoníaca por um homem ainda sem conhecimento psiquiátrico? Não que não tenha havido violência nos tempos do antigo testamento, mas um ser humano mais infantil não sofria tanto ao dizimar homens, mulheres e crianças de uma nação inimiga para possuir a terra. Quando não se sabe não se sofre, ter que escolher entre obedecer ou não uma lei não requer raciocínio mais sofisticado. 
      No século um a alma humana já estava crescida o suficiente para se sentir mal com a violência, e quando não a administrava do jeito melhor, com humildade e perdão, surtava. Seria isso? Sim, há jovens citados como endemoniados, mas esses mais ainda poderiam ser só doentes mentais. O diabo ganha seu auge com o catolicismo na idade média. Uma falácia usada para controlar um povo é criar um inimigo, e dar ao que quer ser controlador poder exclusivo sobre tal inimigo. Fora da igreja não há salvação, dizem os católicos, fora dela o ser humano é presa fácil de demônios e do inferno. Mas evangélicos atuais têm revivido o diabo, afinal creem num final dos tempos onde haverá um embate entre o mal e o bem. 
      Se o diabo existe, é espírito, só age através de uma escolha humana, primeiro na mente humana e depois com palavras e ações humanas entre outros seres humanos. Se anulássemos escolhas que dizemos que nascem em influências diabólicas nas nossas cabeças, o diabo deixaria de existir no mundo. Mas é o diabo que cria o mal e o disponibiliza em nossas mentes para sermos maus, ou o mal já existe dentro de nós e espíritos malignos só nos incitam a ele? Penso que as duas coisas ocorrem juntas, há mal dentro de nós e fora de nós, fisicamente e espiritualmente, mas somos nós, como indivíduos, que temos livre arbítrio para materializar o mal, ainda que seja só em nossos mundos mentais. Já foi dito, o diabo é o outro
      Sobre o texto bíblico inicial, poderia ter usado um versículo que cita seres espirituais malignos, como satanás e lúcifer, muitos podem achar que essas citações bíblicas são suficientes para provar que o diabo existe (Gênesis diz que o mundo foi criado em sete dias e não foi). Preferi usar um texto de Jesus que fala sobre a origem do mal, o Cristo não cita o diabo, mas o centro emocional humano, o subjetivo “coração”. A passagem é tão bíblica quanto outras, mas tem algo diferente em relação a outras, confronta-nos conosco, não com os outros, chama a atenção sobre nossa responsabilidade pessoal em superar o mal. Mateus 15.17-19 não foca na doença, mas mostra a cura, o remédio é nossa força de vontade em Deus.

Aquele diabo...

Introdução 

       "O Diabo é quem tem as perspectivas mais largas sobre Deus, por isso se distancia tanto dele; o Diabo é o amigo mais antigo do Conhecimento" ("Além do Bem e do Mal", Friedrich Nietzsche).

      Nietzsche enganou-se no texto acima, ninguém pode afastar-se tanto de Deus para vê-lo por inteiro, muito menos um ser que nega as virtudes morais do Deus verdadeiro. Entretanto, o princípio citado pelo filósofo é válido  em estudo científico de história, por exemplo. É preciso distanciar-se para entender melhor, não Deus, mas o que homens, religiosos, historiadores, filósofos e outros, dizem sobre Deus. Se nos mantivermos presos a dogmas e medos estaremos limitados por conveniências e entendimentos alheios sobre Deus e não construiremos uma perspectiva individual a respeito. Aliando conhecimento à prática de virtudes, pois Deus acima de tudo é um ser moral, nos colocaremos nas regiões espirituais mais altas, então, teremos um entendimento mais amplo e profundo da verdade, harmonizados com Deus e mais próximos dele, não antagonizados a ele ou distantes dele.

      "O Senhor confia os seus segredos aos que o temem, e os leva a conhecer a sua aliança." Salmos 25.14

     Já fiz aqui, em quatorze anos de "Como o ar que respiro", diversas reflexões sobre o tema "diabo". Pensei no diabo conforme teologia protestante tradicional, como entidade espiritual do mal infinito e inconversível. Pensei de forma mais filosófica, ainda que como antagonista também ao "Deus" da teologia protestante tradicional,  mas como conhecimento espiritual oculto, entendimento contido em mitologias e esoterismo. Nessa segunda reflexão, o diabo não é necessariamente mau ou imoral, só transgressor, o Prometeu que entregou o fogo (a ciência) à humanidade. Sim, em quatorze anos eu mudei de opinião, sigo mudando, como ser em constante desconstrução e construção, não nego isso. O texto que segue tenta apresentar o que penso de cinco anos para cá. Não tome como dogma, mas apenas com um ponto de vista, que quiçá, pode ajudar você a construir seu próprio ponto de vista.

1. Um diabo construído? 

      “Ainda não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre, e é lançado fora? Mas, o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.” Mateus 15.17-19

      Diabo e demônios quase não aparecem no antigo testamento, o inimigo era o outro ser humano, visível, objetivo, não seres invisíveis e espirituais. A “serpente”, da tentação do homem no Jardim do Éden, é uma figura misteriosa, mais esotérica que cristã. Um animal possuído ou sendo usado como médium? Um ser angelical caído? Ou só a representação de um lado do ser humano, cuja existência é necessária para que ele tenha livre arbítrio, livre arbítrio que é necessário que Deus entregue para não gerar escravos ou ignorantes, mas seres com direito a múltipla escolha, ainda que a consequência da escolha ruim seja o sofrimento. Bem, isso pelo menos é como entende a existência humana a teologia tradicional cristã. 
      Nos evangelhos, demônios aparecem às pencas. Seriam sinal dos novos tempos, de um ser humano mais maduro, pronto para entender, não leis extremas, mas nuanças das virtudes morais? O que poderia ter como efeito colateral negativo uma violência descontrolada, que geraria surtos psicóticos que foram chamados de possessão demoníaca por um homem ainda sem conhecimento psiquiátrico? Não que não tenha havido violência nos tempos do antigo testamento, mas um ser humano mais infantil não sofria tanto ao dizimar homens, mulheres e crianças de uma nação inimiga para possuir a terra. Quando não se sabe não se sofre, ter que escolher entre obedecer ou não uma lei não requer raciocínio mais sofisticado. 
      No século um a alma humana já estava crescida o suficiente para se sentir mal com a violência, e quando não a administrava do jeito melhor, com humildade e perdão, surtava. Seria isso? Sim, há jovens citados como endemoniados, mas esses mais ainda poderiam ser só doentes mentais. O diabo ganha seu auge com o catolicismo na idade média. Uma falácia usada para controlar um povo é criar um inimigo, e dar ao que quer ser controlador poder exclusivo sobre tal inimigo. Fora da igreja não há salvação, dizem os católicos, fora dela o ser humano é presa fácil de demônios e do inferno. Mas evangélicos atuais têm revivido o diabo, afinal creem num final dos tempos onde haverá um embate entre o mal e o bem. 
      Se o diabo existe, é espírito, só age através de uma escolha humana, primeiro na mente humana e depois com palavras e ações humanas entre outros seres humanos. Se anulássemos escolhas que dizemos que nascem em influências diabólicas nas nossas cabeças, o diabo deixaria de existir no mundo. Mas é o diabo que cria o mal e o disponibiliza em nossas mentes para sermos maus, ou o mal já existe dentro de nós e espíritos malignos só nos incitam a ele? Penso que as duas coisas ocorrem juntas, há mal dentro de nós e fora de nós, fisicamente e espiritualmente, mas somos nós, como indivíduos, que temos livre arbítrio para materializar o mal, ainda que seja só em nossos mundos mentais. Já foi dito, o diabo é o outro. 
      Sobre o texto bíblico inicial, poderia ter usado um versículo que cita seres espirituais malignos, como satanás e lúcifer, muitos podem achar que essas citações bíblicas são suficientes para provar que o diabo existe (Gênesis diz que o mundo foi criado em sete dias e não foi). Preferi usar um texto de Jesus que fala sobre a origem do mal, o Cristo não cita o diabo, mas o centro emocional humano, o subjetivo “coração”. A passagem é tão bíblica quanto outras, mas tem algo diferente em relação a outras, confronta-nos conosco, não com os outros, chama a atenção sobre nossa responsabilidade pessoal em superar o mal. Mateus 15.17-19 não foca na doença, mas mostra a cura, o remédio é nossa força de vontade em Deus.

2. E se o diabo não existisse? 

      “Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito da vossa mente; e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” Efésios 4.22-24

      E se o diabo, no sentido de um ser espiritual que se opõe a todas as virtudes do Altíssimo, eterno em sua maldade, que nunca poderá se arrepender e mudar, não existisse? Não estou dizendo que o mal não existe, mas como cristãos administrariam o mal sem ter um diabo para lançar certas culpas, tê-lo como origem do mal e zelador eterno do inferno. Talvez enfrentássemos nossos “demônios” interiores com mais maturidade, mesmo com mais eficiência, pois teríamos a certeza que se há mal a culpa é unicamente nossa, de mais ninguém. Se por um lado tem um bando de gente teimosa querendo viver desacreditando de Deus e do plano espiritual, tem um outro bando pensando demais no diabo e perdendo a lucidez. 
      Assim, a pergunta melhor talvez seja: é necessária a existência do diabo da teologia tradicional cristã? Que utilidade boa de fato isso tem? Não queremos retroceder aos tempos do antigo testamento, onde o inimigo era o outro povo e o deus desse povo era inimigo do meu Deus. Penso que o cristianismo precisa tratar Deus e a Bíblia com mais respeito. Procurar pôr em prática suas crenças, mostrando nas obras santidade, amor, tolerância, justiça, paciência, colocando em segundo plano bens e posições materiais, ainda que trabalhando muito e cuidando do planeta Terra, mas deixando que atos falem mais que discursos. Chegamos num momento onde precisa-se de menos fé, igreja e evangelismo e de mais vida. 
      Muitos podem dizer: “mas vida cristã é fé, igreja e evangelismo”. Mas quais têm sido os frutos disso no cristianismo protestante atual: fé para receber milagres físicos, igreja para inflar contas bancárias e egos, evangelismo para dominar o mundo com uma religião e ser intolerante com as outras? Desculpe-me, mas no meu ponto de vista isso não é a vida que Jesus viveu, assemelha-se mais a um plano diabólico para dominar a Terra, plano que o catolicismo já executou enquanto dizimava muitos nas cruzadas, na inquisição e no negacionismo científico. O “diabo” existe e está fantasiado de “Deus” dentro de templos cristãos, enganando os que querem ser enganados porque perderam a humildade para obedecer a Deus. 
      Infelizmente o diabo existe e muitos o acharão na eternidade, diabo potencializado por um lado pelos que se identificam como satanistas, e por outro lado, tragicamente, pelos que se denominam crentes fiéis e cristãos sérios. Não quero escandalizar ninguém, mas levanto a possibilidade de não existir um ser maligno eterno, mas que um ser maligno e infinito exista enquanto o ser humano acreditar que existe. A existência espiritual neste mundo é mental, no outro essa existência mental será liberada do corpo físico, o plano espiritual não só se acessa por fé, mas também é gerado e mantido por fé. Fé é energia mental e emocional, acredita-se porque se foca emoção e se visualiza, assim o diabo tem origem e vida na mente humana. 
      Vencemos o diabo, seja lá o que ele for, com força de vontade, contudo, só somos fortes conectados a Deus. Deus não é uma potência prepotente e vaidosa, criada pela mente carente e ignorante do ser humano, que busca dependentes e adoradores. Deus é espírito, está em todo lugar, mas sua mente está na região espiritual mais elevada de luz moral. Nós somos porções desse espírito, de Deus viemos e para ele voltamos, portanto, só temos paz conectados ao Altíssimo. Se em Deus há luz, há verdade, longe dele há trevas, portanto mentiras, o diabo é pai da mentira. Dizem que a maior mentira do diabo é nos dizer que ele não existe, mas será que não é o contrário, alguém, não o “diabo”, nos fazer crer que há um diabo? 

3. Diabólico poder dos homens 

      “Ai dos que descem ao Egito a buscar socorro, e se estribam em cavalos; e têm confiança em carros, porque são muitos; e nos cavaleiros, porque são poderosíssimos; e não atentam para o Santo de Israel, e não buscam ao Senhor.” Isaías 31.1

      Sem dúvida é mais fácil viver em grupo, o ser humano descobriu isso quando começou a fazer troca de alimentos, vestes e outros bens com outros seres humanos. O motivo é simples: ninguém é igual, cada um tem capacitações e habilidades diferentes, e todos podem ser surpreendidos pela existência neste planeta, pelo clima, por doenças e por acidentes, de maneiras diferentes. Assim o que nos falta num momento pode estar sobrando para outro, que pode pedir em troca pelo que tem algo que temos e que lhe falta. Se para a sobrevivência material viver em sociedade é melhor, também é para se compartilhar crenças e experiências com o sobre-humano, o divino e o plano espiritual. Viver em grupo não é o problema, é solução. 
      Contudo, podemos usar participação em comunidades, agremiações, sociedades e religiões, de forma negativa. A força e a convicção que não temos sozinhos, achamos quando estamos em grupo, vide por exemplo violências praticadas por torcidas de futebol, por gangues de bairros, por defensores de uma determinada ideologia política. Mas o erro pode ser pior quando nos unimos em torno de uma ótica religiosa, já que nesse caso pomos o nome de Deus no meio e o usamos como razão para crermos, falarmos e fazermos determinadas coisas, coisas que podem chegar a negar radicalmente os princípios que uma religião ensinava em seu início puro. Mentira sempre pede mais mentira para seguir existindo. 
      Vende-se porque há quem compre, assim o ser humano percebeu que o ser humano não quer só o que objetivamente supre necessidades reais, mas pode consumir muita coisa por vaidade, para não ser diferente, em busca de aprovação do grupo e assim ser abraçado e protegido por esse grupo. Enfim, o ser humano entendeu que o ser humano gosta de ser enganado e, portanto, de enganar para obter algum lucro. Se isso acontece nos alimentos, quando se bebe uma marca de refrigerante porque está na moda, também ocorre na religião, com o agravante de usar o nome de Deus. Assim cria-se mentiras religiosas para atrair e manter um grupo de pessoas num credo, mas também para conferir poder e riqueza a algumas pessoas. 
      A verdade purifica-se à medida que é conhecida, assim fica mais simples e pode até parecer diminuir, não para restringir, mas para explicar e unir tudo. A mentira aumenta com o tempo, precisa de novas e complicadas mentiras para continuar enganando os que não buscam a verdade na fonte, mas querem barganhar a mentira com os mentirosos. A mentira escraviza, limita, divide, assim leva a embates para que tenha poder, por isso precisa de inimigos claros e fortes. Só se tem uma grande vitória quando se vence um inimigo grande, a qualidade do inimigo engrandece aquele que se opõe a ele e o vence. Fiz essa introdução sobre vida em grupo para entendermos a relevância e a necessidade de existir um diabo. 
      Será que um cristão que se diz seguidor do Cristo precisa do diabo para ser forte? Ou pior, será que Deus precisa de um inimigo oposto e tão poderoso para ser Deus? Jesus e Deus não precisam, mas religiões construídas e mantidas por homens maus precisam, justamente porque essas religiões são mentirosas. O diabo importou para uma Igreja Romana que quis manter controle sobre um ser humano pouco instruído e supersticioso da idade média. O diabo interessa a falsos pastores que exploram crentes pobres e carentes do básico para sobreviverem neste mundo, assim como de algum alento para suas almas cheias de remorsos, mágoas e medos que querem o céu no outro plano. Diabo é mais vendável que Deus, infelizmente. 

4. Alguém para culpar e temer

      “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte. Não erreis, meus amados irmãos.” Tiago 1.14-16

      Se viver em grupo é melhor, jogar a culpa nos outros, para não assumi-la como minha, é mais fácil. Novamente o dualismo de “nós” e “eles” é usado, agora como vítima e agressor. Gostamos de ver o agressor no outro, por isso o prazer mórbido por assistir programas jornalísticos que mostram assassinatos, estupros, violência. Se o “outro” comete um crime que achamos que nunca seremos capazes de cometer, isso nos entrega um consolo, que ainda que sejamos errados há gente pior. Por isso amamos fofocar, falar mal do outro, achar e se não achamos extrapolar e inventar erros dos outros. Há estudiosos que dizem que o que manteve seres humanos em grupo foi a necessidade de fofocar, mais até que outras necessidades. 
      O ser humano tem a tendência de criar ídolos para substituir Deus. Na tentativa mal sucedida de saciar sua sede de um Deus espírito, todo-poderoso material e espiritualmente e de moral superior, em santidade, amor e justiça, ele busca no plano físico e no espiritual potências que lhe satisfaçam. No plano material temos instituições, religiões, partidos políticos, que dizem defender agendas nobres e poderosas, essas são reconhecidas e adoradas. No plano espiritual potências ficam por conta da sensibilidade e trabalho espiritual de cada ser humano, mas também de sua fantasia. Um plano que se acessa mentalmente, está mais aberto para que o homem ache ilusão e enganos, portanto, mentira, portanto o chamado diabo.
      Achar alguém para ser culpado, alguém grande e poderoso, um ídolo maligno, eis o que é o diabo na cabeça de muitos. Mas o ser humano não cria só ídolos do mal, de outros deuses, entidades ou poderes espirituais, o pior ídolo é o que o homem chama de “Deus”, ao qual é agregado conceitos bíblicos. Em seu amor Deus ouve a todos, abençoa mesmo os que não o adoram como o verdadeiro Deus, mas como um ídolo mental semelhante a ele. Se não fosse assim poucos receberiam favor divino. Interessante, que diferente de nós, que quando caluniados ou destratados queremos cobrar as pessoas, nos defender, Deus não faz isso, simplesmente porque não pode. Poucos estão preparados para o que Deus é de fato. 
      A humanidade evoluiu, a ciência se desenvolveu, o homem conhece a si mesmo, seu corpo, sua psique, o planeta, parte do universo, assim como entendeu a importância de direitos iguais para todos, indiferente de sexualidade, raça, cor de pele, religião, cultura ou poder aquisitivo. Se uma religião coletiva para agregar e direcionar a humanidade à verdade moral e espiritual teve algum interesse para Deus no passado, já há algum tempo não tem mais, não para todos, eu penso assim. O momento, que ao meu ver iniciou-se no final do século XIX, é de busca individual, não desprezando religiões coletivas, mas aprendendo delas o que é possível e depois seguindo numa jornada pessoal rumo à luz mais alta de Deus. Isso já é possível. 
      Quando olhamos para fora e para baixo fugimos de nós e de Deus, não encaramos a verdade e somos enganados por mentiras. Quando olhamos só para os homens buscamos felicidade na glória dos homens, na aprovação de religião, nisso geramos medo, que procura algo proporcional para temer. Como nessa situação estamos em trevas, não temos conhecimentos reais, assim nossa mente inventa, fantasia, e como é poderosa a criatividade humana. Comprovamos isso na literatura e no cinema, quantos monstros, quantos espectros, quantos alienígenas, quanto terror e quanta ficção fantasiamos, uma realidade falsa, mas que teve origem em mentes que se afastaram da verdade e se refugiaram na mentira, no mundo, nos homens, no diabo. 

5. Fim da fantasia diabólica 

      “Quanto à vossa obediência, é ela conhecida de todos. Comprazo-me, pois, em vós; e quero que sejais sábios no bem, mas simples no mal. E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco. Amém.” Romanos 16.19-20

      Que fique claro, quando levantamos a hipótese de como seríamos nós, como administraríamos a existência, neste mundo e no outro, caso não existisse um diabo eterno, como define a teologia tradicional protestante, não estamos dizendo que não haja pecado, que não haja mal, e que não haja uma avaliação divina, após a nossa morte física, para verificar se vencemos ou não o mal, pelo menos na maior parte do tempo em que vivemos na Terra. Ninguém force um entendimento errado desta reflexão, dizendo que não queremos admitir o diabo para que possamos viver em pecado e não sermos punidos por isso. O ponto não é se há o mal, mas até que ponto fugimos de uma responsabilidade pessoal numa fantasia diabólica. 
      A verdade é que por séculos o cristianismo tem usado um diabo como bode expiatório, tem pego o diabo pra “cristo”, perdoem-me o uso das palavras. O tamanho do diabo é proporcional ao tamanho do medo que o ser humano tem da verdade, portanto, medo de Deus, já que ele tem toda a verdade, inclusive sobre o diabo. O diabo é conveniente, como já dissemos, para manipuladores e comerciantes da fé de grupos humanos. Contudo, o diabo é útil para cada um de nós, oferece-nos um inimigo para odiarmos e culparmos, uma entidade por trás de teorias conspiratórias e escatológicas. Mas se Nietzsche disse que Deus estava morto, a verdade é que o diabo está morrendo, e creiam, haverá um dia que será citado só como história. 
      O filósofo acertou sob um ponto de vista, o “Deus” do catolicismo e mesmo do protestantismo, graças a Deus, está diminuindo, e novamente me perdoem os termos. À medida que o falso “Deus” decresce, o poder do diabo também míngua, os conceitos estão ligados. Superstições cristãs e superstições satanistas são dois lados de uma mesma moeda, ainda que Deus atenda a todos no que lhe permitem atender. No máximo, o diabo é uma influência ruim, coletiva e espiritual, sob indivíduos humanos encarnados. Espírito não tem corpo, mas se temos medo dele e não buscamos conhecê-lo em Deus, podemos imaginar o que quisermos. Um indiano imagina um diabo diferente de um italiano, de um chinês ou de um nigeriano. 
      Diabo é escuridão moral, ausência da luz de Deus, mas não de Deus. Deus está em todo lugar e nada foge dele. Só há um lugar que Deus só ilumina se for-lhe autorizado, o interior dos seres. Se dizemos não a Deus, nosso interior escurece-se, torna-se território diabólico. Não nos enganemos, temporariamente podemos ser instrumentos do diabo, ainda que religiosos e não possessos, como são instrumentos os egoístas e cruéis ou simplesmente ateus e materialistas de forma mais duradoura. Obviamente não na mesma proporção, mas o diabo e consequentes trevas podem estar dentro de qualquer um neste mundo, ainda que por pouco tempo. Após a morte infernos persistentes na Terra serão liberados ao inferno maior. 
      O inferno maior é local distante da luz mais alta de Deus, onde se reúnem e tentam se esconder os que não querem subir a Deus. Muitas trevas reunidas não tem o poder que tem uma finíssima emanação da luz do Altíssimo, que nós podemos refletir quando obedecemos a Deus, contudo, essas trevas podem ser grandes o suficiente para fantasiarem um diabo e influenciarem seres humanos simpáticos na Terra. Mas o tempo passa, o “inferno” recebe seres cada vez menos supersticiosos, ainda que em trevas, assim aquele diabo que por séculos aterrorizou a humanidade morre. Aproxima-se o tempo onde esse diabo morrerá de vez, é o que João o evangelista tentou descrever em Apocalipse, com sua mente do final do século um. 

6. O mal é útil ao bem

      “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta.” “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” Tiago 1.13, 17

      Não tem como ser diferente, mal é praticado por um ser mau, chame-se esse ser de demônio, homem ou o que for. Sendo algo mau causa sofrimento, contudo, sofrimento pode ser usado pelo bem para gerar algo bom. O que é o bem? Em última instância é disposição benigna do ser humano para aprender algo bom, ainda que seja com a dor, então, não ser mais atingido pelo mal ou não atingir outros com esse. Mas como cristãos precisamos considerar o texto bíblico inicial, bem genuíno vem de Deus, Deus diretamente não faz mal. Deus, contudo, autoriza que o mal seja feito por alguém mau, assim como administra tudo no universo, tendo objetivo de conduzir o ser humano a ser bom, para mais perto dele.
      Seres maus têm utilidade para Deus, fazem algo que outros seres não podem fazer, senão iria-se contra uma lei universal, luz gera luz, trevas geram trevas, luz não pode gerar trevas assim como Deus de forma direta não pode fazer o mal. Diabo, demônios, infernos e sofrimento têm utilidade nas mãos de Deus. Para nos aprofundarmos nessa reflexão algo tem que ser levantado, alguns dizem que o inferno é aqui, outros dizem que aqueles que acham que o mundo é um inferno não têm ideia do que seja o inferno verdadeiro. A teologia tradicional protestante pensa no inferno como lugar de tortura sem fim no plano espiritual, já no plano físico, por mais que soframos, sempre temos algum momento de refrigério. 
      Quem vive na Terra de forma lúcida, assumindo seus erros, não fugindo das consequências deles em prazeres ilusórios, nem jogando a culpa nos outros, fazendo a coisa certa do jeito certo, assim também não fazendo o certo com peso, achando que faz algo porque outro não está fazendo, mas fazendo com amor, esse sabe que viver é experimentar uma dor constante. Bom que seja assim, quem sofre no mundo do jeito correto entendeu que ter um espírito eterno, que anseia estar perto do Altíssimo, encarcerado num corpo fisico, gera sofrimento. Sensíveis sofrem, não sofrem os frios, cínicos, irresponsáveis e que deixaram de receber e dar perdão porque se acham certos demais para errarem e arrependerem-se.
      A dor certa não diminui com o tempo, mas aumenta, não porque erramos mais, mas justamente pelo contrário, porque erramos menos, nos tornamos mais santos e andamos mais perto de Deus. O que é o inferno senão saber que o melhor existe, está em Deus, mas ter a consciência que não consegue-se ser melhor e estar perto de Deus? Inferno pode ser provado na Terra, mas o pior inferno só prova os que temem a Deus, os outros seguem iludindo-se e fugindo. Na eternidade todos seremos confrontados com a verdade, além disso lá só haverá um modo de se ter paz, o céu, que nada mais é que subir para Deus. Quem não foi humilde, santo e amoroso o suficiente no mundo cairá em sofrimento sem consolo. 
      Se o que acerta mais sofre mais, então esse prova mais inferno aqui que os outros. Você concorda com esse raciocínio? Mas não foi isso que vimos no Cristo homem? Um ser humano que não fez nada errado, que andou o tempo todo perto de Deus, que amou sem limites, mas que ainda assim não foi entendido, honrado nem respeitado, antes foi perseguido, preso, torturado e morto, e justamente por aqueles que estavam em posições religiosas mais altas? Concluo que ser cristão, mas não ser compreendido nem aceito por muitos que se auto-denominam cristãos, é honra, é provar inferno no mundo, assim pagar dívidas e conquistar glória maior na eternidade. Provar inferno aqui conquista o céu lá.

7. Mordaça no Espírito

      “Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim.” João 15.26

      Um ponto importante aos que querem usar textos bíblicos como comprovação para muitos dogmas cristãos, é que os seres humanos, mesmo profetas, apóstolos e outros escritores do cânone bíblico, não tinham as convicções que o cristianismo tem hoje, após quase dois mil anos da ressurreição de Cristo, quase dezesseis séculos de catolicismo e quase quatro séculos de protestantismo. Hoje para muitos em templos cristãos, certas informações parecem óbvias, mas não eram nos tempos bíblicos. A religião mosáica orientava obediência a leis, respeito a festas e sacrifícios no templo, mas para se ter uma vida agradável a Deus, e consequentemente digna de receber dele proteção, neste mundo, não na eternidade. 
      Algum israelita esotérico podia saber mais sobre existência no além, mas não era relevante ao israelita comum. Mesmo os profetas mais íntimos de Deus, não pregavam sobre juízo, céu e inferno, se sabiam guardavam para si, a palavra que entregavam a reis, a sacerdotes e ao povo era para serem fiéis a Deus para terem prosperidade no mundo. A princípio isso não era muito diferente nos tempos do novo testamento, mas nesse momento o homem já estava preparado para saber mais. Teria sido diferente, se os que ouviram a palavra em primeira mão de Jesus, tivessem passado à frente só o que o Cristo ensinou, se não tivessem perdido o foco tão depressa? Mas isso estava nos planos divinos, o grande desvio católico foi necessário. 
      Paulo dedicou grande parte de suas epístolas para ensinar judeus sobre dois temas. O primeiro é que fé no sacrifício do Cristo é superior à obediência às leis de Moisés, assim ele estendeu o messias esperado por um povo para salvador de todo o mundo. O segundo tema é que a vida não se encerra na morte, há uma ressurreição, não no plano material com corpos físicos, mas no espiritual, onde se passa pela avaliação divina, o juízo. Ao que nos parece, as pessoas, mesmo as com tradição religiosa israelita, tinham certa dificuldade para entender plano espiritual e vida eterna, assim como a superioridade da vida no além à vida terrena. Até Jesus cumprir sua missão, o ser humano era materialista, não por escolha, mas por limitação. 
      Muitos cristãos não fazem ideia da importância real de Jesus Cristo, tudo que ele representa e é, tudo que praticou como homem e se tornou como espírito. Por algum motivo, no quarto século, o imperador romano Constantino se converte ao cristianismo, cristianismo que não era mais o puro evangelho de Jesus, se fosse não teria se tornado tão rapidamente na Igreja Católica. Seja como for, uma seita judaica, nascida entre judeus e pregada a princípio a judeus, torna-se universal, ou ocidental, pelo menos na cultura. O catolicismo construiu a teologia que muitos creem hoje serem doutrinas oficiais do cristianismo, na verdade o cristianismo passou por um processo lento adaptando paganismo e reinterpretando textos sagrados. 
      O número de adeptos cresceu, igrejas se organizaram, a religião ganhou valor entre poderosos e uma grande maioria de denominados cristãos, ovelhas e pastores, se desviou da palavra viva, reta e pura que Deus entrega ao ser humano pelo Santo Espírito, experiência que Jesus inaugurou no momento que a humanidade estava preparada para tal. O lado positivo foi que se conseguiu calar a voz do politeísmo, o ser humano entendeu que a voz direta de Deus podia ser ouvida pela autoridade do nome de Jesus. O lado negativo foi que dogmas foram criados, a princípio para coibir desvios e subjetividades, mas que depois levaram a cristandade a calar também a voz do Espírito Santo, o que se podia saber estava escrito e ponto. 

8. Deus não morre

      “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.” João 1.1-5

      Não, Deus não revelou sua palavra, ainda que em tempos diferentes, como um romance escrito por um único escritor, com início, meio e fim, de forma coesa e sem contradições. O Espírito de Deus é coeso e não se contradiz, inspirou autores bíblicos, sabemos disso, mas fez isso com respeito, Deus não violenta suas ferramentas, respeita seus limites. Deus não age de forma extraordinária, milagrosa aos nossos olhos, Deus nunca desrespeita leis universais que ele mesmo criou, principalmente o livre arbítrio humano. Muitos homens, em contextos sociais e históricos diferentes, registraram os livros do cânone bíblico, esses não se preocuparam com coesão ou não contradição, aliás, nem havia preocupação com isso em seus tempos. 
      O secularismo de Salomão, em Cantares e Eclesiastes, não é afinado com a intimidade espiritual de João evangelista, os mitos da criação, de Moisés em Gênesis, não têm a matemática das semanas de Daniel, os feitos extraordinários de Elias não são exatamente da mesma espécie que os milagres de Pedro, o Deus de conquista geográfica de Josué, não harmoniza com o Deus da pregação do evangelho de Estêvão. Mas algo é certo e único, o amor e a humildade pregados por Jesus, permeiam as experiências mais profundas de Davi com a misericórdia de Deus, assim como o desprendimento pessoal que Paulo exerceu para fundar igrejas e codificar a teologia cristã básica que orienta igrejas até hoje. Jesus é e sempre será diferente! 
      O Deus único e verdadeiro não morre, por isso o verdadeiro cristianismo não perdeu ou retrocedeu no mundo, mas seguiu cumprindo sua missão. Se olharmos do jeito certo, entenderemos o porque do desvio católico. Olhando superficialmente pode parecer o evangelho se perdendo, o Espírito Santo sendo amordaçado, só o nome do Cristo, solitário e humilhado numa cruz, sendo erguido e salvando os humildes. Ah o tempo de Deus, não é o nosso, as maneiras como ele trabalha, não são as nossas, o que o ser humano, como indivíduo e como coletivo, como igreja e como humanidade, precisa vivenciar para aprender a lição que Deus quer ensinar, ainda que em Jesus toda lição tenha sido ensinada há quase dois mil anos. 
      Na morte neste mundo, morre o corpo, não o espírito, o espírito é eterno, nossa mais plena e profunda identidade. Jesus entregou o Espírito de Deus à humanidade, ele já é suficiente para que tenhamos vida eterna. Contudo, o catolicismo o vestiu com trajes luxuosos, não só de tecidos caros, de couros raros, revestidos de pedras e metais preciosos, mas de carne, a mesma que envelhece e morre. Há tempos a carne morta fede, o perfume singular do Espírito é escondido. É tempo de sepultar o velho, para que aquele que por ser sempre novo é eterno, apareça. O Espírito de Deus ainda que antigo não fica velho. Contudo, para experimenta-lo é preciso que nos livremos da glória do mundo e nos satisfaçamos com o glória de Deus. 
      O protestantismo tirou das vestes desnecessárias que o catolicismo cobriu o Espírito Santo algumas camadas, mas ainda que tenha se livrado do luxo, manteve o Espírito preso numa armadura. Essa roupa era mais simples, mas mais rígida, vestimenta para uma guerra que nunca foi de Deus. Se a pessoa de Jesus teve que viver por cerca de trinta e três anos para cumprir uma missão que acabou em morte, a humanidade precisa de um tempo para provar a obra de Jesus até que morra, só assim o homem entenderá a vontade de Deus. A mesma incompreensão, perseguição e injustiça que a velha religião israelita empreendeu contra a pessoa do Cristo, catolicismo e protestantismo estão fazendo contra o verdadeiro e original cristianismo. 

Conclusão

      "Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo." I Pedro 5.8-9

      Não precisamos jogar a Bíblia fora ou rasgar trechos que falam de entendimentos espirituais que seres humanos antigos tinham e que não servem mais ao entendimento do ser humano lúcido e equilibrado atual, que contempla ciência séria e de fato teme a Deus, não as religiões. A Bíblia sempre será instrumento útil para conhecer a Deus e livrar do mal o que a lê e interpreta como  inteligência. O mal existe, seja na humanidade terrena, na comunidade espiritual, esteja fora ou dentro de nós, em nossos pensamentos, sentimentos, em nossos corpos e espíritos. Devemos resistir a ele, nunca menospreza-lo, ele é sujo, mentiroso, insidioso, dissimulado. 
      O mal pode armar armadilhas em que caem os que não estão com vida de oração em dia e que não andam na luz, mesmo o mais forte, experiente e maduro nas virtudes pode ser presa dele caso não vigie. O que não precisamos mais fazer é idolatrar o diabo, dar-lhe forma física, usá-lo como álibi externo para não assumirmos nosso mal interior. O Espírito Santo nos chama hoje, mais que em qualquer tempo já chamou, à responsabilidade pessoal, essa é a atitude dos realmente crescidos e evoluídos, que em humildade, santidade e caridade elevam-se a Deus, não por medo de religião, inferno ou diabo, mas por sincero e puro amor a Deus.

      "Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós." Tiago 4.7

José Osório de Souza, 11/08/2025

10/08/25

Além da morte

Introdução 

       “Portanto, meus amados, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor.” I Coríntios 15.58 

      O texto que segue não é um estudo bíblico, baseado num entendimento da Bíblia ao pé da letra, conforme teologia tradicional protestante e recheado de argumentos teológicos, contemplando a "história" citada no cânone e "aprofundando" nas línguas originais da chamado Livro Sagrado por judeus, o antigo testamento, e pelos cristãos, seja no cânone católico, seja no protestante. Os termos entre aspas identificam entendimentos de história e línguas originais de acordo com conveniências de teólogos cristãos, não de acordo com visão científica séria e imparcial, mais por fé que por conhecimento. Fazer esse tipo de reflexão requer desprendimento de preconceitos e medos impostos pelo dogmatismo religioso, assim, se não sentir-se à vontade com isso, procure outro texto para ler, não quero tomar teu tempo nem escandalizá-lo.

1. Que verdade é verdadeira?

      Muitos cristãos defendem suas crenças por acreditarem que elas são verdade maior, eles não percebem que adeptos de outras religiões acham a mesma coisa, que suas crenças são a verdade maior. Que verdade é a mais verdadeira? A melhor pergunta pode ser outra: que verdade dão frutos verdadeiros? A verdade é que todas as religiões podem dar tanto bons frutos quanto ruins, porque elas não são a verdade pura de Deus, mas versões distorcidas dessa. Para Deus isso não interessa muito, com tanto que as pessoas o busquem, podem usar a ferramenta que preferirem. Não tiramos com isso a relevância de Jesus Cristo, mas afirmamos que em seu amor Deus abençoa mesmo os que o buscam chamando Jesus por outros nomes. 
      Não temos que concordar com tudo, mas temos que admitir que não sabemos tudo, principalmente porque nossas obras mostram que somos pecadores injustos, egoístas e vaidosos. Contudo, o que muitos cristãos fazem é acharem-se donos exclusivos da verdade maior, não aceitam que isso deve lhes conferir responsabilidades superiores e mais sérias de amar e de testemunhar o plano de Deus, mais que as que conferem outras ”verdades”. O exemplo a ser seguido, como sempre, é o do Cristo homem, o mesmo que cristãos professam ser a verdade, mas parece que só usam esse entendimento quando lhes convêm. Perde-se o cristianismo quando deixa de ser verdadeiro e quer convencer o mundo que sua prática é verdadeira. 
      Cada ser humano tem direito de ter suas convicções e suas experiências religiosas, ocorre que certas crenças extremistas colocam quem nelas crê como melhores que os outros, com mais direitos, de uma forma mais radical, como legítimos filhos de Deus. Isso é possível? Até pode ser, mas quem se acha mais merecedor do céu que os outros deveria ter mais deveres, não mais direitos, isso pelo menos no ponto de vista do verdadeiro evangelho de Jesus, onde se perde para ganhar, se é humilhado para ser exaltado, se morre para viver. Talvez o ponto seja, não que muitos cristãos neguem o evangelho do Cristo, mas que queiram colher recompensas no mundo, não no céu, do evangelho que creem. Nos dois jeitos há equívoco. 
      Quer um jeito de fato sábio de viver? Tenha tuas convicções para você, mas exceto quando Deus de fato orientar, e quando ele manda temos amor, paciência e respeito para obedecer, ponha em prática tuas convicções de modo que os outros vejam em você palavras e atitudes de vida, de misericórdia, de justiça. Fale menos e viva mais, quem vive certo em Deus e para Deus tem paz, tem carências saciadas, assim não tem necessidade de auto-afirmação, nem de fazer admiradores ou fãs. A verdade de Jesus é a mais alta? Creio que sim, mas conhecê-la mais profundamente tem me feito mais praticante que falante, não hipócrita, não falso moralista, e muito mais santo e amoroso. Quem está em paz e na luz não teme trevas e mentiras.

2. A vida e o cristianismo 

      A doutrina do cristianismo protestante tem um entendimento bem simples da existência humana que crê ser a verdade maior. É baseado em textos escritos por homens antigos, que tinham uma percepção antiga de si mesmos como indivíduos, da sociedade, de religião, e portanto limitada em relação à percepção que podemos ter hoje no século XXI. Para muitos cristãos é difícil admitir isso, já que veem a Bíblia como a palavra irrevogável, infalível e eterna de Deus, assim o ser humano muda, a sociedade muda, a ciência evolui e traz provas indubitáveis sobre assuntos como a evolução física do ser humano, mas muitos cristãos insistem em entender a Bíblia ao pé da letra, desprezando contextos históricos e uso de metáforas. 
      Para muitos cristãos todo ser humano é criado quando nasce neste mundo, corpo e espírito, se um nasce num lar pobre, outro numa casa luxuosa, se um tem que trabalhar ainda criança para levar comida para casa, se outro pode cursar as melhores escolas, entrar numa faculdade federal e fazer pós graduação no exterior, se um terá como referência moral um pai violento e uma mãe irresponsável, se outro será criado com pais amorosos que o levará semanalmente a cultos cristãos, bem, isso tudo é por puro capricho divino. Ninguém nasce em berço de ouro por merecer, em berço de trapos por disciplina, ou em berço de madeira por escolha, o início de nossas vidas no mundo é por acaso, decidido em jogo de dados divino, assim diz o entendimento da doutrina protestante. 
      Acha que estou exagerando? Mas na prática é isso, e o argumento dado para isso por muitos cristãos é, “Deus sabe o que faz, quem somos nós para criticar o Senhor?”. De fato Deus sabe o que faz e não podemos criticá-lo, mas talvez não seja por fazer as coisas ao acaso, sem regra, sem que faça algum sentido, sem razoabilidade. Não é sábio duvidarmos de um ensino religioso porque as palavras e o raciocínio parecem rasos, as sabedorias mais profundas são expressas em frases curtas com termos simples que podem ser entendidos e praticados tanto pelo ignorante quanto pelo doutor. O que deve nos levar a reavaliar ensinos religiosos são os frutos que eles geram no tempo, se são frutos bons e duradouros ou não são.
      Prometi a mim que não faria mais longas reflexões aqui, só compartilharia pequenos textos de conforto evangélico, note que nos últimos tempos isso foi feito. Mas o mesmo Espírito Santo que me levou a buscar de Deus um entendimento melhor sobre espiritualidade e eternidade, novamente me leva a fazer esta reflexão, sobre temas sensíveis da existência humana. Não senti necessidade de reavaliar o cristianismo tradicional por mera curiosidade ou só para deslegitimar algo que não vivia por algum motivo egoísta, ocorre que a fonte secou e eu ainda estava com sede. O Senhor me disse então para cavar mais fundo, fiz isso em oração e comprovei as novidades em frutos em minha vida. Nas próximas cinco postagens segue o que tenho aprendido.

3. Vida é trabalho moral

      Nascemos com certos valores morais, são esses, não nossas capacidades intelectuais e características físicas, que definem nosso nível de espiritualidade. Nossa criação familiar, nossa formação educacional, nossas experiências em sociedade, não mudam esses valores, dão a eles forma, mas não mudam seu conteúdo na essência. Quando adquirimos maturidade física e emocional nos tornamos adultos capazes de exercer livre arbítrio e prontos para sermos responsabilizados, com recompensa ou punição, pelas consequências de nossas escolhas. Passamos a viver no mundo, e se tivermos o mínimo de autonomia, a buscar independência financeira e realização pessoal, através de atividades profissionais e afetivas. 
      Estudamos, trabalhamos e nos casamos, como nos reunimos em grupos para compartilharmos esporte, arte, religião, lazer, nisso tudo nossos valores morais iniciais são confrontados, no mínimo para serem mantidos, mas muito mais para serem abrangidos. Contudo, nunca mudamos de fato aquilo que somos desde o nascimento, adições positivas podemos pegar e segurar, mas com muito trabalho, como anexos externos, não como componentes integrados ao nosso interior. Toda novidade que assimilamos pode ser perdida de um instante para outro, anos de perseverante empenho para nos livrarmos de vícios, vaidades e egoísmos, podem ser jogados no lixo se não nos mantermos segurando os novos valores até o fim. 
      Não nascemos só com necessidades de novos aprendizados, nascemos também com valores instalados, esses são o auxílio que o universo nos dá para cumprirmos nossa missão neste mundo. Contudo, manter as qualidades não constitui trabalho digno da honra maior, isso é só uma obrigação, o esforço que será recompensado é superarmos defeitos e limites. Infelizmente muitos chegam no final de suas jornadas no mundo exaltando suas qualidades, trabalho que exigiu algum esforço, mas que não constitui sua missão. Isso não torna o ser humano mais santo, mais amoroso e mais humilde, ao contrário, torna-o mais orgulhoso e dependente de honra do mundo, dos outros seres humanos, da matéria, do próprio ego.
      Encarnados, pela fé, nossos sentidos físicos podem ser impressionados de alguma forma pelo plano espiritual, seja por espíritos malignos (demônios), por espíritos de luz (anjos), por Deus (o Espírito Santo). Mas a experiência espiritual no mundo material sempre é imperfeita, temos noção só de esboços, delimitados por nossas construções pessoais de religião e espiritualidade. Mas não confundamos ferramentas com o que elas podem acessar, as ferramentas variam, assim suas efetividades para executarem tarefas, alguns usam as mãos, outros pás e outros escavadoras para fazer buracos, mas todos vasculham a terra a procura de alguma pepita de ouro. No final cada um acha a quantia de ouro que pode administrar. 

4. Espiritualidade e santidade 

      A vida não é igual para todos, não se nasce, não se vive e não se morre igual, assim a missão de cada um, por causa de variáveis físicas, intelectuais, morais, sociais, culturais, é diferente. Com tantas diferenças, é razoável achar que uma mesma experiência de espiritualidade, de religiosidade, possa levar todos a cumprirem suas missões? Por outro lado, nem todos são desafiados a serem a mesma coisa, o nível de espiritualidade inicial diverge assim como o nível final que cada um deve atingir. Espiritualidade, pelo menos a alta, está diretamente ligada à moralidade. O mais espiritual não é o que tem mais conhecimento e experiência com espíritos, mas o que conquistou e segurou por mais tempo virtudes morais. 
      Não há espiritualidade sem santidade, nem santidade sem espiritualidade, ambas estão conectadas. Quem se diz limpo moralmente, mas não tem conexão espiritual com o Altíssimo, mente, quem se acha espiritual, mas não consegue praticar, na maior parte do tempo pelo menos, santidade, engana-se. O melhor e mais útil crescimento na vida, o cumprimento da missão principal que temos neste mundo, está relacionado com Deus, na origem, no processo e no destino. Tirar o Deus verdadeiro da equação invalida qualquer empreendimento espiritual, moral e mesmo cristão religioso, e muitos conhecem o evangelho e Bíblia intelectualmente, mas não são amigos de Deus, portando não interagem com seu Espírito.
      Espiritualidade e santidade nascem e têm motivo de existir pelo e para o amor, não se é espiritual e santo para receber glória, seja dos homens, dos demônios, dos anjos ou de Deus, mas para servir os outros em amor. O mais santo e espiritual amará mais, assim será mais servo e mais humilde. No serviço ao outro não se usa de qualquer espécie de prepotência, o mestre não tem direito de falar mais e de ser obedecido. O mestre dá a vida por seus discípulos, quem sabe, cala, não fala, mas pratica o amor em humildade. Nem todos estão prontos para isso, muitos ainda estão no mundo para se conhecerem e se servirem, os realmente espirituais terão paciência com esses e deixarão que o tempo faça seu trabalho, há tempo para tudo.
      Jesus, quando viveu com santidade e espiritualidade e serviu com amor e humildade, sofrendo a pior injustiça humana, aquela que vem de religiosos conservadores, e não de outras religiões, mas de sua própria, pagou com a própria vida o preço para cumprir uma missão singular. Houve vários seres humanos especiais no mundo, muitos são conhecidos como fundadores e codificadores de religiões, outros permanecem no anonimato, mas o Cristo foi único, assim depois que morreu, ainda apareceu neste mundo e depois foi colocar-se numa posição espiritual exclusiva. Nessa posição podemos focar nossa fé para termos acesso ao Deus altíssimo, termos paz no perdão de Deus e assim forças para trabalharmos moralmente. 

5. Morte e juízo 

      Morremos! A princípio somos exatamente quem éramos encarnados, a princípio não há mágica nem transformação, só ocorre que a identidade que aqui achávamos que era só nosso mundo mental, recebe liberdade para existir desprendida de espaço, tempo e matéria. Não há aperfeiçoamento extremo e imediato para os que tiveram uma religiosidade baseada no Cristo, usando sua vida no mundo como exemplo moral a ser seguido e sua posição espiritual como ponto elevado para se conectar a Deus pelo seu Espírito. Também não há condenação extrema e imediata para os que não tiveram a tal religiosidade baseada no Cristo, ainda que em Jesus haja espiritualidade, santidade, amor e humildade mais diretamente acessíveis. 
      Após nos acostumarmos com nossa nova condição, somos expostos ao juízo, que nada mais é que um confronto com a luz de Deus. Sim, anjos e outros seres espirituais de luz assistem junto a Deus, mas esse é momento pessoal, individual, onde somos protegidos, não envergonhados ou envaidecidos. Deus é sempre amoroso, portanto, elegante e discreto. Essa luz é reveladora, nada escapa dela, nada se esconde dela, nada resiste a ela. Encarnados no mundo temos alguma experiência espiritual, mas somos protegidos dessa luz, seríamos fulminados se ela nos tocasse diretamente. Na eternidade também há certa proteção, mas não de nós mesmos, serão avaliado aqueles novos valores morais que por mais tempo conseguimos reter. 
      A conta divina é simples: o que seguramos mais perseverantemente nas mãos será anexado ao nosso corpo espiritual e nunca mais perderemos, são valores que a partir daí definem nossa identidade eterna, nossos homens interiores, e consequentemente nossa qualidade de céu. Só Deus sabe quem de fato segurou virtudes morais por tempo suficiente para ter direito a uma passagem de nível espiritual na eternidade. Mas esse conhecimento não é tão misterioso, quem construiu o céu persistiu até o fim em santidade, humildade e amor, assim o final importa mais que o início. O que Deus faz após permitir que conheçamos o que ele queria para nós, qual foi a missão que nos deu, sendo expostos à sua luz? Nada, somos nós que fazemos.  
      Quem sabe que fez certo, que tem créditos, já o sabia em vida, por isso era santo, amoroso e humilde, por isso calava-se e não fazia exigências, e não fazia porque já estava satisfeito só por ser mais que filho, mas amigo de Deus. Animais e seres humanos são criaturas de Deus, seres humanos, todos eles, indiferente de suas escolhas morais e religiosas, são filhos de Deus, mas aqueles que amam a Deus e querem obedecê-lo em verdade são seus amigos. Céu é lugar para amigos de Deus! Os amigos após o juízo querem estar mais perto de Deus, assim elevam-se para ele, esse movimento também é trabalho, mas mais fácil que o trabalho moral que temos no mundo. Viver eternamente, conquistar novos céus, é subir à luz de Deus! 

6. Inferno e céu 

      Vivemos, morremos e somos expostos à luz de Deus, essa exposição mostra o que somos de verdade e de um jeito que não podemos negar. No mundo tentamos nos enganar e aos outros, e muitos conseguem, ou acham que conseguem, por muito tempo. Mesmo enganando podemos seguir vivendo e mesmo conquistando coisas, bens, honras, posições sociais, mas no plano espiritual, após o juízo, nossos destinos são definidos. Se na maior parte do tempo no plano material não conseguimos vencer nossos defeitos, se só exaltamos nossas qualidade, se em nosso último momento negamos valores que um dia até conseguimos conquistar e segurar, o resultado do balanço não será positivo, de crédito, mas negativo, de débito. 
      O que Deus faz quando entendemos que não conseguimos cumprir a missão que ele nos deu no mundo? Nada, ele não precisa fazer coisa alguma. Vergonha e uma enorme tristeza tomam conta daqueles que de alguma forma tentaram se enganar e enganar os outros no mundo. Muitos procurarão lugares, pessoas e disposições que os ajudavam a manter a mentira no mundo e não acharão, não para lhes oferecer algum prazer ou fuga, ainda que ilusória. Eternidade é momento de verdade, a verdade mais pura e alta de Deus, não as verdades subjetivas do mundo físico. Ainda assim, muitos, que frequentaram igrejas, que conheceram a Bíblia, se arrependerão, e ainda que envergonhados terão purgatórios menores…
      Outros, contudo, se revoltarão, e ao negarem a verdade de Deus, cairão, para as regiões espirituais de trevas, reservadas aos seres que não querem subir para a luz. Esses acharão nos demônios os pares, e muitos estarão nessa posição, gerada de dentro para fora dos seres, munidos de argumentos religiosos, tentando achar na eternidade o que religiões lhes ensinaram no mundo sobre ela. Infernos são posições espirituais de tormento, de quem não aceita a verdade, como quartos fechados em que se põem lunáticos ensandecidos, possuídos de ódio, tentando achar nos prazeres da carne algum consolo. Mas na eternidade não há corpos físicos, sem noites de sono para descanso e refeições para satisfação do estômago com comida e bebida. 
      Nesta reflexão extrapolei ensinos do cristianismo, você não precisa concordar com tudo, mas ainda fiquei limitado à teologia tradicional. Não vou além para não escandalizar ninguém, a ideia não foi refletir sobre infinitude ou não de penas e recompensas da existência além. O objetivo foi explicar que céu se constrói com trabalho moral, a fé por Jesus nos permite ter acesso ao perdão de Deus e consequentemente recebermos paz, e paz é tudo que precisamos para seguirmos trabalhando. O que nos dá direito ao céu são as obras, a fé abre a porta, mas entrar e permanecer por mais tempo possível dentro da missão de Deus, adquirindo virtudes morais, é através de perseverante trabalho individual.

Conclusão 

      Depois de compartilhar aquilo que tenho aprendido pelo Espírito Santo sobre vida, morte e juízo, segue a conclusão desta reflexão. Se a doutrina do cristianismo protestante não contempla a existência do ser humano antes que ele, corpo e espírito, nasça neste mundo, desprezando tantas diferenças, mas impondo a seres humanos tão distintos, não só física, intelectual e emocionalmente, como também com origens geográficas tão variadas e espalhadas por todo o globo terrestre, a mesma salvação, fé num Cristo judeu nascido no primeiro século, essa doutrina também vê o fim de todos como o mesmo. Todos passarão por um juízo que avalia por valores morais de um cânone sagrado construído por uma tradição judaico-cristã. 
      Vendo o mundo espiritual como lugar de anjos (arcanjos, serafins, querubins e outros seres de luz), do diabo, de demônios, sendo que só temos legalidade para nos comunicar com Deus pai, Deus filho (Jesus) e Deus Espírito, ainda que os mortos possam estar lá, mas num estado de sono, aguardando o juízo, estando esses seres, e excetuando seres humanos mortos, em posições espirituais imutáveis, o mau será sempre mau e o bom sempre será bom, qualquer contato fora do protocolo bíblico é visto como diabólico. Assim são demonizadas muitas religiões, principalmente espíritas e afro-espíritas, e consequentemente levando quem usa de certas práticas a uma condenação eterna no inferno, após a morte do corpo neste mundo. 
      Se o que pode nos levar a duvidar de certos dogmas cristãos é verificar os frutos ruins que geraram na história, podemos dar crédito a doutrinas que parecem destoar das cristãs vendo seus bons frutos. Contudo, devemos fazer isso com experiência de primeira mão, não levando em conta palavras de outros baseadas em preconceitos. O lugar que este raciocínio nos leva pode ser até que ponto queremos vencer medos, principalmente do diabo e do inferno, quando essa linha é ultrapassada Deus pode nos revelar mistérios. Mas para isso ocorrer temos que querer e Deus tem que permitir, muitos querem mas não estão preparados, outros estão preparados, Deus quer mostrar-lhes mais, mas eles não saem da zona de conforto da religião. 
      Longe de mim escandalizar um crédulo, mas digo a evangélicos e católicos o que digo a adeptos de todas as religiões, sejam lúcidos e sensatos. Avaliemos até que ponto nossas crenças e nossas religiosidades estão fazendo de nós de fato seres humanos melhores, dignos de um céu e não de um inferno. Não usemos religião como fuga da realidade ou para saciar carência de aprovação ou vaidades, também tenhamos cuidado com líderes mal intencionados ou materialistas. Enfim, aprendamos com religiões, principalmente com as cristãs, mas busquemos uma experiência direta e reta com Deus, sempre checando os bons e duradouros frutos principalmente de virtudes morais que nossa conexão com Deus deve nos entregar. 

José Osório de Souza

O cristianismo e o além (7/7)

      “Por isso diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá. Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo; porquanto os dias são maus. Por isso não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor.Efésios 5.14-17

      Depois de compartilhar aquilo que tenho aprendido pelo Espírito Santo sobre vida, morte e juízo, segue a conclusão desta reflexão. Se a doutrina do cristianismo protestante não contempla a existência do ser humano antes que ele, corpo e espírito, nasça neste mundo, desprezando tantas diferenças, mas impondo a seres humanos tão distintos, não só física, intelectual e emocionalmente, como também com origens geográficas tão variadas e espalhadas por todo o globo terrestre, a mesma salvação, fé num Cristo judeu nascido no primeiro século, essa doutrina também vê o fim de todos como o mesmo. Todos passarão por um juízo que avalia por valores morais de um cânone sagrado construído por uma tradição judaico-cristã. 
      Vendo o mundo espiritual como lugar de anjos (arcanjos, serafins, querubins e outros seres de luz), do diabo, de demônios, sendo que só temos legalidade para nos comunicar com Deus pai, Deus filho (Jesus) e Deus Espírito, ainda que os mortos possam estar lá, mas num estado de sono, aguardando o juízo, estando esses seres, e excetuando seres humanos mortos, em posições espirituais imutáveis, o mau será sempre mau e o bom sempre será bom, qualquer contato fora do protocolo bíblico é visto como diabólico. Assim são demonizadas muitas religiões, principalmente espíritas e afro-espíritas, e consequentemente levando quem usa de certas práticas a uma condenação eterna no inferno, após a morte do corpo neste mundo. 
      Se o que pode nos levar a duvidar de certos dogmas cristãos é verificar os frutos ruins que geraram na história, podemos dar crédito a doutrinas que parecem destoar das cristãs vendo seus bons frutos. Contudo, devemos fazer isso com experiência de primeira mão, não levando em conta palavras de outros baseadas em preconceitos. O lugar que este raciocínio nos leva pode ser até que ponto queremos vencer medos, principalmente do diabo e do inferno, quando essa linha é ultrapassada Deus pode nos revelar mistérios. Mas para isso ocorrer temos que querer e Deus tem que permitir, muitos querem mas não estão preparados, outros estão preparados, Deus quer mostrar-lhes mais, mas eles não saem da zona de conforto da religião. 
      Longe de mim escandalizar um crédulo, mas digo a evangélicos e católicos o que digo a adeptos de todas as religiões, sejam lúcidos e sensatos. Avaliemos até que ponto nossas crenças e nossas religiosidades estão fazendo de nós de fato seres humanos melhores, dignos de um céu e não de um inferno. Não usemos religião como fuga da realidade ou para saciar carência de aprovação ou vaidades, também tenhamos cuidado com líderes mal intencionados ou materialistas. Enfim, aprendamos com religiões, principalmente com as cristãs, mas busquemos uma experiência direta e reta com Deus, sempre checando os bons e duradouros frutos principalmente de virtudes morais que nossa conexão com Deus deve nos entregar.