quarta-feira, julho 14, 2021

Sincero e sincero

      “A sinceridade dos íntegros os guiará, mas a perversidade dos aleivosos os destruirá.Provérbios 11.3

      Sinceridade é mostrar o que se sente e se pensa com lisura, a palavra sincero pode ter origem num antigo hábito de passar cera nas esculturas em mármore para esconder as imperfeições, assim “sem cera”, sem esconder nada. Mas sinceridade por si só não é uma virtude, exibir insegurança e maldade com honestidade, usando o álibi de que se procede assim porque se é sincero, e achar que isso é virtude, é uma engano, não é útil, não é virtude, é irresponsabilidade estúpida. Nem toda verdade deve ser mostrada. 
      Alguns fariam melhor se esconderem e se acertarem antes de saírem por aí jogando má sinceridade na cara dos outros. O sincero que a Bíblia se refere é o sincero do bem, que mesmo com limites deseja acertar, ser alguém do bem e obedecer a Deus, esse sincero prefere calar que falar, agir que discursar, agradar a Deus que aos homens, e não usa nem essa intenção melhor para desrespeitar os outros. O sincero foca em Deus, mas ama os homens, pois sua verdade é boa e se harmoniza com a verdade do Altíssimo.

terça-feira, julho 13, 2021

Ilusão e esperança

      “Mas desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança; para que vos não façais negligentes, mas sejais imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas.Hebreus 6.11-12

      Ilusão, como toda paixão, é passageira, também é passageira a esperança, mas ilusão não é esperança. Esperança, apesar de poder ser sobre algo difícil, se realiza pois espera uma verdade, deixa algo benigno e concreto no final, ainda que seja só em áreas subjetivas como a emocional e a moral. Já ilusão, ao término, deixa amargas memórias, um vazio que antes era preenchido por uma mentira. Que tipo de seres somos, iludidos ou esperançosos? Esperamos a realização de uma fantasia ou da vontade de Deus? 
      Ainda que coloquemos Deus na história podemos estar apenas iludidos, e outros, mesmo que nem creiam em Deus, têm esperanças legítimas que se realizarão um dia. Melhor, contudo, é poder esperar em Deus, nisso não há dor, nem mentira, mas harmonia com os planos do Altíssimo que sempre sabe quando e o que faz. Só se desilude quem se ilude, mas quem espera sempre alcança, dizem os ditados, façamos nossa parte e esperemos o melhor em Deus, ser feliz neste mundo é administrar a espera no tempo.  

segunda-feira, julho 12, 2021

Sabedoria e malícia

      “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada.Tiago 1.5

      Sabedoria é diferente de malícia! O tempo, irremediavelmente, traz experiências, essas tornam algumas pessoas sábias e outras maliciosas, isso depende de como se assimila e se resolve as experiências. O que busca temor a Deus vê as coisas sob o ponto de vista mais alto e é sábio. O que se isola e se afasta de Deus vê as coisas sob o ponto de vista humano e mundano e se torna malicioso. O malicioso envaidece-se com o que acha saber, o sábio é humilde e sabe que nada sabe.
      A malícia pretende lucro e prazer pessoal, é inteligência usada pelo egoísmo, projeta fora o mal que existe dentro. O malicioso usa decepções e agressões que sofreu para prender os homens ao passado e a seus erros, espera o pior pois não crê em mudanças interiores, é um armazém de rancores e invejas. O sábio tem fé e esperança, sabe perdoar, dá aos outros uma nova chance, não mata antes do tempo e não condena para sempre, cultiva ainda no mundo o céu dentro de si. 

domingo, julho 11, 2021

Se o outro não é razoável, seja espiritual (2/2)

      “Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras.” Daniel 10.12      

      “Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” Isaías 6.5      

      “Este era o aspecto da semelhança da glória do Senhor; e, vendo isto, caí sobre o meu rosto, e ouvi a voz de quem falava. E disse-me: Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo.” Ezequiel 1.28b, 2.1      

      Seguindo com a reflexão “Se o outro não é razoável, seja espiritual”, algumas coisas sobre o plano espiritual e nossa relação com ele. A primeira coisa é a consciência de que não temos que orar por todas as pessoas, podemos sentir claramente Deus dizendo, “essa pessoa já está em minhas mãos, não ore mais por ela”, e isso pode ser final. Contudo, isso às vezes pode não ser um não definitivo de Deus, mas apenas uma primeira impressão nossa, em outras palavras Deus pode estar dizendo: “cuidado, esse assunto é mais sério que você acha que é, se quiser interceder por essa pessoa terá que se comprometer mais espiritualmente”. Deus é responsável, não nos chama para algo além de nossos limites e orar por uma causa pode nos colocar numa guerra espiritual séria, se for o caso nos dará sensibilidade do que isso envolve (Daniel 10).
      A segunda coisa é sobre o medo que uma experiência espiritual mais profunda pode nos fazer sentir. Quando adquirimos intimidade com Deus e depois com o plano espiritual, e correm sérios riscos quem se atreve a “entrar” no mundo espiritual sem autorização e proteção do Altíssimo, aprendemos que sentir medo nem sempre signifiva estarmos próximos do mal ou de algo perigoso para nós. A proximidade de Deus e de seus anjos de luz também causa medo, mas nesse caso não é terror, opressão, mas temor, que exige de nós respeito por nos aproximarmos de algo santo e poderoso. Isaías teve essa experiência (Isaías 6), Ezequiel teve (Ezequiel 1), profetas de Deus se sentiram desfalecidos quando o céu se abriu para eles e seres santíssimos se manifestaram, terrível é a presença dos servos do mais alto escalão do Onipotente. 
      Sobre o título desta reflexão, devemos ser sempre espirituais, com ou sem razoabilidade alheia, mas muitas vezes basta-nos calma para dialogarmos quando negociamos com alguém sensato. Com outros, contudo, é preciso discernimento para não entrarmos em polêmicas, e se houver um assunto importante para nós em jogo a oposição pode, sim, ter apoio espiritual do mal, e por isso deve ser confrontada no mesmo nível e com as mesmas armas. Uma das estratégias do mal é nos levar a lutar com ele no campo de batalha dele, escolhido por ele. Como amigos de Deus não precisamos nos rebaixar a isso, não devemos ser arrogantes, mas discernirmos quando isso está para acontecer para nos retirarmos e buscarmos a Deus, autorizando o Senhor a lutar por nós, com armas espirituais numa batalha igualmente espiritual. 
      Outra coisa sobre os seres espirituais do mal: eles não têm poder sobre o mundo físico, pelo menos não com facilidade, quando têm é em eventos menores e com autorização de homens, como as ocorrências fantasmagóricas, movimento de objetos, barulhos etc, onde se exige que homens autorizem “espíritos” para agirem. Na maioria das vezes seres das trevas só influenciam os seres humanos em seus pensamentos e sentimentos, os que vivem na luz de Deus sentirão desconforto nisso e porão o diabo para correr, o mal não prevalece sobre os filhos da luz. Contudo, aqueles que se entregam ao mal neste mundo, mantêm na mente raciocínios e intenções ruins, não buscam cura emocional e seguem doentes no espírito, esses dão legalidade aos espíritos maus, pois acham em suas influências empatia para suas maldades e vaidades.
      Nós evangélicos nos acostumamos com um estereótipo de pessoa endemoniada que pode não condizer com um tipo de obsessão do mal muito comum nos dias atuais, são pessoas que se você colocar a mão na cabeça e orar nada vai acontecer, ao contrário, elas poderão zombar de você e te porem para correr. Precisamos ser mais sábios nos dias de hoje, muitos cristãos continuam vivendo um cristianismo ultrapassado, muitas coisas não são hoje e não serão no futuro da maneira física e ao pé da letra como eles interpretam a Bíblia. O ser humano evoluiu intelectualmente e em sua relação com a espiritualidade, assim o mal não age e se manifesta de maneira tão simples e explícita. Nem todo “satanista” perde o controle de sua consciência e fica endemoniado, lançando-se ao chão e falando sacrilégios só com a visão da cruz. 
      É preciso oração em santidade e com a autoridade de Jesus para “expulsar demônios”, isso nunca vai mudar (Marcos 9.28-29), mas mesmo essa expulsão pode ser só temporária, para mudanças definitivas os “endemoniados” precisam escolher mudar. Numa libertação temporária as pessoas terão chance de decidir com mais clareza e justiça sobre uma causa que tem a ver com as nossas vidas, mas não é definitiva porque apesar de podermos afastar a influência espiritual das trevas, se depois as pessoas quiserem atrairão essa influência novamente para elas, no mundo espiritual semelhantes se atraem. Assim, se precisarmos novamente que as pessoas não nos prejudiquem, ou oramos o tempo todo por elas, ou tentamos aconselhá-las a mudarem de vida (Mateus 5.25), dessa forma serão melhores e não poderão mais nos fazer mal. 
      Entendamos corretamente esse assunto, do mal estamos protegidos sempre que andamos certo com Deus, assim não é porque temos um colega de trabalho, de escola ou um parente, que tem ligações mais fechadas com demônios, que estamos o tempo todo em perigo. O mundo espiritual tem espaços geográficos bem delimitados por Deus e os “seres espirituais” respeitam isso, desde que não invadamos seus limites. Mas o ponto dessa reflexão foi sermos orientados a fazer uma “oposição espiritual” contra uma pessoa com quem temos um assunto a resolver, assim, de algum jeito nosso “espaço” cruzou o “espaço” dessa pessoa, há interesses, ainda que materiais, em comum. O sábio é depois de resolvido o assunto, dando-nos Deus vitória em nossa causa, se a pessoa não se converteu a Deus, mantermos distância segura. 
      A verdade é que certas pessoas não dão abertura para diálogo razoável, por isso precisamos orar por elas à distância. A melhor espiritualidade é realizada em segredo, principalmente para interceder por pessoas que insistem em se colocarem como nossas opositoras, quem não entender isso será esbofeteado várias vezes, humilhado e injustiçado, sem forças para reagir. Por quê? Porque com certas pessoas não tem papo, e se acharmos que é possível, que como cristãos podemos resolver o problema com uma boa conversa, só estaremos alimentando ansiedade e até construindo doenças dentro de nós. Com certas pessoas não devemos ter mais boas expectativas, devemos ser educados e mantermos distância, ainda que em nossos momentos de oração lutemos por elas em amor esperando que elas escolham mudar. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão
José Osório de Souza, 19/02/21

sábado, julho 10, 2021

Se o outro não é razoável, seja espiritual (1/2)

      “Em ti me alegrarei e saltarei de prazer; cantarei louvores ao teu nome, ó Altíssimo. Porquanto os meus inimigos retornaram, caíram e pereceram diante da tua face. Pois tu tens sustentado o meu direito e a minha causa; tu te assentaste no tribunal, julgando justamenteSalmos 9.2-4

      “Deus não revogará a sua ira; debaixo dele se encurvam os auxiliadores soberbos. Quanto menos lhe responderia eu, ou escolheria diante dele as minhas palavras! Porque, ainda que eu fosse justo, não lhe responderia; antes ao meu Juiz pediria misericórdia.Jó 9.13-15

      “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.Efésios 6.12

      Com muitas pessoas podemos chegar a um entendimento conversando, às vezes não é uma negociação fácil, mas é possível, e isso em áreas diversas, seja profissional, afetiva ou outra. Com outras pessoas não é necessário nem trabalho de negociação, há uma concordância fácil e justa para ambos os lados. Contudo, com algumas o diálogo é impossível, as pessoas parecem falar uma língua diferente da nossa, e por mais que tentemos conduzir as coisas para um campo de paz, elas são beligerantes, parece que se sentem sempre lesadas de alguma maneira por nós, sendo que isso não reflete de maneira alguma nossas intenções. Quando um lado não pode ser razoável é preciso que o outro seja mais que hábil, e em termos cristãos, seja espiritual, é preciso colocar o negócio nas mãos de Deus e pedir sua ação. 
      Em toda questão difícil, conforme a ótica espiritual do evangelho (e não da justiça material e ao pé da letra do antigo testamento) precisamos considerar dois entendimentos, um sob o nosso ponto de vista e um segundo sob o ponto de vista do outro. Por mais difícil que possa parecer, como cristãos temos que analisar o ponto de vista do outro avaliando a possibilidade do outro estar sendo duro conosco por causa de um erro nosso, não dele. O espiritual não vê um conflito como uma guerra, onde ele é a vítima inocente que precisa que Deus aja com seu poder a seu favor, dando ao outro o papel de inimigo, ele entende que todos somos em alguma instância opressores e oprimidos, como sempre falamos aqui, todos precisam da misericórdia de Deus e podem ser ajudados pelo amor do Altíssimo (Mateus 5.44). 
      Se nos sentimos oprimidos por alguém, olhemos antes para nós mesmos e nos avaliemos, verifiquemos se há algum motivo para merecermos tal opressão. Façamos isso antes de pedirmos mão pesada de Deus sobre os outros, entendamos o que precisamos mudar, onde devemos ser melhores para não recebermos opressão como efeito de atitude errada nossa. Isso é nos aproximarmos de Deus com humildade, sem nos acharmos com mais direitos que os outros por sermos vítimas ou mais ”chegados” do Senhor (e Deus quer ser amigo de todos, não só de nós). Mas mesmo que nos avaliemos como justos, não peçamos vingança, mas misericórdia do Senhor para os outros. Se estivermos errados, sejamos humildes, mas se estivermos certos, sejamos ainda mais humildes, sejamos sempre espirituais, só assim venceremos. 
      Esse posicionamento espiritual inicial sério é de suma importância para que ajamos de forma correta com os desarrazoados. Se o homem não pode contra o homem, Deus pode agir contra forças espirituais que podem estar influenciando o homem, e não contra o homem, já que nem Deus vai contra o livre arbítrio humano. Deus, contudo, só age em prol dos que chegam a ele do jeito certo. A ação de Deus é em sua origem espiritual e como consequência tem efeitos no plano material, toda ação espiritual interfere no material, seja benigna ou maligna. Quando pedimos uma interferência de Deus estamos entregando uma causa nas mãos dele para que ele aja de forma espiritual sobre agentes espirituais, que nós, seres encarnados, não temos como agir contra. Mas por que o conflito tem que ser levado a esse nível? 
      Nem todos que vivem vidas longe de Deus se colocam diretamente de forma injusta contra os outros. Quem não tem um nível moral adequado atrai para si seres espirituais que prejudicam sua vida privada, o prendem a vícios, mas esses seres não farão, necessariamente, mal aos outros, assim quem vive dessa forma pode precisar de oração por sua vida, mas não por prejudicar os outros. Mas existem pessoas que fazem o contrário, têm vidas morais adequadas, não são escravas de vícios, são boas cidadãs, mas alimentam dentro de si ódios, invejas, rancores, que atraem espíritos maléficos que potencializam assuntos internos não resolvidos e projetam isso nos outros, um desconforto espiritual pessoal que acaba descontando nos outros injustiças e intransigências. São por esses que podemos ser levados a lutar espiritualmente. 
      Quando alguém se coloca contra quem está com a vida em harmonia com Deus e cria um embate que não pode ser resolvido de forma racional, essa pessoa pode estar sob influência de espíritos malignos, que podem estar acentuando sua falta de razoabilidade, oprimindo seus sentimentos e convencendo sua mente sobre determinado posicionamento. Muitas vezes não temos ideia de quantas mentiras alguém que se afasta de Deus pode manter em sua alma, eis um ambiente perfeito para a atuação de “demônios”. Por essas pessoas podemos ser levados a fazer guerra espiritual, não contra elas, mas contra o mal que as oprime e que elas mesmas atraíram. Isso pode exigir de nós consagração e oração diferenciadas, para entendermos como alguém pode estar amarrado no fundo de um poço sob o peso de seres espirituais das trevas. 
      Nosso trabalho nessa guerra é clamar para que a luz mais alta e poderosa de Deus destrua as trevas e toque a consciência da pessoa, levando-a a sair de sua irrazoabilidade, isso não é algo fácil e rápido. Guerra espiritual se faz com santidade, autorização de Deus, mas também com amor, afinal de contas tem uma vida humana envolvida e sofrendo, não a de quem está lutando, mas a daquele por quem se está lutando. Se o homem não pedir Deus não age? Exato, Deus não age. Não basta dizermos que nossas vidas estão entregues nas mãos do Senhor, de forma protocolar e religiosa, é preciso um envolvimento maior nosso, e é assim não só para que uma questão material seja resolvida a nosso favor, mas para que cresçamos espiritualmente e alguém, justamente quem se colocou como nosso inimigo, seja libertado. 
      O problema não é o problema, mas a maneira como interagimos com ele, a solução não é algo posterior manifestado no plano físico, mas um posicionamento anterior no plano espiritual. A vontade de Deus talvez nem seja quebrar o coração de um teimoso para nos abençoar, mas abençoar o teimoso, levando-nos a lutar por ele. Parece uma “piada cósmica”, quem se coloca como nosso inimigo ter em nós o único amigo que lutará por ele, mas não é piada não, são os maravilhosos caminhos do Senhor usando-nos para abençoar os outros. Não pense que a recompensa será um aumento de salário, mas a vida de seu chefe libertada do mal, e como consequência seu coração estará quebrantado o suficiente para aumentar teu salário. Qual foi o maior ganho nesse exemplo, dinheiro ou um amigo? Lutemos por amigos e não nos faltará nada. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 19/02/21

sexta-feira, julho 09, 2021

Não é fácil ser bom

      “Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados. Sendo hospitaleiros uns para com os outros, sem murmurações, cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.I Pedro 4.8-10

       Não sei você, mas para mim não é fácil ser bom, eu preciso estar numa vigilância constante, me esforçar muito, para ser principalmente paciente, e consequentemente, amoroso, não conseguimos amar sem estarmos em paz e ter paz é não se incomodar com o mundo externo. Entretanto, se precisamos nos esforçar tanto para amar o outro, será que o problema está no outro ou em nós? Em nós, com certeza, mas como pode ser difícil nos controlarmos para sermos bons e não seres em conflito que perdem a paz por qualquer coisa. Sei que estou enganado, mas olhando de fora para algumas pessoas, elas me parecem tão controladas, tão benignas, demonstram tranquilidade com tanta facilidade, parece que nada, ou muito pouco, as desestabilizam, olhando de fora chego a invejá-las. 
      Mas como eu disse, sei que estou enganado, todos têm grandes conflitos internos, ninguém é perfeito, senão não estariam neste mundo em expiação, a diferença é que alguns escondem seus conflitos mais facilmente. Será que essa facilidade melhora as coisas? Talvez não, quem esconde melhor o problema tem a tendência de manter o problema sem solução por mais tempo, já que se os outros não sabem, parece que está tudo bem, nos preocupamos mais com aparência externa que com a verdade no interior. Não sei você, o ponto, contudo, é que eu enfrento uma batalha diária para deixar Deus brilhar em mim, para não ser estúpido com os outros, para não julgar mal, para ter paciência, para estar em paz e amar sempre com o amor sacrificial de Jesus, e essa luta me faz sofrer muito, meu Deus sabe. 
      Talvez, sentir que se está perdendo constantemente uma batalha tenha um lado bom, significa que continuamos combatendo, que não desistimos, já que muitos não perdem mais batalhas porque simplesmente pararam de lutar, perderam tantas vezes que concluíram que não valia mais a pena. Muitos, cansados de se humilharem e pedirem perdão, assumiram para si que o problema está nos outros, não neles, que se eles não têm paciência com os outros é porque os outros são insuportáveis, não são eles que são estúpidos. Isso parece estranho? Mas digamos a verdade, não é assim que na prática e com o tempo, nós e muita gente age, no meio familiar, com os irmãos na igreja, com os colegas de trabalho, no trânsito? Nos dias atuais, quando vivemos em constante pressão, paciência parece ser um luxo. 
      Como sabemos se isso ocorre conosco? Simples, respondendo a uma pergunta: há quanto tempo eu não peço perdão para alguém? Ou pelo menos, há quanto tempo eu não peço perdão a Deus pela falta de paciência que tenho com os outros? Isso é assumir que fomos deficientes no amor. Não basta pedir perdão a Deus por pecados mais explícitos e que cometemos sozinhos, em segredo, muitas vezes até nossa oração e assunções de pecados são feitas por orgulho, para nos sentirmos com a consciência tranquila, enquanto o principal que o evangelho manda, amar o próximo, não fazemos. Sim, é preciso uma batalha constante, não só por santidade moral e por disposição de justiça na área material, é preciso que lutemos pelo amor, ele será exaltado acima da fé na eternidade, ele cobre multidão de pecados. 
      Como nos ensina Pedro no texto inicial, cada um administre aos outros o dom como o recebeu, todos podemos ser úteis aos outros de alguma maneira. Nem todos temos uma amabilidade fácil e leve no jeito de ser, a vida fez muitos de nós duros e mesmo um pouco frios, muitos de nós tivemos que achar um jeito para vivermos com o passado, com a dor e com a solidão. Mas o que tem o Espírito Santo com liberdade dentro de si, achará um jeito de servir, um jeito de ser bom, mesmo que seja escrevendo textos para pessoas que nunca vai conhecer (pelo menos neste mundo), como é o caso deste que vos escreve, ou orando nas madrugadas por pessoas que não fazem a mínima ideia do quanto são importantes para nós, do quanto nós as amamos e queremos para elas tudo o que há de melhor em Deus. 

quinta-feira, julho 08, 2021

Sofrimento merecido (?)

      “O estrangeiro, que está no meio de ti, se elevará muito sobre ti, e tu mais baixo descerás; ele te emprestará a ti, porém tu não emprestarás a ele; ele será por cabeça, e tu serás por cauda. E todas estas maldições virão sobre ti, e te perseguirão, e te alcançarão, até que sejas destruído; porquanto não ouviste à voz do Senhor teu Deus, para guardares os seus mandamentos, e os seus estatutos, que te tem ordenadoDeuteronômio 28.43-45

      Você admite os sofrimentos e injustiças que recebe como merecidos, que por conta de escolhas erradas e atitudes sem amor você merece o tratamento deselegante de muitos e as oportunidades ruins ou ausentes que você experimenta, por exemplo, em tua vida profissional? Em primeiro lugar, antes de refletirmos mais nessa questão e em sua resposta, vamos entender melhor sobre a que nos referimos com “merecer”. Este mundo é injusto, as pessoas são egoístas, e nisso estamos incluído, assim também somos injustos e egoístas, contudo, existem, sim, coisas que sofremos sem merecer. 
      Tem muita gente que sofre por causa da ganância e de preconceitos dos outros, que só pensam em si mesmos, que só querem receber e não querem dar ou servir os outros. Isso é verdade, assim muitas coisas não devemos simplesmente aceitar como coisas que merecemos ou que não podemos modificar, temos que reagir e superar, a partir de uma atitude honesta, corajosa e crédula que muitas realidades podem ser mudadas para melhor. Como sempre falo aqui, principalmente em relações afetivas, casamentos, namoros, famílias, violação e exploração não devem ser aceitas! 
      Contudo, a pergunta inicial se refere a algo mais profundo, que vai além do mal que os outros fazem a nós, se refere ao mal que nós mesmos fazemos, contra os outros e contra nós mesmos. Temos consciência que também somos maus, que também somos injustos, que também escolhemos mal? Ou em nome de nosso prazer achamos desculpas para fazermos qualquer coisa e pensamos que isso é legítimo porque temos direito à liberdade e a usufrutos? Um ser humano maduro avalia os outros mas também se avalia, é exigente com afeto recebido mas também é correto com o que dá aos outros.
      Digo agora algo aos mais velhos, aos que já tiveram oportunidades de errar e de acertar, aos que sabem discernir o mal dos outros do mal de si mesmos. Avaliar a vida de maneira geral no tempo, entender a grande maioria das dores que experimentamos como consequências de erros nossos e portanto merecidos, não erros dos outros, ainda que tenham sido erros que cometemos quando nos permitimos viver sob relações injustas e violentas, é atitude de profunda humildade espiritual, de assumirmos nossa parte na existência e de não jogarmos a culpa nos outros, na vida ou mesmo em Deus. 
      Procuramos sempre que possível analisar um tema sobre todas as perspectivas, assim enquanto é sábio verificarmos até que ponto não somos vítimas, mas merecedores do que recebemos neste mundo, também não é sábio dizermos que alguém sofre porque merece sofrer. Não julguemos porque não temos amor suficiente para sermos justos juizes, e porque não sabemos como cada um administra seu sofrimento ainda que merecido. Às vezes alguém que sofre por merecimento é mais feliz que alguém que agiu corretamente e por isso nos parece não ser merecedor de nenhum sofrimento ou injustiça. 
       Não gostamos, em sã consciência, de textos bíblicos como o inicial, que diz serei cauda e meu inimigo será cabeça, gostamos de ler o oposto, mas a verdade é que passamos grande parte de nossas vidas reais sendo mandados e oprimidos pelos outros, todos nós, de alguma maneira. Deve ser assim para que aprendamos o caminho da humildade, para sermos provados e então aprovados, e não estamos neste mundo por outro motivo. “Eu mereço grande parte das injustiças que sofro, se não pelo que fiz neste mundo por motivos que Deus sabe, e eu humildemente aceito isso, até o fim”.
      A palavra desta reflexão, assim como as últimas desta semana, são duras, mas palavras duras ditas pelo Senhor são orientações em amor. Elas não têm o objetivo de nos humilhar, mas de nos ensinar a viver corretamente, conhecendo a Deus e seguindo-o. Assim, sejamos humildes, aceitemos certas realidades, mas confiantes, Deus protege de maneira especial os humildes. “Melhor é ser humilde de espírito com os mansos, do que repartir o despojo com os soberbos. O que atenta prudentemente para o assunto achará o bem, e o que confia no Senhor será bem-aventurado” (Provérbios 16.19-20). 

quarta-feira, julho 07, 2021

Para onde a hipocrisia nos leva?

      “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.Apocalipse 3.15-16

      Quem convive por um tempo em igrejas cristãs, se for honesto, constatará hipocrisia, mas se for sincero verá que essa não existe só nas vidas dos outros, mas na dele também. Hipocrisia é dizer, mas não viver, mesmo crer e pregar a teoria, mas não conseguir pô-la em prática. A palavra de Deus que sai da boca de Deus por Jesus e chega a nós pelo Espírito Santo, sempre pode ser praticada, a não ser que não queiramos, já palavras de homens, mesmo contendo Bíblia e ditas de púlpitos, até podem ser vividas, mas só até um ponto. 
      Quem não vive não sabe e não deveria ensinar, e quem ouve esses falsos mestres fatalmente cairá na hipocrisia. A hipocrisia é o segundo de dois pecados, o primeiro é dar ouvidos a palavras erradas, o segundo é não assumir que essas palavras são erradas. O hipócrita, acima de tudo, quer agradar a homens mais que a Deus, quer aprovação de pessoas que são importantes para ele, morre de medo de ir contra a religião, e não pode admitir que não está conseguindo praticar aquilo que ela diz ser a vontade de Deus para sua vida. 
      Mas num determinado momento vemos que não somos só nós que não praticamos e mentimos a respeito disso, os outros também fazem o mesmo, nesse momento podemos nos revoltar, ver cair por terra um mundo no qual vivíamos e acreditávamos. Quando isso ocorre podemos ir para um de dois lados: ou largamos a fé mais pura e criamos um cristianismo conveniente, baseado em mágoa e ceticismo, ou então buscamos a Deus para saber o que ele de fato quer de nós. Ambas as escolhas nos colocarão em oposição à religião. 
      Existe uma terceira opção, que a maioria escolhe, é dizer que as coisas são assim mesmo, que ninguém é perfeito, que temos que aceitar as coisas dessa forma e que errados são os que se afastam das igrejas porque prestam mais atenção nas vidas alheias. Essa terceira opção na verdade é o álibi que muitos acham para serem hipócritas e viverem bem com hipócritas, eles não entendem que essa não é a vontade de Deus para ninguém. Esses não são sábios ou equilibrados, como podem se achar, mas os mornos do texto bíblico inicial. 
      Vencemos a hipocrisia com dois conhecimentos: primeiro desligando religião de Deus, segundo crendo que Deus tem mais para nós que a religião. O primeiro conhecimento é muito difícil de ser assimilado, principalmente na religião cristã com sede no Vaticano onde achamos pessoas que temem mais o papa que a Deus, só pensar que o que eles ouvem nos templos não é de Deus os faz sentir nas pernas as labaredas do inferno. Mas protestantes e evangélicos também têm esse terror, por isso muitos seguem hipócritas e infelizes. 
      O segundo conhecimento é o que separa meninos de homens, amigos de Deus de religiosos, ele é o fim da hipocrisia e o início de uma jornada rumo ao Altíssimo, onde a intimidade do Senhor é conhecida. O verdadeiro conhecimento de Deus é vida e na vida há prática de amor e santidade que religião não pode dar porque é conhecimento de homem, ainda que sobre Deus. Hipocrisia é inevitável, mas escolher o que seremos depois de constatá-la não é. O que escolhemos ser: hipócritas que temem a religião ou amigos do Altíssimo? 

terça-feira, julho 06, 2021

Não traia um amigo

      “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes?Tiago 4.4-5

      Quando pecamos, principalmente aqueles pecados mais secretos, que na maioria das vezes ninguém fica sabendo e que diretamente não prejudica a ninguém a não ser a nós mesmos, traímos um amigo, e isso, sim, de maneira objetiva e profunda, qual amigo é esse? O Espírito Santo. Sempre reafirmamos aqui que Deus, o Esprito Santo e Jesus (esse após ressurreição e ascensão), são espíritos, não homens físicos, e possuem qualidade morais superiores às dos homens. Dessa forma o Espírito Santo não se machuca, não se ira, não se afasta, mas nós, seres humanos encarnados, temos a percepção, em nossas almas limitadas pelos corpos físicos, que traímos o Espírito Santo quanto pecamos. Nos sentimos machucados, frios, distantes, e podemos até achar, como até escritores bíblicos acharam, que é Deus quem está ressentido conosco. 
      Isso nem tem tanta importância, o importante é sabermos que pecado tem um preço e que precisamos pagar esse preço. O preço não é algum tipo de trabalho para nos dar crédito para recebermos perdão, não, perdão é gratuito e o temos no momento em que o pedimos, o preço é adquirirmos e mantermos nossa sensibilidade moral. Morte espiritual nada mais é que frieza, insensibilidade afetiva, moral e espiritual, e muitos, ainda que bons cidadãos e mesmo bons cristãos, estão mortos. Mortos não fazemos amizades positivas, a não ser ligações com pares, outros mortos, insensíveis, escarnecedores das virtudes, maliciosos que não acreditam no perdão e em perdoados porque não pedem mais perdão e seguem não perdoados. Mortos não se importam em “machucar” o melhor amigo que podemos ter, o Espírito Santo de Deus. 
      Muda bastante nossa relação com Deus quando entendemos que o pecado não é algo que nos torna filhos piores, maridos piores, religiosos piores, não só isso, mas amigos piores, e não de qualquer ser, de Deus. Amizade é superior à relação entre patrão e empregado, entre general e soldado, entre senhor e servo, porque ela é uma relação entre iguais. Não, não somos iguais a Deus, ainda bem, ele é muito superior, em amor, santidade, poder e fidelidade, mas o Espírito Santo se coloca como nosso amigo, sempre disponível para nos aconselhar e consolar, então, quando pecamos, ele está ao nosso lado, assistindo-nos pecar. Se não sentimos vergonha fazendo algo errado na frente de alguém que nos ama e zela pela nossa saúde moral, então, algo muito errado está acontecendo conosco. Sejamos sensíveis e não traiamos um amigo. 

segunda-feira, julho 05, 2021

Nós confiamos em Deus!

      “Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus. Uns encurvam-se e caem, mas nós nos levantamos e estamos de pé.Salmos 20.7-8

      O salmista usa o argumento confiar em carros e cavalos num contexto de guerra física, onde esses veículos e esses animais conferem poder armamentista contra inimigos físicos. De fato carruagens de guerra e cavalos eram os equipamentos que permitam velocidade e proteção em conflitos de mil e quinhentos anos atrás, tê-los em quantidade com homens peritos em usá-los podia definir a vitória numa guerra. Contudo, o salmista, ciente disso, diz que confiar em Deus é melhor que confiar em carros e cavalos, ser autorizado por Deus para uma guerra, tendo Deus ao seu lado, confere mais capacidade de vitória que outros recursos, mesmos os mais atuais e tecnológicos.
      E nós, hoje em dia, em que guerras estamos envolvidos, e se estamos, quais são os instrumentos que os homens confiam para serem vitoriosos nessas guerras? Somos como qualquer homem, ainda que crendo em Deus, confiamos nas forças materiais, nas capacidades e ferramentas que os olhos podem ver, que as mãos podem construir e usar, que a ciência entrega? Ou de fato sabemos que um Deus espiritual e invisível é mais poderoso que qualquer coisa ou ser no universo? Os que não confiam em Deus encurvam-se e caem, ainda que bem preparados e mesmo bem intencionados, mas os que fazem menção do nome do Senhor se levantam, permanecem de pé e são vitoriosos para a glória de Deus. 
      Pode ter certeza que o rei Davi ia a guerras com ótimos carros, cavalos e cavaleiros, ele não desprezava a tecnologia de seu tempo, da mesma maneira nós hoje temos que ser sábios e esforçados, trabalharmos com a ciência do lado. Contudo, ainda que fazendo a nossa parte e com muita diligência, confiando a vitória no nome do Senhor, não no que temos ou fazemos, mesmo fazendo o melhor e tendo tudo que nos é possível. Ninguém seja insensato com a realidade física, com estudo, com trabalho, com ciência, mas também não seja cético com o mundo espiritual. Cavalos, carros, computadores, dinheiro, estudo, ciência, determinação física, tudo isso passará, Deus é espírito e é para sempre. 

domingo, julho 04, 2021

Carne e espírito (2/2)

      “E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.” Atos 2.44-47

      Antes de seguirmos com a segunda parte da reflexão sobre carne e espírito, uma nota sobre a igreja primitiva de Atos. Muitos de nós, quando lemos o texto acima, pensamos achar o ideal máximo de vida cristã no mundo, concluindo os primeiros relatos do livro de Atos sobre a descida do Espírito Santo, a primeira pregação, os primeiros convertidos, enfim, a inauguração da igreja no mundo. Naquele momento, achar que uma vida comunitária, sem apegos materiais, dando prioridade ao espírito, fosse o final da vontade de Deus para os seus no mundo, podia ser algo até natural, afinal ninguém nasce adulto, passa-se por infância. O tempo registrado nos primeiros capítulos de Atos é justamente isso, a infância da igreja.
      Esse ideal, quase comunista, que recentemente provamos (anos 1960 e 1970), quando o movimento hippie de contracultura influenciou até o cristianismo, pode parecer um ápice espiritual cristão, mas é só infantilidade, parte de muitos equívocos que os primeiros cristãos tinham, incluindo a crença que a segunda vinda de Cristo era próxima (vede exortações de Paulo em II Tessalonicenses 2). Inocência tem seu tempo, mas mantida indefinidamente é prejudicial, todo o modo de vida descrito em Atos 2.44-47, principalmente as relações com bens materiais, não constitui caminho de espiritualidade mais alta para nós hoje, e crendo que é, seitas são criadas enganando muitos e alguns até à morte (vede Ramo Davidiano e Jim Jones).
      Existem dois tipos de meio termo entre os extremos da carne e do espírito, um é o das pessoas em conflito. Essas pessoas são materialistas, mas sentem-se culpadas por isso, o senso comum cristão as chama de carnais, mas elas podem até buscar espiritualidade em religião, ainda que experimentem constante guerra contra o pecado. Nesse meio termo se acha grande parte das pessoas atuais, gente que precisa viver a realidade, trabalhar para ganhar a vida, assim não podem se dar ao luxo de serem monges em retiro, e não são essa espécie de religioso simplesmente porque são pessoas normais e sadias, que querem ter relacionamentos afetivos, casarem-se, terem filhos, e nisso também, por si só, não há nada de errado. 
      O outro tipo de meio termo é o de pessoas equilibradas, que é o meio termo mais correto porque não nega a realidade deste mundo ao mesmo tempo que se prepara para a realidade do outro mundo. Alguns podem achar que é mais fácil ser espiritual se isolando, pode até ser, se isso for vontade de Deus, e a vontade de Deus para cada ser só Deus e o ser sabem, não podemos julgar ninguém. Contudo, se é difícil controlar certas coisas podendo usufruir delas, quanto mais tentando se abster totalmente delas, sendo mais claro, se é difícil, por exemplo, ao casado ser fiel, quanto mais ao solteiro. Mas a satisfação não está em ser solteiro ou ser casado, mas em estar em paz em Deus, e nisso é preciso equilíbrio entre corpo e alma. 
     Alimentar conflitos gasta energia, viver em guerra enfraquece ambos os lados, o segredo é deixar que dois lados distintos vivam, mas cada um no seu tempo e no seu lugar, sem que um lado guerreie contra o outro, mesmo porque em se tratando de corpo e espírito um lado só se livrará do outro após a morte. Ser guiado pelo espírito não é matar a carne, mas respeitá-la, e assim usar o corpo como templo do espírito, não como seu caixão mortuário. Um corpo debilitado não será instrumento eficiente para que o espírito brilhe, quanto mais vivo e mais limpo o corpo, mais forte é o fogo do espírito neste mundo. Viemos a este mundo justamente para achar o equilíbrio entre os dois princípios, não para que um anule o outro. 
      Neste mundo, a vitória do espírito não está na morte da carne, assim como a vitória da carne não está na morte do espírito, existem pessoas desenvolvendo espiritualidade, tendo comunhão com o mundo espiritual e ainda assim sendo pessoas carnais, por outro lado tem muitos tentando matar as inclinações da carne e ainda assim não sendo espirituais. Neste mundo, repito, a carne está no desequilíbrio, tanto pendendo para um como para outro extremo, o espírito não anula ninguém, convive com tudo em harmonia pois respeita o momento do homem encarnado. Cuidado com quem vive o tempo todo em igrejas tanto quanto com quem não sai de bares, esses estilos de vida podem ser aparentemente diferentes, mas são ambos prejudiciais. 

Leia na postagem de ontem 
a 1ª parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 17/02/2021

sábado, julho 03, 2021

Carne e espírito (1/2)

      “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.Gálatas 5.16-18

      O ensino inicial de Paulo é correto, porém, pode ser mal interpretado, muitos entendem por ele que existe uma guerra, de igual por igual, entre os apetites do corpo e as virtudes espirituais, mas não é bem assim, não para quem tem alguma lucidez moral. O que ocorre não é bem uma batalha, mas a tentativa de dois sistemas distintos viverem ao mesmo tempo, o material e o espiritual, e neste mundo ambos possuem direitos de existirem. Deus foi cruel colocando na Terra sistemas antagônicos em um único ser? Não, não fez isso por crueldade, os desígnios divinos são bem mais altos, mas resumindo, esse é o único jeito que o ser humano tem para evoluir, tanto como organismos físicos, como espíritos eternos. 
      Algumas óticas religiosas propõem extremismos, a negação de todo desejo do corpo como único meio de atingir a espiritualidade mais alta, assim há monges e outros religiosos no hinduísmo, no budismo, no catolicismo, e mesmo em seitas evangélicas, onde castidade, regimes alimentares, jejuns constantes, exercícios físicos, abstinência de bens, uso de hábitos comuns ou mesmo de quase nenhuma roupa, enfim, o desligamento completo de vaidades para se ter vidas dedicadas exclusivamente a servir os necessitados, ou mais, viver em constante meditação, em exílio em locais retirados. Isso, contudo, não representa necessariamente a espiritualidade mais alta de Deus, pelo menos não é uma regra geral, para todos. 
      Os materialistas mais extremados, por sua vez, que não são aqueles que muitos cristãos chamam de carnais, já que não são seres humanos perdidos nos prazeres do corpo, ao contrário, podem ter vidas tão disciplinadas como as dos monges, não se ocupam em crer e conhecer aquilo que se refere à espiritualidade. Eles objetivam o mundo físico, a conservação do planeta, a boa qualidade de vida, suas causas estão em moda no mundo atual e constróem muito da agenda da chamada esquerda nova, e são esquerda mais por se oporem aos preconceitos e misticismos da tradição judaica-cristã que por serem marxistas ortodoxos. Eles têm como guia supremo a ciência, e nisso, em si, também nada tem de errado. 
      Se todos os seres humanos vivessem o ideal de espiritualidade que alguns creem ser o mais correto, o mundo não desenvolveria, os espaços não seriam povoados, a ciência, como consequência do crescimento populacional, não evoluiria para controlar o meio ambiente e produzir alimentos e outros recursos com mais eficiência. Isso é importante só para o corpo? Não, a preocupação da ciência em criar e manter um planeta melhor para as gerações futuras, faz com que avós e pais abençoem filhos e netos, já que isso cria condições para uma vida com menos preocupações com sobrevivência do corpo e injustiças sociais, o que permite sobrar tempo para ocupar-se com lazer, com artes e principalmente, com espiritualidade. 
      É importante que entendamos que o termo carne na Bíblia não se refere necessariamente ao corpo físico, apesar da inteligência moral e intelectual dos tempos bíblicos achar que se referia. Carne é tudo aquilo que nos afasta de um Deus Altíssimo que é puramente espiritual, assim os espíritos do mal, apesar de serem espirituais em suas constituições, são carnais em suas índoles. Já o homem neste mundo, ainda que encarnado, como Jesus foi, pode dar prioridade às virtudes morais superiores que o aproximam do Deus espiritual, e assim, ainda que num corpo físico, administrando necessidades físicas, ser espiritual. A carne não está necessariamente no corpo, nem a espiritualidade obrigatoriamente no espírito. 
      “Se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei”, a lei é a primeira aliança que Deus fez com o homem através de Moisés, e ela é simples, quem obedece vive e quem não obedece morre, não necessariamente no corpo, mas no espírito, a segunda morte, visto colocar o ser distante de Deus. Mas quem consegue ser espiritual sozinho, sem a ajuda do Espírito Santo? Ninguém, por isso entendemos hoje que a lei evidencia a morte, mas não entrega vida. Temos vida por Jesus que nos dá de seu Espírito, esse nos atrai a Deus, se nos deixarmos ser guiados por ele, guia que se faz por uma voz mansa e clara em nossos corações, que nos conduz em vitória sobre a passageira carne e rumo à vida espiritual eterna. 

Leia na postagem de amanhã 
a 2ª parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 17/02/2021

sexta-feira, julho 02, 2021

Paranoia, não! Sabedoria, sim

      “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios.Salmos 141.3

      Muitas vezes agimos por conveniência, achamos que algo é melhor só porque apoia nossas atitudes. O tímido, que fala menos, buscará em textos bíblicos, que aprovam falar pouco, aprovação para seu temperamento, já os falantes e que tomam iniciativa, acharão no ensino que incentiva a voluntariedade e a sinceridade aprovação para o seu jeito. Quem está certo? Quem obedece a Deus em cada assunto específico, não usando uma conveniência para se proteger, nem uma lei para agir sempre de um jeito sem se dar ao trabalho de buscar discernimento na razão e na oração
      Meu jeito natural de ser é falar muito e ser impulsivo, muitas vezes sem pensar muito antes, pago um preço caro por isso. O lado bom disso é que como sou rápido para tolices também o sou para obedecer a Deus, enfim, não sou insensível, mas tenho uma sensibilidade que precisa ser bem administrada. Nesse meu modo de ser tenho a tendência de achar que as coisas precisam ser ditas para serem resolvidas, que as bênçãos devem ser compartilhadas para que Deus receba o louvor, que a revelação, mesmo de problemas pessoais, pode ajudar outros com problemas semelhantes.
      Perdoe-me por ser pessoal nesta reflexão, mas se eu não fosse assim esse blog não existiria, e tomara que ele esteja abençoando de alguma forma alguém. Contudo, tenho mudado meu jeito nos últimos tempos, e eis o ponto deste texto, tenho entendido que é melhor falar menos, mesmo quando tenho razão ou que seja sobre uma coisa boa, e isso, não por qualquer tipo de paranoia, mas por sabedoria. O sábio não teme as trevas, por não poder ver onde está, ele está na luz, pode ver tudo com clareza e por isso toma cuidado com o que fala, faz e para onde anda, ele não tem malícia mas sabedoria. 
       Se para coisas ruins, erros, tropeços, é bem recomendado que depois de assumidos e perdoados fiquem só entre nós e Deus, já que as pessoas tendem a ter uma opinião fixa sobre nós, muitas vezes usando o nosso pior como referência, não acreditando que podemos mudar e para melhor, para coisas boas, bênçãos recebidas, vícios vencidos, também pode ser mais guardar segredo. Que os outros saibam quem somos por nossas ações no dia a dia, não por revelações verbais, entretanto, tem um motivo mais sério de porque é sábio mantermos certas coisas só entre nós e Deus. 
      “O cão é sujo”, você já deve ter ouvido essa frase, não gosto muito de usá-la pois não gosto de ficar pondo culpa de tudo no diabo, contudo, muitos seres, humanos e espirituais, podem fazer o papel do “cão”. O “diabo” em nossas vidas são todos os que se colocam como acusadores, julgadores e condenadores, e esses não veem nossa fé em Jesus e nossas boas obras no caminho da redenção, eles apenas querem achar motivos, sejam eles quais forem, para nos caluniar e prejudicar. Cuidado, paranoia não é sabedoria, não confundamos as coisas, mas que esse tipo de “diabo” existe, existe.
      Somos, contudo, vítimas de armadilhas que nós mesmos fazemos, na carência de querermos atenção, de recebermos aprovação das pessoas, de construirmos alianças, para não estarmos sozinhos e sermos parte de algo maior que nos proteja, podemos confiar em pessoas erradas, falar demais e entregarmos nossos tesouros a falsos amigos (veja sobre Ezequias em Isaías 39). Não tenho dúvida que se nossa intenção for pura e em Deus estamos livres e nada precisamos temer, mas estejamos vigilantes, nossa maior alegria é sermos agradáveis a Deus, ainda que ninguém saiba mais nada sobre nós. 

quinta-feira, julho 01, 2021

Quem cobra do homem não recebe de Deus

      “Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.Mateus 6.1-2

      Não basta fazer o bem, é preciso esperar recompensa por isso só de Deus, não daquele para o qual se fez o bem. Quem faz o bem para alguém, mas depois cobra desse alguém o bem feito, não receberá recompensa de Deus, e pode até receber de homens, mas será um pagamento amargo, fruto do que se fez sem amor. Esse é o ensino contido no texto inicial, tenho certeza que você já sabe dele, mas dentro desse assunto gostaria de chamar a atenção para algo mais fundo, que muitas vezes acontece em nossas vidas e nós não nos damos conta. Ser espiritual é entender a vida no mundo como oportunidades para crescer, para ir além da obrigação, para ir além de nós mesmos, para servirmos o próximo e agradarmos a Deus.
      Isso requer sacrifícios, não com dor, mas com gratidão, numa satisfação madura e de fato espiritual, quem adquire essa alegria, mesmo numa situação de esforço a mais, cresce espiritualmente. Você já teve experiência de ter que fazer algo que sabia que não precisava fazer porque não era obrigação sua,  mas tinha que fazer porque uma terceira pessoa, que tinha obrigação de fazer, não estava fazendo? Em algo assim a gente acaba fazendo, mas se sentindo mal, dizendo que o outro é um folgado, que por não nos ajudar fez nossa cruz ser mais pesada. Quando isso ocorre, fazemos, mas podemos ficar aguardando o momento certo para nos vingarmos, para exigir da terceira pessoa nosso esforço a mais. 
      Que honra há em fazer algo que não nos custe nada? E se fazemos algo contrariados é, para nós, o mesmo que não fazer, ainda que outros sejam beneficiados. Contudo, num sacrifício feito com amor e humildade, encontramos uma honra que Deus quer nos dar, aproveitando uma oportunidade criada pelo Senhor em nossas vidas para crescermos. Se Deus quer nos dar uma honra é porque precisamos dela, isso nada tem a ver com quem desfruta do que fazemos, nem com o que deixou de nos ajudar a fazer, isso tem a ver conosco. Não somos melhores por ajudarmos um necessitado, nem por trabalharmos por um folgado, mas porque obedecemos a Deus, se é que para Deus e em Deus nós de fato vivemos e nos alegramos.