Fiz no último sábado, dia 31 de
agosto de 2013, uma visita a uma loja de pianos, bem, como representante dos
pianos mais caros e famosos do planeta lá pude fazer a degustação de pianos de
qualidade, tradicionais em produzir o melhor timbre daquele que é considerado o
príncipe dos instrumentos musicais. Auxiliaram-me na degustação, profissionais
gabaritados, experientes e versados no assunto. Tenho 53 anos, toco piano desde
os nove anos, atuo como pianista no Grande Hotel São Pedro,
dentre outros lugares. Fiz boa parte do currículo do chamado piano erudito
(clássico) que nos permite uma visão séria e respeitosa da música erudita e do
piano, contudo, saí da visita da loja com uma conclusão: sei muito pouco sobre
pianos.
É preciso dizer que a culpa não
é totalmente minha, devido a algum tipo de displicência com o instrumento,
sempre procurei me informar sobre ele, assim como estudá-lo. No Brasil,
contudo, é difícil o acesso a bons pianos e isso se deve tanto à política de
preços e impostos do comércio quanto ao descaso dos locais que contratam
pianistas que possuem pianos ruins e mal conservados. É preciso dizer também
que passei bom tempo de minha vida tocando como profissional da música chamada
popular, aquela executada na noite, nas casas noturnas, clubes e bares, assim
como em cerimônias de casamento, formatura, etc, e isso me manteve distante de
bons pianos. Aqueles que se dedicam à música de concerto, são mais privilegiados,
tem acesso a instrumentos melhores, mesmo que seu campo de atuação seja mais
restrito no Brasil.
Contudo, como cristão
praticante, entendo que nossa vida está sempre em transformação, e precisamos
estar abertos para isso. Caminhamos para evoluir para pessoas melhores, tanto
na vida social e afetiva, quanto na vida profissional, assim estamos sempre
aprendendo alguma coisa. Aprendi na última visita, por exemplo, que pianos
morrem, sim, os materiais com os quais eles são feitos podem se desgastar com o
tempo fazendo com que os mesmos percam sua habilidade inicial de compor, cada
um com sua função, martelos, feltros, cordas, ferro, madeira, e tudo o mais, um
som ideal de piano, ou pelo menos aquele que produziam quando o instrumento saiu
da fábrica.
Resumindo, pianos são como
seres humanos, pelos menos como seus corpos, já que nós temos uma vantagem
sobre qualquer instrumento, máquina ou ferramenta: temos alma. Essa nunca
morre, mesmo que o corpo perca a capacidade de demonstrar as nuanças sentidas
pelo coração, a alma continua sentindo, e com mais sofisticação ainda, pelo
menos pode ser assim para aqueles que amadurecem e conseguem tirar o melhor
dessa existência.
Comparações são sempre
imperfeitas, só Jesus, em suas parábolas, conseguiu produzir metáforas precisas
da existência do homem através da natureza e de outros elementos, mas eu me arriscaria
a comparar Deus com um pianista, e nós, homens, com, pianos. Fazendo a degustação
no sábado percebi a variação de instrumentos que existem. Alguns produzem
timbres mais abertos, outros mais fechados, as teclas respondem de maneira
diferente para atacar as cordas e produzir os sons, o mesmo ocorre com a
sensibilidade do pedal de sustain, responde com menos pressão ou com mais, com
menos ou mais velocidade.
Mas não é só isso, som fechado
ou som aberto, a variação de frequências que soam simultaneamente é incrível, grave, média grave, média,
média aguda, aguda. Sem falar dos harmônicos, uma das características mais luxuosas de um piano, quando uma simples tecla é acionada uma grande variedade de
frequências soam, além da principal que define o tom da nota. Isso também varia
bastante de piano para piano.
Não somos nós, homens e
mulheres, assim? Tão diferentes, tão sofisticados? Mesmo que a vida nos trate
mal, rudemente, estupidamente, ainda seremos a imagem do criador, pequenos
deuses que se acham no direito de sonhar, de fazer, de construir, superando
limites a cada dia produzindo, cada um de nós, um timbre original, único, como
um piano. Quem nos criou, através da engenharia da natureza, procurou fazer o
melhor em nós, não nos fez com materiais de segunda e nem para uso vulgar,
mesmo que nós mesmos e os outros homens tratem-nos como material de segunda ou
nos use de qualquer jeito. Somos todos instrumentos elegantes e nobres, se os
pianos merecem nosso respeito, quanto mais o ser humano, cada um com suas peculiaridades.
Com jeito, com o toque certo,
no ambiente adequado, cada um de nós pode produzir o melhor som, compor a melhor
música, como o Mason & Hamlin, o Samick, o Seiler, o Boston e o Steinway &
Sons que toquei na loja.
(Obrigado Paulo Cavalcanti e Luiz
Carlos Uhlik pela experiência maravilhosa que me concederam na Gluck Pianos.)
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário