domingo, junho 24, 2018

Caindo na graça de todo o povo

      “E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.” Romanos 2.46-47

      O pentecostalismo, mal interpretado, pode levar muitos, principalmente pastores e pregadores, a compartilharem um evangelho paranóico. Isso acontece na obsessão de acharem que o pentecostes tem que ocorrer todos os dias, o tempo tempo, tentando pregar e viver todos os dias, algo que só acontece em dias especiais. Se para a igreja primitiva a descida do Espírito Santo só ocorreu numa ocasião, depois, mesmo que selados, tiveram que viver como gente comum, no meio da sociedade, dando testemunho de justiça e misericórdia em atividades regulares de sobrevivência, o testemunho de vida comum entre homens comuns é o que os evangelhos mais nos ensinam com relação à vida do Jesus homem. Jesus não fazia milagres o tempo todo, e eu insisto na interpretação, que muitos podem discordar e que assumo como sendo minha, pessoal, que Jesus só fez tantos milagres na área física e mesmo espiritual, mas que podemos interpretar como psiquiátrica, em se trantando de expulsão de demônios, por causa da fraqueza e incredulidade dos homens.
      Não pensem que equívocos sobre o que é espiritualidade é exclusividade dos chamados carismáticos dos sévulos XX e XXI, a igreja primitiva também se equivocou, tanto que Paulo teve que mandar orientação dizendo que a vinda de Jesus não ocorreria naquele tempo, que muitas coisas ainda deveriam acontecer e que os cristãos deveriam continuar dando testemunho do poder do Espírito Santo em suas vidas comuns na sociedade. Não tenhamos a presunção arrogante de achar que somos mais espirituais hoje, por aguardarmos uma segunda vinda eminente de Cristo, mesmo que hoje, no século XXI, já tenham ocorridos muitos acontecimentos históricos que são premissas para a segunda vinda. No primeiro século, assim como em outros períodos da história, cristãos que se consagravam mais que os outros, também foram acometidos por esse sentimento, o que é, até certo ponto, positivo.
      Mas o que precisamos entender é que espiritulidade pura, estilo de vida plenamente santo, só teremos na eternidade, neste mundo somos limitados por nossos corpos. Esse limite não nos impede apenas de ser totalmente espirituais, mas também nos dá responsabilidades. Quando o Espírito Santo enche nossos espíritos de forma diferenciada, temos a obrigação, como cristãos maduros, de termos controle sobre eles, de forma a passar para os nossos pensamentos (razão ou mente) e para nossas emoções (sentimento ou coração) informações mais eficientes para ensinar e curar os homens. Receber uma unção especial do Espírito Santo e sair gritando, dançando e se jogando ao chão, é de Deus? Sim, é, e não duvide disso ninguém, não corramos o risco de pecarmos contra o Espírito Santo. Mas esse tipo de manifestação é maduro? Não. Maduro é transformar uma unção espiritual em palavra de sabedoria, de discernimento, que alimente e oriente as pessoas, ao invés de agradarmos a nós mesmos “curtindo” um clímax espiritual.
      O poder, enquanto neste mundo, está em experimentar a intimidade de Deus e abençoar as pessoas na vida comum. Vida plenamente espiritual, com liberdade total para sentir a presença de Deus, só na eternidade, e lá isso não será manifestação egoista ou imatura, porque todos poderemos provar isso ao mesmo tempo, sem escandalizar ninguém ou desprezar os que precisam de muito mais que nos assistir tendo clímaxes espirituais. Por isso as igrejas tradicionais, mesmo limitando os dons espirituais, e muitas vezes interpretando equivocadamente as manifestações do Espírito Santo, foram mais efetivas em evangelizar o mundo que as igrejas pentecostais, elas olharam para fora e não para dentro. Atualmente, muitas igrejas pentecostais, parecem que só evangelizam os já convertidos, experimentam uma espiritualidade entre quatro paredes, e não levam o evangelho ao mundo.
      “Caindo na graça de todo o povo”, essa deveria ser a parte do ensino do livro de Atos que mais nos chama a atenção, justamente porque é a que cumpre a última orientação de Jesus, “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos, amém.” (Mateus 28.19-20). Sim, somos chamados para fora, para fora de nós mesmos, para fora das igrejas, para fora das religiões, para fora dos preconceitos e tradicionalismos, mesmo para fora de uma interpretação e valorização sem sabedoria que temos dos sessenta e seis livros do cânone bíblico, o que tem levado tantos crentes a intolerâncias e vivências limitadas do verdadeiro evangelho.
      Cair na graça do povo significa que a sociedade via na prática de vida dos cristãos algo bom, diferente, algo com o qual aprender. Isso é o contrário da polarização que se vê no mundo atualmente, clara no Brasil, da guerra entre esquerda e direita, afroespíritas e evangélicos, homoafetivos e heterossexuais, liberais e conservadores, negros e brancos. Quando evangélicos interpretam a Bíblia erroneamente, entram no jogo da agenda nova era, acabam agradando ao diabo e às forças e poderes do mundo. A vitória teremos obedecendo o Espírito Santo, que nos liberta de toda hipocrisia, de toda ignorância, de todo embate polarizado. Os verdadeiros filhos de Deus não fazem parte deste ou daquele polo, não defendem este ou aquele partido político, não pertencem a nenhum lado do mundo. Os verdadeiros filhos de Deus seguem a única autoridade legitimada por Jesus, o Espírito Santo. Vivendo assim, com certeza, cairão na graça de todo o povo, eu sei disso, tenho experimentando essa prática em minha vida, graças a Deus. 

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