sábado, março 09, 2019

Workaholic de igreja: obedeça, pare!

      “Melhor é o que se estima em pouco e tem servos, do que o que se vangloria e tem falta de pão.
      “Melhor é o pouco com o temor do Senhor, do que um grande tesouro onde há inquietação.
      “Melhor é o pouco com justiça, do que a abundância de bens com injustiça.
Provérbios 12.9, 15.16 e 16.8

      Os três versículos de Provérbios acima são geralmente usados como orientação sobre que é mais sábio ter menos recursos materiais, em troca de ter mais virtudes, contudo, nesta reflexão vou vê-los como instrução para outra coisa. Também tem a ver com excessos desnecessários tomando o lugar de atitudes, palavras e sentimentos mais sábios, mas desta vez entenderemos que mesmo o trabalho do evangelho dentro de igrejas pode ser excesso feito na carne e não obediência a Deus no Espírito Santo, que num determinado momento não será mais benção. 
      Muitos têm justamente em seus maiores talentos e em seus trabalhos mais eficientes dentro de ministérios, Isaques a serem entregues no altar (Gênesis 22). Cuidado quem diz, “se eu parar de cantar pra Deus eu morro, sou um inútil”. Adorar a Deus pela música, por mais agradável e virtuoso que seja, não é mais importante que o próprio Deus e a nossa obediência a ele. O coração do homem, por outro lado, é astuto em inventar subterfúgios, para no fundo fazer coisas egoistas e que só agradam a ele mesmo, mesmo na igreja. Após essa introdução, vamos à reflexão.

      Muitas vezes aplicamos em nossas vidas a ideia errada que o melhor é sempre positivo, que quando pedimos, o melhor é receber, que quando queremos, o melhor é fazer, que quando sentimos, o melhor é dizer. Entenda que não me refiro aqui a receber, fazer ou dizer coisas essencialmente erradas, que podem prejudicar alguém. Muitos querem receber ajuda e conquista, muitos querem fazer a obra de Deus e muitos querem promover o bem com sua fala, mesmo pregar a palavra, assim o positivo é aparentemente bom.
      Entendamos que muitas vezes Deus permite o negativo em nossas vidas, ele pede isso de nós, o negativo pode ser dele, não do diabo. Entenda negativo não como algo mau, mas como uma negação de algo que desejamos, a não concessão de uma coisa, mesmo que aos nossos olhos essa coisa pareça algo que só nos trará benefícios. Já ouvi de crente talentoso e com desejo de trabalhar na obra que ele tem certeza que tem que fazer determinada coisa porque é a chamada dele, porque é algo que ele sabe e pode fazer, e que portanto deve fazer. 
      Nesse pensamento estreito, muitos colocam (ou acham que podem colocar) Deus “na parede”, mesmo que inconscientemente, achando que agindo assim estão sendo bons crentes, espirituais, cheios de fé e disposição, quando na verdade estão sendo rebeldes, não entendendo o próximo nível de amadurecimento que Deus quer conduzi-los. A princípio Deus faz o óbvio, afinal crianças espirituais não entendem e não precisam entender a profundidade não só do agir de Deus, mas também delas mesmas, de suas estruturas.
      Deus abençoa com o sim, mas amadurece muito mais com o não, e mesmo os tais “vasos”, “soldados”, “servos” (e como arrogantemente gostamos de nos auto-denominar assim) só serão realmente vasos, soldados e servos quando aprenderem a obedecer. Obedecer a Deus é obedecê-lo em tudo, inclusive se ele pedir para que paremos e não sejamos, em santidade e humildade, “vasos”, “soldados” e “servos” (entre aspas significa o uso equivocado desses termos que se referem a funções tão nobres no reino de Deus).
      Deus usa a todos, e usa do jeito certo, com dons, talentos, capacidades e experiências para fins específicos, mas o que pode mover muitos na imaturidade espiritual é só a força humana. Essa força é útil na obra de Deus? Sim, mas ela acaba, por isso à medida que o tempo passa precisamos aprender as fazer as coisas para Deus, em Deus e por Deus. “Workaholic” (viciado em trabalho) eclesiástico, se não baixar o facho e aprender a obedecer a Deus, pode acabar mais prejudicando que beneficiando a obra.
     Força de vontade e sinceridade, mesmo com aptidões adequadas, não justificam fazer a obra de Deus, não ganham certificado de filhos obedientes do Senhor, pelo menos não quando se quer crescer como homem espiritual. Confesso, tenho aprendido isso a duras penas. Ocorre que podemos usar o trabalho como desculpa para fecharmos os olhos para muitas coisas, como satisfação para nossas ansiedades e carências, o que faz com que não busquemos cura para muitas enfermidades emocionais. 
     O vício em trabalho em igreja pode levar muitos a pensar assim, “eu sou tão presente na obra de Deus, tão útil para a igreja, não preciso perder tempo com certas coisas”, isso no fundo não passa de jactância, de se achar melhor só porque faz e faz. Quem faz o que não deve acaba deixando de fazer o que deve, não sobra tempo, assim muitos que trabalham e trabalham em ministérios dentro de templos acabam deixando de lado família, cônjuges e filhos, e como vemos tristes exemplos disso. 
      Quem gosta de trabalhar na igreja não consegue ficar parado, principalmente quando sabe que têm capacidade para algumas coisa e experiência na função, mas obedecer um “pare e espere” de Deus, pode significar um divisor de águas em nossas caminhadas com o Senhor. Isso pode nos amadurecer, nos evoluir, nos fortalecer de um jeito que não pensávamos ser possível, preparando-nos para fazer a obra do Senhor com uma excelência que não imaginávamos existir.
     Se não obedecermos pode acontecer algo pior, como diz o ditado, se Deus manda parar e não paramos, a vida pode “quebrar nossas pernas”, aí ao invés de esperarmos inteiros, esperaremos quebrados, enfraquecidos por uma dor maior. Nesse caso teremos que ter paciência dobrada, uma para aguardar o tempo de aprender a obedecer, e outra para nos restabelecermos das “pernas quebradas”. Tenhamos sensibilidade para entender e prontidão para obedecer mesmo o pare e nada faça de Deus.

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