sábado, março 16, 2019

Rezar, orar ou meditar?

      Três termos são usados referindo-se a estabelecer contato com Deus: rezar, orar e meditar. 
Se estudarmos a origem latina (rezar em latim é “recito”) da palavra “rezar” vamos descobrir que ela traz um significado de “recitar”, “ler em voz alta”, “apresentar lendo”, “citar”, “pronunciar uma fórmula”, “repetir”, “dizer de cor”. Este estudo da raiz e da significação do termo “rezar” nos mostra que tal palavra se aplica melhor às preces prontas, de autoria de terceiros, que aprendemos e repetimos. Já o verbo “orar” tem suas raízes no termo latino “oro”, que significa “dizer”, “falar”, de onde também se deriva o termo “oral”, ou seja, “dito”, “falado”. Este entendimento se encaixa melhor com as preces na forma de uma fala, uma conversa. Orar é abrir o coração a Deus, como a um amigo. Fonte 

      Sem preconceitos, vamos refletir sobre os lados positivos dos três termos, que podem parecer a mesma coisa, podem ser usados para a mesma coisa, mas têm características distintas. A palavra rezar significa fazer uma celebração verbalmente, mas é usada mais na religião católica para se referir a conversar com Deus. Neste aspecto é importante entender que no catolicismo, na maioria das vezes, o diálogo com Deus ou com outras “entidades” (“santos”) é feito através de textos prontos e decorados, não de improviso ou criação de momento. A palavra orar significa discursar, falar publicamente, é mais usada cristianismo protestante ou evangélico também para referir a falar com Deus, assim também podemos entender que nesse aspecto orar não é repetir “rezas” decoradas e feitas anteriormente, mas criar o texto no momento, com liberdade e pessoalidade.
      Qual é certo? Ambos, se usados no momento adequado e com sinceridade. Católicos precisam aprender a orar, libertando-se de só usarem rezas prontas, que se não forem feitas com o vivo Espírito de Deus podem ser usadas mais como enunciados mágicos, como se as palavras ditas daquela maneira tivessem poder em si mesmas. Mas não pensem os protestantes e evangélicos que eles não rezam, rezam sim, e isso é bom, frases com “me perdoe em nome de Jesus”, “expulso pelo sangue de Cristo”, e tantas outras usadas na adoração são repetidas da mesma maneira. Para esse costume vai a mesma orientação, cuidado, sem o Espírito Santo num coração santo, as palavras não têm poder, mesmo que sejam originais. Uma oração mais livre, por outro lado, pode dar lugar ao ego e à vaidade, se usada como discurso para exibir algum tipo de aptidão do homem para homens, e não como a súplica de um humilde pecador diante de seu pai espiritual.
      Mas gostaria de me ater, nesta reflexão, mais ao termo meditar, um termo muito usado pelas religiões orientais e esotéricas (ou exotéricas) que contudo pode ser uma ferramenta importante e eficaz principalmente na cura emocional. 

Meditar: pensar muito sobre; refletir; estudar muito sobre alguma coisa; submeter à análise detalhada; ponderar; considerar; planejar cuidadosamente; projetar; buscar.... Fonte

      Apesar da definição do dicionário aliar à palavra meditar um sentido mais intelectual, o que não deixa de ter uma boa utilidade numa interação com Deus, já que muitas vezes é preciso, sim, ser racional, crer mesmo sem sentir ou dar muita atenção aos nossos corações enganosos, apesar disso, meditar implica numa relação, num diálogo, mais profundo com nós mesmos e com Deus, não só com mente e coração, mas também com nosso espírito e com o Santo Espírito de Deus. Penso que nestes tempos atuais, onde queremos acesso a tudo e rápido, onde viciados no mundo virtual e em máquinas como celulares, não temos paciência pra nada e não queremos pagar preços para nada, o cristão protestante evangélico precisa aprender a meditar. Muitos oram muito, até rezam, mas pouco meditam, dessa forma não permitem que todo seu ser, corpo, alma e espírito, se apossem das riquezas emocionais e espirituais que temos acesso através da oração feita a Deus no Espírito Santo e por meio de Jesus.
      Não estou dizendo que precisamos passar horas relaxando corpo e alma para experimentar paz e auto-controle, mas muitas vezes quinze minutos em silêncio vale mais que uma hora falando e falando. Não pensem evangélicos tão acostumados a se acharem melhores que os outros, que budistas ou hinduístas não têm eficiência em suas meditações, têm sim, mesmo que não tenham entendido o poder do nome de Jesus. Muitos experimentam na Ioga a paz que muitos crentes em vigílias ou católicos em novenas não experimentam, não estou dizendo salvação eterna, mas tranquilidade de alma, domínio sobre dores, mágoas e ansiedades. Isso acontece porque muitos que não são cristãos se atentam para partes do ser humano que os cristãos ignoram. Sim, os cristãos têm o mais importante, o que define paz na eternidade, mas muitos, mesmo com esse grande privilégio, acabam vivendo neste mundo vidas sem qualidade por acharem que saúde física e emocional não são tão importantes. 
      Assim budistas acabam na vida física e emocional tendo mais felicidade que os cristãos, mesmo que não experimentem a salvação eterna de Cristo.  O certo, a vontade de Deus, é termos uma coisa e termos também as outras. Quando tudo é feito com equilíbrio, então, corpo, alma e espírito entram em sincronismo com Deus, que tudo harmoniza e ilumina. A meditação não é coisa do diabo nem criação dos iogues, mas feita em Deus pode entregar aos cristãos a paz que eles tanto dizem ter, mas que muitas vezes não têm. (Ioga esotérica, e não a exotérica de butique que muitos ocidentais praticam, é bem mais que exercícios de respiração e postura, que foco mental e emocional, que regimes alimentares, ela é o início para uma relação com entidades espirituais maiores, que os cristãos chamam de arcanjos e anjos. Isso com certeza um cristão não busca, orientado que está pela palavra que diz que não se deve fazer contato com seres espirituais, por ser tão desnecessário quanto perigoso, para quem já tem acesso direto ao Altíssimo pelo nome de Jesus através do Espírito Santo).

      “Até quando te esquecerás de mim, Senhor? Para sempre? Até quando esconderás de mim o teu rosto? Até quando consultarei com a minha alma, tendo tristeza no meu coração cada dia? Até quando se exaltará sobre mim o meu inimigo? Atende-me, ouve-me, ó Senhor meu Deus; ilumina os meus olhos para que eu não adormeça na morte; Para que o meu inimigo não diga: Prevaleci contra ele; e os meus adversários não se alegrem, vindo eu a vacilar. Mas eu confio na tua benignidade; na tua salvação se alegrará o meu coração. Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem.” Salmos 13

      Davi e os salmistas sabiam meditar, os Salmos são experiências profundas de meditação, de análise do mundo, da vida, das outras pessoas, deles mesmos (os autores), não são meras preces triunfalistas e superficiais. Davi se conhecia num salmo, compartilhava suas inseguranças, seus terrores, suas desesperanças, isso não é murmurar ou descrer, mas é olhar a realidade, assumir a dor. Muitos com medo de ver o problema de frente e até achando que é pecado aprofundar-se mais nos abismos da alma humana, acabam permanecendo ignorantes quanto a si mesmos, assim não reconhecem, nem dão à doença o devido valor. Reconhecer a doença é metade da cura, a meditação serve para isso. 
      Depois, contudo, ciente e confesso diante de Deus, o salmista permite que o consolo do Espírito de Deus chegue e conceda esperança e vitória. Façamos orações assim, de mais qualidade, conhecer a Deus, de verdade leva-nos a nos conhecer melhor, assim como a entender qual é a nossa doença e como se apossar da cura em Deus para ela. Meditação cura, mas meditação no Espírito Santo cura eternamente, pois numa contemplação interior dessa forma nosso espírito fala coisas espirituais com o Espírito de Deus, isso um iogue não prova. Esse é o poder exclusivo do evangelho, de uma forma simples, qualquer pessoa pode falar diretamente com Deus, sem complicações, sem rezas decoradas, sem rituais ou segredos esotéricos.

      “Por que estás ao longe, Senhor? Por que te escondes nos tempos de angústia? “Senhor, tu ouviste os desejos dos mansos; confortarás os seus corações; os teus ouvidos estarão abertos para eles; Para fazer justiça ao órfão e ao oprimido, a fim de que o homem da terra não prossiga mais em usar da violência.” Salmos 10.1, 17-18

      A sinceridade do salmista, sem medo de revelar seu sentimento mais íntimo e verdadeiro, mesmo que não expresse a atitude verdadeira Deus, isso é o que nos mostra o versículos 1, é assim que o salmista inicia sua meditação, esquadrinhando a própria alma. Não, não é pecado duvidar das promessas, pelo menos não é quando se duvida emocionalmente, o que não podemos é deixar o sentimento do nosso coração dar a última palavra. Muitas vezes temos que andar pela fé que não acha respaldo no sentimento, mas no conhecimento que Deus tem tudo só controle e fará justiça. 
      Mas após uma viagem emocional na aparente injustiça existente no mundo, mostrando a maldade do homem e a própria fraqueza, o salmista, nos versículos finais do salmo, expressa a interpretação do homem que realmente conhece e confia no Deus que faz justiça e que não deixa que o direito do que confia nele seja usurpado, não para sempre. Isso é mais que uma oração rápida, tentando aceitar um Deus poderoso de forma superficial, negando o que tem no coração, diante de um Deus que conhece todas as mais profundas intenções, isso é uma reflexão profunda sobre tudo, isso é meditar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário