quarta-feira, setembro 16, 2020

Crítica, liberte-se dela!

      “A candeia do corpo é o olho. Sendo, pois, o teu olho simples, também todo o teu corpo será luminoso; mas, se for mau, também o teu corpo será tenebroso.” Lucas 11.34

      Toda crítica que fazemos aos outros nasce de uma crítica que fazemos a nós mesmos, e depois projetamos nos outros. Excesso de crítica não é virtude, não é zelo por perfeccionismo, na verdade quanto mais crítico se é, mas imperfeito se é. Deus é perfeito, e ele não crítica ninguém, pois nele não há nada a ser criticado. Crítica, seja ela qual for, mesmo a chamada de construtiva, é ineficiente para mudar alguém, pois implica em um agente externo querendo modificar algo interno. Mudança só ocorre de dentro pra fora, quando alguém quer mudar, decide isso e trabalha em si mesmo para mudança. Qual o papel do outro nisso? Dar exemplo, mostrar com ação o jeito melhor de fazer algo, não mostrar o jeito errado com palavras, que a crítica se passe no coração de quem percebe que está errado e então mude. O único que pode mudar você é você, com a ajuda de Deus. 
      Nenhum homem neste mundo, encarnado, mostrou melhor isso que Jesus, Jesus nunca criticava, nunca apontava erros, nunca acusava, era sempre amoroso, paciencioso, elegante, e acima de tudo, praticava o jeito melhor de viver, dando exemplo na prática. Por isso as pessoas se sentiam tão incomodadas com eles, por isso os errados se sentiam tão acusados, por isso os hipócritas viam em Jesus críticas tão pesadas às suas maneiras de viver e às suas religiões. Não, não era crítica humana que mostrava aos religiosos judeus suas incoerências, era a luz do Deus altíssimo que era lançada sobre as trevas dos que não viviam e exigiam que os outros vivessem, era um confronto silencioso e realmente justo. Deus não crítica porque fala, mas porque existe, só isso basta para confrontar as trevas, a existência de Deus é viva, fogo consumidor, luz que tudo ilumina, mas silenciosa.  
      Quando abrimos mão de fazer críticas e vivemos o que acreditamos, Deus age por nós, de maneira espiritual, confronta os homens com a verdade. Quando nos colocamos no centro da vontade de Deus para nossas vidas e obedecemos ao Senhor, não vivemos mais para nós, mas para Deus, e assim Deus vive em nós, luta por nós, nos defende, e mostra para os outros, através de nossas vidas, sua vontade. Não é fácil parar de criticar, principalmente quando vemos que nossas vidas são tão imperfeitas, e isso na verdade, pelo menos a princípio, é bom, ser crítico, exigente não é, em primeira instância, um mal. Mas isso se entendermos que somos nós os imperfeitos que precisam ser mudados, não os outros, já que a vida dos outros é problema dos outros e de Deus. Muitos de nós precisam de uma grandiosa libertação, libertação da crítica. 
      Se você, como eu, for um desses críticos compulsivos, aceite que tudo o que você vê nos outros você viu antes em você, assim, mude tua vida e deixe que Deus mude as dos outros, se os outros assim permitirem. Crítica é só um jeito de prender as pessoas, quem prende rouba a liberdade, mas também perde a própria liberdade, pois passa o tempo vigiando os outros para fazer críticas. Criticar é vício, disfarçado de virtude, mas é também tomar o lugar de Deus, se achar juiz, e juiz só existe um, o Senhor. Assim, toda vez que vir um defeito em alguém, pergunte a si mesmo, e eu, tenho esse defeito, o que posso fazer para mudar? Evite verbalizar (ou escrever em redes sociais) os defeitos dos outros para outros, mas ore pela pessoa cuja crítica te veio à mente, fique tua critica só entre você e o Senhor, e abençoe o criticado com oração e bênção.
      Poderíamos usar o texto de Lucas 6.41 para dar um exemplo bíblico do que foi pensado nesta reflexão, mas o texto inicial, de Lucas 11.34, vai além do óbvio, de censurar o julgamento. Ele nos remete a uma característica da crítica, como falsa virtude ela costuma ser elaborada, tentando mostrar legitimidade com alguma profundidade, um olhar não com os olhos nus, mas com uma lupa. O texto inicial, contudo, diz, “sendo, pois, o teu olho simples, também todo o teu corpo será luminoso”, ele alia ausência de crítica à simplicidade. O olho simples não vasculha procurando defeitos para criticar, não apela para discursos e manipulações, ele é puro. A luz é pura, revela sem fazer força, já as trevas são misteriosas, quem pode dizer o que encobrem? O olhar é uma via de mão dupla, o simples o guarda, não vê mal nos outros, assim como impede que o mal entre nele pelo olhar da crítica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário