quarta-feira, setembro 09, 2020

Servos, soldados ou advogados? Amigos e testemunhas

      Podemos achar na Bíblia argumentos para diferentes posicionamentos que os filhos de Deus tomaram e tomam em relação a como fazem a vontade do Senhor. Em algumas situações bíblicas o povo de Deus é chamado de exército do Senhor, soldados do altíssimo, isso vemos bastante no antigo testamento, em outras situações o povo de Deus é denominado servos do Senhor, vemos isso muito no novo testamento. Atualmente, na prática, num momento quando há mais liberdade religiosa, quando cristãos de nome representam grande parte da sociedade, quando evangélicos detêm cargos importantes na política e até são celebridades na mídia, dentro do entendimento equivocado de que um nação física deste mundo pode ser integralmente de Cristo, muitos se colocam enfaticamente como advogados de Deus. Muitos agem como se tivessem carta de procuração do Senhor para falarem e fazerem coisas em nome dele. Como dito no início, todos esses termos e funções têm seus lugares legítimos no tempo e no espaço, mas qual é o mais adequado à doutrina central da Bíblia, ao nível mais alto da vontade de Deus para os homens no mundo?
      Amigos e testemunhas, eis os posicionamentos que Deus espera de seus filhos maduros, isso conforme a visão do evangelho de Jesus. “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.” (João 15.15). “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.” (Atos 1.8). Qual a diferença entre ser amigo e testemunha de ser servo, soldado ou advogado? A diferença é a essência do evangelho, que apresenta um Deus tomando a iniciativa, descendo, vivendo, morrendo, ressuscitando e salvando o homem em Jesus, para então viver no homem pelo Espírito Santo. No antigo testamento esse princípio já havia sido ensinado, em textos como, “nesta batalha não tereis que pelejar, postai-vos, ficai parados, e vede a salvação do Senhor para convosco, ó Judá e Jerusalém, não temais, nem vos assusteis, amanhã saí-lhes ao encontro, porque o Senhor será convosco.” (II Crônicas 20.17).
      Infelizmente, a coisa ruim por trás de gente que quer valer seu ponto de vista no papel de servo, soldado e advogado, é o uso de um certa violência para impor o evangelho, sendo assim mais maquiavélicos que cristãos, à medida que acham que o fim justifica os meios. Muitos pensam assim, “se defendo o evangelho, a única maneira de salvar o homem do inferno, o caminho, a verdade e a vida, tenho o direito de usar os meios que posso, pelo menos no mesmo nível dos meios que os que se opõem ao evangelho usam para fazerem valer seus pontos de vista”. Isso é uma interpretação superficial das verdades divinas, pô-las só como o oposto das mentiras das trevas, bem, a vontade de Deus não é oposto das escolhas oferecidas pelo diabo, da mesma maneira como Deus não é o oposto do diabo. Deus é muito mais que um antagonista do mal, Deus é tudo, e o diabo apenas um escolha, que ganha legitimidade se o homem opta por ela. Assim, se enganam os que acham que podem usar para compartilhar o evangelho as mesmas armas que os que não conhecem a Deus pelo evangelho usam para compartilhar o que acreditam. Aos espirituais cabem armas espirituais, não carnais, por mais civilizadas que essas sejam, por mais “democráticas” que se apresentem.
      Não somos soldados numa batalha de igual para igual contra o mal, na verdade não há batalha, Jesus já a venceu, há apenas um deixar que Deus mostre a vitória, enquanto nós que nos dizemos cristãos, testemunhamos tudo para relatar depois aos homens, não como advogados, mas como testemunhas. Sim, temos um trabalho neste mundo, o de crer e viver como justificado, numa existência honesta como cidadãos exemplares, mas é Deus quem luta as guerras espirituais. Esse entendimento, todavia, têm os amigos, não os servos, os servos, ainda que com um senhor mais excelente, apenas obedecem, cegamente, já os amigos têm intimidade com alguém, e esse alguém, ainda que um Senhor divino e superior, revelas as verdades a seus amigos. Atualmente no Brasil, esses que se colocam como soldados querendo impor o cristianismo, ainda que debaixo do comando de um presidente que se diz “cristão”, cometem um enorme equívoco, lutam uma batalha tão tola quanto inútil, no mínimo agem como crianças imaturas, servos de homens e não de Deus, mas numa instância maior, fazem o jogo das trevas e colaboram para desacreditar o cristianismo. 
      Essa é a grande estratégia do inimigo por trás do que muitos cristãos estão sendo levados à fazer atualmente no Brasil, desacreditar o cristianismo, que hoje é defendido por extremistas morais, construindo o cenário que entregará no futuro o país nas mãos dos maiores inimigos do cristianismo, mas que serão a única opção aparentemente equilibrada. Infelizmente muitos protestantes e evangélicos brasileiros não estão percebendo isso, e se tentamos alerta-los a respeito eles nos acusam de termos sido convencidos pelo outro lado, ou de sermos “isentões”. Eles não entendem que a melhor maneira de destruir alguém não é impedi-lo de fazer algo, mas levá-lo a fazer algo de forma exagerada, extremista, assim ninguém o destruirá, nem seus antagonistas, mas ele mesmo. Infelizmente os cristãos pararam de lutar contra as trevas, lutam contra eles mesmos, contra suas heresias, seus radicalismos, suas mentiras, ainda que digam, “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (é triste ver João 8.32 ser usado de maneira tão inadequada). Não concorda com isso? O tempo dirá. 

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