sexta-feira, setembro 18, 2020

Ter ou não ter?

      “Mas nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos. Portanto cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação.Romanos 15.1-2

      Pessoas diferentes precisam pagar preços diferentes para se aproximarem mais de Deus e amadurecerem espiritualmente. Alguns precisam aprender a administrar com misericórdia o poder que recebem, outros com humildade o podem que não recebem. Os que recebem algum tipo de poder não são maiores, nem os que não recebem menores, não diante de Deus, e ambos precisam e podem crescer igualmente para chegarem ao mesmo nível. Misericórdia ou humildade? É claro que em alguma instância todos precisamos das duas virtudes, assim como todos temos poderes para dar aos outros para administrar assim como administrar falta de alguns poderes que dependemos de outros para ter. Na verdade é tudo um jogo de equilíbrio, o universo é equilibrado, Deus é equilibrado, ainda que a princípio o mundo não pareça e muitos homens insistam em não ser, também a princípio.
      O que é ter poderes? Ter uma empresa com funcionários é ter poderes, os que colaboram conosco como empregados trocam serviços por dinheiro, mas são os empregadores que mantém empregados, e esses podem ser despedidos e trocados pelos proprietários das empresas. Mas existem poderes mais subjetivos, muitas vezes apenas em ter possibilidades de ajudar alguém, sem receber nada por isso, de fazer um favor, é esse tipo de poder que pode exigir de nós mais espiritualidade, para que não o exerçamos com arrogância, frieza ou displicência, nem querendo algo em troca. Os poderes que de fato são provas da vida para que adquiramos misericórdia podemos realizar sem fazer muita força, sem que seja um peso para nós, podemos fazer simplesmente para sermos ferramentas da providência divina, do amor de Deus com as pessoas. Nesse caso é importante, se queremos de fato amadurecer espiritualmente, entender que não somos donos de nada, apenas mordomos de algo, de um direito, que nos foi dado por Deus para abençoar, libertar, as pessoas, não prende-las a nós.
      Por outro lado convém a Deus, através do universo, de seus sistemas e probabilidades, que estão diretamente ligadas às nossas escolhas, que não tenhamos certos poderes, certas vantagens, assim precisamos aceitar, em Deus, se é que queremos crescer nele, que dependemos de outros para tê-los. Nesse caso é preciso humildade para aceitar isso com um coração simples e pacífico, que não cria amargura por causa dessa dependência nem busca vingança contra aqueles dos quais depende. Quem é maior o que tem ou o que recebe? O evangelho diz que mais bem-aventurado é dar que receber, mas por outro lado ter parece ser mais fácil que não ter, dar parece ser mais fácil que receber, ser humilde parece ser mais difícil que ser misericordioso. Em última instância, como já dissemos no início, tudo pode ser um desafio espiritual que pode nos conduzir a um crescimento em direção ao Deus altíssimo. O que tem coração de aluno, não de mestre, sempre achará na vida uma oportunidade para ser alguém melhor e mais parecido com Jesus.
      Contudo, muitos recebem a possibilidade de exercer poder porque talvez não conseguiriam viver de outro jeito, porque não são humildes suficientemente para depender de algum poder alheio. Outros, por sua vez, precisam aprender a receber, serem fiéis no pouco, para só depois poderem dar, serem fiéis no muito, mas o mais espiritual é sermos misericordiosos enquanto recebemos, enquanto dependemos de alguém, e humildes enquanto damos, enquanto administramos os que dependem de nós. Se entendermos, todavia, que ninguém é dono de nada, que tudo pertence a Deus, e que muitas posições neste mundo são passageiras, hoje pode ser de dono de poder e amanhã de dependente do poder de outro, aceitando assim a fragilidade do ser humano, tanto fará estar numa quanto em outra posição, teremos paz das duas maneiras, seremos homens de bem das duas formas, glorificaremos ao Senhor dos dois jeitos, nunca ao homem, nunca a nós mesmos, nem por sermos poderosos materialmente para poder dar, nem elevados espiritualmente para receber e não se sentir menor por isso. 

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