sábado, julho 23, 2022

“Faço uma coisa nova”

      “Assim diz o Senhor, o que preparou no mar um caminho, e nas águas impetuosas uma vereda; o que fez sair o carro e o cavalo, o exército e a força; eles juntamente se deitaram, e nunca se levantarão; estão extintos; como um pavio se apagaram. Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas. 
      Eis que faço uma coisa nova, agora sairá à luz; porventura não a percebeis? Eis que porei um caminho no deserto, e rios no ermo. Os animais do campo me honrarão, os chacais, e os avestruzes; porque porei águas no deserto, e rios no ermo, para dar de beber ao meu povo, ao meu eleito.” 
Isaías 43.16-20

      O ser humano ama novidade, nela há paixão e como paixão é passageira necessita de mais novidades para provar a paixão de forma mais duradoura. Ninguém se iluda, toda paixão passa, ainda que seja por algo virtuoso, do bem, assim o prazer que ministérios na igreja nos dão, passam, ainda que seja algo que funcione no campo espiritual. Um casamento, por melhor que seja, entre pessoas que sabem o que são e o que querem e não estão lesando ninguém, se teve paixão no início, essa passará um dia. 
      Por que passa? Porque paixão e prazer são só efeitos emocionais de alguma coisa, não são as causas, por isso tanto coisas boas quanto coisas ruins podem nos apaixonar enquanto são novidades. Depois, o prazer da paixão passará, a diferença é que se foi provocado por uma experiência virtuosa pode ser repetido sem danos. Mesmo experiências espirituais mais elevadas impressionam nossos sentimentos, nos dão prazer e passam, nosso corpo físico é inviável para reter o efeito da novidade por muito tempo.
      Essa limitação faz parte do plano de Deus para que estejamos sempre trabalhando, sempre vigiando, sempre querendo aprender mais e crescendo. Contudo, quando Deus nos dá uma palavra como a do texto bíblico inicial, nosso coração rejubila, quem não gosta de ouvir, eis que faço uma coisa nova? Entretanto, é importante entendermos o contexto histórico da passagem para sabermos a relevância da novidade que Deus ia fazer. Se vivemos dia a dia uma vida correta com Deus não precisamos de uma experiência assim. 
      No momento do texto, Israel era escrava de Babilônia pois tinha desobedecido a Deus, mas o que a passagem descreve é algo comum a todos nós. Numa situação ruim, Israel estava saudosista, lembrava-se do tempo que era conduzida com milagres à Canaã, assim o profeta exorta que aquele passado, por melhor que tivesse sido, não seria repetido. Deus ia libertar seu povo, mas com novas ações, assim Israel não precisaria ficar incrédula, achando que a libertação antiga não ocorreria mais, uma nova ocorreria.
      Não que Israel estivesse merecendo um novo livramento, era um povo duro e teimoso, que mesmo em dificuldades não clamou a Deus nem exerceu diante dele uma religião adequada. Mas Deus é pai, sempre quer nos levantar, e nada nos levanta mais, nos dá mais esperança, que sabermos que uma boa novidade está para ocorrer. Ainda que Deus saiba que somos só seres viciados em novidade, em prazer, em paixão, ele nos atrai com coisas novas, para que sejamos renovados e tenhamos forças para nos erguermos do erro.
      A providência de Deus muitas vezes não espera que mudemos de vida, mas só que enjoemos de fazer as coisas erradas, e então, vazios e estagnados, estejamos mais propícios para fazer as coisas certas, ainda que seja porque não temos mais outra opção. As virtudes nos vencem pelo cansaço, e com tempo todos nós entenderemos o que temos que fazer, o problema é levarmos tempo demais. Que não entendamos a importância das virtudes num leito de hospital, muitas vezes velhos e mantidos vivos só por máquinas. 
      Mas a palavra desta reflexão é de alegria, eis que faço uma coisa nova. Meus queridos, sabem que coisa nova Deus estava dizendo que daria a Israel? Não era só libertação da opressora Babilônia, era muito mais que isso. A coisa nova era Jesus. A promessa era de redenção espiritual, não física, para toda a humanidade, não só para uma nação, e seria eterna, não passageira como outras que Israel provou. “Porei águas no deserto e rios no ermo para dar de beber ao meu povo”, a profecia fala de água para o sedento. 
      Mas o Espírito Santo que inspirou o escritor não fala de água física, fala dele mesmo, água espiritual para o andarilho do deserto deste mundo. Com sede, um banquete não satisfaz, com sede, ainda que estejamos no luxo de um palacete, não há prazer. Com sede espiritual, nem religião, nem conhecimentos teológicos nos saciam, só o vivo Espírito Santo, esse não precisa de longas pregações, de pompa e circunstância, só de uma simples palavra, vinda diretamente de Deus, como água para nosso espírito. 
      Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas, essa exortação nos lembra como podemos ter prazer doentio pelo passado, não só pelo bom, mas também pelo ruim. Quando adquirimos mais intimidade com Deus, algo que o Espírito Santo nos orienta é parar de olhar para trás, para o que fizemos e para o que os outros fizeram. Deus é Deus de vida e a vida olha para frente, esperando o melhor, fazendo o melhor, então, construindo um novo passado, bom e realmente digno de ser rememorado. 
      Se o passado foi bom, o futuro pode ser melhor, mas se ele nos condena ou condena os outros, então, deve ser esquecido no perdão que foca no alto. Parar de errar não é só interromper as ações de um modo de vida errado, é se transportar mentalmente para um novo e melhor tempo, isso é feito pela fé. “Se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo.” (II Coríntios 5.17). Deus te chama para algo novo, limpe-se, creia e siga em frente, o que vem é melhor que o que passou. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário