domingo, julho 24, 2022

Não sou digno, mas creio

      “E, entrando Jesus em Cafarnaum, chegou junto dele um centurião, rogando-lhe, e dizendo: Senhor, o meu criado jaz em casa, paralítico, e violentamente atormentado. E Jesus lhe disse: Eu irei, e lhe darei saúde. E o centurião, respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado há de sarar. Pois também eu sou homem sob autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu criado: Faze isto, e ele o faz. 
      E maravilhou-se Jesus, ouvindo isto, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé. Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus; e os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes. Então disse Jesus ao centurião: Vai, e como creste te seja feito. E naquela mesma hora o seu criado sarou.” 
Mateus 8.5-13

      Um centurião era uma pessoa importante na sociedade do século I, era oficial na hierarquia das forças militares romanas. Ele se importar com um criado paralítico e violentamente atormentado (seria por transtorno mental, possessão demoníaca?) já demonstrava seu caracter diferenciado. Mas ele procurou Jesus e foi aí que demonstrou algo ainda mais importante, fé, e não uma fé qualquer, uma fé inteligente. Jesus, como em outras oportunidades, conhecia o coração do homem, identificou um pedido legítimo e prontamente se dispôs, eu irei e lhe darei saúde. Em outras oportunidades Jesus não foi tão imediato. 
      O centurião, então, demonstrou sua espiritualidade objetiva respondendo, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado há de sarar. Em outras palavras, não sou digno, mas creio. Que honestidade maravilhosa, surpreendeu até o Cristo. Ele não se sentia digno, e nós, somos dignos em algum momento de que Deus nos atenda? Nunca. Mas se querem mesmo saber, o centurião era digno, ele tinha as virtudes iniciais que Deus pede de nós, humildade e fé. Ele sabia quem era, assim como sabia quem Jesus era, isso é fé inteligente. Eu sou pecador, mas a ti, Jesus, basta uma palavra. 
      A palavra que Jesus então dá, é reveladora, nem mesmo em Israel encontrei tanta fé. Desculpe-me, mas não posso deixar de me lembrar com essa palavra, do posicionamento que muitos cristãos têm, achando-se mais dignos do céu e condenando outros ao inferno. A exortação do Cristo é muito séria, muitos virão do oriente e do ocidente e assentar-se-ão à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus, e os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores. Jesus diz que ainda que sejam israelitas fiéis à sua religião, cederão lugar a não israelitas, que talvez nunca tenham ouvido falar da lei de Moisés, isso por causa da fé. 
      Isso tem que nos fazer pensar em algumas coisas. À fé do centurião a resposta foi ainda mais fantástica, Jesus nem precisou estar presente para que o pedido fosse atendido, pois é, um oficial romano, que talvez muitos judeus vissem como inimigo, como opressor, como do diabo, esse recebeu atenção diferenciada de Jesus porque creu. Não penso que pode-se só acreditar sem praticar, quem crê tem comunhão e em comunhão vive-se de maneira agradável para aquele em quem crê. O centurião devia ter uma vida correta, mesmo dentro de sua cultura, de sua religião, de sua profissão. Jesus sabia disso e por isso o abençoou. 
      A principal barreira que a fé ultrapassa é a de não acreditarmos em nós mesmos, por isso nos acharmos indignos de sermos atendidos por Deus. O centurião sabia que era indigno de Jesus, mas sua fé no amor e no poder de Jesus era maior até que a culpa que carregava por ser alguém indigno, e quem se acha indigno se acha porque tem consciência do próprio pecado e do quanto desagrada a Deus. Isso é fé inteligente, que não pede algo enorme achando que basta crer para receber, sem se ater à qualidade moral da própria vida e ao fato de Deus requerer essa qualidade. Fé inteligente sincroniza-se com a relevância das obras. 
      O centurião não admitia, era humilde demais para isso, mas era mais digno que sabia, e é assim mesmo que tem que ser com quem teme a Deus. Esse deve saber que sempre estamos em falta com o Altíssimo, mas não para ficarmos nos culpando e sofrendo em autocomiseração, mas para crermos e dependermos mais ainda de Deus. Fé inteligente faz isso, finca nossos pés firmes no chão da realidade, principalmente da nossa realidade moral, mas posiciona o espírito lá no alto, para conhecer a Deus. Quem assim vive não age como criança mimada que quer tudo e sempre, mas sabe pedir, e quando o faz é prontamente atendido. 

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