terça-feira, janeiro 24, 2023

Entrar no céu não é fácil

      “E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, e à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade. 
      Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele em quem não há estas coisas é cego, nada vendo ao longe, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados. 
      Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” 
II Pedro 1.5-11

      Entrar no céu não é fácil, quem acha que é, engana-se. O cristão convencional poderá perguntar, “mas não basta fé em Jesus?”. Não. Quem vive no mundo pecando o tempo todo, ainda que se arrependendo o tempo todo e se apossando do perdão de Deus pela fé em Cristo, vive uma inconstância permanente, um desce e sobe espiritual contumaz. Isso mantém dentro de nós conflito, não a paz, uma dualidade, não uma certeza, um inferno, não um céu. Como achamos que acordaremos no plano espiritual, depois que nossos corpos físicos deixarem de funcionar? Se vivemos uma vida instável, o desequilíbrio mental estará em nós, não seremos livrados dele assim, num passe de mágica, aliás, caros evangélicos, eternidade não é mágica. 
      Muitos cristãos simplesmente não pensam muito profundamente no assunto, creem que por serem religiosos praticantes têm direito ao céu, e que quando morrerem simplesmente acordarão nas nuvens, cercados de anjos, com um lugar garantido como corista eterno no coro dos salvos, tendo toda a eternidade para descansar e louvar a Deus. Responsabilidade pessoal pelo que de fato construímos dentro de nós no mundo não será averiguada assim, a luz mais alta de Deus será lançada sobre nossa essência espiritual, alcançando nossas obras interiores, como um fogo que consome materiais mais fracos e deixa vivo só materiais mais fortes. Não serão julgadas riqueza material e aprovação de homens, mas só virtudes morais.
      Palha, madeira, outros materiais, serão aniquilados pelo olhar de Deus, já pedras raras e metais preciosos resistirão, e estou usando de metáforas. Quem tiver virtude que resista temerá, mas não será envergonhado, nem fugirá, permanecerá firme, e por estar leve pela humildade e liberto pelo amor, subirá às regiões espirituais mais altas. Quem não tiver virtudes ficará aterrorizado, se sentirá envergonhado, e achando-se pesado e sujo, cairá de medo, buscando nas trevas se esconder do Altíssimo. Achará companhia em outros torturados como ele, mas esses não oferecem paz, só dor e acusação, dor do erro não assumido por orgulho, e dor de pecado reconhecido, mas que não achou perdão de si mesmo a tempo. 
      Talvez por terem certeza equivocada sobre seus direitos ao céu, é que muitos insistem em construir um reino de Deus no mundo, mais ocupados em riquezas materiais e glória humana, ainda que em igrejas, que em virtudes morais. Muitos trocam as prioridades, é só construindo dentro de nós o céu que podemos viver um mundo melhor, isso se faz com persistência no bem. Nossa vocação e nossa eleição mais altas são sermos cidadãos do céu, não do mundo, isso não é nos afastarmos de vida social e tentarmos anular apetites do corpo, é sermos luz no mundo como seres humanos comuns, que estudam, trabalham, se casam, se divertem, votam, contribuem para a preservação do planeta e lutam pelos direitos de todos. 

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