domingo, outubro 22, 2023

Uma energia? Não, um amigo (2/2)

      “E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus. Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.” Tiago 2.23-24

      Deus existe, indiferente de como creem nele. Muitos cristãos o veem como um ancião de cabelos, barbas e vestes brancos, sentado num trono, moderando a moralidade da humanidade, legislando algumas coisas como pecado, e pedindo respeito às religiões e a uma interpretação fundamentalista da Bíblia para autorizar o céu na eternidade. Mas a verdade mais alta de Deus mistura conceitos antigos e novos. De um jeito mais moderno podemos ver Deus como um ser espiritual, cuja forma não podemos discernir pois emana uma luz tão forte e tão limpa que é impossível ser contemplada no nível moral que temos. Mas essa luz não nos afasta, nos atrai por amor, amor que tem em Jesus sua manifestação mais plena.
      Mas Deus não é só uma energia, que vibra numa frequência altíssima, que interfere no universo visível e no invisível, nos seres humanos, nos animais, na natureza, nas águas, nos ventos, nos climas, no planeta Terra, na Lua, no Sol, no sistema solar, nas galáxias, em todo o resto do universo físico, assim com em todas as existências nos planos espirituais. Eis agora um conceito religioso mais tradicional, que ateus e materialistas desprezam, mas que são conhecidos desde os tempos mais antigos, mesmo por homens que pouco sabiam de ciência. Esse conceito implica em virtudes morais, santidade, amor, justiça, que somos chamados a conhecer e praticar. Vida não está limitada à matéria, mas anseia liberta-se dela.
      Não são só céticos que cometem o erro de tentar enxergar Deus como só energia, muitos espiritualistas também cometem esse erro, e muitos desses porque querem de alguma forma usar a Deus, manipular a energia, geralmente com objetivos materiais. Por isso muitos tentam, desde o final do século XIX, reproduzir fenômenos chamados espíritas como se fossem experiências de laboratório, até conseguem, mas com mais frequência só os físicos, ligados a seres espirituais inferiores, que o cristianismo chama de demônios. Ainda hoje há uma linha espírita que teima em ver as revelações que Allan Kardec trouxe como a inauguração de um momento na história da humanidade onde ciência e religião se conectariam. 
      Jesus mostrou o que importa, a evolução moral, não conhecimento científico do plano espiritual. Os que veem espiritualidade só como relação com energias esquecem-se que espíritos, apesar de formados de elementos desconhecidos, são pessoais, inteligentes e morais, não são plugues ligados a tomadas, querem ser respeitados e amados, para que possam respeitar e amar. Deus é pessoal e afetuoso, ainda que espírito superior e de forma alguma manipulável, ele estabelece uma relação de amor com as pessoas. Não basta-nos concentrarmos a mente e utilizarmos técnicas de meditação e vibração, precisamos conversar com Deus, como se faz com seres inteligentes, nos relacionarmos com ele e construirmos uma amizade. 
      De algum jeito Deus sempre facilita nosso acesso a ele e não se limita às formas que criamos dele em nossas mentes. Contudo, aqueles que buscarem e estiverem preparados, verão a Deus além das formas mentais construídas pelas tradições, se libertarão do ancião de cabelos, barbas e vestes brancos, com uma concepção antiga de pecado. Esses serão amigos de um Deus santo, por isso luz clara e alta, mas que sempre tem a porta aberta para restaurar a todos, e Deus está conectado com todos. Dos ateus Deus respeita os limites, não violenta o livre arbítrio e a fé deles, mas espera, com muito amor, que eles queiram e se aproximem mais, e permitam serem iluminados por aquele que é início, meio e fim de tudo. 
      Talvez o motivo principal de muitos não crerem em Deus nem esteja em razões religiosas e científicas, mas em razões afetivas. Se o Deus verdadeiro nos chama para sermos amigos dele, terão dificuldades de experimentarem essa relação de amizade pessoas desconfiadas e orgulhosas. Quem não consegue se compartilhar com alguém que vê, como o fará com o invisível? Espiritualidade mais alta nada mais é que uma persistente e íntima amizade com Deus, por isso Deus não pode ser visto só como uma energia, como uma influência moral, como a luz mais alta e mais pura, como a sabedoria mais profunda, ele é tudo isso, mas mais, é um amigo próximo. Na eternidade Deus não buscará religiosos ou cientistas, só amigos. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

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