08/04/23

Que nos baste a paz (1/2)

      “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.I João 1.7

      Queremos Deus ou o prazer que é efeito de uma experiência com Deus em nossos corpos? Muitos de nós estamos tão viciados nos prazeres físicos, que podemos acabar, não buscando valores religiosos, mas só trocando de vícios. Já refleti outras vezes sobre esse tema aqui, mas no momento, Deus me chama especialmente para um tratamento, onde o Espírito Santo me liberta das últimas consequências de vícios. Faço uma pergunta: e se Deus se calasse para você? Não, isso não significa que ele iria parar de cuidar de você, de ouvir tuas orações diárias sobre tuas necessidades básicas, que não te perdoaria mais, não é isso. Estou dizendo que ele, ao menos por um tempo, impedisse experiências que dão a você emoções mais fortes, te entregando só sua paz. 
      Mas paz não basta? Paz deveria bastar, como consequência simples de andarmos na luz, tendo comunhão com as pessoas e perdão pelos nossos pecados. Contudo, muitas vezes passamos a vida buscando fortes emoções, e fazendo isso até em igrejas e em trabalhos religiosos, porque desejamos algo além da paz. Por isso muitos são obcecados, não pelo mundo, não por sexo, comida e bebida, mas por igrejas, por desempenharem ministérios dentro delas. Deus usa isso para abençoar os outros? Sim, sempre. Mas Deus usa isso para abençoar quem faz atividades assim só por obsessão? Por um tempo, na infância de suas jornadas com ele, mas num determinado momento ele terá que confrontar o servo que serve assim, para curá-la e libertá-lo. 
     Difícil é esse tratamento, a libertação de vício religioso, mas é necessário para o que de fato quer amadurecer. Esse vício religioso afeta especialmente músicos, e posso dizer isso porque foi na música que mais trabalhei em igrejas. Muitos são fiéis em ministérios por anos, mesmo debaixo de lideranças que sabem quem estão erradas, porque o prazer que sentem fazendo música é muito grande e se tornou um vicio, maior mesmo que a verdade. Sei que muitos não aceitarão essas palavras, dirão, “mas o que tem de errado eu servir a Deus na igreja com meus talentos e ser feliz com isso?”. Não é errado para muitas pessoas, não é errado para o neófilo na caminhada com Deus, mas pode ser errado para os que querem crescer espiritualmente. 
      Vivendo neste mundo material, o prazer físico, advindo da experiência que for, do corpo ou do espírito, tende a ficar cada vez mais difícil de ser provado e mantido. Quando jovens nos encantamos com facilidade, primeiras vivências sempre são deslumbres extasiantes, nos apaixonamos depressa e pelas coisas mais absurdas possíveis, mas isso muda à medida que nossos corpos envelhecem e que nossos emocionais são usados. Quem não se libertar da necessidade de prazer como efeito, procurará sempre causas mais poderosas para produzir efeitos mais fortes e perenes de prazer. Ainda que quando jovens nossos filtros sejam mais permeáveis, se envelhecermos sem qualidade moral e emocional os filtros perderão ainda mais qualidade. 
      O texto bíblico inicial é uma daquelas passagens bíblicas que contém chaves para maravilhosos mistérios espirituais, nesse caso a chave da paz. Ele cita três conceitos, luz, comunhão e perdão, paz não é citada, mas ela só pode existir quando esses três conceitos são experimentados. Tudo começa na luz de Deus, essa revela a verdade, que se seguida conduz ao amor e à santidade. Na luz temos paciência para amarmos, assim temos comunhão, querer amar os homens sem estar na luz de Deus não é possível. Muitos não amam e colocam a culpa nos outros, mas a culpa é deles que não amaram antes a Deus. Quem está na luz de Deus conhece seus pecados e verdadeiramente se livra deles, buscando perdão no nome de Jesus e ficando em paz com Deus.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

07/04/23

Minhas palavras não passarão

      “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão. Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos que estão no céu, nem o Filho, senão o Pai. Olhai, vigiai e orai; porque não sabeis quando chegará o tempo.Marcos 13.31-33

      Como em toda palavra profética bíblica, três entendimentos podem ser feitos. O primeiro é o mais objetivo para o momento histórico em que ocorre a passagem relatada. Jesus fala de coisas que aconteceriam para os homens de seu tempo, e para esses a profecia do texto bíblico inicial pode já ter se realizado. O cerco à Jerusalém e a destruição de Templo no ano 70 d.C., podem ter sido a profecia imediata que Jesus fez. O segundo entendimento também é profético, mas para acontecimentos mais futuros, que podem ainda não terem ocorrido, portanto ainda profecia a ser realizada mesmo para nós hoje. O terceiro entendimento, é o que na prática mais nos interessa, assim como a seres humanos de todos os tempos.
      Para esse último entendimento dois ensinos nos chamam a atenção no texto bíblico inicial, o primeiro é passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão. O que vem de fato de Deus, mesmo passando pelos filtros dos contextos históricos dos que registram os textos bíblicos, infalivelmente se cumprem. Jesus disse que até céu e terra passarão, e a ciência diz que a possibilidade do nosso sistema solar entrar em colapso e nosso planeta ser destruído é para daqui a só cinco bilhões de anos. Assim, o cumprimento de profecias sobre fim do mundo, levando em conta os corpos celestes se colapsarem, ainda demora muito, mas enquanto isso, como antes disso e depois disso, a palavra de Deus mantém-se fiel.
      Um detalhe, Jesus disse que o dia final nem os anjos e nem ele sabiam, só Deus, mas vejam que ele afirmou isso ainda como homem. Hoje Jesus é Deus, ou está mais perto de Deus que qualquer outro ser celeste, assim hoje, como ser espiritual, talvez ele tenha essa informação. Se ele sabe pode dizer a alguém? Até poderia, mas isso seria útil? Não para nós homens encarnados, e é sobre isso que nos fala o segundo ensino da passagem, olhai, vigiai e orai, porque não sabeis quando chegará o tempo. Não saber nos leva a vigiar o tempo todo. O trabalho de vigilância moral é nossa vocação principal aqui, é assim para que vençamos pecados e cresçamos espiritualmente, nos preparando para o céu, a melhor eternidade de Deus. 
     Algo importante é preciso dizer sobre a verdade atemporal da genuína palavra de Deus, e entenda que nem tudo que a tradição religiosa cristã de homens lê e entende da Bíblia é essa palavra irrevogável. A palavra de Deus não muda, sempre se cumpre e sempre é verdade, mas pode ficar mais clara, se buscarmos mais a Deus e nos for permitido ver. Quem olha para a Lua a olhos nus e com telescópio vê o corpo celeste dos dois jeito, mas com telescópio enxerga mais detalhes. O que olha a olhos nus não pode dizer que enxerga mais a verdade que o que usa telescópio, nem o que usa telescópio pode dizer que não é a Lua que enxerga, mas outra coisa. Como você olha a palavra de Deus, a olhos nus ou com telescópio? Você escolhe.

06/04/23

Use o escape de Deus

      “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar.I Coríntios 10.13

      Se Deus diz que dá-nos o escape para vencermos a tentação, para que nenhuma tentação seja maior que nossas forças possam vencer, mas ainda assim estamos com alguma facilidade caindo em uma tentação, de duas uma. Ou vemos o escape e não o usamos, ou ainda não entendemos qual é esse escape, uma coisa é certa, Deus não mente, nem muda. Ocorre muito é não conseguirmos usar um escape por não o entendermos, e se o entendemos, não damos a devida importância a ele, teimamos em não aceitá-lo. 
      Escape sempre será uma disposição, uma escolha, uma atitude, uma palavra ou só uma convicção mental e emocional, que nos fortalecerá o suficiente para resistirmos à tentação do mal. Em grande parte das vezes essa tentação não é de algo excepcional, mas daqueles pecados mais comuns do nosso dia a dia, principalmente exagero com apetites do corpo, como sexo, comida e bebida, e obras da carne, como ira e inveja, sejamos honesto sobre isso. O escape nos permite superar essas fraquezas de forma objetiva. 
      Vazios, ainda que limpos, entregamos lugar para o mal, assim, além de orarmos e nos acertamos com Deus, temos que ocupar, de maneira produtiva e positiva, nosso tempo e nossas energias. O escape pode ser só estarmos ocupados com o bem. Mas tudo tem o outro lado, nos ocuparmos em demasia, mesmo com coisas que não são más, pode nos cansar, não só fisicamente, mas emocionalmente. Isso pode nos enfraquecer diante de tentações banais, assim, o escape pode ser descansarmos ou fazer algum lazer. 
      Fazer ou não fazer, o que fazermos? Às vezes estamos tão cansados que não temos forças nem para descansarmos, essa é a situação mais difícil de se descobrir o escape. Numa situação assim só uma atitude de serenidade emocional e vigilância espiritual silenciosa pode nos fortalecer. Essa situação é difícil, mas pode ser consequência de uma insistência nossa numa desobediência, que nos deixou exaustos. A vida é constante aprendizado sobre nós mesmos, coisas a princípio boas, podem se mostrar prejudiciais depois. 
      Minha experiência pessoal no momento em que escrevo este texto, é que o escape de Deus para mim, é aceitar pela fé uma informação que o Espírito Santo tem me dado nos últimos dias, e que eu não estou querendo aceitar. Nessa dúvida fico aflito, aflito fico ansioso e como efeito, enfraquecido. Aceitar o que Deus está me dizendo confirma tudo que minha fé pessoal em Deus me ensinou e me deu até aqui. Vou só descansar e aceitar, confiar no Deus que tem me conduzido em vitória, eis o escape para mim agora. 

05/04/23

Paciência e respeito

      “Sede pois, irmãos, pacientes até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba a chuva temporã e seródia.Tiago 5.7

      As pessoas têm missões absolutamente solitárias neste mundo, o que delas é cobrado, o que elas conseguem responder dessas cobranças, o que elas procuram no mundo, o que as entristecem, o que as fazem felizes e as deixam vitoriosas, só elas e Deus sabem. Nós podemos nos encontrar com elas em algum nível de relacionamento, podem ser amigos que achamos na escola, na faculdade, vizinhos que moram perto de nós, podem ser colegas de serviço, irmãos de igreja, e mesmo familiares próximos e cônjuges, pessoas que queremos e achamos conhecer, mas creia, não sabemos de fato quem são as pessoas. 
      Com todas essas faremos alianças pelas quais teremos deveres e direitos, seja como amigos, como parentes, como cônjuges, como empregados, como patrões, como irmãos de religião, como líderes em igrejas, mas com todas devemos ter o cuidado de sermos pacientes e respeitosos, olhando-as como criaturas muito especiais de Deus, e sempre mistérios para nós. Não podemos mudar ninguém, não temos que mudar ninguém, ninguém é igual a ninguém, nem tem que ser, e ainda que como cônjuges compartilhemos os corpos e cumplicidades e intimidades, sempre haverá nas pessoas lugares fechados e inacessíveis. 
      Se por algum motivo acharmos que temos mais direito a esses lugares que outras pessoas, as pessoas se fecharão e se afastarão, da mesma forma que nós nos protegemos. Sempre, sempre, mesmo com filhos, que vieram ao mundo por autorização nossa, que foram criados por nós, que estiveram sob nossas autoridades por um bom tempo, mesmos a esses devemos dar o direito de serem seres independentes, com privacidade, com livre arbítrio, e com uma solidão inerente a todo eles. Viajantes solitários sofrem, e como administram seus sofrimentos é particular de cada um, importa respeitarmos profundamente a dor de cada um. 
      Não entender e não aceitar isso é o que nos faz muitas vezes sofrer e aos outros desnecessariamente. As pessoas têm direitos, mesmo de não quererem nos dar direitos, e quando é assim devemos simples e educadamente nos afastarmos. As pessoas têm direito de não nos amar, mesmo que as amemos, elas têm o direito de não nos entenderem e mesmo de não nos respeitarem, e nós temos o dever de as respeitarmos por isso, não nos acharmos melhores e não querermos mudá-las, ainda que as amando e orando por elas. Resumindo, tenhamos paciência e respeito com todos, não tentemos mudar ninguém, só a nós. 

04/04/23

Vaidade, a pior tentação

      “E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus.Mateus 19.16-17a

      O ponto desta reflexão não é a passagem do jovem que se achava um ótimo religioso, mas que tinha o coração preso à riqueza (Mateus 19.22), o ponto são as tentações que Jesus teve. De cara podemos dizer que foram duas, as iniciais, colocadas diretamente por satanás no deserto, no início de seu ministério (Mateus 4.1-11), e sua prisão, tortura e morte que seguiram a oração que ele fez no jardim de Getsêmani, onde nos parece que ele adquiriu a noção exata de como seria seu terrível fim (Mateus 26.36-46). 
      Ambas as tentações acima foram extremas, mas foram rápidas, penso que a grande tentação que Jesus sofreu por mais tempo, foi a do tipo que o jovem do texto bíblico inicial o submeteu, quando o chamou de bom mestre, nela foi tentada sua vaidade, talvez a área mais perigosa que o mal nos tente. Muitos pastores, pregadores e músicos começam certo, com humildade, sem fazer exigências, mas à medida que se tornam conhecidos podem cair na tentação de se acharem dignos demais. 
      Todos nós, que desempenhamos nossas chamadas e vocações de Deus, em Deus e para Deus, somos dignos, mas daquilo que Deus nos dá. Deus não dá nada que faça com que nos percamos, e a pior perdição não é no mundo, mas dentro de nós, quando tiramos o Senhor do trono de nossos corações e nos colocamos. Deus é exclusivo, o lugar que ele ocupa ninguém mais ocupa, e quando isso acontece o Senhor honra o humilde que o deixa reinar em seu trono com dignidade. 
      Contudo, quando nós assumimos o trono de nossos homens interiores, junto de nós, usurpadores ganham lugar e holofotes, são os homens manipuladores, gananciosos, assim como seres espirituais malignos, que usando uma carência mal resolvida em vaidade, nos usam e nos fazem usar as outras pessoas. Jesus resistiu à vaidade, e tenha certeza, o mal deve tê-lo tentado muito nisso, quando via os milagres, as curas e as libertações que Deus fazia por seu intermédio entre os homens.
      Muitos de nós clamamos que sejamos usados por Deus como Jesus foi, e muitas vezes usando textos bíblicos como álibis para isso (João 14.12). Contudo, será que estamos preparados para o day after, o que pode ocorrer depois de Deus nos usar, a reincidente veneração que os homens fazem aos milagreiros? Deus não dá asas a cobra, nem medo de água ao peixe, muitos de nós sucumbiríamos à vaidade, e depois nos acharíamos no direito de fazer exigências pelas maravilhas que fizemos. 
      Isso não é motivo para não sermos usados formidavelmente por Deus, mas com certeza é razão para sabermos o que Deus tem para nós, então, fazermos isso com humildade e muita vigilância. Por isso existem muitos homens e mulheres de Deus atualmente, mas muitos dos genuínos estão no anonimato, discretamente amando, servindo e orando, poucos sabem deles. Esses não são ricos, não por serem reconhecidos por igrejas, mas são cuidados especialmente por Deus, o céu os honrará. 

03/04/23

Na luz as trevas somem

      “Bom é ter esperança e aguardar em silêncio a salvação do Senhor.Lamentações 3.26

      Muitas acusações que recebemos dos homens, às vezes verbalizadas, outras vezes assopradas por espíritos malignos que acham legalidade na maldade alheia ou em nossa sensibilidade, não devem ser refutadas no mesmo nível. Bem, isso é o que aprendemos nas bem-aventuranças de Mateus capítulo cinco, podemos anular essas acusações reagindo certo, perdoando quem nos acusou, deixando claro para o mundo espiritual que a mentira não nos pertence. Contudo, às vezes a acusação deve ser acolhida, aceita de todo o coração, mas não para sermos torturados por ela, mas para anulá-la. 
      Alguém pode perguntar, “como assim, aceitar acusação mentirosa, sem reagir, em silêncio?”, isso mesmo. Fazer com que a acusação ecoe e nos atormente ou fazer com que ela desapareça, depende da qualidade de nosso homem interior, de nossa vida mais constante e profunda com Deus e suas virtudes. O humilde que acolhe a acusação, não a reterá mais que por um instante, trevas desaparecem sob a luz, mentiras não resistem à verdade. Assim, muitas acusações, aceite-as, não resista nem reaja, se o que você tem dentro de você for boa verdade, a mentira que entrou simplesmente sumirá. 
      Cuidado, o mal é ardiloso, muitas vezes estamos bem, andando próximos ao Senhor, em amor com as pessoas, cumprindo todas as nossas obrigações, então, o mal nos lança uma mentira que consegue nos desestabilizar. O mal não precisa da verdade, só de tempo e de espaço, assim, mesmo uma oração sincera para confrontá-lo e expulsá-lo, já é muito mais que ele merece. Se estamos em paz com Deus o mal não precisa mais que de nosso silêncio, mostrando a ele que temos mais o que fazer, que nosso templo interno não tem espaço para ele, que esse espaço já está ocupado com o Espírito Santo.

02/04/23

Nova Babel ou Espírito Santo? (2/2)

      “Em toda a terra havia apenas uma língua e uma só maneira de falar. Os homens partiram do Oriente, encontraram uma planície na terra de Sinar e habitaram ali. E disseram uns aos outros: — Venham, vamos fazer tijolos e queimá-los bem. Os tijolos lhes serviram de pedra, e o betume, de argamassa. Disseram: — Venham, vamos construir uma cidade e uma torre cujo topo chegue até os céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra. Então o Senhor desceu para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens estavam construindo. 
      E o Senhor disse: — Eis que o povo é um, e todos têm a mesma língua. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo o que planejam fazer. Venham, vamos descer e confundir a língua que eles falam, para que um não entenda o que o outro está dizendo. Assim o Senhor os dispersou dali pela superfície da terra; e pararam de edificar a cidade. Por isso a cidade foi chamada de Babel, porque ali o Senhor confundiu a língua de toda a terra e dali o Senhor os dispersou por toda a superfície dela.” 
Gênesis 11.1-9

      Alguns estudiosos de ocultismo e magia dizem que a língua que se falava até a torre de Babel, era um idioma único vindo desde o Jardim do Éden, e era uma língua com capacidades mágicas. Esses estudiosos dizem que Deus, confundido os seres humanos em Babel, distribuindo idiomas diferentes aleatoriamente, teve a intenção de fazer com que essa língua mágica fosse perdida, para que o homem não a usasse mais, não banalmente por qualquer um. A Bíblia não nos oferece argumentos para essa tese, mas algo é claro, a união de homens maus é um perigo para a própria humanidade, assim, Deus quebrou essa união de um jeito prático e simples, impediu que eles tivessem facilidade de se comunicar. 
      Interpretarei a lição de Deus sobre isso, não pelo fato em si, mas pelo simbolismo por traz daquilo que Moisés registrou sobre a Torre de Babel, dessa forma não como um acontecimento ao pé da letra. Mas não se escandalize, quem crê num Gênesis ao pé da letra, ainda que seja isso, existe uma lição simbólica e atemporal nesses textos, assim como em toda a Bíblia, que nos revela coisas mais profundas. Entender ou não a Bíblia ao pé da letra, é só uma questão de em quanto tempo cremos que Deus fez algo, assim, que Deus confundiu os homens com línguas diferentes não tenho dúvida, mas se ele fez isso num dia ou em séculos, aí está a diferença, que para o propósito de Deus não faz diferença. 
      Se uma língua “espiritual” teve quer ser esquecida para que o ser humano não se afastasse mais de Deus, uma língua espiritual pode aproximar todos os homens do Senhor, a língua do Espírito Santo. Ah, quantos mistérios há nisso, se evangélicos entendessem, e mesmo muitos que se denominam pentecostais e carismáticos não entendem. Sentem os primeiros êxtases que a comunhão mais íntima com Deus traz a seus débeis corpos e param aí, querem os primeiros efeitos, não a causa primal em toda sua plenitude. Mas Deus é amor, atrai a todos sem acepção, cuida de todos sem preferências, ainda que muitos, beneficiados com seus dons, administrem o cristianismo no mundo de forma tão equivocada. 
      Por outro lado, se muitos negam o dom do Espírito de Deus, todos os maravilhosos ensinos que o Santo Espírito pode dar, toda a força moral que o conhecimento da palavra desse Espírito pode oferecer, muitos têm escancarado suas vidas para uma nova Babel, que tem reunido o mundo inteiro num só lugar, onde o ego humano é adorado e o nome Deus, no máximo, é usado, ou tentado ser. Essa nova Babel é a internet, as redes sociais, o comércio virtual, hoje as pessoas não são possuídas por espíritos malignos, mas por celulares. Entendam certo, não estou demonizando celular e internet, podem ser instrumentos do Espírito, mas para isso ocorrer talvez uma nova confusão de línguas deva ocorrer. 
      Os covardes se fortalecem quando se unem, mas o verdadeiro filho de Deus será invencível, ainda que sozinho, pois fala a língua do Espírito Santo, e essa é vida eterna. Esse falará, não será entendido por muitos, mas a todos entenderá, esse conhece os corações dos homens, discerne trevas de luz, mentiras da verdade, esse não ficará confuso no que muitos chamam de “final dos tempos”, pois esse sabe que não existe fim, não existe morte, só passagens, atraindo sempre o ser humano para Deus Altíssimo. Que língua você fala, com quem você se identifica, com Babel, promovendo fake news, negacionismo científico e vaidades na internet? Ou com Deus, falando a língua do Santíssimo Espírito? 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

01/04/23

Que língua você fala? (1/2)

      “E nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, a pessoa natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura. E ela não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém a pessoa espiritual julga todas as coisas, mas ela não é julgada por ninguém.” I Coríntios 2.12-15 
(amo essa passagem, perdoe-me por usá-la com frequência)

      “São 6.909 línguas diferentes faladas ao redor do mundo, segundo o compêndio Ethnologue, que cataloga os idiomas do nosso planeta desde 1950. Mas a maioria desses idiomas a gente quase não ouve: 6.520 línguas (cerca de 94% do total) estão na boca de apenas 6% dos habitantes da Terra, enquanto o restante da população mundial usa apenas 389 idiomas.” Fonte

      Não somos chamados para falar com todos, sermos entendidos por todos, não com respeito a certas visões de mundo e experiências espirituais. Alguns assuntos muito importantes para nós, somente alguns poderão ouvir, entender, crescer e nos fazer crescer. É como se houvesse um outro idioma, não ligado ao país ou região em que fomos criados neste mundo, nem à formação intelectual e profissional que recebemos, mas à visão e vivência morais e espirituais. Entendermos isso é sermos eficientes, felizes, assim como instrumentos de bênção para pessoas específicas, que podemos encontrar quando ouvimos a voz do Espírito Santo, obedecendo a chamada que Deus nos dá neste mundo. 
      Entenda corretamente o que foi dito, todos temos a obrigação, se não por amor cristão por educação social, de nos comunicarmos com todos, com respeito e objetividade. Isso é necessário não só no nosso crescimento como ser humano, visto que somos chamados para viver em sociedade, como para desempenharmos atividades profissionais, como prestadores de serviço, compradores, vendedores, consultores, empregados, patrões etc. A restrição a que me refiro tem a ver com preferências e percepções mais pessoais, como ideologia política e religião, nessas áreas uma pessoa não precisa pensar como a outra, assim como não deve achar que pode ou deve mudar o pensamento alheio. 
      Ainda assim uma tentativa, serena, educada, com amor, expondo-se, não impondo-se, pode ser feita para compartilhar determinado ponto de vista com quem sabe-se que tem ponto de vista diferente, mas nesse caso, surgindo uma oposição onde não se acha concordância, alguém deve encerrar a polêmica, podendo seguirem como amigos, ainda que com pontos de vista diferentes. O mais espiritual deve se calar primeiro, e de maneira alguma sentir-se melhor por isso, ainda que saiba que tem argumentos mais legítimos. O ideal é que todos sejam espirituais, e se há divergência que não acrescenta algo, alguém não é, espirituais são humildes e aprendem mesmo com as diferenças. 
      Por exemplo, católico tentar convencer evangélico que sua fé em santos é legítima e  não é idolatria, ou evangélico tentar convencer afro-espírita que as entidades com as quais esses se relacionam não são de Deus, são discussões inúteis. O melhor que pode ser feito, quando houver abertura e muitos de nós são amigos próximos de pessoas com religiões diferentes das nossas, é explicarmos nossa maneira de crer, com muita calma e amor, e depois ouvirmos, também com muita calma e amor, a maneira do outro crer, não fazendo juízo de valor, só constatando diferenças. O que pode convencer são nossas obras práticas de vida moral, santidade, amor e justiça, não as teorias e as doutrinas em que cremos.  
      A verdade, contudo, é uma, e agora chegamos no ponto desta reflexão: certas pessoas falam o nosso idioma e outras não. Me refiro a um “idioma” espiritual, moral, afetivo, assim, algumas pessoas, mesmo que tenham religiões diferentes das nossas, nos entenderão e nos ouvirão até que com facilidade. Outras, contudo, ainda que frequentem a mesma igreja que a gente, nunca entenderão de fato o que queremos em Deus e como entendemos espiritualidade. Irmão em Cristo, eis um termo que tenho muito cuidado em usar, já achei melhores irmãos espirituais fora de igrejas evangélicas que dentro, que são amigos para todas as horas, sem falso moralismo, preconceitos ou sob concessões. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

31/03/23

Enoque andou com Deus (4/4)

      “E foram todos os dias de Enoque trezentos e sessenta e cinco anos. E andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou.Gênesis 5.23-24

      Adão gerou a Sete que gerou a Enos que gerou a Cainã que gerou a Maalalel que gerou a Jerede que gerou a Enoque, assim, pela narrativa bíblica, Enoque é a sétima geração de homens na Terra, ou conforme pode ser mais lúcido entender, a sétima geração de homens “selecionados” a partir de Adão, o primeiro homem “selecionado”. Com “selecionado” não entendo que só houve esses homens, essas famílias, mas esses foram selecionados pela narrativa de Moisés como patriarcas da nação de Israel, do povo judeu atual. Enoque, nessa narrativa, gerou a Matusalém, esse a Lameque, esse a Noé e esse a Sem, do qual descendeu Abraão, portanto, Sem é o décimo primeiro homem “selecionado” pela narrativa em I Crônicas 1.1-4 (autoria atribuída a Esdras). 
      Para a Cabala, o esoterismo judaico, assim como para ocultismos e outras filosofias mágicas, essa genealogia e principalmente Enoque e sua experiência peculiar, têm muita importância. Há até um livro aliado a Enoque, com cópia mais antiga de 200 a.C. e considerado apócrifo pelo cristianismo, onde descrições precisas de seres espirituais, suas hierarquias e funções, são colocadas. Judas (1.14-15), livro do cânone bíblico oficial tanto da Bíblia católica quanto da protestante, cita claramente uma passagem do livro de Enoque, prova que esse livro era conhecido e aceito no primeiro século, mesmo por discípulos de Jesus. A religião oficial que Moisés parece começar a descrever com Enos, tem uma excessão em Enoque?
      Enoque andou com Deus e não apareceu mais, com certeza das passagens mais intrigantes da Bíblia, sobre ela não temos maiores explicações, mas podemos conjecturar. Não tem como não aliar isso a arrebatamento do Espírito Santo, experiência que pode-se ter ainda em vida, como teve Paulo (II Coríntios 12.2-4), ainda que no caso de Enoque ele foi e não voltou, assim, experiência mais semelhante com a de Elias, que desapareceu ainda vivo num carro de fogo (II Reis 2.11). Há citações fantásticas na Bíblia, que a rasa doutrina tradicional cristã não pode explicar, se muitos evangélicos quisessem, poderiam perguntar a Deus e conheceriam mistérios, que para eles são assuntos proibidos e mesmo diabólicos, quando não são. 
      Pode-se entender a narrativa de Moisés na Torá como exotérica, isso é, um texto primário e para o povo comum sobre a relação do ser humano com espiritualidade. Algumas coisas até são citadas, mas não aprofundadas, devem ter sido citadas porque já faziam parte da tradição oral, da mitologia israelita, eram de conhecimento popular. A narrativa esotérica, contudo, ficou para outros livros e outros leitores, que textos da Cabala estudam com mais aprofundamento. Sabe quem quer saber, contudo, quem escolhe não querer saber, não fica só com restrições de informações, mas limita também seu fortalecimento moral, assim como pode se tornar presa fácil de manipuladores religiosos, que dominam pelo medo do desconhecido. 
      Penso que o questionamento mais importante, e mais útil, não seja como Enoque sumiu, mas por que ele sumiu. Muitos se atêm a como e a o que ocorreu depois, fazendo uso de especulações, que apesar de poderem revelar mistérios sobre o mundo espiritual não oferecem aquilo de mais importante que Deus quer nos ensinar. É importante conhecermos mais o mundo espiritual? Eu creio que sim, mas o mais importante é termos virtudes morais, sermos mais santos, amarmos mais, sermos mais pacientes, não julgarmos nem termos preconceitos. Enoque foi tomado por Deus ainda em vida, sendo livrado de enfrentar a morte física, porque tinha virtudes morais elevadas, tinha entendido e cumprido sua missão no tempo e na Terra. 
      Muitos querem ser arrebatados no espírito para conhecerem mistérios, e muitos até conseguem isso, ainda que não pelo Espírito Santo. Contudo, poucos querem pagar o preço que Paulo, Elias e Enoque pagaram, com certeza vidas consagradas, humildes e fiéis. O importante é que Enoque andou com Deus, se ele não apareceu mais depois, ou não, se Deus o tomou para si em vida, ou não, isso é com Deus. Sou um ferrenho defensor de que quem quer saber, sabe, e tem direito a isso, ainda que as instituições religiosas digam que não, mas mais importante que isso é termos vidas práticas como a de Jesus. Isso será avaliado em nós na eternidade, e não sabermos nomes de anjos e mesmo termos mais ou menos dons espirituais. 

30/03/23

Origem de uma religião (3/4)

      “E tornou Adão a conhecer a sua mulher; e ela deu à luz um filho, e chamou o seu nome Sete; porque, disse ela, Deus me deu outro filho em lugar de Abel; porquanto Caim o matou. E a Sete também nasceu um filho; e chamou o seu nome Enos; então se começou a invocar o nome do Senhor.Gênesis 4.25-26

      A afirmação de Moisés no final do versículo vinte e seis do capítulo quatro de Gênesis é intrigante: se começou a invocar o nome do Senhor. Mas como assim, antes isso não era feito? A Bíblia não deixa claro o que significa essa informação, assim o que podemos fazer são suposições. Penso que com “invocar” o escritor se refere a uma busca de Deus de maneira mais formal, isso pode ser o registo do surgimento de uma religião, no sentido de se estabelecer um contato com o divino de forma institucional. Pelo time (leia como tempo em inglês) da narrativa bíblica, o período que se passou entre a criação do primeiro casal, o nascimento dos dois primeiros irmãos, o assassinato de Abel, o exílio de Caim, o nascimento de Sete e a vida de Enos, nos parece rápido e ininterrupto, uma pessoa sendo diretamente conectada a outra. 
      Se foi mesmo assim não podemos afirmar, na verdade, e aqui vai uma grande conjectura, nem sabemos se a “história” relatada nos quatro primeiros capítulos de Gênesis se refere à humanidade em todo o planeta Terra, ou apenas a um povo específico, o israelita ou judeu, em uma região no Golfo Pérsico. A favor dessa possibilidade podemos argumentar com a pergunta clássica: como o homem se multiplicou existindo só Caim, Abel e Sete? O mais sábio e para mim o que o Espírito Santo orienta, é entendermos que os personagens selecionados e relatados por Moisés têm o propósito de nos ensinar lições que para Deus são relevantes aprendermos, assim busquemos entender esse propósito divino, e não usar os textos de Gênesis como informações históricas e científicas. Isso não é pecado, meus caros evangélicos. 
      Existe um princípio no estudo científico da história, o texto muitas vezes pode revelar muito mais sobre o escritor e seu tempo, que sobre os fatos, os personagens e os tempos desses no texto. Gênesis pode nos dizer muito sobre Moisés, dito autor do livro, sobre suas relevâncias e propósitos ao ter escrito o livro, assim como boa parte do Pentateuco. Moisés construiu não só a religião e o estado de Israel antigo, quando libertou a nação do Egito e recebeu a Lei de Deus, como também estabeleceu a base cultural dos judeus, e fez isso de uma maneira moderna e eficiente, registrando em textos a criação de Adão e Eva, a seleção de Noé e seus filhos, a chamada de Abraão, até a transformação dos filhos de Jacó em famílias e finalmente numa nação. Se Moisés tinha propósito, Deus ainda mais com a visão de mundo de Moisés. 
     Por isso, ainda que levado como escravo, migrando de um país para outro, vivendo em várias regiões do mundo durante milênios, o povo judeu manteve, não só sua saúde física, visto que a Torá também dá orientações sobre higiene e saúde, mas também sua integridade cultural. Pode-se matar pessoas, mesmo milhões delas, mas não se extermina uma ideia, a “ideia Israel” está bem definida nos textos de Moisés e em outros textos israelitas. Podemos dizer, que mais até que Abraão ou Davi, Moisés é o criador do povo judeu, e é sobre essa cultura que o cristianismo de Jesus, Paulo e João evangelista, foi construído, dando origem depois ao catolicismo e ao protestantismo. Cristãos são muito mais membros de seitas judaicas que outra coisa, retire a história e a religião do povo judeu deles e não haverá cristianismo institucional. 
      Usei o termo institucional referindo-me ao cristianismo como religião desenvolvida neste mundo, já o verdadeiro cristianismo, que está no coração de Deus, no centro de sua vontade, dele podemos retirar muita coisa que não fará diferença. O que deve ficar? Jesus, sua vida e morte como homem e sua existência eterna como Deus. A Bíblia é maravilhosa, aprendo com ela todos os dias, mas como sempre digo, entendemos sua melhor relevância quando a lemos com inteligência científica e unção genuína do Espírito Santo, uma leitura assim nos direcionará a Cristo. Qual o objetivo de Moisés registrando a declaração “então se começou a invocar o nome do Senhor”? Informar a origem de sua religião, aquela que se concretizaria com as leis, os mandamentos e os protocolos de festas e sacrifícios e ofertas oferecidos num templo. 
      Algo precisa ser dito sobre religiões institucionalizadas neste mundo, elas só nascem quando a origem espiritual pura que veio do outro mundo morre. Até Sete o ser humano buscava a Deus? Sim, buscava, mas de uma maneira mais direta, informal, pura, vide a oferta aprovada por Deus de Abel. O homem ainda tinha viva, de alguma forma, o contato original com Deus que Adão e Eva fizeram, assim não precisava de rituais e regras. Quando o Espírito Santo esfria porque os homens se desviam em algum nível, é preciso criar ritos e liturgias para “encenar” (ritualizar) procedimentos que não podem mais ser exercidos de maneira mais viva e livre. O melhor exemplo disso é o catolicismo, ele não é uma evolução do cristianismo, mas uma seita que surgiu desse, uma visão de homens desviados de uma revelação espiritual direta de Deus, o verdadeiro Cristo.