domingo, outubro 06, 2019

A paz de Deus

      “Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus. Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; Porque eu vim por em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; E assim os inimigos do homem serão os seus familiares. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, acha-la-á.Mateus 10.32-39

      A paz se conquista, através da guerra, uma guerra que se vence. Acha antagônico começar uma reflexão sobre paz falando em guerra? Pois não é, meditemos um pouco sobre isso. Quem fica parado, ou tenta assumir um posicionamento nulo na vida, quem acha que pode não escolher lado, e pensa que o centro é possível, enfim, quem quer isentar-se de lutar, e deseja se colocar na posição de plateia distante, de espectador, na verdade já escolheu um lado. Que lado? Lado nenhum, e lado nenhum também é um lado, e o pior deles, mas não importa, quem não escolhe lado se coloca como inimigo dos dois lados e terá uma derrota dupla, não ganhará os louros com os vitoriosos, nem terá, ainda que como derrotado, a companhia dos perdedores. Isentar-se de lutar não é ser equilibrado, é ser covarde, é ser morno. 
      Em se tratando de paz espiritual, aquela que transcende esse mundo, o corpo físico, a matéria, é imprescindível que nos engajemos numa batalha para conquistar a paz. Não era para ser assim originalmente no plano de Deus, mas o mesmo livre arbítrio que deu ao ser humano uma potência divina, a liberdade, o colocou numa guerra, uma guerra causada pelos próprios seres humanos, depois que eles escolheram comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Deus sabia disso de antemão, e eu pessoalmente penso que a humanidade nunca teve opção, não por ela mesma, ela estava fadada desde o início a pecar e se afastar de Deus. Isso sempre esteve no plano do Altíssimo, por mistérios que desconhecemos. 
      Assim a guerra começou, e dois posicionamentos se definiram, de um lado os anjos caídos e os demônios mostrando um caminho, e do outro lado, Deus, mostrando sua vontade primeiramente pela velha aliança mosaica e depois pela nova aliança do evangelho de Jesus. Se há guerra é porque existem dois lados que se antagonizam, mas esses dois lados não são Deus e o diabo, ainda que tenham posicionamentos opostos. Deus e o diabo não estão em guerra, nunca estiveram, o Diabo só tem a liberdade, permitida pelo próprio Deus, de agir a sua maneira e de apresentar isso ao homem. A guerra existe no coração do homem, entre fazer a vontade de Deus ou do Diabo, uma guerra que se extende para toda a humanidade, quando os homens se agrupam, por um motivo ou outro, e lutam por seus egoísmos. 
      Se todos os homens escolhessem obedecer a Deus não haveria injustiça, não haveria egoísmos, e portanto, não haveria guerras. Seja em seu coração ou com os semelhantes, o homem é que faz a guerra, e mesmo os que escolhem obedecer a Deus batalham, lutam para não serem egoístas, nem serem injustos, lutam consigo mesmos e com os outros homens. Mas os que obedecem a Deus não lutam para destruir a si mesmos ou aos outros, lutam para deixarem que Deus apareça, mostre sua vontade, seja glorificado acima deles, lutam para que a vontade de Deus seja feita, a luta do cristão ocorre de um jeito inverso. O cristão verdadeiro luta para perder, não para ganhar, ele só ganha quando perde, parece estranho? Mas não é, e isso também não significa que ser cristão é ser bobo ou covarde, sem opinião, nulo, se fosse assim ele não estaria em guerra. 
      Vencer a própria vaidade, a obsessão por prazeres carnais, os vícios, a ira, a vontade de dar a última palavra, de se vingar, de querer fazer justiça com as próprias mãos é a mais dura das batalhas, e só vence quem tem o Espírito Santo no coração e dá liberdade para que ele aja. Mas o resultado é a paz, uma paz que nada no universo pode dar. Entender e praticar o conhecimento de que só se ganha quando se perde em Deus, é um dos maiores segredos do evangelho, é a essência da obra redentora de Jesus. Só quem luta vence a batalha e ganha a paz, que luta? A luta que cada um de nós faz com nós mesmos, com mais ninguém, o Diabo não é nosso inimigo, muito menos os homens. 
     Alguém poderá argumentar, mas Paulo não ensina em Efésios 6.12 que “não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”? Sim, mas essa luta maior, que Daniel também teve quando orava por Israel, é um privilégio que poucos podem ter. Há de se ter um certo quilate como servo de Deus para fazer essa batalha. Primeiro temos que vencer a nossa carne e as tentações menores que o Diabo coloca diante de todos os seres humanos, para tentar derrotar nossas vidas pessoais como indivíduos. 
      Lutar contra potestades na obra de Deus, é outro nível de batalha espiritual, poucos estão de fato preparados para isso (e como tem gente despreparada ou sem ordem de Deus querendo fazer grandes batalhas espirituais). Mas paz pessoal é preciso lutar para ganhá-la, acomodado ou indiferente não conquista paz espiritual que Deus quer dar por Jesus. A vida é uma grande batalha pela paz pessoal, pela tranquilidade íntima, que quando é obtida e mantida dá forças para se conquistar outras coisas nesta existência. Um coração em paz é invencível, por isso o mal tenta antes de tudo, e de todos os jeitos, roubar nossa paz. Nessa batalha até nossas famílias poderão se colocar contra nós, mas vence o que perde, quem se posicionar dando testemunho de Deus ainda que perca o apoio dos homens. 

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