sábado, março 27, 2021

A luz está em nós

      “E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis.Ezequiel 36.26-27

      Costumava entender minha caminhada espiritual neste mundo, com a finalidade de conhecer e obedecer a Deus, como um movimento em relação a uma luz no horizonte, distante, pequena, mas forte e suficiente para me mostrar a direção, essa simbologia não é inadequada, pode servir para nos ensinar muitas coisas. Contudo, orando a Deus numa madrugada recente, necessitando de um esclarecimento que me desse paz sobre tudo que tenho estudado sobre religião e espiritualidade, “vi” um entendimento diferente, que me consolou com relação a questionamentos que tenho feito ao cristianismo tradicional. Tenho aprendido nesses quarenta e cinco anos de convertido ao evangelho, e creio que tenho sido levado a isso pelo Espírito Santo, que é preciso fazer reavaliações sobre o que me ensinaram sobre o cristianismo pela doutrina tradicional de igrejas protestantes e evangélicas que tenho participado, como tantas vezes já disse aqui. 
      Não podemos aceitar tudo como nos dizem que é, é preciso confrontar teorias e práticas, verificar se nossa vida é coerente com o que acreditamos, entender onde chegamos em termos de libertação e santidade, saber o que é de fato vontade de Deus e o que é mera tradição humana, muitas vezes embasada em preconceitos. Ainda que não abramos mão do principal, de Jesus como o único e suficiente salvador que nos liga ao Deus verdadeiro, podemos descobrir que existem muitas verdades em outros textos e em outras religiões. Todavia, esse conhecimento que contemplamos pode brilhar à nossa frente com cores fortes e variadas, tentando nos atrair em suas direções, assim podemos achar que aquela luz inicial é só mais uma, e às vezes pode nos parecer até menos atraente. Isso nos leva a uma pergunta, onde de fato está a luz mais clara de Deus, será que está lá na frente, em meio as outras luzes, será que é só mais uma luz? 
      Na visão que tive, me vi na escuridão e a única coisa que havia para iluminar meu caminho era uma lamparina que eu levava na mão com uma pequena chama produzida por um óleo que queimava e exalava um agradável perfume. Muitas vezes achamos que a luz é algo que está lá na frente e que nos dá a direção a seguir, mas na verdade a luz está conosco, como uma lamparina a óleo, que seguramos na mão e usamos para iluminar o caminho. Nessa ótica nossa missão não é atingir um alvo distante, onde enfim seremos nosso melhor, mas é caminhar, é no processo que crescemos, de forma lenta e gradativa, ainda que nele só vejamos um momento de cada vez. O que realmente nos espera à frente sabemos que existe pela fé e não nesse mundo, não por vista, o que vemos são só poucos metros à frente de cada vez, e ainda que vejamos luzes, elas não são nosso objetivo, é a luz que está em nossa mão que nos mostra o caminho.
      Querer ver luzes à frente e tentar achar relevância nelas pode nos deixar encantados, assim podemos ser seduzidos por brilhos fantásticos, mas que não são a luz branca e mais pura, enganados esquecemos a lamparina que temos na mão podendo sair do caminho estreito e melhor é ir para uma vasta região de trevas. De posse de nossa luz pessoal recebida do Altíssimo só vemos o caminho à medida que andamos nele, revelado pela luz que não está fora de nós, mas em nossas mãos, ou melhor, dentro de nós, que por nos mostrar a direção aos poucos faz com que sejamos humildes e pacientes, confiando no Senhor que nos habita, não nos falsos deuses que se mostram nos lugares altos. É certo que quem tem um Sol externo como guia num dia sem fim tem mais facilidade para saber para onde vai, ainda que não tenha no coração as melhores intenções para caminhar ou que seja ocioso e egoísta, caminhar assim é até mais simples.
      Contudo, a jornada para o Deus verdadeiro neste mundo não é assim, estamos em trevas numa longa noite, a única coisa que temos para iluminar nosso caminho é a lâmpada com o Esprito Santo, e ainda que o Espírito Santo seja eterno e ilimitado, a lâmpada é pequena, ela é nosso homem interior. Olhar para fora da luz do Espírito Santo é perigoso, podemos ser tentados a pensar assim, “quer saber, as luzes lá na frente são tão lindas, grandiosas, bem mais interessantes que essa luzinha que levo”. As falsas luzes são coisas diferentes para pessoas diferentes, para algumas podem ser conhecimentos intelectuais e espirituais, que explicam detalhadamente o que é a vida e o que é Deus, podem parecer nos mostrar um jeito de encarar tudo de maneira mais racional, e que exige de nós até menos fé. Mas essas luzes podem ser também os prazeres físicos fáceis, pelos quais não precisamos vigiar, só nos entregarmos a eles, como tantos fazem.
      Luzes multicoloridas externas, sejam espirituais ou materiais, são falsos Sóis, o Sol verdadeiro de Deus só veremos depois de passarmos deste mundo para o outro, aqui só temos a luz que recebemos do Senhor, e que não está lá longe, mas dentro de nós, como uma lâmpada com óleo em nossas mãos. Ela não mostra todo o caminho, mas revela-o aos poucos, só os pacientes, persistentes, fiéis e humildes continuarão seguindo, passo a passo, sem se iludirem com outros brilhos, mas seguindo por onde o Espírito Santo mostra, pela fé que um dia chegarão ao Sol eterno, Deus Altíssimo, no dia eterno da melhor eternidade do Senhor. Não que não possamos aprender algo com as outras luzes, mas nossa referência maior deve ser aquela que levamos em nós e que nos foi entregue, não por homens, anjos ou espíritos, mas diretamente por um Deus fiel, de luz e cheio de amor, que nos trouxe até aqui em vitória e nunca nos abandonará. 

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