segunda-feira, outubro 11, 2021

Militância materialista (11/31)

      “E dizia também aos seus discípulos: Havia um certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de dissipar os seus bens. E ele, chamando-o, disse-lhe: Que é isto que ouço de ti? Dá contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo. E o mordomo disse consigo: Que farei, pois que o meu senhor me tira a mordomia? Cavar, não posso; de mendigar, tenho vergonha. 
      Eu sei o que hei de fazer, para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas. E, chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor? E ele respondeu: Cem medidas de azeite. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e assentando-te já, escreve cinqüenta...” 
      Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso? Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” 
Lucas 16.1-6, 10-13

      Nada deve ser imposto, ainda que se ache que se tenha bons argumentos, assim religião não pode ser imposta, ainda que se acredite que uma religião seja mais verdadeira que outra, e mesmo ciência - como religião, já que muitos a encaram assim - também não pode ser imposta. Ciência torna-se religião quando desconsidera Deus, e algo que se coloca no lugar de Deus se torna um deus, e como tal, uma religião. Eu não creio num gênesis interpretado ao pé da letra, considero a ciência para me ajudar a entender o que Moisés registrou, de acordo com a tradição oral que chegou até ele. Contudo, muitos materialistas querem impor a ciência desprezando a existência de um ser mais alto, mais poderoso, criador e eterno, com objetivos ativos de amor para a humanidade, cuja existência ou não, nem a ciência pode afirmar. 
      Atualmente existem pessoas, principalmente entre as com mais poder aquisitivo, bem formadas intelectualmente, que militam pelo bem do planeta e que defendem a ciência, mas que se portam como aqueles evangélicos extremistas, puritanos e usando roupas diferentes. Esses cientificistas se consideram sinceramente superiores a muitos cristãos, se acham mais lúcidos que esses, mas na prática afetiva de vida são bitolados, indisponíveis a diálogo e só confiam socialmente em pares. Eles querem impor uma liberdade que nem eles possuem, mas são adeptos de toda nova moda pedagógica que surge, doutrinados pela mídia e com muito medo de perderem empregos ou serem interpretados como ultrapassados por empresas, também administradas por empresários que são seus pares, adeptos da mesma idolatria materialista-científica. 
      Se existem extremistas tanto na religião quanto na ciência, a conclusão que chegamos é que o que diferencia o ser humano não é o nível acadêmico, a religião, ou a ausência de ambos, mas uma virtude, essa é a humildade. Ninguém tem culpa de ter nascido nesse ou naquele lar, de ter recebido essa ou aquela educação, de ter sido criado com ou sem religião, de ter sido informado com essa ou com aquela relevância de vida, dando valor seja a bens materiais, à intelectualidade, à religiosidade ou a outra coisa. Contudo, humildade é algo que podemos escolher ou não vivenciar, e humildade nada mais é que respeitar, a si mesmo, os outros e a Deus, seja ele quem for e onde estiver. É essa humildade que nos leva a ter o temor a Deus que a Bíblia ensina, ela é o segredo de uma vida feliz e sustentável, em todas as áreas, indiferente das outras escolhas de vida que se faça. 
      Muitas militâncias que a mídia veicula em novelas, filmes, músicas, jornalismo, redes sociais, são só modas burguesas, eis a verdade, a grande maioria da população, ocupada em trabalhar de manhã para pagar o almoço, e depois trabalhar à tarde para pagar o jantar, nem está preocupada com esses modismos. São relevâncias que importam a jovens de classe média alta, que querem salvar o planeta, mas que preferem criar pets que formar família e criar filhos. Esses burgueses não suportariam uma noite com um bebê chorando querendo mamar e tendo fraudas para trocar. Se tiverem um bebê delegarão a tarefa a pedagogos em escolas caras, achando que estão fazendo o melhor para o filho e para a sociedade. Temos que ter muito cuidado com aquilo que a mídia prega como o jeito melhor de se viver, ela não é tão pura como muitos pensam.  
      Que fique bem claro, este texto não é de forma algum uma crítica à classe profissional ligada à pedagogia, existem verdadeiros heróis e heroínas ajudando em creches de educação infantil, fazendo com muito amor e ganhando pouco, o trabalho que aqueles que colocaram tais crianças no mundo não podem ou não querem fazer, e na maior parte das vezes, não podem porque estão trabalhando pela sobrevivência básica. A crítica também não é a pessoas com mais poder aquisitivo, elas não têm culpa de serem o que são. Contudo, repito, humildade pode ser escolhida, e a vida nos confronta com ela à medida que vivemos, se é que vivemos e não fugimos de viver estudando e trabalhando demais, não para ter uma vida digna, mas só para satisfazer ao “deus” dinheiro e à “religião” materialismo. Ninguém pode escolher onde nasce, mas todos podem escolher serem humildes. 
      Numa sociedade ideal, o ser humano faria os primeiros esforços para poder sobreviver fisicamente, para poder pagar por moradia, alimentação e roupa. Depois, se estudasse mais e trabalhasse melhor poderia pagar entretenimento e artes, o ser humano também precisa de tempo livre para lazer e consumir expressões artísticas, isso não é luxo, é necessidade. Depois, se tivesse renda financeira maior, poderia se dedicar a causas filantrópicas e ecológicas, para ajudar os outros e o planeta. Infelizmente é nesse ponto que muitos preferem dedicar-se a si mesmos e mais que o necessário, por isso tantas academias, bares, restaurantes, resorts etc. E quanto à religião? Espiritualidade verdadeira está em todas essas coisas, viver com humildade, respeito, temor a Deus, dando prioridade a virtudes e ajudando o próximo. Todos, em qualquer lugar, podem servir ao próximo de algum jeito. 
      Temos uma ótica materialista da existência, achamos que se formos prósperos no mundo, administrando bem o dinheiro, seremos seres melhores, mas só isso pode representar não sermos fiéis no pouco. Sabe o que é o pouco no texto bíblico inicial? Este mundo, seus valores, e nada disso é nosso de verdade, é emprestado, achar que isso é o mais importante é não entender a vida, é não administrar bem o pouco. Na parábola, o mordomo, com medo de perder o emprego, não cobrou dos devedores o valor que seria justo, mesmos havendo juros justos, caso estivessem com pagamentos atrasados. Cobrar o justo e com juros representaria para muitos hoje em dia serem fiéis no pouco, administrarem com inteligência vida financeira, obterem lucros. Mas o mordomo fez o contrário, cobrou menos, para ficar bem com os devedores, pensando que se perdesse o emprego poderia ser ajudado pelos que ajudou. 
      O senhor, justo, que representa na simbologia Deus, não reclamou da atitude do mordomo, antes o elogiou, reconheceu em sua estratégia sabedoria, o mordomo não pensou no lucro imediato, mas numa relação cordial com as pessoas que poderia ajudá-lo no futuro. O muito da parábola está na eternidade, não em valores materiais, mas em valores espirituais, na eternidade seremos acordados para a luz mais alta de Deus, que nos revelará o que realmente tem valor em nossas existências eternas. Se existirem valores espirituais em nosso interior seremos conduzidos ao céu, senão, só deixará claro o que já existe dentro de nós hoje, o inferno. Se o mordomo tivesse cobrado o valor exato da dívida, poderia até ficar bem com um senhor materialista, mas fazendo amigos ele trouxe para si valores espirituais eternos. O mordomo militou pela militância mais elevada, não pelo materialismo. 

Está é a 11ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

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