domingo, agosto 14, 2022

Vício: culpa e ansiedade (14/92)

      “O homem que anda desviado do caminho do entendimento, na congregação dos mortos repousará. O que ama os prazeres padecerá necessidade; o que ama o vinho e o azeite nunca enriquecerá.” Provérbios 21.16-17
      “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.” Gálatas 5.16-17

      A lei de Moisés e o evangelho de Cristo não são só duas propostas religiosas para uma nação, antes resumem dois caminhos espirituais para humanidades de tempos diferentes. A velha aliança de Moisés evidencia o efeito do pecado, proibindo a prática do fruto, enquanto que a nova aliança de Cristo mostra a causa do pecado, propondo a retirada da raiz antes de crescer e dar o fruto. Pelo evangelho aprendemos que o problema não é comer demais, mas viver com dores morais que buscam na gula uma reparação. 
      As dores mais perigosas que levam a vícios podem ser as mais desnecessárias: a culpa e a ansiedade. Não que essas não sejam legítimas, mas podem ser, em grande parte das vezes, inúteis. Depois que erramos, para que culpa? Inicialmente é útil para reconhecermos o erro e tentarmos não errar mais, mas precisa parar aí. Sobre ansiedade, uma coisa é preocupação responsável pela vida, mas se for maior que a capacidade de vivermos bem é só ansiedade inútil. Às vezes é melhor sermos pragmáticos e só seguirmos. 
      Culpa, ansiedade, cobrança, são as causas, o processo de vencer tudo isso inicia-se com uma decisão racional, precisamos decidir mentalmente que queremos cura para essas coisas. Só sem esses males teremos paz e só em paz não acharemos legitimidade para vícios, os efeitos finais. Mas é preciso entender que causas coexistem com efeitos, assim temos que curar as causas e cessar os efeitos. As causas são morais e espirituais, se resolvem com vida com Deus, mas os efeitos, como vícios de sexo e de gula, são físicos. 
      Pode ser difícil saber o que podemos vencer só com Deus, e o que poderemos precisar da ajuda de profissionais da área de saúde e de remédios. Para não sermos irresponsáveis, se você estiver em algum tratamento, compartilhe sua religiosidade com os médicos, eles são sensatos, ainda que pela ciência, não desprezarão oração e fé. Entretanto, só posicionamentos morais podem não substituir orientação médica e remédios, assim tenhamos sabedoria para receber várias formas de ajuda, Deus usa a ciência. 
      Tendo em mente que você já procurou ajuda da ciência, e que já se aprumou com Deus, assumindo erros, pedindo perdão e se apossando da paz, a questão é como seguir em frente sem recaídas. Vícios não acabam assim num passe de mágica, principalmente se forem os mais leves, e esses podem ser os mais difíceis de ir embora, como os citados, sexo e gula. A frase “um dia de cada vez” tem um sentido importante na cura, liberta-nos da ansiedade de temer o futuro e nos dá paz no que conquistamos hoje. 
      Vícios nos acostumam com um modo de vida, com uma maneira de termos forças para viver, assim livrar-nos deles requer que nos acostumemos com um modo diferente de vida, deixarmos velhos costumes e existirmos com outros. A cura começa na mente porque ela é porta para tudo, o pecado não está nos olhos, nas mãos, no estômago ou nos genitais, mas em nosso interior subjetivo de pensamentos e emoções. Pecado não é material, é espiritual, se não fosse, após a morte, sem corpos físicos, todos iriam para o céu. 
      Como diz o ditado, mente vazia é oficina do diabo, assim uma orientação sempre válida é não ter tempo para bobagens, use momentos livres para coisas boas. Exercícios físicos e boas leituras são atividades que ocupam mente e corpo com ações produtivas e positivas, não adianta ficar na frente da TV ou passando o dedo na tela do celular e achar que estará forte para vencer vícios. Por isso coisas que podem até ser costumes meio obsessivos, como estudo de música e artes, podem ajudar-nos a vencer vícios mais graves. 
      O ideal é acharmos serenidade plena, onde mesmo não fazer nada não nos deixa fracos, só substituir uma coisa por outra um dia não resolverá mais. Essa serenidade se conquista com equilíbrio de todo nosso ser, corpo físico, mente, coração e espírito. Nela nos alimentamos certo, fazemos exercícios físicos, temos o afetivo resolvido, indiferente se estamos sozinhos ou acompanhados, crescemos intelectualmente com uma relação lúcida com estudos e área profissional, e praticamos uma comunhão espiritual crescente com Deus. 
      Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne, até que ponto entendemos isso? Novamente dizemos, vida espiritual começa na mente, se muitos cristãos soubessem disso entenderiam porque religiosos orientais dão importância à meditação e restrições alimentares, ainda que muitos desses não tenham experiência direta com Jesus espiritual, aprenderam que espiritualidade começa no controle da mente. Cristãos ocidentalizados dão mais relevância a ações e palavras que a pensamentos e sentimentos.
      Contudo, auto-controle só é plenamente possível no Espírito Santo, não basta nos esvaziarmos do mal e nos esforçarmos para permanecermos limpos, é preciso deixar Deus nos encher. Assim repito outra ênfase do “Como o ar que respiro”, temos que ter uma experiência espiritual com um Deus espiritual através de dons espirituais, não somente entendendo intelectualmente textos bíblicos ou procurando interpretações mais atuais para eles. Como têm aparecido estudiosos bíblicos falando coisa velha com aparência nova. 
      “Mas agora temos sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra.” (Romanos 7.6), a única novidade que nos revigora, nos alimenta, nos satisfaz e nos livra de toda espécie de vício é o Espírito Santo de Deus. Meus queridos e minhas queridas que me leem, busquemos essa intimidade de Deus, peçamos os dons espirituais, nos libertemos das vãs religiões de homens, tenhamos experiências em primeira mão com o nosso Deus. 

Leia na postagem de ontem e na de
amanhã as outras partes desta reflexão
José Osório de Souza, 12/10/2021

sábado, agosto 13, 2022

Vício ou restrição? (13/92)

      “E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga” “E, se o teu pé te escandalizar, corta-o; melhor é para ti entrares coxo na vida do que, tendo dois pés, seres lançado no inferno, no fogo que nunca se apaga” “E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do infernoMarcos 9.43,45,47

      Nesta e nas duas próximas postagens refletiremos sobre vícios, causas e efeitos, falaremos como testemunhas, não como profissionais. Se você tiver ou conhecer alguém que tenha problemas sérios com vícios, com drogas ilícitas, bebidas alcoólicas, mesmo com sexo e gula, procure alguém da área médica e instituições especializadas na questão. Se possível abra-se com sua família, com amigos de confiança, não viciados, com seu líder religioso, mas leve a sério o problema e creia, há cura para o humilde.

      Vício é perder o controle, é ser controlado por algo e não controlar algo. Isso leva à segunda definição de vício: fazer algo exageradamente. Assim, mesmo algo que não faz mal quando feito com equilíbrio, pode fazer mal se for vício, se for feito descontroladamente. O que mais vicia são coisas, que pelo menos a princípio, dão prazer, assim repetimos para ter mais prazer. Ocorre que quando repetimos algo sem controle não fazemos mais por prazer, mas para saciar a falta do prazer, abstinência se torna uma nova dor. 
      O viciado não usa o que o viciou para dar a ele satisfação, mas para não ficar mais insatisfeito, já que a dor inicial que o levou a se viciar continua, só que adicionada agora a uma segunda dor, a da falta daquilo em que ele se viciou. Nas primeiras vezes o que vicia até consegue anular a dor inicial e dar prazer, mas depois não, assim o viciado não resolve um problema, cria um novo. A solução seria ele ter resolvido o problema inicial, não buscar anular esse problema com algo que depois se torna um problema ainda maior. 
      Para não nos tornarmos viciados precisamos impedir que permaneçam em nós questões não resolvidas, que podemos manter tentando até nos convencer que não são problemas e que não existem. Contudo, ainda que nossa consciência seja enganada, nosso corpo e nossa alma não são, assim esses buscarão paliativos. Nossos instintos sempre tentam fugir da dor e achar prazer, ainda que sejam prazeres caros para nossos corpos e nossas mentes. Quando a dor não resolvida se instala é que estamos mais frágeis a vícios. 
      Jovens se viciam em coisas piores mais facilmente, como drogas ilícitas, porque além de passarem por um período de descobertas, de dúvidas, de encantamentos, de ausência de referências em primeira mão, também podem trazer sérios problemas não resolvidos, principalmente de famílias desestruturadas. Pode haver mais dor que ele consiga administrar, assim é construído ambiente propício para instalação de vícios. Infelizmente a sociedade, principalmente a brasileira, oferece facilidades para aquisição de vícios. 
      Há vícios que usamos para anular dores, mas alguns vícios adquirimos só por nos darem prazer, mesmo que não precisemos deles. Creio que almas satisfeitas não se viciam, mas há coisas que são boas, aprovadas pelo meio social em que vivemos, e até incentivadas por esse meio, que podem depois tornarem-se vícios e, consequentemente, algo que nos controla e que nos faz mal em algum momento. Por mais contrassenso que pareça, coisas que podemos usar a princípio para nos livrar de vícios podem ser tornar vícios. 
      Você, cristão, seja evangélico ou católico, já fez o “teste do Fantástico”? Vou explicar o que é esse teste. Tente passar um domingo à noite em casa sem ir à igreja, assistindo TV, e nem precisa ser assistindo o “Fantástico”. Você verá que só pensar nessa possibilidade pode deixar muitos cristãos deprimidos, muitos acharão que o arrebatamento vai acontecer naquela noite e eles não serão arrebatados, só porque não foram à igreja. Pois é, quem se sente assim pode não ser um cristão dedicado, mas só um viciado religioso. 
      A realidade é que alguns se viciam de maneira muito grave, assim trocar um vício terrível por outro mais leve, pode ser solução, não problema. Muitos de nós fazem isso, trocam um vício por outro, um vício que levaria à morte, por outro que só limita um pouco a liberdade de agir e de pensar, trocam presídios por prisões domiciliares e depois por tornozeleiras eletrônicas. Nem todos conseguem ser plenamente livres, assim para terem vidas com alguma qualidade precisam de restrições, senão morrem. 
      O texto bíblico inicial fala sobre usar uma mão, não duas, andar com um pé, não com dois, enxergar com um olho, não com dois, isso é viver com restrições. Por não querer isso é que muitos fazem, andam e veem o que não precisariam, assim sofrem e depois se viciam. Aceitar as próprias restrições é viver com humildade, Deus permite limites para que ainda que o corpo padeça, o espírito cresça. À eternidade não irão corpos mutilados, mas espíritos aperfeiçoados, dessa forma devemos dar prioridade a eles. 

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as outras partes desta reflexão
José Osório de Souza, 12/10/2021

sexta-feira, agosto 12, 2022

Vaidade, pecado maior (12/92)

      “Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.Eclesiastes 1.2

      Para ver a Deus é preciso viver paradoxos: desejar sem querer, ser sem mostrar, crer sem expectativas, se esforçar sem sofrer, saber sem falar, estar vazio e cheio. São esses paradoxos que nos purificam da vaidade, que nos ensinam a ter paciência, que nos preparam para receber algo muito precioso. Desejar sem querer é ter o desejo profundo de experimentar algo, mas sem obsessão que leve a fazer sacrifícios por si e não ser misericordioso com os outros. Ser sem se mostrar é ser para Deus, como louvor a ele, não para se exibir aos homens ou como louvor a si mesmo. Crer sem expectativas é não ser obcecado nem por coisas espirituais, nada justifica ansiedade e falta de paz.
      Se esforçar sem sofrer é dar o máximo de si, mas não para obter créditos que dão direito de se receber algo de Deus, é ver no trabalho um bem em si mesmo, não para acumular privilégios para se fazer exigências. Saber sem falar é vencer a necessidade de se justificar ou de convencer os homens que sabemos ou somos. Finalmente, estar vazio e cheio é estarmos vazios sem nos sentirmos em falta, mas satisfeitos com aquilo que Deus nos dá agora, ainda que crendo que pode nos dar mais depois, sem a acomodação da satisfação e sem a ansiedade da insatisfação. Viver sem vaidades é ter os pés na Terra e o coração no céu, feliz por viver e mais feliz por saber para onde vai no além.
      Abrir mão de vaidades é trabalho constante, ainda que tenhamos aberto mão de valores materiais para alcançar um nível espiritual, logo após termos alcançado seremos novamente tentados pela vaidade. Agora não será mais para ter riquezas ou posições, mas para sermos mais espirituais, e nesse momento mesmo espiritualidade se torna vaidade. Por isso é importante vivermos os paradoxos compartilhados acima, e são paradoxos porque nos levam sempre a desafiar o óbvio, a viver espiritualidade na matéria, algo impossível mas que devemos almejar até nossos últimos instantes neste mundo. Ser e não ser, para que Deus seja, perder para ganhar e ganhar para perder. 
      À medida que nossa espiritualidade evolui, nossa vaidade também fica mais sofisticada, por isso grandes líderes religiosos, pregadores e pastores reconhecidos e que fundaram poderosos ministérios se corrompem. O personagem bíblico Lúcifer é arquétipo disso, um ser que era grandioso no reino espiritual não se contentou com isso, quis mais, o lugar do próprio Deus e caiu de sua elevada posição. Eis a vaidade corrompendo mesmo os grandes, como diz John Milton, personagem de Al Pacino no filme “Advogado do diabo”, “a vaidade é, definitivamente, meu pecado favorito”. Muitos vencem muitas tentações, mas caem na vaidade, e a pior das vaidades é a espiritual. 
      Mas quem vê a Deus ainda neste plano, depois de pagar todos os preços e se preparar pacientemente em santidade e humildade, é corrompido pela vaidade? Esse deseja se exibir como mais espiritual para os outros? Não, ao contrário, se torna ainda mais humilde. Ocorre que o caminho para isso é longo, e se desviar-se no meio dele poderá ver outros seres ou poderes espirituais, que oferecem opções mais fáceis. A experiência “desviada” também exige uma busca persistente, não é para qualquer um, mas ela conduz à vaidade mais perigosa. É isso que muitos, que a princípio podiam até estar buscando a Deus, provam em espiritualidades como do ocultismo, da magia, do esoterismo etc. 
      Muitos que começam querendo ver Deus acabam vendo o “diabo”, porque não persistem nos valores morais mais altos e são presas da vaidade. O que significa ver a Deus? Significa ter experiências mais profundas com ele neste mundo, mas significa principalmente ter a melhor eternidade de Deus no outro mundo. A intenção de Deus está em nos aperfeiçoar durante o processo, sendo assim seu objetivo pode não ser constante, mas variável de acordo com o que nos tornamos no processo. Dessa forma, não seria nosso céu definido pelo nosso caminhar no mundo? Ou será que é lugar igual para todos? Mas será que todos estão preparados para ver Deus na mesma proximidade?
      “Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. Este receberá a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação.” (Salmos 24.3-5). Esses versículos podem conter mais que orientação para se ter direito moral de se estar num templo religioso físico, podem mostrar o caminho para o céu mais elevado na eternidade. O direito não é ganho só pela fé, mas por prática de santidade genuína, sem vaidades, assim pode não ser absoluto e pode dar acesso a posições espirituais que variam conforme a pureza do coração, meditemos seriamente nisso. 

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a 1ª parte desta reflexão

quinta-feira, agosto 11, 2022

Limpos de coração (11/92)

      “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a DeusMateus 5.8

      A primeira coisa que nos vem à mente quando lemos o termo limpo de coração é alguém que não está em “pecado”. As primeiras ideias que fazemos de “pecado” é a satisfação de desejos do corpo físico e de forma descontrolada, assim quando pensamos num limpo de coração pensamos em alguém que não adultera, que não fuma, que não ingere bebidas alcoólicas (pelo menos não excessivamente), que come com equilíbrio, enfim, que não tem vícios. A conclusão sobre o versículo inicial, então nos parece fácil: vê a Deus quem não adultera, que não fuma, que não bebe ou come sem limites, enfim, que tem controle sobre coisas materiais que entram em seu corpo físico. 
      Podemos entender “pecado” em duas camadas, e em ambas como ações, pensamentos, sentimentos e palavras que nos separam de Deus de alguma forma. Algo que precisamos dizer antes de tudo, é que o que separa uma pessoa de Deus pode não ser o que separa outra pessoa de Deus, o que alguém considera “pecado” pode não ser considerado “pecado” por outra pessoa, ainda que de maneira geral “pecado” seja “pecado” para todos, existem nuanças. A primeira camada do “pecado”, e que não pode ser relevada, refere-se às “tentações” do dia a dia, ou menos mais pontuais, mas que dizem respeito ao que dissemos acima, satisfação fácil de prazeres do corpo físico. 
      Precisamos ter limpeza não só moral, mas também física no que se refere à primeira camada, contudo, precisamos entender, e é por não entender isso que muitos cometeram e cometem sérios erros sobre o que é “santidade”, que só essa primeira condição não basta. Nos acharmos “santos”, limpos de coração, só porque não nos corrompemos com sexo errado, ou não tentamos nos satisfazer com prazeres do corpo além das necessidades básicas, ou não temos vícios com drogas ou outros elementos que alterem nossa consciência, não basta. Podemos estar limpos assim e não sermos limpos de coração, podemos parecer não pecar e sermos pecadores dentro de nós. 
      Os “pecados” da primeira camada podem ser limpos mais rapidamente e com oração sincera, ainda que libertação plena de vícios exija mais tempo. São os “pecados” da segunda camada que de fato sujam nosso coração e nos impedem de ver Deus. Desses não nos livramos facilmente, podem ser necessários anos para entendermos e sermos limpos desses. Entendamos “coração” como o centro racional e emocional de nossos seres, nossa mente, percepções sensoriais interiores, e mais, nosso espírito. Assim, o “pecado” que nos impede de ver a Deus suja, não nosso corpo ou nossos sentimentos e pensamentos e só por algum tempo, mas nossos espíritos e de forma mais duradoura. 
      No meio pentecostal, onde é mais provável que as pessoas busquem dons espirituais, já ouvi gente dizendo, “faço tudo certo, jejuo, me consagro, não peco, mas não recebo dons espirituais”, esses talvez se limpem na primeira camada, mas não se purificam na segunda, o coração. Não estou dizendo que quem recebe dons espirituais está totalmente limpo de coração, não existem fórmulas para experiência espirituais, só Deus sabe quem merece, está preparado e recebe sua intimidade, não nos cabe julgar. A humanidade ocidental passou séculos, na maior parte, aquela doutrinada pelo catolicismo, sendo ensinada a se limpar só na primeira camada, e assim vendo religião, não Deus. 
      Podemos reinterpretar o versículo inicial dessa maneira: muito felizes os limpos de espírito, porque terão experiências profundas com Deus. Mas o que seriam esses “pecados” da segunda camada? São muitos, mas podem se resumir a um: a vaidade. Parece estranho vaidade estar aliada a busca espiritual? Mas acredite, muitos buscam experiências espirituais por vaidade, justamente porque sabem da relevância de espiritualidade, como superior a bens materiais, posições sociais ou a belezas e prazeres do corpo. Contudo, pensam, “se não posso ser rico e bonito ou se já sou isso e ainda não estou satisfeito, quero ter experiências espirituais, talvez assim serei feliz”.
      “E ele disse-lhes: Assim também vós estais sem entendimento? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não entra no seu coração, mas no ventre, e é lançado fora, ficando puras todas as comidas? E dizia: O que sai do homem isso contamina o homem. Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, Os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.” (Marcos 7.18-23). Não são os males que entram no corpo os piores, mas os que saem do coração.

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a 2ª parte desta reflexão

quarta-feira, agosto 10, 2022

Vemos o que queremos ver (10/92)

     “Porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á.” “Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” Lucas 11.10, 13

      As pessoas veem o que querem ver, quem procura significado em algo, acha. Podemos entender várias coisas nessas afirmações, que revelam muito sobre a dupla identidade humana, material e espiritual. Quem procura acha, e se não acha de verdade pode inventar que achou, nenhum de nós, de alguma maneira, escapa disso. O que mais você quer ver? O que mais você procura? O que você tem necessidade mais forte e mais profunda de ver e provar, ainda que não admita a ninguém? 
      Ninguém está isento disso, nenhuma pessoa consegue passar por este mundo sem ter uma dúvida principal, ainda que tente negar a si mesmo, buscando responder tal questão com coisas inadequadas, coisas que talvez agradem aos outros, mas não a ela mesma. Mas mesmo assim, ainda que fuja de si mesmo e consiga fazer isso com muita eficiência, um dia, a verdade virá à tona e aquilo que a pessoa de fato sempre quis ver ela verá, achando nisso o significado maior para sua vida. 
      Já ouvi gente dizer, “vivi uma vida para os outros, passei os anos servindo às necessidades alheias, nunca vivi para mim”. A primeira coisa a dizer dessas pessoas é que se de fato viveram para servir os outros e fizeram isso em amor e de forma espiritual, parabéns a elas, cumpriram o objetivo maior de todo o ser humano neste mundo. Se fizeram isso do jeito certo devem ser felizes, não infelizes, colherão na eternidade os frutos gloriosos de uma existência material mais excelente. 
      Esse tipo de afirmação é mais comum em pessoas de gerações passadas, já que de algumas gerações para cá poucos pagam o preço para servirem os outros, todos querem servir a si mesmos, usufruírem prazer e depressa. Não importa se um filho foi feito, um casal não permanece junto, porque na verdade nunca foi um casal, só dois seres egoístas buscando prazer rápido, assim o pai ou a mãe fica sozinho com o filho, o que na maior parte das vezes significa que avós criarão a criança. 
      Mas para aqueles que dizem que viveram para os outros e não fizeram isso do jeito certo, na verdade eles fizeram exatamente o que queriam, mostrar para os outros que podiam ajudá-los. Esses não acharam outra maneira de sentirem-se úteis, se tivessem tido coragem teriam achado um jeito para se conhecerem e serem de fato felizes. Às vezes é preciso desapontar algumas pessoas para não nos desapontarmos, e isso não significa ser egoísta e irresponsável, só independente e maduro. 
      Muitos pagam o preço e acham aquilo que procuram, de um jeito ou de outro. Mas esses não devem reclamar no final, se aquilo que quiseram ver não lhes for suficiente para lhes trazer felicidade. Os que querem se ver no topo profissional, nos níveis sociais e financeiros mais altos, para serem aclamados como prósperos e vitoriosos, verão esse sonho realizado. Mas que companhia isso lhes dará no final, de gente que lhes ama ou só de pessoas materialistas que só valorizam dinheiro? 
      Se você quer grana, tudo bem, é escolha tua, você terá essa grana, mas lembre-se que grana não compra amor e respeito. Riquezas só recebem honra de quem tem riqueza e valoriza a riqueza dos outros, não é a pessoa e suas virtudes morais que são valorizadas. O ser humano, contudo, é especialista na hipocrisia e em jogar a culpa de seus erros nos outros, passa a vida buscando coisas erradas e no final ainda se faz de vítima, quando na verdade ele só recebeu o que sempre quis ter. 
      Sempre há tempo para mudar, se for teu caso, ache tempo e dê o melhor que precisa receber, construa relações baseadas em respeito desinteressado. Festas de finais de ano são bons critérios para sabermos no que temos investido nossas vidas, e muitos, após um ano fazendo e acontecendo, para terem aparências, passam esses momentos sozinhos. Natal numa família humilde, com comida e bebida simples, mas onde há amizade e alegria sincera, é melhor que festas luxuosas mas frias. 

      Vemos o que queremos ver, isso nos diz muito não só sobre coisas naturais, mas também sobre as espirituais ou sobrenaturais. Quem quer ver um o.v.n.i. um dia verá, quem quer ver fantasmas, um dia verá, quem busca milagre, um dia receberá, quem procura significado em teorias de conspiração um dia achará uma que dará sentido à sua vida. O ser humano tem aptidões que desconhece, como aquilo que elas podem lhe dar, imaginação é aptidão poderosa, principalmente para coisas espirituais.
      As coisas mais malucas podem fazer sentido para quem procura nelas significado, isso não significa que façam sentido para outras pessoas, assim como não significa que por causa disso não sejam legítimas e úteis de alguma forma para uma pessoa. Já foi dito que deveria haver tantas religiões quanto são os habitantes do planeta, uma para cada um, mas na verdade é assim mesmo que funciona, ainda que centenas de pessoas estejam em um templo participando do mesmo culto. 
      Se soubéssemos o que se passa na cabeça de cada pessoa sentada no banco de uma igreja enquanto um culto é realizado, cantos até orações podem ser semelhantes, mas não as intenções. Quantas descrenças e quantas crenças distintas, só Deus para contemplar a todos, amar a todos, respeitar a todos e responder a todos, de acordo com cada idiossincrasia. Ainda que imaginemos coisas diferentes, a verdade espiritual é só uma, adaptando-se humildemente ao entendimento de cada ser. 
      O espírito não pode ser visto pelo homem encarnado, e hoje entendemos que sua aparência mais pura é luz, ou uma energia, mas Deus, em sua misericórdia nos permite ver formas mais humanas. Assim vemos varões de vestidos brancos e asas ou entidades escuras e encolhidas, outros veem seres mais antropomórficos, o que é de fato verdade? A verdade é que Deus revela o mundo espiritual aos que buscam com sinceridade e estão preparados para ele, seja da maneira que for. 
      O que é imaginação e o que é verdade? O que é verdade usa a imaginação, entendamos isso, aquilo que nossa mente vê são ferramentas para que o mundo espiritual se comunique conosco nesse mundo. Quando é imaginação são apenas memórias, mas quando é o espiritual usando nossas mentes outros sentidos são impressionados além da visão e da audição. Sentimos um êxtase sem igual quando permitimos que o Espírito Santo manifeste seus dons através de nós, um prazer inefável.
      Mas não menospreze arrepios e medos, podem não ser frio, reação a filme de terror ou outra coisa, se estamos no Espírito essas percepções podem ser indicadores de proximidade de seres espirituais. Deus é espírito mas se comunica com seres físicos através de sentidos físicos. Experiência espiritual é algo que se aperfeiçoa com o tempo, com o uso dos dons, com intimidade com Deus, com  consagração e oração, ela é real, poderosa e útil, muitos perdem batalhas porque desprezam a arma. 
      Uma boa orientação é saber discernir o conteúdo da forma, a verdade da maneira como a pessoa interpreta a verdade. Deus fala com pessoas diferentes por jeitos diferentes, dependendo de seus preparos e de suas experiências. Assim, sejamos sábios e não liguemos a qualquer imaginação humana, mas não desprezemos o fato que muitas pessoas têm experiências espirituais, Deus as avisa, consola e ensina, ainda que de maneiras diversas, usando as ferramentas mentais de cada pessoa. 
      Vê o mundo espiritual quem olha para ele, quem não olha não o vê, ainda que ele esteja gritando à sua volta. Contudo, não é porque alguém está olhando que vê, imaginação prega peças no incrédulo e no crédulo, e até mais no crédulo, já que esse quer ver. Quem quer ver vê, mas precisa provar se o que está vendo é verdadeiro, experiência espiritual não é uma coisa só, mas conjunto de coisas, e em se tratando de Deus, de bons frutos objetivos que permanecem após a experiência subjetiva. 

terça-feira, agosto 09, 2022

Experiência individual (9/92)

      “Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Ajuntai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios, e comei carne. Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; e andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem. Mas não ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos, mas andaram nos seus próprios conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para trás, e não para diante.
Jeremias 7.21-24 

      Ao conhecimento espiritual mais profundo temos acesso sem encantamentos ou êxtases, com muita santidade e serenidade, com tempo e trabalho mental que abre mão de preconceitos e imaginações para ouvir a voz de Deus pela fé e sem apoio de religiões. Sei que tanto as igrejas evangélicas como a católica, mesmo com todos os seus defeitos, têm desempenhado uma missão de auxílio aos homens, viciados em drogas, pobres e tantos carentes de paz e esperança acham nas catedrais e templos conforto e libertação. Creio que a maior parte da humanidade ainda necessita do trabalho dessas igrejas e denominações, e para a grande maioria é suficiente o que essas são, para que o amor de Deus aja a favor dos seres humanos. 
      A intenção deste espaço, entretanto, e ir além, se alguém quer uma palavra em consonância com as doutrinas tradicionais cristãs, aqui não é o lugar, nem perca tempo aqui se for esse seu interesse, não será bênção para você tentar entender muito do que aqui se compartilha. Não tenho interesse de escandalizar ninguém, só de falar a quem quer ouvir. O ir além que me refiro é simples, nele não há mistério ou novidade: ore mais! Fale mais com Deus, mas principalmente peça a Deus que você possa discernir sua voz. Depois você poderá saber de coisas que até agora não soube porque não buscou resposta em quem tem as verdadeiras respostas, o Espírito Santo, e isso não é só ter curiosidade saciada, mas receber vida eterna. 
      Muito significativo o texto bíblico acima, veja que o profeta diz de forma clara que o objetivo inicial de Deus para a nação de Israel não era que ela tivesse uma religião baseada em holocaustos e sacrifícios. Isso pode mudar a opinião que muitos cristãos e leitores habituais da Bíblia têm sobre a velha aliança de Israel, e mesmo sobre o papel da nova aliança de só substituir sacrifícios repetitivos e imperfeitos de animais pelo sacrifico único e perfeito de Jesus. A vontade principal de Deus, que pode “salvar” o homem, é que esse ouça sua voz e obedeça-a. Me atrevo a fazer uma suposição, será que Deus não permitiu o sistema de sacrifícios pelo mesmo motivo que permitiu um rei, porque Israel queria ser como as outras nações?
      Se for isso, é só Deus, mais uma vez agindo como um pai que cede à teimosia de filhos imaturos que invejam povos que não temem o Deus verdadeiro, que desejam ser o que não precisam ser. A palavra profética chega a ser dura, mesmo irônica, “ajuntai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios e comei carne”, em outras palavras, “façam um churrasco com vossa religiosidade, isso é mais proveitoso para vocês, para mim nenhuma serventia tem”. Quando vamos entender que muitas coisas são só símbolos? Símbolos são necessários para os que não estão preparadas para a verdade, mas só para interpretações facilitadas dela. O homem tem dificuldade para entender que no mundo o plano espiritual se prova pela fé.
      Ainda assim muitos precisam de esculturas e imagens, assim como de rituais e dos chamados “atos proféticos” (encenações de eventos bíblicos) para crerem, hoje, no século XXI, quase dois mil anos depois que o Espírito Santo foi dado à humanidade. Queridos católicos, Deus aceita vossos símbolos porque ele ama vocês, e evangélicos, não confundam de maneira maldosa os ídolos construídos sobre imaginações de espíritos malignos do antigo testamento com os “santos” católicos, não são a mesma coisa. Contudo, quando todos nós vamos crescer? Deixarmos as interpretações facilitadas, os reforços físicos para fé, que é o que são esculturas e imagens católicas, e termos uma comunhão espiritual direta e pura com Deus? 
      É fácil nos sentarmos em bancos e cadeiras, em catedrais e templos, e “assistirmos” uma missa ou um culto, como quem assiste um filme, mas ainda que haja sinceridade e boa intenção para saber a vontade de Deus, é pouco, comparado com o que Deus tem para nós. Pode-se dizer, “tenho uma vida vitoriosa e em paz sendo religioso”, eu acredito nisso, mas e o resto, o mundo, o Brasil? Se essa religiosidade, que aceita calada o que de fato a Igreja Católica e tantas igrejas evangélicas fazem, ou pior, que não fazem, resolvesse, não estaríamos vivendo o momento que vivemos. Ninguém se iluda, as coisas vão melhorar, são tempos finais de uma era e decisivos para a humanidade, e mudará à medida que ouvirmos a genuína voz de Deus.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

segunda-feira, agosto 08, 2022

A voz do Senhor (8/92)

      “Dai ao Senhor, ó filhos dos poderosos, dai ao Senhor glória e força. Dai ao Senhor a glória devida ao seu nome, adorai o Senhor na beleza da santidade. 
      A voz do Senhor ouve-se sobre as suas águas; o Deus da glória troveja; o Senhor está sobre as muitas águas. A voz do Senhor é poderosa; a voz do Senhor é cheia de majestade. 
      A voz do Senhor quebra os cedros; sim, o Senhor quebra os cedros do Líbano. Ele os faz saltar como um bezerro; ao Líbano e Siriom, como filhotes de bois selvagens. 
      A voz do Senhor separa as labaredas do fogo. A voz do Senhor faz tremer o deserto; o Senhor faz tremer o deserto de Cades. A voz do Senhor faz parir as cervas, e descobre as brenhas; e no seu templo cada um fala da sua glória. 
      O Senhor se assentou sobre o dilúvio; o Senhor se assenta como Rei, perpetuamente. O Senhor dará força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com paz.
Salmos 29
 
     Tenho falado bastante aqui sobre ter uma experiência espiritual mais profunda com Deus, mas até que ponto muitos cristãos entendem o que é uma experiência espiritual mais profunda? Se fizermos pesquisa numa versão bíblica em computador ou celular, para identificarmos os termos “voz do Senhor” ou “falou o Senhor”, acharemos dezenas de citações, isso significa que profetas e outros homens e mulheres, que andaram com Deus principalmente nos tempos do antigo testamento, ouviam a voz de Deus. E quanto a nós hoje, ouvimos essa voz? Se personagens bíblicos tinham essa experiência então ela não era efeito de algum transtorno mental de ouvir “vozes”, era um diálogo direto com o Altíssimo, onde se fala e se ouve. 
      Não estou dizendo que não existam doenças psiquiátricas que levam as pessoas a ouvir vozes, que apesar de muitos acharem que são de outros seres (humanos ou espíritos), são só ecos de suas próprias mentes, essa experiência é danosa, maléfica, pode e deve ser tratada com orientação profissional médica e remédios. Contudo, num tempo em que a bênção da ciência beneficia a humanidade com tantos cuidados, muitos cristãos usam referências científicas, apesar de por formas antagônicas, de maneira equivocada. Alguns negam a ciência e impedem que ela seja ferramenta da providência para cura e educação, e outros a usam como desculpa para não provarem experiências profundas com o Santo Espírito.
      A fé não sabe tudo, muito menos a ciência sabe, no equilíbrio os simples acham sabedoria. No início desta reflexão separei o Salmo 29 porque ele cita sete vezes “voz do Senhor”. Esse texto, contudo, reconhece a voz de Deus em eventos materiais e grandiosos, percepção típica do homem que andava com Deus no tempo do antigo testamento, na natureza, nas águas, no fogo, no deserto, nos animais, enfim, nas manifestações de vida e clima do planeta Terra. Mas em outras muitas passagens a voz do Senhor é ouvida orientando as nações, abençoando e disciplinando, concedendo vitória e decretando derrota, novamente a visão beligerante do homem antigo testifica sobre as ações de Deus que são relevantes a suas vivências. 
      Houve mudanças no novo testamento em relação ao antigo, da nova aliança em relação à velha, da Lei para o evangelho, de Moisés para Cristo. Mas entre essas duas visões de relacionamentos com Deus, houve a passagem da bênção coletiva para a pessoal, de uma nação para o indivíduo, indiferente da nação que o indivíduo faça parte. Assim, a voz de Deus também passou a ser mais específica, principalmente porque agora não é mais a tribo física dos levitas a responsável pela religiosidade, mas o Espírito Santo enviado por Jesus habitando nos homens. Não que Deus não falasse a indivíduos sobre assuntos pessoais, mas o foco era vitória de Israel sobre outras nações, e o indivíduo era especial por ser fisicamente circuncidado.
      Sim, Deus sempre olhou a intenção do coração, isso é claro nos textos de Davi e em muitas exortações dos profetas, mas o Altíssimo não podia falar a meninos sobre coisas de adultos, esses não poderiam entender. Contudo, a igreja católica e mesmo muitas evangélicas, seguem querendo repetir um modelo de relacionamento que Deus já deixou para trás, insistem em estabelecer no mundo um cristianismo nos moldes da nação física de Israel dos tempos do antigo testamento. Obviamente que numa visão herege assim, o Espírito Santo deve ser calado, e isso foi a primeira coisa que uma igreja, recém saída da igreja primitiva dos apóstolos originais e dos primeiros discípulos, fez para criar o politeísmo católico dos santos. 
      A reforma protestante não deu voz livre ao Espírito Santo, só simplificou as vozes dos homens, e mesmo o pentecostalismo, de muitas das chamadas igrejas evangélicas atuais, tem no melhor das circunstâncias uma experiência infantil e primária com a voz de Deus pelo Espírito Santo, deseja o êxtase emocional inicial da experiência e não o conhecimento espiritual mais profundo que ela permite. Muitas “manifestações” são só clichês de palavras proféticas veo-testamentárias, eis novamente homens limitando a palavra individual para que seja coletiva e mais facilmente manipulada a favor de seus interesses materialistas de poder no mundo. É preciso coragem para seguir e ouvir a voz de Deus, missão solitária. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

domingo, agosto 07, 2022

Pessoal e intransferível (7/92)

     “Os ímpios fogem sem que haja ninguém a persegui-los; mas os justos são ousados como um leão.
      “Os homens maus não entendem o juízo, mas os que buscam ao Senhor entendem tudo.
      “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.
      “O homem fiel será coberto de bênçãos, mas o que se apressa a enriquecer não ficará impune.
Provérbios 28.1, 5, 13, 20

      Responsabilidade é pensar nas consequências ruins e não fazermos o que possa causá-las, nesse caso responsabilidade está relacionada com amor. Se nos amamos de fato evitaremos o que ainda que traga prazer imediato pode prejudicar nosso corpo, nossa mente e nosso espírito depois. Se amamos os outros poderemos evitar mesmo coisas que parecem não nos prejudicar, mas aos outros, isso é crescer no amor. Mas não fazermos um monte de coisas porque seus efeitos podem prejudicar nossa comunhão com Deus, ou mais, podem dar a outros, seres humanos no mundo ou espirituais, um mal testemunho de alguém que já assumiu ser luzeiro de Deus, isso é espiritualidade mais alta. 
      Toda causa tem efeito e efeitos ruins agridem alguém de alguma maneira, ainda que seja o testemunho que nos comprometemos dar das virtudes de Deus. Responsabilidade é entender que não estamos sozinhos, e que se não é correto desprezarmos alguém, muito menos é agirmos irresponsavelmente com quem nos ama. O caminho reto consiste em escolhas responsáveis, os que andam nele são seres iluminados no mundo, Deus e seus exércitos cuidarão deles e eles serão poderosamente úteis para abençoarem os outros. Responsabilidade é pensar nas consequências, nos outros, mas é mais que fazer escolhas racionais, é achar prazer em fazer o que é certo porque isso agrada a Deus. 
      O que precisamos entender é que responsabilidade pessoal não pode ser transferida, ainda que num comodismo mais intelectual que moral autorizemos religiões e ideologias políticas a pensarem por nós. Deus, que é justo e verdadeiro, avalia essas autorizações como escolhas pessoais. Dessa forma não poderemos usar a desculpa que não tínhamos controle sobre as intenções de instituições e de líderes, utilizando a justificativa tão comum, “no mundo nada é perfeito”. Não é perfeito porque nós somos imperfeitos, mas Deus é perfeito e nos chama a ele, ainda que tenhamos que conviver com padres, pastores e políticos, cabe a nós, individualmente, saber até onde seguir debaixo de homens. 
      Seremos responsabilizados por dar crédito a fake news e teorias de conspiração, e por passar isso à frente como verdades, calúnia é uma espécie de homicídio, é assassinato de reputação. Não poderemos alegar que cremos porque estava na internet ou vindo de fonte de alguém famoso e importante, os tempos mudaram, assim como os crimes e as responsabilidades. Espaços virtuais precisam de melhores legislações, principalmente para que se possa separar liberdade de expressão de veiculação irresponsável de informação, mas “Deus está vendo”. Ainda que não existam leis humanas adequadas, o Espírito Santo sempre orienta os que o buscam e mostra o que é certo e o que não é. 
      Só depende de nós parar de perdermos tempo com a mentira, que não desembaraça, só confunde e amarra, e decidirmos em fé pela verdade. Qual é a verdade? A simples, que leva ao equilíbrio e que não pende para extremos, que traz paz imediata que permanece, que ainda que não responda tudo, porque a verdade mais alta não fecha, abre, deixa-nos livres para seguirmos questionando e conhecendo, em santidade e humildade. Só a responsabilidade pessoal conduz à verdade e com efeito só ela deixa a paz que independe do mundo, de homens, de coisas aparentes, de vaidades, mas se firma totalmente em Deus. Você é responsável por você e por muitos outros, assuma isso e seja bênção! 
      Na responsabilidade há retidão e no caminho reto há a luz de Deus, que nos conduz em segurança e nos faz conhecer os mistérios. “Os ímpios fogem sem que haja ninguém a persegui-los, mas os justos são ousados como um leão”, “o que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia”, enquanto o ímpio anda confuso em suas próprias mentiras e pecados não perdoados, o justo não foge de perigo real, nem encobre seu pecado. Busca rapidamente o perdão do Senhor, confia prontamente em seu Deus, e por isso é imediatamente perdoado e protegido pelo Altíssimo. Na reta responsabilidade há uso eficiente de tempo e espaço. 
      Na irresponsabilidade de seus caminhos, os ímpios podem até achar que sabem muitas coisas, por isso gostam de falar para tentar convencer a si mesmos enquanto acham que podem convencer os outros. “Os homens maus não entendem o juízo, mas os que buscam ao Senhor entendem tudo”, “o homem fiel será coberto de bênçãos, mas o que se apressa a enriquecer não ficará impune”, os justos não andam perdidos e sem conhecimento, mas ainda que discirnam tudo não caem na vaidade de tentar convencer os tolos. Os justos serão supridos porque têm as prioridades certas, não têm pressa de serem ricos e importantes no mundo, mas de exercerem reta responsabilidade diante de Deus. 

sábado, agosto 06, 2022

Responsabilidade e retidão (6/92)

      “Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.Salmos 84.11

      Responsabilidade pessoal significa assumir culpas e obrigações como deveres pessoais, não cobrando de outros dívidas que são nossas, nem tornando os outros encarregados por trabalhos que nos cabem. A definição parece simples, mas nós, seres humanos, somos especialistas em agir de maneira irresponsável, deixando de executar tarefas que competem a nós e a mais ninguém. Isso nos traz vários problemas e em várias áreas, mas em se tratando das áreas emocional e moral, nos impede de crescer espiritualmente e de ter uma comunhão plena com Deus. 
      Ainda que sejamos cidadãos civilizados, trabalhadores e honestos, podemos ser irresponsáveis, isso se percebe em existências que evitam o caminho reto. Uma linha reta sai de um ponto e chega a outro ponto usando a menor distância, sem curvas ou zigue-zague, sem ir e retroceder ou pausar, mas sempre indo, à frente, direto ao ponto. No caminho reto sabemos que só temos um opositor, nós mesmos, e que sempre temos um auxílio, de Deus, assim, podemos até ir mais devagar, mas sem confusão ou enrolação, sabemos quem somos, onde queremos chegar e quem está conosco.
      Isso não significa caminharmos sozinhos, aliás, nossas existências têm uma característica inerente, elas nunca estão sós. Sim, fisicamente podemos fazer muitas coisas sozinhos, nos denominarmos socialmente solteiros, mas a solidão talvez seja justamente a dor, não de estarmos sós, mas de nos sentirmos sós. Quem se acha só sofrerá de solidão mesmo casado, mesmo no meio de uma grande família, entre muitos amigos ou cercado por irmãos num templo. O que não nos deixa nunca estar sozinhos, é todo um mundo espiritual invisível ao nosso redor. Acredite, você nunca está sozinho.
      Termos Deus e todo um exército de seres espirituais de luz conosco, é o que nos capacita para sermos responsáveis. Não precisamos culpar os outros ou bajular os outros para dividirmos erros ou obtermos favores, nossas culpas Deus perdoa e nossa força vem de Deus, que move exércitos a nosso favor. Uma característica de Deus, que podemos demorar um tempo para entender, e que muitos nunca entendem, é que Deus não perde tempo com culpas e bajulações. Deus é reto, por isso nos orienta num caminho reto, não existe condenação ou cobrança no melhor de Deus, só existe longe desse melhor.
      Sim, há disciplina em Deus, mas na disciplina se exerce trabalho honesto, para que vençamos certas coisas, aprendamos outras coisas, e sigamos no caminho reto em direção à luz mais alta de Deus. Se gastamos tempo em autocomiseração, em remorsos, em iras e invejas, é porque queremos, não é o Espírito de Deus que nos tortura, somos nós e seres espirituais das trevas que “vibram” numa “frequência” baixa que nós mesmos produzimos. Se dermos ouvidos a Deus seremos levantados pelos anjos de luz, limpos pelo nome de Jesus, e “vibraremos” nas altas “frequências” pelo Santo Espírito. 
      Desculpe-me por usar os termos “vibrar” e “frequências”, você pode tomá-los como metáforas para se colocar pela fé numa posição espiritual, mas penso que eles nos ajudam a entender a oração, em que estabelecemos um contato mental com um Deus espiritual. Conhecer a Deus é aprender a ser responsável, se pecamos, sofremos, mas não precisamos ficar perdendo tempo na culpa, Deus não perde. Pela fé e sempre pela fé podemos nos levantar imediatamente, isso faz com que nos acostumemos com a luz para não sairmos dela tão facilmente, culpa pode fazer mais mal que o erro em si. 
      Neste mundo, quem “gosta” de inferno é quem se posta como demônio, e gosta porque é orgulhoso demais para admitir que sua escolha só o faz perder tempo. Não nos postemos como demônios, mas como anjos, amemos a luz e permaneçamos nela. Deus não tem prazer em nos deixar em infernos, e eis um mistério, no inferno damos trabalho aos anjos, mas no céu ajudamos os anjos em seus trabalhos. Sejamos aqueles que humildemente assumem suas responsabilidades, sozinhos na culpa, mas acompanhados no perdão, e rápidos para nos erguermos no caminho reto para o Altíssimo.

sexta-feira, agosto 05, 2022

Anjos e demônios (5/92)

      “E, finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis. Não tornando mal por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; sabendo que para isto fostes chamados, para que por herança alcanceis a bênção. Porque que  quer amar a vida, e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano. Aparte-se do mal, e faça o bem; busque a paz, e siga-a. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem o mal.I Pedro 3.8-12

      A humanidade construiu formas físicas para seres espirituais, anjos, arcanjos, demônios, diabos, querubins e outros. Os primeiros homens que tiveram experiências reais com seres espirituais, os interpretaram em suas mentes com determinados formatos, conforme suas culturas e religiões. Podiam ter formas humanas, formas animais, misturas de ambas. Mas será que seres espirituais realmente têm essas formas? Talvez, mas não necessariamente e isso nem é relevante, seres espirituais são espíritos, como Deus. Não precisam de membros para se moverem ou manusearem as coisas, nem de rostos para verem, ouvirem e falarem. Os homens, contudo, no plano físico, fazem ajustes, aproximações, para entenderem e memorizarem as experiências, facilitando interações mentais.  
      Se você, cristão, não aceita isso, se acha, por exemplo, que o diabo é um ser vermelho, com chifres, rabo, cascos, num corpo parte humano, parte animal, aceite, essa imagem é só um estereótipo da civilização europeia, baseada no deus  grego (Fauno para os romanos). O mesmo ser espiritual também é conhecido por japoneses, africanos ou hindus, e para esses o formato físico do ser no papel do diabo é outro, tenhamos cuidado com formatos físicos de seres espirituais. É importante que entendamos também a irrelevância do formato, o que vale é a intenção espiritual dentro dos homens, não importa o que eles imaginem e para onde olham, para reforçar a imaginação, se querem estabelecer contato com o diabo espírito, estabelecerão, acredite, o mesmo vale para outros ídolos, entidades ou espíritos.
      O formato físico que aliamos a seres espirituais da luz pode ser mais adequado com o que eles são. Enquanto aliamos a seres das trevas imagens que criamos em nossas mentes impressionadas pelo medo, por coisas ruins e desconfortos emocionais e morais, por isso “vemos” rostos assustadores, monstruosos, ainda que sejam, para nós no plano físico, só borrões negros disformes, aliamos aos seres da luz asas e vestidos. Não conseguimos olhar direito para a luz forte, vemos reflexos, raios multicoloridos que saem do centro formando estrelas, assim imaginarmos vestidos que se abrem na parte inferior e asas que se expandem na parte superior é explicável. O bem está na concentração de energia perto de Deus, o mal no vazio distante do melhor de Deus, o bem é luz virtuosa e o mal, escuridão moral. 
      O ponto desta reflexão é uma pergunta: o que na prática são anjos e demônios? Eles têm importância pelo que são ou pelo que fazem? Podem estar numa posição em que seus corpos são espirituais, não materiais, assim a substância de seus corpos é diferente da substância de nossos corpos como seres humanos no mundo, mas em relação ao que fazem não são muito diferentes de nós. Gostamos de colocar a culpa nos outros, e se cremos em seres eternamente e absolutamente maus, temos alguém bem adequado para eleger como culpado. Mas será que o diabo e os demônios são mais maus que os homens? Não, nem têm mais influência que eles. Apesar de estarmos presos à matéria nossas intenções e ações podem tanto prejudicar quanto abençoar tanto quando seres espirituais das trevas e da luz. 
      Quando nos colocamos para orar temendo a natureza moral elevada de Deus, humildemente submetendo-nos à capacidade do Espírito Santo, não à nossa, respeitando o livre arbítrio dos seres humanos, pacientemente esperando que todos se aproximem do Altíssimo, quando isso ocorre mais que um diálogo acontece. Orar não é só pedir e agradecer pelo que se recebe, é se permitir ser canal de ligação entre Deus e outros seres, refletindo a luz divina em todos os que estão ao nosso redor, materiais e espirituais, e principalmente aos que citamos nominalmente em oração. Quem realiza essa interação é o Espírito Santo e os seres espirituais de luz, que não fariam esse trabalho se nós não tivéssemos orado a Deus do jeito certo. Deus atua com poder, mas nos concede ser participantes dessa ação. 
      Há seres no plano espiritual em posições morais extremas, mais maus que nós e mais bons que nós, mas no plano físico, ainda que amarrados a corpos materiais, podemos exercer decisões até mais abrangentes. Exércitos celestes são movidos pela nossa intenção, tanto os da luz quanto os das trevas. No plano físico temos livre arbítrio para decidir o que queremos fazer, uma escolha nossa pode ter atuação mais decisiva que a de seres espirituais. Por mais poder que seres da luz tenham, não farão tudo o que podem se nós não autorizarmos. Por outro lado, seres das trevas, ainda que atuem sempre tentando os seres humanos no mundo, têm ação potencializada quando queremos fazer o mal aqui. O diabo e os demônios, por exemplo, não podem matar fisicamente alguém, tragicamente nós podemos.
      Apesar de nossas existências no mundo serem curtas e frágeis, são especiais em relação à eternidade puramente espiritual, ninguém menospreze suas responsabilidades, suas escolhas e seu papel, principalmente quando se coloca em comunhão com Deus para fazer sua vontade. “A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tiago 5.16b), não nos esqueçamos das orações de Elias (I Reis 17.1) e de Daniel (Daniel 10.12-13), esses se colocaram como seres de luz, anjos de Deus, no mundo material. Contudo, quando nos portamos como julgadores do mal, condenando, invejando, maldizendo, odiando, nos fazemos demônios, talvez até piores que os puramente espirituais. Não joguemos a culpa no diabo quando podemos ser até piores, o mundo tem hospedado verdadeiros diabos encarnados.
      Tenhamos cuidado em como vivemos neste mundo, muitos não percebem, mas ainda que dentro de igrejas e sendo cidadãos decentes, desempenham espiritualmente papéis de demônios, e segue um mistério, e poderão continuar assim na eternidade. Demônio não tem direito ao céu, já traz o inferno dentro de si. Outros, contudo, no sofrimento, na falta, não na perfeição, porque ninguém neste mundo o é, mas lutando dia a dia contra seus demônios interiores e prevalecendo, são anjos de luz. Amam sem interesses, buscam a paz com todo o coração, intercedem junto a Deus mesmo pelos que se colocam como seus demônios. A escolha é nossa, a culpa não é do diabo, a responsabilidade é nossa, nós decidimos se queremos ser demônios, Deus atrai todos à sua luz, sejamos anjos, aqui e na eternidade.

quinta-feira, agosto 04, 2022

Começa na Bíblia e no louvor (4/92)

      “Porque assim diz o Senhor à casa de Israel: Buscai-me, e vivei.Amós 5.4

      Tudo começa na Bíblia e no louvor, entretanto, para muitos, tudo também acaba aí. A Bíblia contém textos sagrados especiais, Deus se revelou ao povo judeu de maneira especial. Textos hinduístas e budistas contêm ensinos bem interessantes, se aprofundando em alguns temas de maneira que nem a Bíblia se aprofunda, se você nunca os leu, eu recomendo, mas a Bíblia entrega uma simplicidade viva e atemporal única. Os textos tidos como registrados em sua maior parte por Davi e Salomão, nos consolaram e nos consolarão sempre (leia em especial Salmos 40.1-4).
      Um salmo pode nos permitir catarses emocionais, nos representa a confidência íntima que o escritor faz de sua experiência, detalhando as percepções  de sua alma. Muitos salmos mostram o autor se sentindo preso e sufocado num buraco, cercado por inimigos, mas a confiança em Deus retira o salmista do cárcere, dá-lhe forças para vencer o que achava impossível vencer e depois, leve como um pássaro, bem acima do problema, o vemos no templo de Deus, adorando-o pela bênção. Nenhum livro religioso entrega palavra assim, parecendo ter sido escrita só para nós.
      Tantos desprezam a Bíblia e só perdem com isso, incluindo religiosos e espiritualistas. Olham para o cristianismo desviado do mundo, prendem-se a interpretações ao pé da letra de certas passagens bíblicas, a óticas fora de contexto e preconceituosas, e se privam de beber da água e comer do pão que o Espírito Santo nos dá através do cânone bíblico. Nunca despreze a Bíblia, Deus tem mudado o mundo, a minha e a tua vida por ela, só dê ao mesmo Espírito que inspirou escritores bíblicos, a prioridade que tem como fonte original, fresca e eterna da palavra de Deus. 
      Existe um motivo do porquê o louvor ter ganho tanta relevância nos cultos, principalmente nos últimos trinta anos, pelo menos no que eu acompanho as igrejas protestantes e evangélicas no Brasil. Ele é o meio mais rápido e eficiente de se estabelecer comunhão emocional, física e espiritual com o Deus Altíssimo. Não, não são só belas melodias, letras passionais, ritmos contagiantes, tudo com arranjos instrumentais que têm se tornado cada vez mais profissionais, mesmo em igrejas pequenas. Deus é tocado com essa música e as portas do mundo espiritual são abertas.
      Muitas vezes estou no início da madrugada, quando esposa e filhas já estão dormindo, assistindo algum telejornal, e minha boca simplesmente se “enche” de línguas espirituais, algo poderoso de cima para baixo me puxa para adorar a Deus. Ter uma experiência assim e constante exige de nós andar em Espírito, manter a mente limpa, estar com ouvidos e olhos espirituais sempre atentos, mas como é maravilhoso. Orar não se torna peso, sacrifício, difícil, mas é natural, fácil, e nos leva a ter mais e mais experiências com o mundo espiritual. Somos todos chamados a isso. 
      Tanto na leitura correta da Bíblia quanto no objetivo maior do louvor está a pessoa do Espírito Santo, um procedimento tão importante de Deus após a subida de Jesus ao céu, mas que muitos não entendem, não buscam entender e não vivem. A maioria dos cristãos prefere religião, sentar-se nos bancos, assistir experiências de outros, experimentar êxtases no louvor, mas para aí, não dá seguimento àquilo que o Espírito Santo tem para dar. Se há alguma consagração diferenciada é só enquanto se aguarda solução de uma contingência, depois volta-se ao início. 
      Até quando? Não por muito tempo mais, os dias urgem, uma passagem de era ocorrerá, o velho não poderá mais entregar o novo, só o novo entregará o novo. Essa mudança ocorre na própria alma humana, que está enjoando do velho, mesmo com boa música e estudos bíblicos com cara de novidade, o espírito sente que o velho não alimenta mais. O xeque-mate está ocorrendo com o velho cristianismo apoiando um lado negro da política do mundo, o que a igreja católica fez por séculos, evangélicos querem continuar fazendo, estabelecer o reino de Deus na Terra. 
      Ore mais a Deus, santifique-se mais, busque os dons espirituais, fale em línguas espirituais, profetize, peça sonhos e visões, enfim, viva o chamado sobrenatural de Deus e em Deus. Se na vida deste planeta boas faculdades, boas leituras, conhecimento de outros idiomas, uma visão mais ampla do mundo, abrindo-nos mesmo para estudarmos, trabalharmos e vivermos fora do Brasil, é crescimento, na vida espiritual quem nos leva é o Espírito Santo e experiências profundas com os dons espirituais. Creia, Deus nos chama para mais, busquemos mais a Deus e vivamos! 

quarta-feira, agosto 03, 2022

Onde está a felicidade? (3/92)

      “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne.Filipenses 1.21-24

      Deus não impõe ao homem buscá-lo, não de fora para dentro. Os que tentam essa busca porque uma religião que lhes foi ensinada pelos pais lhes impõe isso, ou que a fazem por se sentirem obrigados pelo remorso, achando que se não buscarem a Deus cairão em desgraça, não buscam com intenção correta. O que a busca de Deus tem a ver com felicidade? Para muitos nada, muitos não creem no que a ciência não comprova e são materialistas felizes. Será que são mesmo? Talvez tanto quanto os que buscam felicidade só na religião. Somos felizes? Sermos cristãos em igrejas, nos faz felizes, pelo menos mais que os outros? 
      Uma das razões de muitos não serem felizes é acharem que devem ser felizes. Ninguém é feliz, não o tempo todo. Isso não significa que não podemos achar a paz e momentos de alegria. A felicidade não está no sentimento que existe após uma exaltação, mesmo que essa exaltação seja por algo benigno e positivo, toda exaltação passa. A felicidade está na serenidade que se experimenta na humildade, quando se aceita do jeito correto que mesmo que nada aconteça se está em paz. Felicidade não se prova com força, mas com descanso, não no clímax, mas na calma que existe mesmo sem ter havido clímax. Felicidade está na morte.
      Como assim, morte? Mas não somos ensinados o tempo todo, inclusive nas igrejas, que felicidade é vida e eterna? Sim, mas existe vida neste mundo? Não, a matéria existe para morrer, lutar contra isso é o que nos deixa infelizes, assim aceitar a morte inexorável é ser feliz. Isso não é dar um tiro na cabeça, nem viver moralmente de forma irresponsável, mas é aceitar certas finitudes como seres humanos, não nos achando eternos e poderosos como deuses. Felicidade é a morte da matéria para que o espírito viva, esse é o ensino do Sermão da Montanha. Parece, contudo, que o homem atual não quer morrer de jeito algum.
      Não que não se reconheça que o pecado causal é o do interior, e que o exterior é só efeito, como ensina o evangelho. A ciência também é ouvida, buscando-se melhorar qualidade de vida para que se viva mais e num planeta mais bem cuidado. Mas até que ponto essas bandeiras são só desculpas para negar a morte da matéria e não priorizar a vida eterna do espírito? Porque a humanidade, ainda que com valores mais altos e direitos mais amplos que há tempos atrás, segue materialista, o cristianismo o é, a eternidade se torna cada vez mais mera fábula. Dessa forma nega-se a morte, glorifica-se a matéria e esquece-se de Deus. 
      Na obsessão de se querer ser feliz a todo custo não se é, amor à existência neste mundo leva à morte, em achar que o ser humano e a ciência podem tudo só há a tentativa de matar o espírito imortal. A busca de Deus não nos é imposta de fora, mas de dentro, de dentro de nós mesmos, é nosso espírito que clama por Deus, ainda que não seja ouvido. Felicidade maior está em buscar e achar Deus, isso só é possível com ferramentas espirituais. Enquanto isso administramos o mundo e nossos corpos da melhor maneira possível, com inteligência e ciência, mas sempre colocando isso em seu devido lugar, no plano material. 
      No texto bíblico inicial Paulo nos apresenta um nobre dilema, e que inveja “santa” nos dá desse dilema. Se morrer é estar com Cristo, viver é amar as pessoas, ah, meus queridos, como estamos distantes desse alvo. Queremos justamente o oposto, viver sem Cristo e para nossos egos, e morrermos para nos livrar das pessoas e da dor. Quem não sabe viver, não morre bem, mas quem vive certo, está preparado para a morte, ainda que não a busque. Esforcemo-nos, façamos nossa parte para termos vidas dignas aqui, cuidemos também do planeta, nossos filhos e netos precisarão dele para se prepararem bem para a eternidade. 
      Uma boa maneira de olharmos o mundo é vê-lo como sala de aula, ninguém quer estudar num lugar ruim. Queremos ambiente arejado, protegido das intempéries, mas também com clima social de igualdade e respeito. Como alunos estamos o tempo todo trabalhando, o estudo é nosso trabalho, assim temos responsabilidades. O professor não é a ciência, ela ajuda a manter a sala e os alunos bem, mas só dá o suporte, quem nos ensina é um Deus espiritual. Por mais que o recreio seja gostoso, não está nele nossa felicidade maior, essa teremos quando passarmos pela prova final e formos aprovados, só na eternidade. 

terça-feira, agosto 02, 2022

Para que viemos ao mundo? (2/92)

      “Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento; porque é melhor a sua mercadoria do que artigos de prata, e maior o seu lucro que o ouro mais fino. Mais preciosa é do que os rubis, e tudo o que mais possas desejar não se pode comparar a ela. Vida longa de dias está na sua mão direita; e na esquerda, riquezas e honra. Os seus caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas veredas de paz. É árvore de vida para os que dela tomam, e são bem-aventurados todos os que a retêm.Provérbios 3.13-18

      Certas coisas não precisam ser ditas, melhor serem mantidas em segredo, entre nós e Deus. Alguns pecados confessados e perdoados são assim, muitos costumam nos condenar pelos restos de nossas vidas por algumas coisas que fizemos, mesmo que tenham sido corretamente resolvidas em Deus. Evangélicos são os que mais cometem esse engano, justamente eles que pregam perdão em Cristo. Mas muitos deles pensam que as pessoas têm que estar prontas depois que entram em igrejas, assim podiam até errar antes de se tornarem membros oficiais dessas, mas depois não mais. Muitos cristãos não entendem que Deus usa muitas coisas e muito tempo para aperfeiçoar os homens, incluindo idas, saídas e voltas a igrejas. 
      Dessa forma, às vezes é melhor deixarmos certos assuntos só entre nós, Deus e pouquíssimos amigos verdadeiros, mais que irmãos oficiais de igrejas, mas gente que realmente nos ama. Mas o ponto aqui é manter em segredo não erros, mas acertos, e não me refiro à qualquer promoção profissional onde se tem algum aumento de salário, e tem gente, incluindo crente, que tem esse pensamento. Muitos não gostam de falar de prosperidade material, acham que isso atrai inveja, que bobagem, ainda que se deva ter sabedoria nesse assunto, inveja é problema de quem inveja. Alcançarmos nossas vitórias deve nos fazer mais humildes, mas não mais medrosos ou desconfiados. Esta reflexão também tem a ver com humildade.
      O título foi “para que viemos ao mundo?”, você já entendeu qual é tua chamada principal nesta vida? Tenho visto gente com chamada clara, não só para viver, mas para divulgar vida com Deus, Bíblia, ou de maneira genérica, alguma religião. Parece que muitos desses começam bem, compartilham verdades recebidas de Deus e as vivem, não há neles hipocrisia nem invenções, mas num determinado momento a coisa fica estranha. As pessoas se acomodam com um nível alcançado, e com o respeito que esse nível confere a elas diante de outras pessoas, então, se acham com capacidade e no direito de falarem mais que o necessário, não só coisas certas na hora errada, mas coisas erradas, fugindo de suas chamadas iniciais. 
      A vaidade, sempre ela, se não derruba no início, derruba no fim, e não duvidem, todos são tentados por ela. Não sei de alguém, que não seja Cristo homem, que não tenha vencido plenamente a vaidade. Se não podemos vencê-la, convêm-nos ficar longe das situações que nos expõem a ela, o que mais nos expõem a ela é vida pública. Somos seres humanos, como tais precisamos de vida social, nossa identidade é construída na sociedade, não no isolamento. Mas retiros espirituais podem ser úteis e orientados por Deus, não só temporários, mas definitivos, a partir de um momento de nossas vidas. Isso não é fugir para o mato e ficar lá, mas focar na busca espiritual mais profunda, melhor anonimato com Deus que fama com homens. 
      Como já dissemos outras vezes aqui, o caminho do justo é definido pelo fim, não pelo início, e se pode começar bem, deveria terminar ainda melhor. Qual o melhor fim para todos nós? É aquele que prioriza o motivo principal de termos vindo a este mundo, conhecimento de Deus. Pelo que tenho aprendido, é mais conveniente buscarmos mais profundamente esse conhecimento de maneira secreta, evitando compartilhá-lo em púlpitos, sejam físicos ou  virtuais. Isso é para quem entende que o melhor que podem ter neste plano físico é espiritualidade, não riquezas e fama. Na intimidade do Senhor há verdade e paz, no aplauso do mundo há falsidade e dor. Felizes os chamados à humildade, acharão provisão e proteção do Altíssimo. 
      Deus nos usa para abençoar os outros, feliz o que perde para dar ao próximo, contudo, ganharmos a nós mesmos sempre é prioridade. Muitos, querendo ser vistos como altruístas, trabalhadores, espirituais, tentam ganhar o mundo e acabam se perdendo. Há os humildemente arrogantes, os sinceramente falsos, os estupidamente sábios, os termos são antagônicos, impossíveis de serem vividos ao mesmo tempo, mas muitos tentam, por vários motivos. Vaidade é o principal, mas ela conduz à incredulidade e ao desvio do plano original de Deus para nós. Muitos um dia entenderam o evangelho, mas sucumbiram à vaidade do mundo, assim tentam o impossível, serem honrados por Deus e pelos seres humanos ao mesmo tempo. 
      O texto bíblico inicial fala sobre sabedoria, uma característica do sábio é apurada percepção de tempo, ele sabe exatamente quando chegar, quando ficar e quando sair. Se o cristianismo exige chegada com fé, se crescermos dentro de igrejas e religiões requer que permaneçamos olhando para Deus não para homens, conhecimento mais profundo do Altíssimo pede retirada de meios sociais. No mundo atual, distanciamento de redes sociais na internet, é algo sábio a ser feito, mas isso só por quem não tem mais a insegurança de querer prevalecer em polêmicas, nem a vaidade de se exibir como vencedor e feliz. A verdade é que hoje nos apresentamos com menos cuidado na internet, que ao vivo, em igreja, trabalho, escola e família. 
      O final do texto me chama a atenção, “todas as suas veredas (são) de paz, é árvore de vida e são bem-aventurados todos os que a retêm”. Paz, vida e felicidade, mas para os que a retêm, assim, se no início é preciso sabedoria, muito mais no fim. É no final de nossas vidas, já com corpos físicos cansados e limitados para novos empreendimentos no mundo, que precisamos avaliar o que somos. Atingimos aquilo para o qual viemos? Cuidado, não use referências de homens, nem de homens religiosos, os homens não sabem aquilo que de fato precisamos vencer para chegarmos melhores no final. Muitos acham que somos perdedores na área financeira, mas não sabem o preço que pagamos para nos tornarmos moralmente limpos.
      Viemos ao mundo para melhorarmos, isso necessariamente não se evidencia em vida religiosa ou em riquezas materiais. Não julguemos ninguém, mas respeitemos todos, se entendemos para que viemos ao mundo e conseguimos viver isso, também administraremos os outros com amor. O que puder fazer, faça, o que não puder, não faça, mas não seja cobrador do próximo. Confie em Deus que sustenta o que não tem quem o auxilie, e que conduz à humildade o que não precisa de ajuda de homens, para que não se exalte por isso. Saiba quando parar de correr atrás de dinheiro, busque mais a Deus, se a vida é incerta, a morte não é. Adquira a sabedoria mais alta, o bem maior que achamos neste mundo e que poderemos levar ao outro. 

segunda-feira, agosto 01, 2022

Por que somos cristãos? (1/92)

      “Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.I Samuel 16.7

      Iniciando hoje, noventa e duas reflexões sobre espiritualidade, santidade, fé, mundo, eternidade, temas que cumprem o objetivo maior da chamada profética do espaço “Como o ar que respiro”. Por que falarmos sempre disso? Talvez a pergunta seja: por que somos cristãos se não for para entendermos e vivermos tudo isso? A não ser que estejamos querendo com o cristianismo só mais uma religião, se for isso fatalmente seremos presas de homens, não livres em Deus, manadas de líderes humanos, não rebanho espiritual de Jesus. O que de fato queremos como cristãos, indo a igrejas, lendo Bíblia, cantando louvores e orando? 
      O cristianismo é lugar bem adequado para quem quer só uma religião, principalmente na católica, com suas pomposas liturgias, com suas catedrais carregadas de história e de tradições, com cultos padronizados por sacramentos e dogmas. Quem não se sente num lugar digno de respeito quando está num templo católico? Parece museu, pede seriedade e austeridade por si só, mesmo que não esteja havendo uma missa. Isso é ruim? Não necessariamente, sou protestante desde os dezesseis anos, hoje tenho sessenta e dois, mas ainda sinto algo religiosamente instigante quando estou numa dessas velhas construções católicas. 
      Tive uma experiência significativa aos dezoito anos, quando fazia faculdade na P.U.C. de Campinas. No intervalo fui até à capela da universidade, uma sala comum, com cadeiras e um altar resumido à frente, me ajoelhei e me pus a orar. Um padre então entrou e me exortou duramente, disse ele, “como você se coloca de costas para o altar?”, intimidado saí do local. Eu estava de joelhos, de frente para uma cadeira, mas de costas para a frente da capela, isso escandalizou o sacerdote. Não  importou a ele o fato de eu estar falando com Deus, mas só o fato de eu ter inflingido algum protocolo, nem quis saber se eu era católico ou não. 
      Seria injusto de minha parte fazer qualquer generalização, dizer que todos os sacerdotes católicos agem assim, nem estou me eximindo de ter desobedecido alguma regra importante para alguém, mas ele poderia ter me perguntado se eu conhecia a regra. Aquilo poderia ser uma oportunidade dele me evangelizar, afinal deve ser mais fácil para alguém que está orando dentro de uma capela querer a Deus que outras pessoas. Mas como eu disse foi uma experiência significativa, revelou uma faceta icônica do cristianismo católico, a importância que ele dá a símbolos, rituais e tradições, mais que ao vivo Espírito Santo do Deus altíssimo. 
      Sei que critico o catolicismo, e também critico o protestantismo, mas critico como instituições, já o ser humano católico ou evangélico, sincero e cheio de fé, não deve ser julgado. Deus ouve todos os que o buscam, estejam onde estiverem, e muito mais em catedrais e templos, que ainda que carregados de tradições e mesmo de doutrinas adicionadas ao puro evangelho, recebem quem ora ou reza em nome do Cristo. Mas isso também não me desobriga de instar sobre a necessidade de experiências espirituais mais diretas e profundas com Deus, e para isso nem é necessário muito do que o cristianismo do mundo exige. 
      Um perigo da religião é nos acomodarmos a ela e acabarmos achando que ela é Deus, usando o exemplo acima, se eu não rezar de frente para o altar estarei pecando. Esse tipo de entendimento já deveria ter ficado claro para todos nós que é errado, baseado nas reações que Cristo homem teve diante dos religiosos judeus do primeiro século, quando exortou sobre a relevância do interior sobre a aparência, do espírito sobre a matéria, do amor sobre protocolos religiosos. Contudo, fazem mais ou menos dois mil anos que Jesus esteve no mundo e religiosos ainda não entenderam o que é a religião que de fato agrada a Deus. 
      Reflitamos um pouco mais, não em como somos vistos como religiosos no mundo, não em como a sociedade nos vê como católicos, batistas, presbiterianos, assembleianos ou outros. Os homens veem o exterior e podemos passar vidas inteiras nos esforçando para exibirmos bons exteriores religiosos para eles, mas o que de fato há em nosso interior só Deus sabe. O que levaremos para a eternidade? Nossos espíritos, o que está dentro de nós, as aparências todas ficarão neste mundo. Que tenhamos coragem de vencer o orgulho e a vaidade de querer mostrar, não ser, e ser para Deus, não para padres, pastores ou outros. 
      O texto bíblico inicial relata a chamada de Davi, quando seu pai tentou apresentar ao profeta Samuel outros de seus filhos, porque achava que esses agradariam mais, mas Deus disse que escolheria conforme o coração, não pela aparência externa. Muitos se fiam em igrejas pela grandiosidade que elas têm no mundo, sentem-se seguros de estarem agradando a Deus porque, afinal de contas, são membros fiéis de instituições estabelecidas, como a milenar igreja católica, ou mesmo protestantes seculares. Mas mesmo denominações evangélicas e pentecostais mais novas, inspiram confiança em muitos por terem grandiosos templos.
      Grandioso é o engano de muitos, mas é ele que impede tantos de buscarem mais direta e profundamente a Deus. A busca verdadeira requer aprovação só de Deus, não de homens, exigirá consagração e oração solitárias, sem o suporte luxuoso de templos e ministérios. Isso não significa sair de igrejas, de forma alguma, mas significa colocá-las em seus devidos lugares, locais para reuniões sociais e um conhecimento mais exotérico de Deus, bom para crianças e novatos na fé, eis a verdade, e não interpretem isso como algo arrogante. Não é arrogância, é humildade, quem busca mais a Deus não faz propaganda, guarda para si. 
      Será que os outros irmãos de Davi, apresentados orgulhosamente pelo pai a Samuel, suportariam toda a perseguição que Davi recebeu diretamente de Saul, o rei deposto por Deus e que não aceitava isso? Davi teve que viver como pária por algum tempo, até ter a honra de ser entronizado rei de Israel. Quem quer a vaidade de parecer bom religioso para homens não suporta as provas da busca da espiritualidade mais alta, provas para a humildade e a santidade mais puras. Por que somos cristãos? Se somos para Deus nada nos impedirá de sermos, nem nossos egos, nem os homens, nem os demônios, nem o mundo, nem a religião.