domingo, agosto 07, 2011

Superego ou Deus?

E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne”, Ezequiel 36:26

      A maioria de nós é educada com princípios morais. O certo e o errado são sempre gritados em alto e bom som. O não é mais usado que o sim. Isso nos torna adultos cheios de culpas, inseguros. Temos medo de enfrentar a vida, achamos que estamos fazendo sempre algo de errado. Pensamos que alguém, em algum lugar, está nos vigiando, nos julgando, e que no tempo certo vai apontar o dedo para nós e nos humilhar. Grande parte dos seres humanos tem essa experiência, em menor ou maior grau. A figura de um pai austero fica gravada em nossa cabeça para sempre.
      O criador da psicanálise, Sigmund Freud, quando mapeou a consciência do homem, chamou esse juiz implacável de superego. O superego “serve como um censor das funções do ego (contendo os ideais do indivíduo derivados dos valores familiares e sociais), sendo a fonte dos sentimentos de culpa e medo de punição” (do site Página de Freud). Muita coisa já se disse, depois da teoria psicanalítica, muito se acrescentou e muitos até tornaram os estudos de Freud um pouco ultrapassados. Mas como toda sacada genial, aquilo que ele enunciou muda de nome, evolui, mas os princípios básicos ficarão por muito tempo. Bem, eu pessoalmente gosto da teoria estrutural da mente de Freud, a constatação de que existem três diferentes níveis de consciência, o id, o ego e o superego. Falamos do superego, só para encerrar com essas definições, vamos ao id e ao ego:
      “O id é o reservatório inconsciente das pulsões, as quais estão sempre ativas. Regido pelo princípio do prazer, o id exige satisfação imediata desses impulsos, sem levar em conta a possibilidade de consequências indesejáveis.” “Regido pelo princípio da realidade, o ego cuida dos impulsos do id, tão logo encontre a circunstância adequada. Desejos inadequados não são satisfeitos, mas reprimidos.” (também do site Página de Freud).
      Então nós nos “convertemos” ao cristianismo, coloquei esse verbo entre aspas porque teríamos que fazer um estudo só para entender o que é se converter. A gente aprende no início de nossa evangelização que conversão é mudar a direção, nos direcionar então para Cristo. Mas o problema é exatamente esse, nem sempre a direção que tomamos é para Deus. Consciente ou inconscientemente, a maioria de nós tenta mudar para outras direções antes de entender qual é a direção onde Deus está. A direção onde Deus se encontra só pode ser mostrada por ele, para entendermos isso temos que andar com ele.
      Bem, na verdade a gente entra para a tribo dos crentes, adquire toda a cultura evangélica, aprende as músicas, compra produtos dos ídolos evangélicos, livros, discos, nos vestimos como eles, nos tornamos cidadãos de uma nova nação. Nos desvencilhamos de costumes que não condizem com a conversão, contudo, muitos de nós ainda continuamos com alguns velhos costumes. Quais são eles? Aqueles que achamos certos, aqueles princípios morais. Poxa, é mais fácil fazer isso, afinal de contas, pensamos, são coisas certas mesmo, foram nossos pais que nos ensinaram, nós já as conhecemos. Caminhar com Deus pela fé, aprender a ouvir a voz do Espírito Santo, isso tudo é tão subjetivo, difícil, achamos. Muitos líderes incentivam essa conduta, usando leis, como os dez mandamentos. Fica mais fácil liderar e manter a homogeneidade de uma comunidade através de regras já conhecidas. Veja bem, não estou dizendo aqui que tudo o que nossos pais nos ensinaram de bom é errado e que deve ser esquecido.
      Após a conversão, o superego continua presente, é impossível se livrar dele. Todavia, o problema é que, conscientemente ou não, podemos fazer a confusão de achar que esse superego é deus, pior ainda, achamos que esse deus é Deus, como eu já disse, fazemos isso porque parece mais fácil (a língua portuguesa nos limita quando queremos identificar deuses de maneira geral e o único Deus verdadeiro, pai de Jesus; temos apenas o recurso de começar a palavra com letra maiúscula ou não).
      O que tem de errado então de se ouvir a voz do tal superego e não a de Deus? Os princípios de Deus são bem extremados, não se engane ninguém que ache que eles são fáceis e voláteis. “Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos”, Isaías 55:9. “Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o senhor vosso Deus”, Levítico 20:7. Contudo os mandamentos do Senhor não são impraticáveis. “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados”, I João 5:3.
      O superego não, ele é inexorável. Seu objetivo não é repreender para ensinar, ele quer somente culpar e punir. Esse nível de consciência é construído na “carne” do homem, nada tem a ver com o Espírito Santo, identifica a natureza decaída do ser humano. Quando iniciamos a nossa caminhada com Deus, a luta que começa a ser travada em nosso homem interior, e que existirá enquanto vivermos neste mundo, é justamente entre o Espírito Santo, procurando fazer uma obra de restauração em todo o nosso ser, e a velha natureza, a chamada “carne”. "Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis", Gálatas 5:17. O superego faz parte dessa velha natureza e não do novo homem que Deus está construindo em nós. "E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade", Efésios 4:24. Mas como eu já disse, para quem não busca a Deus com todo o coração, pode ser difícil reconhecer isso, já que o discurso do superego parece tão correto, tão moral, e como também disse atrás, é um discurso que nós já conhecemos. O novo nos aterroriza, o conhecido não, mesmo que ele seja ruim.
      Então, nós podemos puxar um breque de mão logo no início de nossa caminhada com Deus. Podemos passar anos amarrados, como verdadeiros anões espirituais, sem crescimento, sem conhecer a Deus. Isso porque já achamos que sabemos tudo, de uma maneira muitas vezes inconsciente. Achamos que sabemos tudo e não chegamos a lugar algum! Ao contrário, nos tornamos escravos de um ídolo. O pior dos ídolos é aquele que tem a forma de Deus, que diz as suas palavras, que se parece muito com Deus, mas não é Deus. É criado pela nossa mente, com pedaços de Deus, ícones do cristianismo, trechos bíblicos. Mas esse ídolo, não é Deus, repito! Ao invés de libertar, ele aprisiona, surra, suga do cristão todas as suas forças, levando-o a uma depressão mais que física e psicológica, mas espiritual. Muitos chegam às portas da loucura, tentando e não conseguindo obedecer um falso deus, que é engendrado  dentro do homem.
      É esse ídolo que vicia o homem em ativismo religioso, que prende-o a metas espirituais equivocadas como falsa humildade, abnegação desnecessária. Ordens religiosas seculares foram criadas para alimentar esse ídolo, fazendo as pessoas acreditarem que o castigo da carne, a abstinência e o isolamento social fossem sinônimos de santidade e intimidade com o criador. Também é importante dizer, que não estou me referindo aqui, a jejuns e sacrifícios executados de forma sincera, que podem, sim, alcançar o amoroso coração de Deus. Mas “Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus”, Salmos 51:17.
      E não é somente dentro da Igreja e nos ministérios que esse ídolo é glorificado. Outras áreas também são lideradas por mãos de ferro por ele. Muitos cristãos simplesmente se esquecem de versículos como Isaías 64:4, “Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti que trabalha para aquele que nele espera”, e Salmos 127:1, “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela”. Vivem para o trabalho e para o dinheiro. Confiam em seguros e em poupanças, não em Deus. Têm medo de morrer e de ficarem sozinhos. Reprimem suas sexualidades ou então desandam de vez, se sentindo ainda mais culpados. Sim, porque esse ídolo não tem vitória apenas quando as pessoas tentam obedecê-lo. Ganham também quando elas não conseguem e se desviam de vez.
      Então eu novamente me lembro de Jesus, de um texto que sempre cito: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”, Mateus 11:28-30.
      Para, povo de Deus, cale-se superego, aprendamos a ouvir a voz do Espírito Santo, é tempo de parar de tentar ser mais real que o rei, é tempo de começar a viver pela fé, não deixando de trabalhar ou de lutar, mas fazendo apenas aquilo que Deus quer que nós façamos. O que Deus deseja de nós é sempre o suficiente, equilibrado, possível de ser feito, e feito com alegria e competência. Mas esteja pronto, povo de Deus, isso pode coloca-lo numa posição de simplicidade, de marginalidade, longe de qualquer notoriedade.
      É tempo de buscar a Deus, com sinceridade, com fé, com todo o coração, é tempo de lançar por terra os ídolos emocionais e dar lugar ao Santo Espírito de Deus. "Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo", I Coríntios 2:16. “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”, João 14:26. O novo homem, que o Senhor gerou em nós, tem a mente de Cristo e o Espírito de Deus. Deus é eterno e santo, existia antes que tudo existisse e a tudo criou do nada. Ele não é criação do homem, parte de nossa consciência, o superego ou seja lá o que os sábios deste mundo podem dizer que é. É tempo de se ter coragem de invocar esse Deus, o todo poderoso, e de clamar a ele por um milagre, em nossas vidas, nas vidas de nossos queridos, na Igreja no Brasil e no mundo. 

4 comentários:

  1. Não entendi muito bem, mas é um texto bonito.

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    1. obrigado pelo retorno, mas se especificar a dúvida talvez eu possa ajuda-lo, mas é um post antigo, se puder acompanhe os mais recentes, abraço

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    2. meu Jesus! Estou ate agora perplexo de como o senhor conseguiu resumir tão bem um assunto tão complicado, a parte onde fala do idolo parecido com Deus, nossa muito bem exposto, sou estudante de Teologia e gostei muito do texto, muitos cristão deveriam ler textos como esse.
      O maior inimigo do Cristianismo são os egos inflados dos Cristãos. Parabéns meu irmão.

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  2. Bem elucidativo. Estou estudando id, ego e superego e desde do id, imaginei-o como o pecado que já está enraizado no homem desde que Adão pecou. E o próprio Freud disse: "O máximo que as pessoas poderiam esperar ... ", "Seriam a troca do sofrimento neurótico pela infelicidade costumeira." Ele não dar nenhum tipo de esperança com o seu método.

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