sábado, agosto 20, 2011

"Morte do cristianismo"?

Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade”. “Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar; e isto faz Deus para que haja temor diante dele” Eclesiastes 3:19 e 3:14

      A morte do cristianismo? Não, mas as instituições cristãs, todas elas, já estão em estado de coma a algum tempo. Não se iluda, você que é da chamada oficial, ou você que é da que protestou contra a oficial, ou você que protestou contra a que protestou. Todas as instituições estão batendo as botas. Mas tinha que ser diferente? Acredito que não. O que a alma do homem cria está fadado a falecer. Tem começo, meio e fim, nunca será eterno. Por quê? Porque foi criado pela alma, centro das emoções e pensamentos humanos, intrinsecamente finita. Assim é com a arte, com a filosofia e mesmo com a ciência. O que é um fundamento seguro hoje, pode ser estilhaçado amanhã, quando um novo fundamento é elaborado e aceito pela maioria. Mas as instituições são desnecessárias, esta é a verdade, pelo menos seriam se as pessoas tivessem coragem para confiar num Deus pessoal, buscando agradá-lo, e não às outras pessoas. As instituições cristãs se fortaleceram com as fraquezas humanas, com a preguiça espiritual, com a religiosidade.
      Entre quinhentos e mil anos atrás era diferente, tinha-se que engolir “a” instituição cristã, com sua doutrina maniqueísta, colocando o homem como um frágil joguete das forças morais. Os poucos que se levantavam, com uma crítica racional, contra a arrogância da instituição cristã que se achava no direito de interpretar todas as áreas da existência através de sua ótica dos textos e tradições judaicas e cristãs, eram calados à força. E é importante que se diga que a instituição fazia esse controle da humanidade não porque se achasse, mesmo sendo isso uma insanidade, dona dos destinos das almas humanas, isso pelo menos seria um motivo que poderia ser chamado de espiritual. A instituição fazia isso simplesmente para lucrar e lucrar poder neste mundo, riquezas, terras, posições políticas, grana, era materialismo puro (até lotes no céu eram vendidos).
      Mas as instituições chamadas cristãs perderam a força, e estão perdendo cada dia mais. As pessoas podem pensar diferente que não serão mortas por isso, não precisarão mais se esconder dentro de ordens secretas ou em grutas. Veja que neste momento não estou defendendo o cristianismo, mas a liberdade de pensar e de escolher. Também estou poupando as grandes instituições cristãs, ou “a” grande, usando a palavra instituição, genericamente, e não dando nomes aos bois, bem, você entendeu (só pra constar, instituição, conforme o dicionário Michaelis, é um “complexo integrado por ideias, padrões de comportamento, relações inter-humanas e, muitas vezes, um equipamento material, organizados em torno de um interesse socialmente reconhecido”).
      O que tem decretado a suposta morte do cristianismo é o racionalismo científico. A ciência tem sido opositora à religião. Mas a ciência realmente se opõe à religião, ao cristianismo? Eu não acredito nisso, não se ambas forem legítimas. A verdadeira ciência se opõe, sim, à falsa religião, e a verdadeira religião se opõe à falsa ciência. Contudo, o que ocorre é que elas são coisas diferentes, com propostas de entendimento de áreas diferentes do ser humano. Quando “a” instituição cristã pretendeu ditar princípios científicos, além dos religiosos, para se apossar do poder deste mundo, ela lançou o mundo ocidental numa chamada “idade das trevas”, com isso perdeu sua legitimidade. A mesma coisa acontece quando a ciência quer intervir na experiência religiosa, pode levar o homem à escravidão do ateísmo, algo que, ao meu ver, é impossível. Não acredito que alguém possa ser absolutamente ateu.
      Seria tão fácil a convivência, se ambas tivessem um pouco de humildade. A ciência se propõe a descobrir e explicar as coisas através da metodologia científica, sua ferramenta, então que assim seja. Contudo não tente ela negar aquilo que é experimentado pela fé, que é a ferramenta de uso da religião. Se a ciência não pode provar que as experiências religiosas são verdadeiras, ela também não pode provar que as experiências não são, que caminhem juntas, ora bolas.
      A religião, por sua vez, deve usar a razão para discernir aquilo que é legítimo ou não nas experiências religiosas. Claro que esse uso deve ser feito debaixo do temor de Deus. Mas assim como a ciência se intromete em assuntos que ela ainda não explica e talvez nunca irá explicar, a religião também aceita como verdade, fantasias que não passam de criação das mentes humanas, nada têm a ver com Deus (quer exemplos? Santo sudário, estátuas que choram, estigmas, e aí vai). A verdadeira religião cristã não nega ao homem o direito de usar a inteligência, a falsa religião sim. Por quê? Para poder ter mais controle, quem não pensa, principalmente como indivíduo, é fácil de ser manipulado, é somente um no meio da massa.
      Contribuiu para o tal decreto da morte do cristianismo, dentre outras coisas, os estudos psicanalíticos de Freud e a Teoria da Evolução de Darwin. (Sobre Freud nós já falamos alguma coisa na postagem “Superego ou Deus?”, quando puder, dá uma conferida.) Mas quem disse que o evolucionismo não cabe no criacionismo? Quem disse que os sete dias da criação foram sete períodos de vinte e quatro horas, ao pé da letra? Não que Deus não possa criar um mundo em sete dias de vinte e quatro horas, eu creio que pode. Mas não podem ter sido sete eras de milhares de anos? E qual é o problema que há em se chamar de “Adão” o primeiro homo sapiens sapiens? Um primata bípede, com um cérebro  desenvolvido, com raciocínio abstrato e linguagem, associada a um corpo ereto que lhe possibilitaram o uso dos braços para manipular objetos, etc, etc, etc? (Quer saber mais consulte um livro de antropologia, não é pecado não, crente.)
      Então se é assim, por que Deus não permitiu que isso fosse escrito na Bíblia? Os textos bíblicos mais antigos remontam a três mil e quinhentos anos atrás (quando Moisés começou a escrever o Pentatêuco). O povo daquela época, e mesmo muita gente de hoje em dia, não entenderia essa explicação científica. Mas nem precisaria entender, o objetivo de Deus foi deixar claro que seja lá quando foi e como foi, ele acompanhou a criação, mais ainda orientou-a, a permitiu, a executou, desde que o primeiro organismo monocelular foi gerado nas águas do nosso planeta ou foi trazido pela poeira de estrelas. Poeira de estrelas ou organismo monocelular, passando pelos primeiros primatas até o homo sapiens sapiens, Deus estava no controle, e sempre estará.
      Todavia isso não impede que hoje, no grau de maturidade racional e emocional que a humanidade está chegando, ou pensa que está, o homem estude profundamente as coisas, não para provar que a Bíblia está errada ou que Deus não existe, mas para entender como Deus fez tudo em seus detalhes. Isso não é para ser uma disputa contra a religião, mas um privilégio, uma graça, uma oportunidade de usar a inteligência humana para saber como todo o processo realmente aconteceu, de um modo tão maravilhoso.
      A religião e a ciência, se forem realizadas com verdade, caminharão para o mesmo destino, apesar de terem começado em lugares distintos. Eu só não sei se a humanidade terá tempo para isso, se o fim não vai chegar antes. Mas eu sempre fico imaginando, onde estaria a ciência se o pecado não tivesse entrado na nossa história, fazendo com que todo o sistema de vida deste planeta entrasse em decadência. Acho que já estaríamos colonizando outros sistemas solares a algum tempo. Já pensou nisso?
      Então, você que é cristão, não se preocupe com o fato das instituições estarem morrendo. Elas são usadas por Deus, mas elas não podem usar a Deus, elas podem conter um pouco de Deus, não ele todo. A verdadeira Igreja é feita de carne, alma e espírito, das pessoas que realmente andam com Deus e que conhecem a Jesus como o único caminho entre Deus e os homens. “E odiados de todos sereis por causa do meu nome, mas aquele que perseverar até ao fim será salvo”, (Mateus 10:22). Vai chegar o tempo em que as pessoas não poderão mais se esconder do mundo dentro da igreja, da religiosidade, sob o manto licencioso da instituição, vestindo somente disfarces de santos. Nesse tempo, a fé terá que ser genuína, a santidade notória, e o coração, um só com Deus. Se ainda não pensamos, é bom começarmos a pensar nisso, seriamente.

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