Veja que isso não substitui a música secular, cuja apreciação penso ser possível e necessária, pelos cristãos e principalmente pelos músicos cristãos, para conhecimento da arte. Música secular de qualidade, erudita, jazz, blues, rock e mesmo pop, também pode ser ouvida, com sabedoria e ciência, sem que subverta de alguma maneira os valores cristão.
A cultura do cristão vai além da cultura dos cidadãos desse mundo.
Sim, é necessário que conheçamos a arte, a literatura, as estéticas de todas as
expressões, produzidas por homens sejam quais forem suas posturas religiosas, isso
para que possamos ser membros produtivos e modificadores nesse planeta. Mas, além
disso, os crentes evangélicos/protestantes têm cultura bíblica, um conhecimento
de Bíblia, do antigo testamento, da história judaica e do novo testamento, que
outras pessoas, mesmo outros cristãos, não têm.
Se a música de adoração serve para os cultos e momentos de
intimidade com Deus, uma música cristã como arte, é útil como trilha sonora
para outras tantas atividades que temos que desempenhar durante a maior parte
do tempo. Para isso interessa que se produzam peças, que até podem ser usadas
para adoração, mas que servem melhor para ser ouvidas no carro, no ambiente de
trabalho, enquanto se estuda, enquanto se faz as atividades domésticas. Nesses casos, ritmos e harmonias direcionados para faixas etárias e culturais podem
ser usados, diferentes daqueles usados para a adoração da igreja, onde estilos
que agradam a maioria são mais convenientes.
Para um migrante nordestino convertido, não é agradável ouvir um forró,
com uma letra contando a história de um dos heróis do antigo testamento? Para
um jovem não é divertido apreciar uma guitarra pesada e técnica acompanhando um
testemunho? Para pessoas maduras e de cultura mais refinada, não seria prazeroso
ouvir um trio de jazz fazendo a “cozinha” para um salmo? Pois é, ritmos diferentes
daqueles usados para a adoração e louvor, mas empregados na produção de uma música
cristã mais eclética, mais artística.
Além de ser usufruto cultural de cristãos, esse tipo de música
também é mais adequado para o evangelismo, pode perfeitamente ser tocado numa
estação de rádio secular sem “chocar” e ainda assim conseguir compartilhar o
Evangelho. Além do estilo musical, para esse tipo de música, se encaixam letras
de testemunho e de convite à salvação, letras mais subjetivas, mais poéticas, “secularizadas”
no melhor sentido do termo.
Contudo, como crente e músico com alguma experiência e vivência,
permita-me fazer uma ressalva, e digo isso principalmente aos mais novos (está
bem, digo também aos mais velhos já que todos somos sempre aprendizes): produzir
e consumir arte cristã requer cuidado, equilíbrio. Que
hajamos com precaução com nossas almas, sabendo que o alimento que advém da
leitura da palavra e da adoração, é prioridade para uma boa saúde espiritual. Portanto
nada pode substituir isso.
Acredito que não podemos nos alimentar de alimento mais pesado o tempo todo, às vezes é importante um alimento mais leve. Bem, música
cristã como arte se propõe justamente a isso, ser um alimento espiritual mais leve, e ainda assim fazer bem ao nosso espírito e bastante a nossa alma.
Obviamente, como linguagem mais artística, é preciso que aqueles
que façam esse tipo de música sejam mais técnicos assim como proprietários de
uma identidade musical verdadeira. Quem passou a vida ouvindo música sertaneja,
deve compartilhar música regional, e não rock. Jazz deve ser tocado por quem
domina o estilo, assim como música instrumental erudita por quem estudou
bastante seu instrumento. Mas no gênero “pop” há espaço pra todos, já que pop
pode ser qualquer coisa, já que mistura tantos estilos que não pode ser encaixado
especificamente dentro um.
E você, o que acha de música como arte cristã (ou música cristã como arte)? Existe espaço em
sua vida para apreciar isso? Ou você prefere ouvir música de adoração o tempo
todo? Não, aqui não existe qualquer apologia à secularização ou a uma vida
espiritual mais fria, o que estou tentando compartilhar é que um crente maduro
e contextualizado pode servir melhor a Deus, valorizando cultura e arte. É,
meus irmãos, Deus tem muito mais pra nós do que nós muitas vezes achamos e
queremos, Deus é perfeito em tudo.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário