quinta-feira, outubro 11, 2018

Escravos do prazer

      "Vocês construíram um reservatório entre os dois muros para a água do açude velho, mas não olharam para aquele que fez estas coisas, nem deram atenção àquele que há muito as planejou. Naquele dia o Soberano, o Senhor dos Exércitos, os chamou para que chorassem e pranteassem, arrancassem os seus cabelos e usassem vestes de lamento. Mas, ao contrário, houve júbilo e alegria, abate de gado e matança de ovelhas, muita carne e muito vinho! E vocês diziam: "Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos". O Senhor dos exércitos revelou-me isso: “Até o dia de sua morte não haverá propiciação em favor desse pecado”, diz o Soberano, o Senhor dos Exércitos.Isaías 22.11-14

      Fazendo uma aplicação direta e atual, sem me ater ao contexto histórico, o texto acima faz uma dura exortação àqueles que confiam em si mesmos, nos poderes deste mundo, nas riquezas, na estabilidade do dinheiro, na proteção de imóveis, de amizades, de empregos, e não em Deus. Todo trabalho, mesmo honesto e esforçado, mas realizado por um coração que não teme ao Senhor, é vão. Enganados assim, muitos se acham por cima, se acham intocáveis, se acham protegidos, e ao invés de se quebrantarem diante de Deus, com choro e tristeza, comemoram, com festas, com comida, bebida e tantos outros prazeres da carne. Dor por culpa? Superam com a satisfação imediata do corpo. Preocupação com o futuro, com um julgamento pós vida terrena? Não têm, importa o agora, o hoje, comer e beber pois quando a morte vier, prazer já não haverá mais.
      Vamos refletir um pouco mais sobre prazer, que a princípio parece algo mais básico, como comida, bebida, sexo, contudo, o ser humano busca e necessita de outros tipos de prazeres. Cultura, arte, ler um livro, ver um filme, ouvir música, tudo isso também gera prazer. Outra coisa que precisa ser dita, que ao contrário daquilo que a tradição católica gravou no DNA da sociedade ocidental, prazer não é necessariamente pecado, assim como evitá-lo, em conventos e monastérios, não é necessariamente espiritualidade. Pecado é idolatria, e ídolo é tudo o que colocamos no lugar de Deus, enquanto adorar ao Deus verdadeiro nos faz filhos felizes e livres, adorar ao prazer, nos faz viciados e escravos. Adorar sexo, bebida alcoólica, esporte, música ou “santos”, é tudo igualmente idolatria, tentativas de substituir a satisfação que só Deus pode dar por outras coisas.
      E os crentes, eles também buscam prazer? Claro, são humanos, e Deus em sua graça dá a todos nós a porcão de prazer que precisamos e que nos faz bem, na área material, intelectual e espiritual. Contudo, como sempre busco fazer aqui, nas heresias, que muitos consideram só uma visão espiritual diferente, e não heresias, identifico, não espiritualidade, mas simples e básica busca de prazer em muitas manifestações religiosas. É só isso quando não há equilíbrio, maturidade, mas só exteriorização emocional e física sem controle de uma experiência com o Espírito Santo, por exemplo, quando as pessoas falam em línguas estranhas, se movimentam e se jogam ao chão em desenfreados frenesis. Isso pode levar à insanidade tanto quanto o uso de substâncias que levam a estados alterados de consciência. Lembro que o diabo é um imitador principalmente de virtudes espirituais, quem busca só prazer nos dons pode estar possuído, literalmente, por “espíritos de porco” (termo que se refere aos demônios que pediram a Jesus para entrar nos porcos em Mateus 8.31) e não pelo Espírito Santo.
      Uma das verdades fundamentais do evangelho é que a salvação em Cristo é obtida pela fé, não por obras, Habacuque 2.4 já ensinava que o justo viverá pela fé no antigo testamento, Abraão foi justificado por ela, pois ainda não havia lei em seu tempo, esse também é o tema que o teólogo apóstolo Paulo defende sempre, e que é assunto principal da carta aos Romanos. Mas o que fé tem a ver com prazer? São coisas antagônicas, o que crê deve desconsiderar qualquer emoção para acreditar, qualquer um dos sentidos físicos, ele acredita sem ver, sem ouvir, sem sentir. O que deseja prazer busca o contrário, quer sentir, ver, ouvir, tocar, sem precisar crer, mesmo que sejam os delírios e alucinações provocados pelos prazeres físicos extremados. Assim a busca obsessiva por crentes, de experiências aparentemente espirituais, acaba sendo mais carnal que de fato espiritual. 
      Quer ser espiritual de verdade? Creia na palavra, o Espírito Santo é a palavra viva e absoluta de Deus em nós, relativisada no cânone bíblico, não dependa de sentimentos, ou mesmo dos dons espirituais mais “pops”, e entenda que muitas vezes na vida de homens e mulheres maduros, não haverá prazer, só dever que terá que ser cumprido de qualquer jeito. A maior missão de todos os tempos foi executada por alguém que teve que negar todo tipo de prazer, a salvação de toda a humanidade pela vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Estamos viciados demais em prazer, e neste mundo moderno, em prazer imediato e total. Jovens não esperam casarem-se para terem vidas sexuais completas, e me entendam bem, quem me acompanha aqui sabe que não defendo legalismos e falsos moralismos. Quando digo que não esperam, não me refiro a relacionamentos sérios e responsáveis de anos, ainda que não legalizados, falo de menor de idade que vai a uma balada numa sexta-feira à noite e transa com alguém que acabou de conhecer. 
      O pior é que atualmente a adolescência não acaba aos vinte anos, o homem e a mulher atuais passam dos quarenta anos ainda querendo só prazer, e não compromissos, entrando e saindo de casamentos, enquanto fazem filhos que serão tão irresponsáveis quanto eles. E as igrejas cristãs, que diferença fazem nessas tristes histórias? Atualmente, pouca diferença, muitos pastores, com medo de perderem seus dizimistas, não ensinam, não exortam, não conduzem ao choro e ao pranto de arrependimento, mas às festas, e como tem festas principalmente em igrejas pentecostais. A palavra final do texto bíblico inicial é muito séria, que o Senhor tenha misericórdia de nós, que estas últimas gerações, talvez do mundo, paguem o preço de dor e de negação de prazer agora, antes do arrebatamento, para não terem que pagar depois, não sendo arrebatadas e permanecendo num mundo oprimido pelo enganosa última cartada dos diabos e pela agonia derradeira, um preço muito maior.

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