sábado, outubro 27, 2018

Escravos ou servos?

      “Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo; Não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; Servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens. Sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre. E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu, e que para com ele não há acepção de pessoas.Efésios 6.5-9

      No texto inicial da carta aos Efésios, Paulo, junto de orientações a outras classe sociais, admoesta servos e senhores. Primeiro é importante falar de algo que é claro na Bíblia, mas ainda assim muitos não ligam os pontos. Havia sociedade, nos tempos bíblicos, no antigo testamento, na época de Jesus e na época de Paulo, o sistema de escravatura, não era igual sistema que trazia africanos para o Brasil, e outras partes do mundo, durante o período colonial e imperial, eram coisas tecnicamente diferentes. Grosso modo, eram submetidos à escravidão na antiguidade, aqueles que perdiam guerras, assim eram despojos, usados em vários serviços pela nação vencedera, inclusive atividades bem nobres, vejam o exemplo de Daniel. Já na escravidão de africanos, esse eram considerados inferiores e eram úteis nos trabalhos braçais, principalmente na agricultura. 
      Esse assunto merece um estudo bem mais profundo, de uma forma ou de outra, escravo é alguém que é propriedade de outra pessoa, pode ser comercializado como um animal, ou imóvel ou uma terra. Contudo, o que precisamos entender é que tanto Jesus quanto Paulo, e os outros escritores do novo testamento, nunca se opuseram a essa prática, que hoje consideramos odionda. Ao contrário, Paulo orienta escravos, que a tradução chama convenientemente de servos, a serem bons escravos. Mas Paulo orienta também os senhores, os donos de escravos, a serem bons senhores, a tratar servos sem violência, a parte boa é que espiritualmente, o evangelho não diferencia senhor e servo. Ambos podem ser salvos e diante de Deus são iguais, com os mesmos direitos de redenção por Cristo e proteção de Deus.
      Assim, quem não ainda aceitou, aceite, a Bíblia tem ensinamentos atemporais e gerais? Sim, mas nem tudo o que está na Bíblia e que é ensinado como regra, deve ser obedecido nos dias de hoje. Lembro que as mulheres tinhas poucos direitos a mais que os escravos, nos tempos do novo testamento, e nem Cristo, nem os apóstolos, sem pronunciaram contra isso, ao contrário, Paulo orienta que as mulheres fiquem caladas nos cultos (I Coríntios 14.34-35) e que se submetam aos seus maridos. É isso que o Espírito Santo nos ensina hoje em dia? Não! E talvez daqui a cem anos, se a humanidade existir como a conhecemos nos dias de hoje, o Espírito Santo abrirá nossas mentes e corações para agirmo de forma ainda mais diferente, em relação a alguns temas polêmicos atualmente. 
      Não, isso não é o pecado vencendo, mas é o amor nos ensinando, o amor que ficará quando muitos dons espirituais não mais forem necessários. Assim, se queremos entender todos os ensinamentos maravilhosos da Bíblia, todas as histórias, estórias, personagens e mitos, busquemos ajuda do Espírito Santo, o Espírito é vivo, mas a palavra, mesmo bíblica, sem o Espírito, é inútil podendo conduzir mesmo a heresias e preconceitos. Por que tantos se equivocam e usam a Bíblia como base? Ociosidade, ou, preguiça, intelectual e espiritual, ler e obedecer cegamente é fácil, mas conhecer os mistérios de Deus em oração, requer trabalho, requer consagração, requer coragem para depois viver o que se aprendeu, mesmo não sendo aquilo quemos ociosos vivem.
        Vou fazer agora uma ligação entre esta reflexão e a reflexão de ontem, “Ação de bem” (se não leu, por favor, leia), agir e reagir como cristão tem a ver com entender a diferença entre ser escravo de obrigações e servo de Deus. O que o texto de Paulo nos ensina, mesmo se referindo a um costume social que não existe mais nos dias de hoje e é rejeitado em alto e bom som? O Espírito Santo nos ensina através de Paulo sobre o espírito que devemos fazer as coisas na sociedade, na igreja, na família: “Não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; Servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens.”. 
      A Bíblia é maravilhosa, se a interpretarmos pela ótica do Espírito Santo que inspirou os homens, não pela ótica dos próprios homens que a escreveram, e que talvez nem tivessem noção da profundidade, e sim, atemporalidade de seus textos. As sociedades mudarão, e nem se engane achando que a sociedade atual é algum suprasumo, ele também mudará e muita coisa pregada hoje como modernidade, como alto nível moral, com tolerância e liberdade, se mostrará, repito, se houver tempo, pouco, limitado, retrógrado. Todavia, a Bíblia será lida daqui a mil anos, e com a interpretação do Espírito Santo, os homens acharão nela sabedoria exclusiva, consolo, salvação e discernimento para viver neste mundo e na eternidade.
      Escravo do homem ou servo de Deus, o que somos? Isso vai definir com qual espírito fazemos as coisas, com estupidez ou com amor, e entendamos que isso é indiferentente de sermos ou não escravos de compromissos, de deveres, mesmo de chefes injustos que nos tratam, mesmo nos dias atuais, como escravos, não como colaboradores. Se a carga está pesada, fale diretamente com Deus, peça para ele por mão no assunto, mas não se indisponha com os homens. O que serve a Deus faz sempre o seu melhor para Deus e espera dele, e somente dele, a honra, o que serve a Deus é livre, mesmo num mundo injusto e que pensa nos acorrentar, “Sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre.”.

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