sábado, dezembro 11, 2021

Empatia, unanimidade, humildade

      “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram, sede unânimes entre vós,
      não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes, não sejais sábios em vós mesmos” 
Romanos 12.15-16

      Uma religião que divide a humanidade entre condenados e salvos pode amar? Pode, mas com dificuldades, que surgem como consequências do equívoco que divide e não une. Muitos podem pensar assim: “alguém que já sabemos antecipadamente que está condenado, não temos a obrigação de amar, se esse vai para o inferno deve ter feito muita coisa errada, e não deve merecer nosso afeto, por outro lado, alguém que cumpre os protocolos para ser salvo, deve merecer nosso crédito, inclusive apoio se estiver na política, meio onde protestantes e evangélicos precisam ser mais representados”. 
      Assim, evangélicos amam evangélicos, mas não precisam amar espíritas ou católicos, ainda que não os odeie, o conceito “céu e inferno” já possui inerente separação, portanto, o preconceito e a não obrigação de gostar do que é religiosamente diferente. Isso podia não ter piores consequências quando o evangélico era mais humilde, mas atualmente, com o ser humano cada vez mais egoísta, pensando muito em seus direitos e pouco nos direitos dos outros, com um humanismo conveniente que exalta o homem e nega Deus, o cristianismo que já era polarizado na teoria, é afetado na prática social. 
      Atualmente, evangélicos querem ir à forra, vingarem-se da perseguição que sofreram, e que nem foi tão grande assim, terem influência nos governos, consequentemente, dividirem ainda mais a sociedade, e não estou exagerando, esse é posicionamento de muitos líderes. Mesmo no texto bíblico inicial unanimidade se refere à relação de cristão com cristão, não de cristão com o mundo, ele diz, “sede unânimes entre vós”, referindo-se à comunhão dentro de igreja. Mas será que era a isso que Jesus se referia ao ensinar sobre amor? Mas o autor de Romanos fala de outra faceta do amor, a empatia. 
      “Alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram”, só amamos quando provamos essas interações, e quando são vivenciadas muros são destruídos. Empatia é a “capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de apreender do modo como ela apreende”. Quando há essa identificação, que na verdade é onde reside o conceito de irmandade, há uma ligação mais íntima que a de laços de sangue, de família, há laços espirituais, de alma, aí há amor que une e não separa. Há cumplicidade de quem se põe no mesmo nível emocional do outro. 
      A pandemia da covid 19 deveria dar ao ser humano a oportunidade de ser empático, já que ela atinge a todos, tem feito pessoas diferentes sofrerem, mas infelizmente, ainda assim, muitos têm usado essa tragédia para separar e odiar. Polarização burra, extremismos inúteis, diferenças que na verdade não existem já que na essência espiritual somos todos iguais, e o pior de tudo é que muitos cristãos estão se colocando num dos polos, mitificando um e demonizando o outro, eis céu e inferno novamente creditados. Que o falso cristianismo seja humilhado para que Cristo seja exaltado. 
      Não vou negar a doutrina de penas eternas e extremas descrita na Bíblia, não quero escandalizar ninguém, mas o mínimo que a sabedoria pede, que o bom senso cristão orienta, é que deixemos para identificar quem vai para o céu e quem vai para o inferno na eternidade. Cristãos, esqueçam disso no mundo, mas amem, sejam empáticos, principalmente com os diferentes. Que espiritualidade há em sofrer com quem concorda com nosso posicionamento político, ou se alegrar com quem vota no mesmo candidato para presidente que nós? Em Cristo somos chamados para mais que isso. 
      Nos alegrarmos com a alegria do outro e não invejá-la, principalmente se o outro for alguém diferente de nós, assim como chorar com a tristeza daquele que discorda de nós, e não sorrir por dentro, numa vingança sutil, satisfeito pelo sofrimento de quem quer dar a última palavra em polêmicas tolas, isso é amor. Quem ama assim não manda para as “chamas eternas”, antes luta pela pessoa em oração, dispõe-se a ajudá-la se Deus permitir e na sabedoria de Deus, se todos amássemos assim esvaziaria-se o inferno. O que desejamos como cristãos, salvar ou condenar? Salvar é unir, não é dividir. 
      Interessante a segunda parte do texto bíblico inicial, à exortação sobre unanimidade segue orientação sobre humildade, o que têm a ver as duas coisas? Unanimidade pressupõe todos na mesma altura, um não dominar sobre o outro por se achar com entendimento superior, por isso tendo os outros a obrigação de pensarem como ele pensa. A arrogância divide pois leva um a se achar no direito de convencer o outro sobre seu ponto de vista, por isso só se chega à unanimidade com humildade, onde ninguém se acha dono de verdade exclusiva, mas todos harmonizam as verdades dos outros às suas. 

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