domingo, abril 17, 2022

Parábola das casas (77/90)

      “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens.
João 10.9

      Três homens viviam felizes na terra natal com um pai, era um lugar onde o clima era equilibrado, nem era quente demais, nem era frio demais. Um dia o pai lhes deu uma tarefa, irem até três terras distantes, lá deveriam trabalhar por algum tempo, conhecerem os habitantes e depois retornarem à casa paterna. O pai conhecia bem os filhos, assim como conhecia as terras para as quais os estava enviando, dessa forma escolheu um lugar diferente para cada um. O primeiro filho enviou a uma terra com clima quente, o terceiro filho enviou a uma terra com clima frio, essas terras eram mais próximas. Já o segundo filho enviou para uma terra com clima semelhante ao da terra natal, essa terra, contudo, era mais distante. 
      Algum tempo depois, dando o prazo que o pai orientou para que ficassem longe, os três filhos retornaram para a terra de origem. O primeiro filho, acostumado ao calor do lugar onde tinha passado os últimos tempos, entrou na primeira casa que achou na terra do pai, mas sentiu que ela era muito fria, depois entrou em outra e em outra, até achar uma casa mais quente. O terceiro filho, também acostumado ao clima do lugar onde tinha passado os últimos tempos, procurou uma casa mais fria, achou na primeira que entrou e nela ficou. Esses nem esperaram chegar à casa do pai, estranharam o clima de sua terra e só queriam uma casa, o mais rapidamente possível, com climas semelhantes aos das terras onde estiveram. 
      Dando o prazo o segundo filho também voltou, mas entrou na terra natal e caminhou até achar a casa do pai, abraçou o pai e logo foi trabalhar. Como os outros dois demoravam, o pai esperou, mas após aguardar um tempo perguntou ao segundo filho, “e teus irmãos, não vão retornar?”. O segundo filho respondeu, “se o Senhor autorizar vou procurar por eles, podem estar em algum perigo”, “vá”, respondeu o pai. Não demorou muito para que o segundo filho voltasse com os irmãos. O pai lhe perguntou, “já voltou?”, “sim, eles estavam perto, aqui em nossa terra, mas em outras casas”. Entristecido, o pai disse, “eu os enviei para aprenderem uma lição, contudo, vejo que a viagem fui inútil, não entenderam o principal”. 
      O primeiro e o terceiro filho responderam, “pai, as terras para as quais nos enviou eram muito diferentes desta aqui, nos acostumamos com o calor e o frio, por isso nos abrigamos nas primeiras casas que achamos com climas semelhantes”. O pai respondeu, “e ficaram dentro delas? se ao menos tivessem saído para trabalhar, ainda que depois retornassem a elas, poderiam ter usado melhor o tempo, o irmão de vocês voltou para a nossa casa e logo saiu para trabalhar”. Os filhos responderam, “mas o lugar para o qual o senhor o enviou tinha um clima melhor”, o pai respondeu, “eu o mandei para lá porque antes, quando ele estava aqui, trabalhava bastante, não ficava em casa, enquanto vocês só descansavam”.
      Os filhos responderam, “mas nós obedecemos o senhor, trabalhamos e voltamos”, o pai respondeu, “mas não para esta casa, o irmão de vocês foi para uma terra mais distante, esforçou-se mais para chegar lá e para voltar, ainda assim chegou antes de vocês, se pôs a trabalhar e achou forças para voltar e procurá-los; se ficassem tempo suficiente trabalhando fora das casas, teriam se lembrado do clima da terra que de fato é de vocês, mas ficaram presos às terras nas quais eram para viverem só temporariamente, não sentiram saudades da casa do pai, cuja temperatura é equilibrada, o lugar onde foram criados, assim, que voltem às casas nas quais estavam e fiquem, até que se lembrem quem são e qual é a terra de vocês”.

      Deus, nosso pai espiritual, nos conhece, sabe de nossas lutas, de nossos esforços, que muitas vezes nada têm a ver com prosperidade material ou com reconhecimento no mundo. Nosso maior trabalho é vencermos a nós mesmos, nossas fraquezas, nossas carências, para entendermos e praticarmos virtudes morais. Assim, o que o Senhor permite que aconteça conosco nesta vida, nos movimentos do mundo, nos jogos do universo, nos sistemas humanos, é o que podemos suportar para sermos melhores, para construirmos o homem interior melhor que levaremos à eternidade.
      Três homens diferentes, três provas distintas, todas autorizadas por um pai justo que conhece o passado, o presente e o futuro de cada um. O que é prova para um por ser quente, pode não ser prova para o outro, mas para esse outro a prova é o frio, que não é prova para o primeiro. Um outro homem, contudo, que já foi provado no quente e no frio, será provado não pela novidade da prova, mas pelo tempo. O segundo filho foi para uma terra com clima mais fácil de suportar, mas passou mais tempo indo e vindo, distante da posição onde já tinha estabelecido suas referências. 
      Se as provas do primeiro e do terceiro filho foram amadurecer experimentando coisas novas e diferentes, a do segundo filho foi manter o amadurecimento  mesmo com tudo igual. O prazer novo prova tanto quanto o velho tédio. As provas do primeiro e do terceiro filho foram externas, do mundo contra o homem à medida que esse põe em prática o que crê, mas a do terceiro filho foi interna, do homem contra ele mesmo, quando ele não terá mais novidades, mas ainda assim deverá manter-se fiel ao que crê e é. Quando tempo demais passa, mesmo que tudo esteja bem, podemos nos perder. 
      Depois de nascermos no mundo aprendemos do zero a nos adaptar a ele, para conseguirmos sobreviver dignamente no corpo físico, mas trouxemos conosco um espírito, essa é a referência de algo maior, do que realmente somos, de onde viemos e para onde voltaremos, a eternidade espiritual perto do pai. Ainda que existir fisicamente tome muito do nosso tempo aqui, nosso trabalho principal é espiritual, devemos suportar o mundo, sermos felizes nele, vencê-lo, mas não nos convencermos que somos parte dele, que ele é o melhor para nós, no mundo estamos de passagem. 
      A prova maior na parábola inicial não estava nas terras distantes, nas quais os três homens teriam que passar um tempo. Cada um de nós tem provas diferentes, e ninguém é melhor que ninguém pelo tipo de prova que passa. Mas a prova estava na volta à terra de origem, qual seria a reação de cada homem. Muitos ganham o mundo, mas se esquecem do céu, até procuram uma religião, mas mais adequada à visão que eles têm do que é melhor no mundo, assim escolhem uma casa, uma crença, e se prendem a ela, sem voltarem à casa do pai. A prova maior estava nas casas. 
      Não podemos evitar sermos enviados pela vida a lugares distantes, para exercermos tarefas na área profissional, para nos relacionarmos com pessoas diferentes e conhecermos coisas em tantas áreas, isso teremos que viver de um jeito ou de outro. Contudo, podemos evitar o pior no final, quando enfrentaremos a morte e a eternidade, para isso podemos nos preparar, pois sabemos que é inevitável. Que no final, depois de termos feito tudo e mantido o que conquistamos, possamos ter o amor que teve o segundo filho, que voltou para ajudar os dois irmãos, ele trabalhou e até o fim. 

Esta é a 77ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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