quinta-feira, abril 07, 2022

Juiz e Senhor, só Deus (67/90)

      “Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai. Mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar. Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia para o Senhor o não faz. O que come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus.” 
Romanos 14.4-6

      Julgamos com frequência as pessoas quando achamos que elas fazem ou são menos que deveriam fazer ou ser, fazemos isso baseados no que nós achamos que elas devem fazer ou ser. Muitas vezes fazemos isso para que de alguma forma sejamos beneficiados e de uma maneira maldosa, diminuindo os outros para que nós injustamente cresçamos. Mas quem é o Senhor, nós ou Deus? A quem as pessoas e nós daremos contas, a nós mesmos ou a Deus? Se só Deus é Senhor só ele sabe o que pede de cada um de nós, e sendo assim só ele poderá julgar se fizemos ou não o que ele pediu, se fomos ou não o que poderíamos ser de melhor com o que dele recebemos. 
      Julgando injustamente achamos que alguém, que aos nossos olhos muito recebeu, fez pouco com isso, foi ocioso, egoísta, poderia ter beneficiado mais pessoas e não beneficiou. Mas quem sabe o preço que alguém paga para crescer, um pouco que seja, para se libertar de vícios, para ser melhor no final de sua vida em relação àquilo que era no início? Muitos trabalhos não são vistos, não aparecem exteriormente, mas são realizados no homem interior, e esses só Deus de fato vê e mede. Nós homens somos moralmente míopes demais, egocêntricos demais, olhamos na maior parte do tempo só para nossos umbigos e ainda achamos que podemos julgar os outros. 
      Alguém ter nascido com mais posses, ter mais facilidade para ser intelectualmente inteligente, ter um aproveitamento mais rápido e mais abrangente de competências, e mesmo possuir inteligência afetiva maior, saber administrar melhor carências e dores, não é por essas capacidades que as pessoas são avaliadas por Deus. Deus avalia o saldo final, o que se acrescentou ao que foi recebido. Para ele cento e cinquenta menos cem, é a mesma coisa que cinquenta e um menos um, em ambas as contas o resultado é cinquenta. Nós, contudo, não enxergamos o saldo, mas só o crédito inicial, vemos o que as pessoas são no início e decretamos que serão isso até o fim. 
      Mas quem cresceu mais no exemplo dado, quem foi de cem para cento e cinquenta, ou quem foi de um para cinquenta e um? Quem trabalhou mais? Sob o ponto de vista da economia, quem já tem cem tem mais facilidade para render mais cinquenta do que quem tem só um, os juros sobre cem rendem mais que sobre um. Mas a coisa pode não funcionar assim, quem tem um acostumou-se com um estilo de vida mais barato, já aquele que foi criado com cem gasta mais com um estilo de vida mais caro, seu valor rende mais, mas ele também gasta mais para viver. Deus considera os limites de cada um, ainda que não julgue pela aparência, mas por intenção que se transforma em obras. 
      Cada um de nós paga preços diferentes para viver e evoluir, somos tentados por coisas diferentes, temos feridas diferentes, e consequentemente buscamos curas e defesas diferentes. Para quem é mais difícil ser humilde, para o pobre ou para o rico? Depende de como a pessoa foi criada e do caráter que ela possui em sua essência espiritual, e isso independe de bens materiais. Contudo, muitos que começaram razoavelmente bem no final continuaram quase iguais, e outros, que tiveram um início de jornada complicado, no final obtiveram libertação de vícios, curas de feridas, saíram do buraco que estavam e se expuseram sem medo à luz, renascendo pessoas melhores. 
      Alguns que perderam bens materiais ganharam a alma, evoluíram moralmente, ainda que no final de suas vidas fossem considerados materialmente perdedores. Já outros que prosperaram, que se tornaram profissionais reconhecidos, acabaram como seres humanos maliciosos, cínicos, ingratos, arrogantes. Mas quem disse que a prova desses últimos não era só trabalho físico árduo e vitória material? Quem sabe se suas vidas duras, que acabaram deixando-os céticos com muitas coisas, não beneficiaram outros na área material? Deus não cobra o mesmo de todos, mas todos temos a oportunidade de sermos aprovados, de um jeito ou de outro, para um ou outro fim. 
      O texto bíblico inicial fala de uma situação um pouco distinta, mas que pode servir de exemplo sobre maneiras diferentes que Deus trata as pessoas. Paulo fala de homens que vêm para o evangelho e mantêm costumes diferentes, de acordo com religiosidades que tinham antes de se converterem ao evangelho, isso ocorria quando judeus e não judeus (gentios) se convertiam. Deus não julgará a tais pelo que eram e mantiveram, mas pelo que se tornaram, assim certos velhos costumes que são mantidos não são relevantes, tanto para Deus como para os homens. Quem mantêm esses costumes não deve se achar melhor nem pior que aqueles que não mantêm tais costumes. 
      Não estamos dizendo que costumes de religiões que as pessoas tinham antes de se converterem devam ser mantidos, não é isso, alguns costumes negam expressamente as orientações do evangelho. Contudo, vemos isso em novos costumes que denominações e igrejas cristãs diferentes possuem. Alguns costumes, por exemplo, se referem a tipo de roupa, mesmo a corte de cabelo, que cristãos devem ter, mas isso não é o mais importante num evangelho que propõe mudança interior como prioridade. Mas quem se veste diferente por ser cristão deve se achar mais santo que o que não se veste? Não, nem o que não se veste deve se achar mais espiritual que o que se veste. 
      Somos todos servos de Deus e só Deus é Senhor, se Deus quer tratar um outro servo de maneira diferente como nos trata, o que temos com isso? A nós cabe fazermos aquilo que Deus pede e em paz, preocupados com o que Deus pensa de nós, na eternidade cada um dará conta individualmente por si. “Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai... Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente”. Nossa referência é Deus, não os homens, juiz só Deus, não os homens, honra por ter feito ou não algo, só na eternidade receberemos. Não nos apressemos neste mundo, querendo receber honras ou tirá-las dos outros. 

Esta é a 67ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

Nenhum comentário:

Postar um comentário