quinta-feira, abril 14, 2022

Parábola das mochilas (74/90)

       Nesta parte e nas duas próximas do estudo “Quem você será na eternidade?”, uma parábola original e sua interpretação.

      “Mesmo vós sabeis para onde vou e conheceis o caminho… disse-lhes Jesus, eu sou o caminho…” 
João 14.4, 6a

      Numa terra distante, há muito tempo atrás, uma mãe pede a um de seus filhos que viaje até um lugar. No destino está o pai, que por motivo de trabalho, mora longe da família. Para a viagem, a mãe dá ao filho mantimento na quantia adequada para a jornada e o guarda numa pequena mochila. O filho coloca a mochila nas costas, mas antes de partir a mãe lhe dá uma orientação, “tudo o que você precisa para sobreviver na viagem está na mochila, não pare em lugar algum para comer nada diferente, descanse se for preciso, mas não demais, e quanto à água, os rios no caminho lhe fornecerão”. 
      O filho caminha por um tempo, descansa, se alimenta com a comida que sua mãe lhe deu, mas após fazer isso algumas vezes sente-se entediado, para demais para descansar e não tem mais vontade de seguir, esquece-se da urgência da viajem. Com a ociosidade a descrença o domina, sente saudades da casa da mãe, desacredita que possa haver algo bom em seu destino final. Desanimado, a fome torna-se maior, mas como a viagem parece demorar não sente mais prazer na comida que a mãe lhe deu. O jovem viajante tem vontade de comer algo diferente, ao menos para preencher o vazio de sua alma. 
      Perdido em seu devaneio ele vê, à margem do caminho, uma estalagem. Desobedecendo a orientação da mãe ele entra na estalagem e pede para que lhe sirvam a melhor refeição que o lugar tem. Quando ele termina de comer, cai em si, lembra-se que não tem como pagar pela comida, e quando o dono da estalagem vem fazer a cobrança ele revela sua situação. Ele se surpreende, contudo, quando o dono diz que ele não precisa pagar, basta que lhe faça um favor, levar uma encomenda para o mesmo lugar que ele vai. Ele recebe a encomenda numa nova mochila e a põe nas costas, essa é grande e pesada.
      Revigorado ele anima-se e põe-se de novo a caminhar, ele diz a si mesmo, “agora vou fazer como minha mãe mandou, vou até o fim sem parar”. Contudo, a encomenda que lhe foi dada pesa, com o peso ele se cansa mais facilmente e precisa interromper a viagem mais vezes para descansar, com o descanso exagerado ele volta a ter saudades da casa da mãe. Ele reclama, “viagem inútil essa, vou para um lugar que nem conheço, por que meu pai está tão longe? Se me amasse estaria comigo, na casa de minha mãe, e eu nem precisaria caminhar tanto, trocar o certo pelo incerto, que tolice a minha”. 
      Novamente, perdendo muito tempo reclamando e imaginando, ele vê uma outra estalagem. Ele entra nela e faz a mesma coisa, pede a refeição mais cara, só quando termina de comer é que se lembra que não tem como pagar. Contudo, para sua surpresa, o dono dessa estalagem solicita a ele a mesma coisa que o outro dono pediu, que leve uma encomenda como pagamento pela refeição. Feliz por ter se livrado da dívida, ele aceita o encargo de levar a encomenda, também dentro de uma mochila, nem pergunta para quem deve entregá-la quando chegar ao destino, só quer se livrar da dívida e seguir.
      Com mais peso para levar, mais facilmente se cansa e torna a cair na armadilha de tentar se satisfazer com uma comida diferente. Dessa vez, contudo, ele entra em uma estalagem já com a certeza que não precisará pagar, que o dono vai lhe pedir o mesmo favor, levar uma encomenda. Ele pensa, “deve ser um costume nestas terras, para mim está ótimo, não tenho como pagar mesmo”. Mas essa terceira mochila é fatal, após andar só um pouco ele cai ao chão, exausto de levar tanto peso. Onde caiu ficou e prostrado não teve forças nem para voltar, nem para continuar, só quis ficar lá, quieto e sozinho.

      Meio morto, meio vivo, ele ainda tenta se alimentar com o mantimento que sua mãe havia lhe dado, mas não teve forças para nada, quando esse alimento acabou ele se resignou à morte, e ainda que estivesse às margens de um rio desfaleceu de sede. Num determinado momento, ouve uma voz, reunindo as poucas forças que tinha abre os olhos. Era um velho, de barbas e cabelos longos e brancos, mas com olhos vivos, faces rosadas e um sorriso iluminado. O velho o ajuda a se sentar, lhe dá água do rio, o alimenta e coloca na mochila que sua mãe tinha lhe dado algum mantimento.
      O velho diz ao viajante, “pode seguir viagem”, o jovem responde, “não posso, essas mochilas pesam demais”, o velho diz, “livre-se delas”, o viajante fala, “não posso, são pagamentos pelo que comi”, o velho responde, “venho atrás de você há algum tempo, passei nas estalagens e paguei tuas dívidas, você está livre desses pesos”. Contudo, o jovem torna a reclamar, “não tenho o que comer”, então diz o velho, “coloquei em tua pequena mochila alimento suficiente para você terminar a viagem, se seguir sem parar demais, não enjoará dele e chegará a seu destino a tempo”. 
      O viajante olha sua pequena mochila e há nela o mesmo mantimento que sua mãe havia lhe dado, contudo, não resiste à curiosidade de olhar as outras mochilas. Abre uma delas e se surpreende ao ver que há pedras nela, olha a segunda, a terceira, e vê a mesma coisa. O velho, já se afastando, avisa, “são armadilhas, o dono das estalagens dá pedras para os viajantes levarem, para que se cansem e desfaleçam, quando isso acontece ele vem, os prende e leva-os como escravos para trabalharem nas estalagens”. O jovem percebe, então, os donos das estalagens eram a mesma pessoa.

      Continuando a viagem, o jovem algumas vezes foi tentado a parar demais para descansar, a ter saudades da casa da mãe, a comer algo diferente, mas resistiu, levantou-se e seguiu em frente, ele enfim havia aprendido a lição. Chegando perto de seu destino já podia ver, lá longe, a casa de seu pai, esse estava à porta. Fazia muito tempo que ele não o via, nem se lembrava mais como era o rosto do pai. Contudo, ainda longe, o pai gritou, “venha meu filho, estava te esperando, demorou um pouco, mas você conseguiu chegar, estou muito feliz por isso, aproxime-se e conheça a tua parte na herança”. 
      A voz do pai lhe deu forças, assim ele caminhou os últimos metros correndo, contudo, quando chegou e viu o rosto do pai, ele o reconheceu, era o velho que o havia ajudado no caminho, que tinha pago suas dívidas. O jovem viajante disse então, “era você, não te reconheci”. O filho, então, entendeu, o pai não estava longe dele, mas caminhava secretamente com ele, bem perto, durante todo o caminho. O pai não era seu destino, mas o próprio caminho. Sua missão não era alcançar o destino, mas percorrer o caminho obedecendo as orientações que recebeu, aprendendo a viver bem com pouco. 
      O filho entrou na casa do pai e perguntou, “que trabalho é esse que o senhor faz, que precisa ficar tão longe de mim?”. O pai respondeu, “eu faço dois trabalhos, um é administrar os que trabalham aqui nas terras, e não pense que aqui não há trabalho para você fazer, mas aqui poderá trabalhar perto de mim, administrando tua herança. A viagem foi para isso, para te preparar para estar aqui. O segundo trabalho faço indo até à casa de sua mãe e acompanhando meus filhos até aqui, você tem muitos irmãos e eles também precisam fazer a viagem corretamente e chegarem aqui, o destino de todos”.
      O filho fez outra pergunta, “o senhor nunca fica com a mãe?”. O velho respondeu, “estivemos juntos por um tempo, gerando filhos, e estaremos juntos também no final, quando todos os filhos estiverem aqui, mas neste ínterim é necessário que estejamos separados, cada um cumprindo sua missão. Ela cria os filhos até chegarem à juventude, depois o caminho os amadurece, quando fazem suas jornadas sozinhos, finalmente estão perto de mim, mas ainda aprendendo. Quando estiverem prontos irão a novas terras, conhecerão mulheres e constituirão famílias, serão novos pais, eis o ciclo da vida”. 
      Mas uma terceira pergunta o filho ainda fez, “quem é o dono das estalagens?”. O pai respondeu, “foi um viajante que não quis chegar ao seu destino. No início era só um escravo de um outro dono de estalagens, mas com o tempo até o antigo dono escolheu chegar ao seu destino, partiu e deixou em seu lugar o escravo mais antigo. Trabalhando nas estalagens muitos, com o tempo, até acham terem encontrado um sentido na vida, mas lá eles são apenas escravos, sem direito de ir e vir, sem posses, só assistem jovens iludidos se satisfazendo com o prazer enganoso que se vende nas estalagens”. 
      O filho tornou a falar, “até o dono das estalagens foi jovem? ele parecia tão insidioso”. “Sim”, disse o pai, “todos começamos como jovens viajantes, inclusive eu, enviados à terra de um senhor”, “então, o senhor não é dono de tudo?”, perguntou o jovem, “não, só cuido de quem administra as terras para o dono de tudo, como eu existem outros”, disse o pai. O jovem tornou a falar, “fará isso sempre?”, “não”, respondeu o velho, “só até meus filhos chegarem aqui, minha missão não é cuidar de terras, mas de vidas, quando terminar eu e tua mãe moraremos na casa do dono de tudo, lá há descanso”. 

Esta é a 74ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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