terça-feira, abril 12, 2022

Uma caneca furada (72/90)

      Para melhor entendimento desta reflexão, leia a reflexão anterior. 

      “Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.” 
II Coríntios 4.6-7

      Segue a interpretação da “parábola das águas”. Neste mundo estamos num caminho a pé, não de carro, nossa evolução depende de nossas forças. Podemos até usar mecanismos artificiais para prosperarmos materialmente, mas só o que conquistarmos com nossas virtudes aliarão ao nosso homem interior crescimento moral. Quando iniciamos nossa caminhada recebemos dos que nos criaram um cantil, ele é a forca necessária para o início da jornada. Ele, contudo, dura só algum tempo, não é para sempre, quem quiser essa força inicial por mais tempo acabará sempre voltando ao início do seu caminho, perdendo tempo e não chegando ao destino. Se o viajante quisesse um cantil novo teria que voltar ao ponto de partida de sua viagem. 
      A parte mais importante de nossa caminhada fazemos sozinhos, descobrirmos por nós mesmos os meios para alcançarmos nosso destino. O cantil e a caneca estão furados? Mas é para ser dessa maneira, cantil têm data de validade, um dia devemos nos livrar dele, a caneca não tem, mas tem uso limitado. Nosso passado é um cantil furado, até nos ajuda por um tempo, mas em determinado momento perderá sua utilidade, porque ele é a história dos outros, não a nossa. Como indivíduos devemos construir nossa própria história. Nossa alma é uma caneca furada, ela pode e deve ser usada, não substituída, mas administrada. É nela que construímos nossa história, é ela que é enchida com a água que mata nossa sede, para que tenhamos forças para seguirmos.
      A água que recebemos inicialmente em nosso cantil nos ajuda no início, mas depois temos que descobrir onde está o rio e dele recebermos água para saciarmos nossa sede. O irónico da história é que quem idolatra o cantil não percebe que o rio está perto, margeando o caminho, assim quem se prende às tradições de família e de religião não percebe que isso é base para início, mas não saciará durante todo o caminho. O que nos sacia no caminho é uma experiência nova, viva e diária com Deus, o Espírito Santo é a água limpa e fresca que Deus nos dá à medida que caminhamos em sua vontade. Não é fácil acharmos esse rio, apesar dele estar perto da gente, é preciso a calma que abre os ouvidos espirituais e discerne o ruído das águas. 
      Não há vida sem oração, mas vida de oração é algo que se transforma. Cada vez que buscamos a Deus é diferente, e é assim para que nos esforcemos mais e cresçamos. O caminho se segue com trabalho, mas o trabalho agita nossa alma, que precisa ser acalmada para achar a água viva do Espírito que nos sacia, para que possamos continuar caminhando. Isso estabelece o conflito permanente entre corpo e espírito, que enfrentamos no mundo, para o qual devemos achar equilíbrio. Não devemos anular o corpo, nem iludir o espírito, ambos são necessários para que nosso destino seja alcançado. Além desse conflito temos outro desafio, usar uma caneca furada, isso é um exercício de humildade, eis um mistério que muitos não entendem. 
      Parece que seria bem mais fácil termos uma caneca grande e em perfeitas condições, nos esforçaríamos menos para fazer algo tão importante, saciarmos nossa sede e assim prosseguirmos mais rapidamente em nossa caminhada. Mas não é assim, por quê? A água é o alimento espiritual que saciando nosso espírito fortalece nosso emocional, nosso racional e nosso corpo físico, quando temos um encontro poderoso com Deus em oração somos plenamente fortalecidos. Não seria bom termos um encontro assim é termos forças para caminharmos por muito tempo, sem precisarmos orar novamente? Mas a caneca é furada, não retemos unção do Senhor por muito tempo, temos que enchê-la com a água do Espírito, pacientemente, todos os dias. 

Esta é a 72ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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