sábado, abril 16, 2022

Viva mais com menos (76/90)

      Para melhor entendimento desta reflexão, leia as duas reflexões anteriores. 

      “Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar.
João 14.2

      Na ”Parábola das mochilas”, que também pode receber o nome de “O ciclo da vida”, são revelados mistérios profundos em seu final, durante o diálogo que o filho tem com o pai dentro da casa. Algumas perguntas são feitas. “Que trabalho é esse que o senhor faz, que precisa ficar tão longe de mim?”, sim, Deus de fato está muito longe de nós, ainda que pelo seu Espírito tenhamos acesso a ele, e esse é só uma emanação, não Deus em sua plenitude, dessa plenitude só faremos parte na eternidade. Mas não devemos nos revoltar, antes aceitarmos em humildade o propósito maior do Senhor.
      “O senhor nunca fica com a mãe?”, no mundo físico matéria e espírito se integram em nós como um só ser, mas são coisas diferentes que devem ser entendidas diferentemente. Por não entenderem o equilíbrio que isso requer, é que tantos se perdem nos extremos, seja no materialismo, seja nas superstições. Experimentar equilíbrio não é fácil, existir no mundo é conviver com uma angústia constante, que não pode ser curada, só administrada. Na simbologia da parábola, a mãe mora num lugar e o pai em outro, um lugar distante, quem faz a união de ambos é o filho. Equilibrar-nos é nossa vocação. 
      “Quem é o dono das estalagens?”, pode representar mais de um ser, escolha quem você preferir. Pode ser o “diabo”, um ser espiritual decaído irremediavelmente, mas pode ser um ser humano que desistiu de seguir para Deus e parou no meio do caminho. “O senhor não é dono de tudo?”, o velho da parábola também representa mais de um simbolismo, a princípio é Jesus, mas também podem ser seus co-herdeiros, seres humanos já aprovados nas provações iniciais, que não vivem mais só para si mesmos, que deixaram de ser filhos e passaram a ser pais, cuja missão é cuidar de outros, ainda filhos. 
      Todos podemos chegar à posição de velhos sábios, não necessariamente no corpo, mas no espírito, todos podemos amadurecer para ajudar os outros. “Fará isso para sempre?”, posições espirituais são definitivas? Ou o ser humano pode mudar, o viajante pode se tornar escravo, depois dono de escravos, então, arrependendo-se, voltar a ser um viajante, amadurecer, para tornar-se pai, cuidar de filhos, e finalmente achar descanso junto ao Altíssimo, o dono de tudo. Agora se mudanças podem ocorrer, não só no mundo, mas também na eternidade, isso fica para cada um crer conforme puder crer. 
      Podemos achar que quando confessamos o pecado no nome de Jesus somos transformados num passe de mágica, que isso faz desaparecer pecado e culpa. Mas não existe mágica na verdade, o trabalho para que a culpa se vá é nosso e realizado por obras, não só por fé. A culpa desaparece quando seu lugar dentro de nós é ocupado pelo desejo de não errarmos mais. Isso, contudo, é só o primeiro passo no processo de anular o pecado. Seguido a isso devemos dizer não quando formos tentados de novo pelo pecado, agindo diferentemente e realizando boas obras, é aí que somos aprovados e mudamos. 
      Qual o papel único de Jesus? Dar-nos uma posição espiritual acima de tudo, do homem, do pecado, do “diabo”, nisso temos libertação da carne e fortalecimento no espírito, que funciona como uma chavinha em nossos pensamentos e sentimentos. Nesse aspecto a coisa parece “mágica”, no sentido de ser algo sobrenatural, que não entendemos racionalmente, que muda nossa mente em um instante, para isso a fé é necessária. Mas essa experiência é só o primeiro passo, os sábios vigiarão e permanecerão nessa altíssima posição espiritual e terão forças para serem aprovados em suas obras no mundo. 
      A melhor qualidade de vida está na resignação que entende que a nossa passagem neste mundo nunca será totalmente satisfatória, nunca teremos tudo o que gostaríamos de ter, nunca seremos plenamente felizes. Nossa atividade profissional, que pode começar como um sonho, nos cansa, nosso casamento, que podemos ter procurado por tanto tempo e que começa como uma paixão poderosa, se transforma em amor, mas também nunca será perfeito. Nossos filhos não serão o que achamos melhor, ainda que nos deem orgulho, igrejas e pastores nos desapontarão, enfim, só Deus é perfeito. 
      Usando as figuras da ”Parábola das mochilas”, o “mantimento” que precisamos para passar pela vida com paz está numa “pequena mochila”, essa é leve. Mas o alimento deve ser aceito com humildade à medida que administramos nosso tempo diligentemente, para que não nos entediemos buscando satisfação nos “pratos das estalagens” que só trazem peso de culpa. No inferno um minuto parece mil anos, mas no céu se vive mil anos em um minuto, assim, o sábio viverá de tal maneira que sua passagem no mundo o canse o menos possível, para que parta para a eternidade do jeito e no tempo certo. 

Esta é a 76ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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