sábado, abril 13, 2024

Do cinza ao multicolorido (6/7)

      “Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco.João 20.19

      Se preferir, entenda este texto só como uma ficção cristã, ainda que contenha uma esperança sincera, pessoal e percebida no Espírito Santo sobre como será o céu, mas você não precisa considera-lo informação teológica técnica de acordo com que o cristianismo entende como será a eternidade. 

      Morrer, acordar para eternamente viver, o que há antes da morte é ilusão, só uma sombra. Existir no mundo, sonhar que se é sombra, limitar-se ao cinza da luz filtrada pela matéria, que há atrás do ser real, que dorme enquanto está encarnado e recebe a luz do Altíssimo. Essa luz nunca para de ser emanada, mas se a sentíssemos no corpo quando estamos na matéria não resistiríamos, ser sombra protege enquanto se é provado. O ser real é multicolorido, de um jeito que enquanto somos sombra não fazemos ideia. Antes da morte aqui somos impedidos de ver a luz pelo nosso próprio ser espiritual, nossa consciência adormecida que não olha para a luz que está à frente, mas para a sombra atrás, achando que a realidade é a sombra. 
      Toda beleza e prazer que experimentamos na matéria, o nascer do Sol, a alternância das estações, o abrir perfumado das pétalas das flores, o doce sabor das frutas, a comida simples, quente e gostosa da mãe, o vinho bom, a suave briza marinha que toca nossos rostos enquanto afundamos os pés na areia molhada da praia, a água salgada das ondas que bate em nossas pernas, o entardecer dourado, o aparecimento das estrelas e da lua, o mistério da noite, o sorriso silencioso do ser amado, a luz pura dos olhos das filhas, o sonho dos jovens, a calma dos velhos com as almas limpas de toda culpa, a canção mais tocante, a ficção mais arrebatadora, tudo isso é só uma sombra cinza comparado à realidade que nos espera após a morte.
      Após a morte os sentidos captam sons, imagens, texturas, cheiros, sensações e entendimentos todos de uma só vez, na matéria isso parece complexo, mas no espírito isso é simples. Não há necessidade de palavras ou textos, basta olhar e querer para ser, e não precisaremos ter para estar, pois estamos em Deus e isso basta. Após a morte o amor nos abraça sem limites, não é aperto de braços ao redor de corpos, mas interação de espíritos unindo-se num único ser. Fora da sombra entendemos de fato o que é o amor, somos o amor, nele nos movemos e podemos atrair outros para ele, existindo como emanação da luz do Altíssimo. Morrer é acordar, sair da sombra cinza e se reconhecer eterno e multicolorido, não temamos a morte. 

“Conjecturas sobre o além”,
reflexão em sete partes
José Osório de Souza, 24/06/2022

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